Manifesto do Dia Mundial Sem Carro

 

Manifesto divulgado pelo coletivo de Mobilização do Dia Mundial Sem Carro, a ser comemorado nessa terça, 22 de setembro:

“São Paulo precisa e pode ter um trânsito melhor, um transporte público eficiente e de ótima qualidade, muito mais ciclovias e ciclofaixas, um ar mais limpo e respirável e melhor qualidade de vida para todos que aqui vivem e trabalham!!!

O trânsito de São Paulo ocupa um tempo precioso de todos os que vivem, estudam e trabalham na cidade. Tempo precioso de nossas vidas, tempo que deixamos de fazer inúmeras outras atividades ligadas à cultura, ao lazer, aos estudos, à família e aos amigos, além do tempo que perdemos de sono e descanso.

Não bastasse todo este tempo perdido, ainda ficamos expostos a um trânsito totalmente poluído, respirando gases nocivos que causam inúmeras doenças respiratórias e cardiovasculares, além de tumores e abortamentos, entre outras. Estudos da Faculdade de Medicina da USP apontam que morrem na cidade, em média, 12 pessoas por dia devido à poluição, encurtando a vida media dos paulistanos entre um ano e um ano e meio. Além do custo em vidas, os impactos operacionais e financeiros no sistema de saúde, causados pela poluição, são imensos. No mesmo sentido, é importante lembrar que o setor de transportes é responsável por 15% dos gases que causam o aquecimento global e a mudança climática. O diesel e a gasolina consumidos no Brasil estão entre os piores do mundo e a indústria automobilística fabrica motores menos poluentes em vários outros países e no Brasil apenas para exportação. A inspeção veicular, obrigação dos governos estaduais e dos grandes municípios, ainda está muito longe de cumprir seu papel.

No caso dos acidentes de trânsito, morrem cerca de 4 pessoas por dia na cidade – 44% pedestres, 18% motociclistas, 9% passageiros ou motoristas de autos e 3% ciclistas. Parece mentira, mas a grande vítima dos acidentes de trânsito são aqueles que estão se locomovendo a pé, o que demonstra a lógica perversa das cidades que priorizam seus espaços e fluxos para os automóveis. Estudo da Fundação Getúlio Vargas calcula que a cidade deixa de gerar R$ 26,8 bilhões por ano devido à perda de tempo nos congestionamentos e aos custos totais ligados aos acidentes e doenças derivadas do trânsito.

Muitos fatores alimentam todos estes números sinistros, mas vale lembrar os principais. Nosso modelo de desenvolvimento urbano promove uma enorme desigualdade social que obriga milhões de pessoas a se locomover por grandes distâncias para ter acesso ao trabalho e aos serviços e equipamentos públicos. Vivemos, cada vez mais, um modelo de mobilidade e transporte que oferece todos os incentivos possíveis para a locomoção por meio do automóvel. Enquanto isso os investimentos em transporte público coletivo continuam se arrastando lentamente, ocorrendo, em 2009, redução da frota de ônibus em circulação na cidade – segundo o Detran-SP, a frota de ônibus caiu de 41.876 (jan/09) para 41.628 (jun/09). Bilhões de reais que poderiam melhorar imediatamente o transporte público serão gastos em túneis, novas pistas e avenidas – e ampliação de antigas – que em pouco tempo estarão entupidas (800 novos carros entram por dia nas ruas de São Paulo!).

Precisamos romper esta lógica perversa: enquanto o Governo Federal promove incentivos fiscais e creditícios para a indústria automobilística, inclusive sem nenhuma contrapartida em termos de motores menos poluentes e uma matriz energética mais limpa, os governos estaduais e municipais vão rasgando túneis e avenidas com recursos públicos! Se não reagirmos, todos estaremos cada vez mais estressados, doentes, presos em novos congestionamentos e muito distantes de termos um transporte público coletivo decente, saudável e eficiente, como todas as principais cidades do mundo já o possuem há muito tempo.

