As babás “brazileiras” e os bebês americanos

Brasileiras cuidam dos americanozinhos

Brasileiras cuidam dos americanozinhos

O som não era estranho. O sotaque também não. O papo que rolava entre as três moças sentadas no banco de madeira era em português. A que falava mais alto tinha um acento mineiro. O inglês interrompia a conversa das brasileiras apenas quando era para chamar atenção de alguma das crianças que brincavam no parque de Ballard Park, no centro da pequena Ridgefield. Duas delas, com certeza, eram babás, trabalho comum para as brasileiras que vivem nos arredores desta cidade de Connecticut. Costumam ganhar em torno de U$ 10 a U$ 15 por hora para cuidar dos filhos das famílias americanas.

O valor embolsado no fim do mês depende muito da condição que vivem por aqui: legal ou ilegal. Esclarecendo que o viver legal significa apenas ter os papéis em dia.

A maioria delas mora em Danbury, pertinho daqui. Moram em casas de qualidade mediana, normalmente com muita gente dentro. Cortiços mais bem organizados do que os que conhecemos principalmente em São Paulo. Desde a derrocada da economia dos Estados Unidos, a vida deste pessoal não tem sido fácil. Muitos voltaram para o Brasil temendo o cerco aos imigrantes, outro lugar-comum nos momentos em que a turma da casa roga por emprego. Mesmo que a função não seja a preferida deles.

Aos “brazileiros” está pegando, também, a falta de dinheiro da família americana que começa a cortar as depesas no departamento pessoal, antes mesmo do cafezinho da empresa. E aí o problema não é apenas com as que exercem a função de babá. Sobra para as faxineiras, os motoristas e os fazem-tudo. Se não perdem o emprego, ficam com a grana mais curta.

Houve quem deixasse para trás a casa já comprada. Outros ainda conseguiram vender uma coisa aqui e outra lá, antes de botar o pé no avião. Mesmo algumas famílias com um dedo no “greencard” não aguentaram o tranco e decidiram voltar. Assim como vieram, vão com a esperança de que “onde não estou, está melhor”.

Com tudo, ainda existem muitos brasileiros por aqui. Na loja de vinho, no balcão da sorveteria, vendendo aparelho eletrônico no grande magazine ou no banco de madeira do parquinho chique. Ali, pertinho de mim, sem identificar minha origem, as três brasileiras conversavam sobre seu cotidiano, quanto recebiam, quando tinham vencimentos cortados, as exigências da patroa e do patrão. As crianças por quem são pagas para cuidar brincavam despreocupadas nas armações de ferro dispostas e construídas de maneira segura e amigável.

As babás também pareciam despreocupadas, mas investiam no inglês todas as vezes que tinham de pedir atenção das crianças. Gostei do método de uma delas: “Bob, one !”; Bob, two !”. Não tenho ideia da reação dela após o “Bob three !’, mas o Bob, sabe, pois desceu correndo de onde estava.

Passei a prestar atenção nas crianças acompanhadas pelas mães e, pelo tempo que uma delas ficou ao celular, logo percebi que estava sendo exigente demais com as babás. As crianças, pelo menos ali, foram feitas para ficarem soltas. Se não souberem aproveitar esta liberdade e segurança que tem, “one, two and …..”

5 comentários sobre “As babás “brazileiras” e os bebês americanos

  1. Um problema urbano diferente dos nossos por aqui. Mas, eta curiosidade de jornalista, heim?
    Passeando, de férias e relatando uma curiosidade. A narrativa tem um tom de história, como um livro.
    Sempre que ouço relatos de alguém que viajou para este lado do mundo vem uma história de brasileiros neste desafio do dia a dia num pais de costumes diferentes. Acho que o experimento americano a uma economia mais apertada pode ser uma mudança de hábitos de lá e de cá.
    Tomara que o indefeso Bob não tenha apanhado.

  2. Bah, Guri!
    Estou ouvindo pela net o Fim de expediente sobre as Câmaras Municipais, o qual contou com sua participação.
    É a primeira vez que visito seu blog – e dei (demos) sorte, pois me identifiquei muito com seu texto: moro há dez meses em Essex (Reino Unido), a 20 km do Big Ben.
    É, a situação aqui fora está nebulosa… mas, tendo-se paciência, as pespectivas são, pra quem tem o gift da legalidade, de modo geral melhor do que de onde não se está.
    O difícil é, no momento da crise, não deixar se levar pela saudade e pela esperança.

  3. Oi, Andre

    Espero que sua identificação com o blog não seja apenas uma questão de sorte, mas de proximidade. Conto com sua presença e comentários sempre que passar por aqui. Conte suas histórias e nos inspire com sua experiência.

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