De Marx ao BNDES a chance de socializar o capitalismo

Por Carlos Magno Gibrail

Karl Marx (1813-1883)Do Capital de Marx, que denunciava a “mais valia” –   a posse do capital ou dos bens de capital que possibilita usufruir do rendimento do trabalho alheio –  até hoje, fica ainda a procura por um sistema que produza riqueza e a distribua.

É o que se propõe o BNDES: “A missão do BNDES é promover o desenvolvimento sustentável e competitivo da economia brasileira, com geração de emprego e redução das desigualdades sociais e regionais”

Com 216 bilhões em carteira, com 40% do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) que corresponde a 100 bilhões de reais em estoque e 204 mil operações em 2008 parece que tem força para encarar o desafio proposto em sua Missão.

Isto sem falar que com os 92,2 bilhões de reais em desembolso é o dobro do BID e do BIRD juntos. Sim, Banco Interamericano de Desenvolvimento e Banco Mundial, que tanto espaço ocupam  diariamente na mídia econômica internacional, somados, são a metade do BNDES.

Mas o recém formado, o empreendedor nato, o comerciante a espera de pequeno capital para abrir uma lojinha, ou comprar uma pedra no CEAGESP, ou ainda uma barraca de feira, provavelmente nunca ouviram falar do dinheiro do BNDES. Ou, quem sabe, um executivo recém desempregado a procura de capital para adquirir uma franquia com segurança, talvez mais próximo ao mercado financeiro, já tenha conhecimento das possibilidades oferecidas.

Elas existem, embora não tão fáceis e nem tão atraentes como ao dinheiro oferecido ao grande capital, mas ainda assim é o recurso mais barato para estas pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas.

Embora das 204 mil operações 175 mil fossem dirigidas para as pessoas físicas e micro, pequenas e médias empresas, o Cartão BNDES tenha atingido o expressivo número crescente de 100 mil,  o seu prazo de pagamento estendido de 36 para 48 meses, o seu teto aumentado de 250 mil reais para 500 mil reais e juros de 1% ao mês, 76% dos recursos desembolsados foram para o grande capital e 24% para o pequeno.

O Banco do Brasil, a Caixa e o Bradesco, operadores para os financiamentos abaixo de 10 milhões, ficam responsáveis pelas garantias e se remuneram com parte do 1%. Portanto seus produtos são mais lucrativos que este. E administram como tal.

Nas linhas de crédito especiais tipo Revitalize, que contempla setores específicos é preciso acompanhar de perto para saber da existência e para obter o financiamento.

No Cartão BNDES é verificar a lista de produtos disponíveis, incluídos dentro de critérios de nacionalização e sustentabilidade, e ter crédito no repassador.

Para capital de giro o PEC Programa Especial de Crédito os juros anuais são de 10,25% mais “spread”, 12 meses de carência e prazo de 36 meses.

Podemos aferir que os 24% destinados aos pequenos cumprem a premissa da socialização, entretanto é preciso comparar alguns investimentos efetivados aos grandes.

O economista Nelson Barrizzelli, lembra o caso da Ford em Camaçari, quando foram criados 2000 empregos com investimento de 800 milhões de dólares.

Especialista também na área supermercadista, Barrizzelli sugere: “Se fosse investido 50 mil dólares em 16 mil pequenos supermercados é de supor que pelo menos seria criado 1 emprego para cada uma das 16 mil unidades.Para quem recebe recursos do Fundo de Amparo aos Trabalhadores investir em grandes empreendimentos que normalmente não são intensos de mão de obra, é no mínimo tão desconcertante quanto a distância de 2000 para 16000 empregos”.

Que Marx descanse em paz, pois um dia ainda chegamos lá.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas-feiras no Blog do Milton Jung mostrando o caminho das pedras. Ou do capital.

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13 comentários sobre “De Marx ao BNDES a chance de socializar o capitalismo

  1. Ola Ilustríssimo Carlos Gibrail
    Muito oportuno o seu artigo, principalmente nos dias de hoje, que estamos vivenciano a tal falada “democracia”,pós nova constituição de 1988.
    Porém vale dizer que “essa celeuma” empregos X governos vem se arrastando desde os tempos do império.
    Esperamos um dia que todos consigam chegar a um denominador comum ou pelo menos a situação que se apresenta seja equalizada.
    E que Marx descanse em paz.
    Grande abraço
    Armando Italo

  2. Olá Carlos,

    Certa vez, procurei através do SEBRAE informações sobre financiamento do BNDES. Além de um monte de documentos, a pessoa tem que apresentar um projeto, o qual sofrerá apreciação para liberação ou não do financiamento.