Diante dessa realidade que pode ser mudada, propomos:

– Aceleração e prioridade absoluta para o metrô, trens e os corredores de ônibus;
– Ampliação substantiva da frota de ônibus da cidade com serviço de alta qualidade;
– Reativação e fortalecimento do Sistema Trólebus;
– Priorização de ações da CET para aumentar o fluxo do transporte coletivo;
– Definição de ações e metas para reduzir significativamente os congestionamentos;
– Cumprimento da lei que prevê ciclovias em novas avenidas e construção de todas as ciclovias e ciclofaixas já projetadas;
– Cumprimento da Resolução 315 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) para melhorar a qualidade do diesel;
– Início imediato da substituição do diesel e gasolina por combustíveis mais limpos;
– Comercialização no Brasil de automóveis, ônibus e caminhões com a mesma tecnologia menos poluente que a indústria automobilística utiliza nos países europeus e nos Estados Unidos;
– Segurança para o pedestre, calçadas de boa qualidade, acessibilidade universal para os deficientes físicos, rigor nas leis de trânsito e educação cidadã para termos uma cidade que garanta uma mobilidade digna, inclusiva e segura;
– Inspeção veicular em toda a frota automobilística;
– Redimensionamento dos investimentos públicos para diminuir a desigualdade social e regional na oferta de trabalho e no acesso a equipamentos e serviços públicos;
– Construção de um Plano Municipal de Mobilidade e Transporte Sustentáveis, com ampla participação da sociedade para decidir pelos investimentos públicos na área;
– Basta de desperdício de dinheiro público em projetos atrasados, ineficientes e insustentáveis!”

14 comentários sobre “Manifesto do Dia Mundial Sem Carro

  1. Lamento não ter visto, entre as proposições, a implantação de linhas de VLTs – Veículos Leves sobre Trilhos, meio de transporte comprovadamente mais barato do que o metrô.

  2. Gostaria de apresentar uma sugestão para o transporte coletivo em São Paulo, mais seguro e adequado que o monotrilho e mais eficiente que corredor de ônibus.
    > Um sistema de pré-metro, ou VLT, ou Tramway.
    >
    > Este modal se caracteriza como uma alternativa viável e muito mais
    > barata que o metrô tradicional.
    > Um sistema sobre trilhos e articulado retiraria das avenidas radiais
    > muitos ônibus, que passariam a fazer um trajeto transversal, a
    > partir desta linha tronco para os bairros.
    > Sabemos que os corredores de ônibus não são adequados para médias
    > demandas, pois as diversas linhas ficam atrapalhando umas às outras
    > e um ônibus bi-articulado não tem capacidade e segurança de
    > transportar muitos passageiros, diferente dos sistemas de pré-metrô
    > ou VLT.
    >
    > Dois corredores para este tipo de transporte estão praticamente
    > prontos, bastando somente reativá-los e obter os veículos.
    >
    > Há trilhos implantados ao longo das avenidas Rangel Pestana e Celso
    > Garcia desde a Praça da Sé até a Penha. Lembrando que estes trilhos
    > estão na parte central da avenida.
    > Outro trajeto já implantado é o que vai da Praça da Sé até o
    > Sacoman, pelas vias Glória, Cambuci, Lavapés, D. Pedro I, Silva Bueno.
    >
    > O sistema poderia operar com alteração na quantidade de carros
    > acoplados em cada comboio conforme a demanda por horário do dia.
    >
    > Este sistema tem sido implantado em cidades como Paris, Londres,
    > Buenso Aires e outras. Uma busca rápida no Youtube poderá revelar
    > vários locais onde este sistema tem sido recentemente implantado.
    >
    > Por que não aproveitar o que já existe na cidade? Há a possibilidade
    > de um pré metro eficiente como o que se está resgatando em cidades
    > como Londres, Paris, Barcelona, Dublin.
    >
    > Sei que as empresas de ônibus não têm qualquer interesse em adquirir
    > veículos sobre trilhos, pois não poderão comercializá-los
    > posteriormente para outras cidades, no entanto acredito que as
    > soluções para o transporte da cidade devem ter prioridade sobre o
    > interesse econômico dos empresários do transporte público – uma
    > espécie de cartel que tem a prefeitura de São paulo em suas mãos.
    > Vale abrir uma licitação pública para que empresas estrangeiras que
    > administram este tipo de transporte se proponham a implantá-lo em
    > nossa cidade.
    >
    >
    > Segue abaixo um Link dos que estou sugerindo.
    > http://www.youtube.com/watch?v=8owxp9k8DSQ
    http://www.tramway.paris.fr
    http://www.cts.strsbourg.fr ,

    Prof Jorge Zacharias

  3. Acho um tanto quanto válida a idéia mas moro no Ipiranga, hoje cedo ao sair de casa o tempo estava muito feio, uma chuva bem gelada. Para ir de transporte público tenho de pegar um ônibus até o metrô e pego a linha verde até aqui a Paulista. Para ir embora, faço o mesmo trajeto, pego metrô mas não tem ônibus de lá para casa. Volto a pé.
    O fato é que, em um tempo chuvoso, não tem como não optar pelo conforto do carro. Sem contar que depender de ônibus em dia de chuva (no Terminal Sacomã) é pedir para chegar atrasado e estar sujeito a ouvir do chefe.
    Infelizmente a idéia não funcionou, não existe isso estar sujeito a tomar chuva, depender do ônibus atrasado e tomar metrô lotado ao invés de utilizar o carro.
    Sinto muito mas não pude contribuir.

