Santo André ganha ônibus para deficientes

 

Por Adamo Bazani

Ônibus adaptados para passageiros com deficiência

Ônibus adaptados para passageiros com deficiência

Santo André, no ABC Paulista, ganhou mais 11 ônibus adaptados para pessoas com deficiência que devem começar a rodar em breve na cidade. São dez Caio Apache Vip II, Volkswagen 17-230, e um micro-ônibus Caio Foz, Volkswagen 9-150, comprados pela Expresso Guarará. Até agora, havia apenas ônibus do tipo “micrão” em condições de transportar passageiros com restrições de locomoção.

A apresentação dos veículos marcou as comemorações dos oito anos de operação do Corredor Vila Luzita, o único segregado para ônibus na cidade de Santo André. Apesar de reclamações como lotação nos veículos, o corredor, idealizado em 1998 e entregue a população em 2001, representou avanço nos transportes da cidade, já que os ônibus conseguem oferecer viagens até 50 por cento mais rápidas do que antes de sua implementação.

Santo André carece ainda de outros sistemas semelhantes e o próprio corredor da Vila Luzita deve ser aperfeiçoado, por conta da alta demanda de passageiros.

O prefeito de Santo André, Aidan Ravin, acredita que investir em ônibus adaptados para deficientes beneficia toda a população.

“Ao comprar ônibus com acessibilidade, as empresas, como a Expresso Guarará, criam uma cultura de transportes, que consegue modificar a visão dos cidadãos sobre os deficientes. Quando a população vê um ônibus com elevadores para cadeirantes ou piso baixo, percebe que a pessoa com deficiência é cidadão e, como tal, tem o direito de estudar, trabalhar, passear, enfim ter uma vida normal. Além de ser um investimento no nosso próprio futuro. Hoje estamos jovens e com força, mas amanhã a idade virá e as limitações também podem vir. Se uma cidade tiver uma cultura para transportar essa população, se estivermos no futuro nestas condições, seremos beneficiados”.

Quando se fala em cultura de transportes, um dos referenciais na região é Sebastião Passarelli, dono da Expresso Guarará e fundador de boa parte das empresas na região do ABC. A família Passarelli atua no ramo de transportes coletivos desde 1938, no interior paulista.

“Uma das coisas que mais me gratificam ao longo do tempo é saber que é possível ter um transporte racional, economicamente viável, que dá lucro, mas que ao mesmo tempo é humano. Estou na região do ABC há 49 anos atuando na área. Me doía ver que num passado não muito distante, pessoas com limitações não tinham condições de entrar num ônibus. São veículos mais caros, mas vale a pena investir”, comenta o empresário, de 81 anos.

Quem está nas ruas no dia a dia sabe como são as dificuldades dos passageiros, principalmente os deficientes físicos. É o caso da motorista Luciane Lopes, da Expresso Guarará. Ela conta que começou a dirigir ônibus em 1996. No início,guiava micro-ônibus. Depois, Luciane
se aperfeiçoou e, hoje, transporta de uma só vez mais de cem passageiros em ônibus articulados, de 18 metros.

“São gigantes domesticados pela suavidade da mulher” – brinca a motorista, uma das primeiras do grupo, quando as linhas municipais ainda eram operadas pela Viação São José.

“Transportar deficientes é como transportar um tesouro dentro do ônibus. Eles tem uma força especial, sempre algo a ensinar. Fiz muitas amizades trabalhando como motorista e digo sem medo nenhum. Prefiro linha de bairro, de periferia. Apesar dos perigos, o passageiro torna-
se amigo. São poucos carros e os pontos finais são praticamente na porta das casas. Nunca tive medo do perigo da periferia. Ao contrário, nas lanchonetes de ponto final é que se encontram histórias de luta e superação, além de uma comida deliciosa” – diz Luciane. Para ela, a
população das periferias vê no ônibus um apoio, um sinal de que não foi esquecida totalmente.

O funcionário da Expresso Guarará, Sandro Alves, que acompanhou a compra dos veículos, explica que os ônibus possuem elevadores para cadeirantes com acionamento automático pelo motorista, balaustes com textura para deficiente visual, bancos com cores diferentes para idosos e bancos para obesos.

Sandro, o funcionário, sempre dava lugar ao Sandro, busólogo. Além de trabalhar, ele é um apaixonado por ônibus, o que permite que conheça um pouco mais do ramo, com as visões de profissional e de fã.

Isso foi possível notar quando, indiscutivelmente entusiasmado, ele mostrava os “mimos” que a empresa conseguiu negociar com a encarroçadora, como relógio digital, com marcador de temperatura e um simpático ventilador para o motorista.

Por onde os ônibus novos passavam, numa espécie de carreata, os moradores viam a diferença em relação aos antigos e logo perguntavam quando estes começariam a rodar, o que acontecerá nos próximos dias.

Até outubro haverá 30 ônibus acessíveis transportando passageiros pela Expresso Guarará. Eles se somarão aos 15 “micrões” da Viação Vaz, já circulando. Número pequeno ainda se for levando em consideração o fato de que a frota de Santo André tem 250 ônibus. Mesmo assim, é o início
de uma nova fase que este “Ponto de ônibus”, que registra a história do transporte de passageiros, faz questão de contar, afinal, as cidades, empresas e sociedade tem enorme débito com as pessoas com deficiência.

Adamo Bazani é busólogo, repórter da CBN e sorri quando um passageiro com deficiência pode sair de casa, não apenas para o hospital, mas para trabalhar, estudar, passear e viver.

Um comentário sobre “Santo André ganha ônibus para deficientes

  1. Parabéns Ádamo pela matéria!

    A cidade de Santo André realmente precisava de uma frota de ônibus não somente nova, mais que contasse com pelo menos 10% dos carros com este tipo de sistema (acesso para deficientes fisícos), porém, o que me surpreendeu, foi o fato das empresas, além de renovar a frota, ter colocado este acesso em todos os seus novos carros.
    Salve, Salve Torrão Andreense!

    Abração.

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