    Não discordo que por se tratar de dinheiro público, todos os cuidados devem ser tomados, para que não caia em mãos de aventureiros. Porém, um sujeito que pensa em abrir um mercadinho, mercearia de secos e molhados e afins, não tem um projeto elaborado, além das idéias e força de vontade de se tornar independente e consequentemente gerar empregos. Para este tipo de empreendedor, deveria ter um programa especial. Pois, BNDESocial, não pode ser apenas BNDECapital.

    Abraços

  3. Armando Italo, a disponibilidade de capital para quem tem boas idéias e/ou grande disposição empreendedora é uma saida importantíssima para o desenvolvimento do país. O BNDES tem disposição, mas como se pode ver há entraves.
    O BNDES é pequeno em termos de estrutura, 2000 funcionários. Portanto precisa de repassadores, que por sua vez tem pouco interesse tendo em vista a responsabilidade na garantia e o baixo spread se comparado com outros produtos, Dado principalmente pelos elevados niveis de juro que temos.
    Não é uma equação facil, mas apostamos no futuro.

  4. Beto, para valores abaixo de 10 milhões não há possibilidade de negociar direto com o BNDES.
    Banco do Brasil, Caixa ou Bradesco.
    Se você tiver bom crédito num dos três, há possibilidade de um bom financiamento.
    É a melhor taxa do mercado, principalmente se o seu negócioa estiver contemplado em uma das linhas especiais.
    Vale a pena estudar.

    Já dizia o velho Rockefeller que você mede a riqueza pelo crédito que se tem e não pelo patrimonio

  5. Beto, para valores abaixo de 10 milhões não há possibilidade de negociar direto com o BNDES.
    Banco do Brasil, Caixa ou Bradesco.
    Se você tiver bom crédito num dos três, há possibilidade de um bom financiamento.
    É a melhor taxa do mercado, principalmente se o seu negócioa estiver contemplado em uma das linhas especiais.
    Vale a pena estudar.

  6. Carlos
    O Brasileiro é considerado ujm dos povos mais versátil.
    Criativo, trabalhador, apesar do pais tropical.
    Pena que os governos não acompanha e poe dificuldades em tudo que é setor produtivo
    Só facilitam as suas vidas.
    Abração
    Armando Italo

  7. Boa noite, querido mestre!

    Quando me formei me ofereceram crédito para montar meu laboratório na CAIXA.

    Fui lá todo entusiasmado levar o meu projeto……etc…
    Bom, não preciso alongar nesse enredo, simplesmente queriam um fiador para o empréstimo sair.

    Fiquei ali olhando para a gerente e pensando, como alguém seria fiador de uma pessoa recém formada, inexperiente até então, que estava contraindo uma dívida que talvez não pudesse pagar.

    Guardada as devidas proporções eu não precisava de 10 milhões, no máximo 10 mil reais como se fosse hoje.
    Com esse dinheiro dá para gerar 2 empregos formais de 1 salário mínimo cada, para dois auxiliares.

    Graças à Deus não preciso mais deles.

    Abraços e vamos estudar formas de ajudar outras pessoas.

  8. ´E sempre muito interessante discutir a ques†ão do crédito, principalmente dada a sua importância para o crescimento da economia. Como também a eterna discussão que para os pequenos não são oferecidos mecanismos para a viabilização de seus empreendimentos. Os números que o Carlos levantou do BNDES mostram o quanto os pequenos e médios tomam de recursos, são valores expressivos. Por que questionar as grandes empresas? São elas que investem na infraestrutura que requer milhões de reais, idem para industria, com seus grandes projetos para exportação e outros vários exemplos. Todas as empresas, grandes ou pequenas têm seu papel importante na economia. Os bancos públicos em geral têm fornecido crédito para todos os segmentos. Uma questão que se coloca é o risco que o credor visualiza na avaliação para conceder o crédito, se não apresenta um mínimo de condições, como certidões negativas, impostos pagos, balanço da empresa, dentre outros ; fica difícil alavancar recursos.

  9. Talita Andrade Aquino

    Mutio boas as colocações, principalmente porque contrapõem grande capital x pequeno capital.
    Não tenho duvida que é preciso atender ao grande capital, pela sua função normalmente de base e infra estrutura.
    Precisamos discutir as doses e as aplicações. Ou seja, os percentuais , as formas e as operaçõe. Além do resultado evidentemente.
    Não estamos tirando méritos do BNDES, apenas levantando ponto de vista que deveriam ser analisados.
    O emprego hoje é algo bastante escasso e cujas previsões são cada vez mais sombrias.
    E, claro não podemos levantar alguns casos pontuais como o de Antonio Carlos Magalhães x RGS , no episódio da Ford.

    De qualquer modo sua participação é muitíssimo bem vinda.
    Tanto pela oportunidade quanto pela qualidade de seu comentário.

    Obrigado.

    Carlos Magno

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