O Brasil da diversidade exige transporte para diversidade

Por Adamo Bazani

Esta foi uma visão que se destacou, além do próprio debate sobre a Copa 2014, na Transpúblico que teve a participação de mais de 70 empresas, entre montadoras, encarroçadoras, auto-peças e acessórios, revendedoras e viações. Apesar da necessidade de uma política nacional para o setor, o Brasil é um país de grande diversidade econômica, cultural e territorial, e os transportes também devem ser pensados localmente, para atender cada demanda.
Se, antigamente, um modelo de ônibus tinha de servir para o País todo, hoje os fabricantes são unânimes de que deve haver um atendimento específico para cada região e passageiro. E a gama de modelos apresentados na feira mostrou isso.

Para as cidades que necessitem de corredores exclusivos e possuem grande número de passageiros, foram apresentados veículos e chassis articulados, bi-articulados e trucados (três eixos) urbanos.

Para aquelas que exigem respeito às pessoas com deficiência, além do tamanho dos chassis, os ônibus tem desenhos mais variados. Uma opção interessante, apresentada pela Volvo, é o chassi B9 SALF. Com carroceria Caio Mondego LA, o ônibus inteiro é de piso baixo, evitando os degraus internos, em carrocerias cuja frente e meio têm piso baixo, mas da metade para trás, o piso é convencional, havendo a necessidade de degraus no meio do corredor do ônibus.

Preferência do empresariado

Ônibus Midi

Apesar de os ônibus de média e alta capacidade serem apontados como soluções para as grandes cidades, o evento foi nacional e contemplou empresas de várias regiões do Brasil, que possuem condições de asfalto precárias, ruas e avenidas estreitas e linhas em bairros com muitos desníveis e curvas. Por isso, os chassis e carrocerias midi, os micrões, intermediários entre micro-ônibus e ônibus convencionais, eram os mais procurados sempre que os empresários ouviam a pergunta: “Qual seu modelo de interesse?”. Os custos de manutenção destes veículos são menores e, uma triste realidade social, dispensam cobradores, mão de obra a menos para pagar salário. Alguns micrões, como Sênior Midi, Spectrum, Foz Super, oferecem capacidade de passageiro igual a alguns ônibus antigos, como Vitória, Amélia e Gabriela, mas sem o cobrador e com consumo e manutenção menores. Em algumas cidades, empresas inteiras já operam com micrões. Solução que ainda é alvo de contestações, já que o motorista tem de dirigir e cobrar ao mesmo tempo, num veículo cujas dimensões são um pouco inferiores aos convencionais.

Transporte escolar

Ônibus escolar off road

Outro grande desafio para o setor de transportes no País é a locomoção de estudantes, principalmente em áreas rurais ou com pavimento precário. Enquanto escolas particulares nos grandes centros urbanos já oferecem veículos com todas as condições de segurança, em algumas cidades do interior do Brasil, a vida de estudantes é colocada em risco. Quando há ônibus, a maioria é sem nenhuma adaptação para transporte de crianças do primeiro grau, e os veículos são velhos, com idade entre 20 e 30 anos, que um dia já foram operados em cidades grandes. Os ônibus não possuem manutenção nem preparo para enfrentar lama e barro. O estudante também é obrigado a dividir espaço com trabalhadores rurais e pessoas que precisam ir ao médico e não contam com transporte específico. Onde há incentivo público, no entanto, a situação começa a mudar. E a indústria oferece opções.

Chamaram a atenção na Transpúblico dois modelos de ônibus “off road”, fora de estrada. O micro Mascarello Gran Mini e o midi Caio Foz Super. Eles possuem visual de fora de estrada, quebra-mato e, o principal, a  suspensão é bem elevada, deixando o piso a uma distância do solo suficiente para o veículo enfrentar lama, buraco e desnível, levando estudante e funcionário de escola com segurança. Para as crianças menores o Foz Super oferece banco com capacidade para três crianças todas com cinto de segurança. E tem espaço para cadeira de rodas.

O transporte terrestre reage

Ônibus com conceito de avião

Outro ponto que ficou evidente na exposição e que demonstra uma preocupação dos empresários do setor de transporte terrestre de passageiros é a reação ao crescimento do mercado aéreo barato. A passagem do avião para alguns lugares é quase do mesmo valor da passagem de ônibus, Além de oferecer preços competitivos, a opção para o empresário do setor terrestre é oferecer qualidade no serviço. A indústria de ônibus percebeu isso e viu que as soluções estão em pequenos detalhes. Assim, na feira, foi possível encontrar verdadeiros “aviões terrestres”. Ônibus de luxo que oferecem mimos para o passageiro e até um conforto bem maior que um avião de classe econômica.  Veículos com bancos que viram cama, com climatizadores de ar, equipamentos de som e imagem de última geração, na era do LCD e Full HD, entre outros “luxos” que, há 20 anos, eram impensáveis nos ônibus.

Bom gosto e estética contam

ônibus ganham nova estética

Além dos equipamentos de luxo, de acordo com os palestrantes, uma arma para o setor de transportes é a estética. A indústria pensava menos nisso há uma década, mas o passageiro se importa, sim, com ônibus bonitos. Veículos de linhas modernas e pinturas que reluzem até a noite foram o grande atrativo do público. Destaque para os modelos Irizar PB, da Geração Sete da Marcopolo e do Panorâmico DD da Busscar. A feira mostrou que o público se interessa por transporte e o setor agora começa a entrar nos trilhos. Está consciente de que o País tem uma necessidade nacional, mas demandas locais. Que o passageiro e o próprio motorista do carro ao lado tem senso estético e os ônibus tem de oferecer conforto, harmonia e beleza. Afinal, os ônibus fazem parte da paisagem das cidades. e estradas brasileiras.

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Adamo Bazani é repórter da CBN e busólogo. Escreve no Blog do Mílton Jung às terças-feiras ou a qualquer momento em edição extraordinária, como nesta segunda

Um comentário sobre “O Brasil da diversidade exige transporte para diversidade

  1. Além dos novos ônibus, nós precisamos de motoristas educados e treinados para servir e proteger os passageiros.
    Os riscos no nosso transito, seja nas cidades como em estradas, são cada vez mais evidentes. Grande parte disso deve-se à educação para o transito, que infelizmente é falha em nosso país.
    Gostaria de ver mais reportagens sobre isso.

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