O trólebus tem futuro no Brasil

Por Adamo Bazani

Trólebus

O passado do trólebus remonta a histórias de desenvolvimento econômico, época em que a presença deste veículo era sinal de cidade moderna, como ocorreu na capital paulista, há 60 anos.. Nos capítulos anteriores mostramos o romantismo de motoristas e passageiros, a forma como a cidade se relacionava com este meio de transporte. Mas houve mudanças significativas seja pelo crescimento desordenado do ambiente urbano, seja pela falta de cuidado com os trólebus.

Hoje, para boa parte da sociedade, os trólebus são vistos como meios de transportes antigos que atravancam o trânsito, devido as constantes quedas de energia e das alavancas que ligam o veículo à rede aérea (os pantógrafos)

Apesar disso, há um cenário positivo para o trólebus no Brasil, com o desenvolvimento de sistemas mais modernos ao mesmo que tempo que há preocupação com o custo de implementação e a vontade política de autoridades públicas

Em maio, num evento promovido em conjunto pelo Movimento Respira São Paulo, Eletra (fabricante nacional de ônibus com tecnologia limpa), Metra e Viação Himalaia (empresas operadoras), entre outras entidades, além de apaixonados por ônibus, foi possível reunir especialistas e técnicos envolvidos diretamente com o desenvolvimento de pesquisas e fabricação de veículos com tração limpa.

Jorge Françozo, Respira São PauloO presidente do Movimento Respira São Paulo, Jorge Françozo, aponta a forma pela qual foi feita privatização do sistema de trólebus na cidade de São Paulo, que deixou pendências contratuais dos anos 80, como uma das causas do sucateamento de parte do sistema e da redução drástica do número de linhas na cidade. Uma destas pendências, segundo ele, é a forma de tributação da energia elétrica, que traz um ônus muito grande para os operadores do sistema.

“O Trólebus, apesar de trazer um benefício ambiental, tanto em relação a emissão zero de poluentes, como em relação a bem menos poluição sonora, paga taxas de energia elétrica como “um consumidor comum”. Assim como eu e você que pagamos mais cara a energia quando tomamos banho no horário de pico entre 17 e 20 horas, o trólebus paga o valor de tarifa máxima. Infelizmente, no entanto, os responsáveis pela gestão pública não computam a economia que é gerada no setor de saúde quando a cidade tem veículos não poluidores, diminuindo significativamente o número de pessoas com problemas respiratórios, por exemplo” – explica Jorge Françozo.

Françozo também critica a falta de investimentos em corredores segregados, o que evitaria as quedas de energia e das alavancas de ligação entre veículo e rede aérea. Ele defende que corredores segregados para os trólebus apresentam melhores condições de via (muitas vezes os pantógrafos caem por causa de buracos e desníveis do asfaltamento) e proporcionam ao veículo maior velocidade operacional.

A vida útil do trólebus em relação aos veículos a diesel é outro ponto citado pelos defensores deste tipo de transporte.

Um exemplo foi dado no próprio passeio. No desfile foram apresentados três trólebus, um Marcopolo Veneza Scania Tectronic ano 1982 (amarelo), que rodou perfeitamente, um Marcopolo Torino Volvo (vermelho) e um Caio Milleniun II, Mercedes Benz / Eletra (cinza), com apenas 300 quilômetros rodados e ainda sem placas. O Marcopolo Torino, da Viação Himalaia, apesar de ter carroceria e algumas configurações modernas, na verdade foi fabricado em 1985. Antes da reforma era um Caio Amélia Volvo, de prefixo 8000, da extinta CMTC – Companhia Municipal de Transportes Coletivos. O veículo, com mais de 20 anos, ainda tem pelo menos outros 20 anos de vida útil.

Trólebus

“Nunca um veículo convencional duraria 40 anos com apenas uma reforma. As pessoas têm de entender que não é o trólebus que traz problemas para a cidade, mas que ele é mal tratado. Não há vias exclusivas, os geradores de energia são velhos e fracos e a rede aérea e muito mal conservada. O Trólebus é um grande amigo da cidade”.

Trólebus

Amizade esta que foi demonstrada pela emoção de Cenira Ferreria Leonardo, 67 anos, e a filha, Priscila Leonardo de 24 anos. Moradoras da zona Leste de São Paulo elas ficaram surpresas quando viram o comboio de trólebus passando pela rua da casa delas.

“Nossa, como me trouxe boas recordações esses ônibus que tanto fazem falta na cidade. Vim de Adamantina, no Interior Paulista em 1978 e pra mim o trólebus era coisa de outro mundo, lindo, sem barulho. Época boa, meu marido ia para o trabalho com eles, eu ia passear e levar minha filha para o médico de trólebus. Não deveria diminuir assim os trólebus em São Paulo” – disse emocionada Cenira.

Mãe e filha no TrólebesA filha dela cresceu andando de trólebus e pelo entusiasmo demonstrado, Priscila voltou um pouco à infância. Mãe e filha foram convidadas para o passeio e aceitaram de pronto. Priscila chegou até a sentar no banco do cobrador, enquanto o trólebus mais antigo da exposição percorria o trajeto do passeio.
“O ônibus elétrico é ainda sinal de modernidade e a cidade não está dando conta disso. Eu me preocupo com o futuro de minha geração e sei que a poluição é um dos grandes males. O trólebus é uma alternativa para diminuir a poluição e dar mais qualidade de vida. Ele ainda chama atenção. Tenho um primo do interior que quando viu, há pouco tempo, o ônibus elétrico, ficou maravilhado” – contou orgulhosa a jovem.

E realmente, por onde passava o trólebus com antiga pintura EBTU e CMTC, mas já com o logotipo da Metra (atual proprietária do veículo), as pessoas olhavam, apontavam, pegavam seus celulares com câmeras e fotografavam.

13 comentários sobre “O trólebus tem futuro no Brasil

  1. Parabéns Adamo por mais uma de muitas sobre a história dos ônibus.

    Foi em um Trólebus que aos 8 anos de idade (1983) que andei sozinho pela primeira vez. Morava em São Paulo, no bairro da Moóca e fui até a casa de uma tia minha que morava na época no bairro da Água Raza.
    Foi uma experiência muito boa.

    Abraços,
    William

  2. Ola Adamo
    Nos moradores em toda a extenção da Avenida Santo Amaro sentimos falta dos silenciosos, antipoluentes, limpos onibus eletricos?
    Porque tiraram eles de circulação nesta importante, congestionada, barulhenta, poluida avenida santo amaro?
    Parabéns pelo artigo?
    Armando Italo

  3. Parabéns Adamo!! Fico agradecido por essa reportagem excelente!! E parabens ao Jorge por esclarecer que o trólebus é um veículo excelente!!
    Sinto-me orgulhoso por fazer parte do Movimento Respira São Paulo!!

    E me sinto trsite por não haver mais trólebus aqui na Zona Norte!!! Saudades deles passando silenciosamente pela Rua Voluntários da Pátria!!!

    Grande abraço Ádamo

  4. Os tróleibus eram mesmo muito legais,embora eu não gosto muito dos modelos novos,inclusive tem alguns rodando na Zona Leste e no centro.Sei lá,nã me agradaram.A graça do tróleibus é ser diferente do ônibus,mas os que rodam no centro e na ZL e estes novos modelos parecem muito com ônibus comuns.

    Eu gostava em especial de dois modelos.
    Aqueles verdinhos todos quadradinhos que iam do Terminal Santo Amaro até o Terminal Bandeira(que aliás creio só fizeram linhas que ligavam Santo Amaro á Bandeira,não me recordo deles em outras linhas…ainda existem uns apodrecendo no páteo da avenida Guido Caloi),e sobretudo dos inesquecíveis tróleibus que meu dizia que eram(com exagero) centenários que faziam a linha Mandaqui-Pinheiros.

    Bons tempos…rodaram até 2001 2002.Minha maior agrura que tenho do governo Marta Suplicy.Mesmo que tivessem que sair um dia,não era naquele momento pelo menos.

  5. EXCELENTE REPORTAGEM!!!
    Mais uma excelente reportagem de nosso amigo Adamo Bazzani a respeito de um tema tão importante como é o transporte público de qualidade e não-poluente em tempos de saturação de automóveis.
    Espero que o prefeito e o governador tomem providências no sentido de incentivar os empresários a aderir ao sistema de trólebus,seja na forma de subsídios,seja na forma de ampliação dos corredores de trólebus e ainda na reativação das antigas linhas da zona norte.VERBA TEM E MUITA,O QUE FALTA É VONTADE POLÍTICA !!

  6. Parabéns pela reportagem!
    Espero que os responsáveis pela gestão dos trólebus tanto em São Paulo, como no ABC, se sensibilizem que este meio de transporte é uma solução e não um problema.
    Hoje, razão maior não é mais a economia de combustível fóssil, mas qualidade atmosférica.
    Hoje, somos os gestores deste planeta. O que vamos deixar para nossos filhos e netos?
    Um abraço a todos…..

  7. PARABÉNS POR MAIS ESTA REPORTAGEM !!!!
    Que bom se a SPTRANS e a Prefeitura desse mais valor para esse sistema de transporte. Que bom seria se esses veículos voltassem a trafegar nas antigas linhas da ZN e Santo Amaro, entre outras. A alternativa é essa, tecnologia nós temos, só falta boa vontade.
    Abraço a todos.

  8. Agradeço a materia publicada pois temos que reiventar nossa forma de ocupar um espaço nesse planeta.
    Temos que usar cada vez mais transporte ou produtos que não agridam o nosso meio-ambiente, dessa forma criaremos condições para termos uma vida cada vez melhor e para nossos filhos.

    O Trolebus não polui e por esse motivo, deveria ser utilizado em maior escala como vem acontecendo na Europa e outros paises do mundo.

  9. Infelizmente, com o fim da CMTC, os trolebus ficaram refens das empresas.

    A CMTC não era somente operadora, mas tambem fabricou vários trolebus durante anos.

  10. Parabéns pela reportagem, Adamo e ao Jorge pela iniciativa de não deixar cair no esquecimento os benefícios do transporte elétrico nas grandes cidades. Não se deve unicamente computar os custos imediatos do transporte com a afirmativa de que o sistema elétrico é mais caro. Deve-se fazer uma análise observando que, a longo prazo, um veículo desses estará deixando de poluir o meio ambiente e assim, poluindo menos, menos pessoas terão problemas respiratórios e menores serão os gastos públicos com essas pessoas.

  11. Adamo,

    Parabéns pela excelente matéria, e também ao Jorge Françozo, por ter mostrado os inumeros beneficios que o sistema trólebus proporciona a nossa cidade. Me lembro como se fosse hoje, da primeira vez que andei num Marcopolo San Remo Scania, da linha 2290 (pena não ter andado neles ainda na época da CMTC), já sobre a operação do Eletrobus. Alguns meses depois, pude ter a oportunidade de também andar jundo com a minha avó, nos Ciferal Amazonas da linha 2100, ao qual me marcou bastante uma musica que eu estava ouvindo em meu walkman na época.

    É uma pena que hoje nossas autoridades, não querem enxergar o quanto é importante para a saude do nosso planeta. Gostaria muito que num futuro, houvessem, muitos trólebus rodando pela cidade, para que nossas futuras gerações não venham a ser prejudicadas pela poluição atmosférica que tanto assola as nossas grandes metróploles.

    Grande abraço !!!

  12. Srs, a cidade de São Paulo, uma das maiores do mundo, não pode mais viver o caos dos transportes urbanos e vias publicas. Não há mais tempo para se pensar, temos que tomar atitudes o que não vemos acontecer nestes últimos anos. Prefeitos iguais a Luiza Erundina, Kassab e demais governantes com visão no dedão do pé, não podem ter chance de governar uma cidade de 15 milhoes de habitantes,que cresce a cada minuto, com a inserção de 800 veiculos diários, sendo jogados nas ruas da cidade.

    Já ficou patente, que não possibilidade de se mexer em muita coisa, ruas, avenidas, pois a cidade foi crescendo desestruturadamente, sem qualquer projeto urbanistico.

    A única possibilidade que temos hoje é trabalhar em cima das vias aéreas, dos rios, nas marginais, como está sendo feito com o Fura Fila.

    Por que não se levar a sério a questão do Aero trem, ou mesmo um proejto parecido com o fura fila, que ocupam o canteiro central ou mesmo as laterais das marginais das principais avenidas, deixando o fluxo de veiculos fluir normalmente embaixo.

    Quanto aos troleibus, creio já termos passado desta epoca, energia elétrica hoje é muito cara,veículo é lento, e temos que pensar em algo mais barato e pratico, não poluidor.

    O que precisamos mesmo é tomar uma atitude, pois o tempo urge e o caos está se aproximando.

    Tudo que a ex-prefeita Marta Suplicy fez, o senhor Kassab nada acrescentou, os pontos de ônibus estão quebrados, os ônibus quebrando, nada foi feito para dar continuidade ao que ela fez.

  13. A eletricidade é cara pq não há uma política q estimule o uso no transporte coletico! E tb é cobrada uma taxa extra justamete nos horários de pico! E isso afeta não somente os trólebus e sim os trens do Metrô e CPTM!

    O veículo é lento pq não opera em vias apropriadas! O asfalto ruim, não colabora!! Mas nos corredores são insuperáveis!
    Há luagres pra eles sim, basta apenas a boa vontade dos governates!!!

    E se Deus quiser, verei os trólebus completando 70, 80, 90, 100 anos…

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