  4. Eu não aconselharia ninguém andar de bicicleta nem a pé na cidade de São Paulo em um dia útil. Pois enquanto os caminhões e ônibus continuarem a soltar essa fumaça preta, fica muito difícil aproveitar a beleza desta cidade.

  5. Hoje cedo tive que ir ate a Rua Paes Leme em Pinheiros.
    Na Avenida Santo Amaro, corredor, na parada Afonso Bráz, Subo no onibus Lapa 856R o Lapão!
    Consegui viajar “comodamente” sentado com os meus 1.83, 90 kg, espremido entre os bancos.
    Obviamente numa posição definitiva, estática, travado.
    Ficamos uns 15 minutos para percorrer o espaço entre a parada Afonso Braz e a Rampa de acesso para a Praça Dom Gastão Liberal no Itaim Bibi.
    Sem contar o transito infernal que tivemos que enfrentar na rua Joaquim Floriano, Iguatemi, Faria Lima.
    Pasmem!
    Foram quase 50 minutos de viagem!!!
    Na volta como estava com um pacote de amostras retornei de taxi.
    Nada mau!
    Uma Meriva com, Ar condicionado, extremamente confortável, motorista educado.
    Mas ai se foram 18 reais ate a rua João Cachoeira
    Mesmo assim prefiro não ter automovel na caótica São Paulo, além do custo mensal que nos custa por mês para manter um carro.
    Isso minha gente que relatei é o dia inteiro!
    Como solucionar o caos no trânsito de São Paulo, se o proprio governo incentiva a a população em geral para acompra de carros financiados em 72 mêses.
    Ou melhor, na minha opinião isso é aligar um carro na financeira.
    Esta cidade virou um verdadeiro inferno em um todo!
    Transito caótico, barulho de dia, noite e madrugadas, lixo e toda a sorte de sujeira pelas ruas da cidade, a cada dia um novo predio e construido.
    CAbe afirmar que realmente o lobby das montadoras, governantes, construtoras, et é que mandam e fazem o que bem entendem.
    Não adianta reclamar, contestar, reinvindicar, etc.

  6. Recebo com tristeza a notícia dada por Gilberdo Dimenstein, de que a população aprova cada vez mais as medidas restritivas tão adoradas pelo prefeito Gilberto Kassab, como pedágio urbano e aumento do rodízio.
    Vejo da seguinte forma: transporte individual é ruim e transporte público é péssimo. O prefeito deseja tornar o transporte individual péssimo para que as pessoas usem mais o transporte público.
    Não faria mais sentido, inclusive no sentido de servir à população, melhorar o transporte público?
    Abraços

  7. Que eu faço agora Marcelo? Estou com a bike lá fora, preparada, já com minha capa de chuva, pronto para aderir ao Dia Sem Carro. Mas você não aconselha por causa da fumaça dos caminhões?

    Poxa, vou lá pegar meu carro então e vou ignorar a pesquisa que o Dr. Paulo Saldiva fez que constatou que o ar dentro dos carros é bem mais poluido do que o ar que o ciclista respira.

    Acabou com meu dia.

  8. Milton,
    o que nenhum dos seus entrevistados no Dia Mundial do carro comentou é que quem opta por se locomover à pé em São Paulo sofre sérias dificuldades. A principal delas é a violência.

    Moro na região da Paulista e me locomovo sempre que posso à pé. Aqui nos fins de semana, temos assistido à revoada de trombadinhas assaltando pedestres e roubo de celulares virou algo corriqueiro.

    O Dimenstein sempre recomenda passeios aqui na região, então fala pra ele vir à pé num domingo e ficar na esquina da Augusta com a Paulista e observar como estamos com pouca segurança, mesmo tendo uma delegacia a duas quadras do local.

    Abraços e vamos à pé e de guarda-chuva!

  9. Pô, esqueci que hoje era o dia do Dia Mundial Sem Carro. Prá variar acordei atrasado pro trabalho, aproveitei para dormir um pouco mais por causa do rodízio, se fosse vir de transporte coletivo ia chegar mais atrasado ainda, aí já era.
    No ano passado eu deixava o carro no metrô Tucuruvi e fazia o restante do trajeto de metrô. Eu gastava mais dinheiro fazendo isso, mas a qualidade de vida era bem melhor. Dava até pra tirar um cochilo durante a viagem. Agora o escritório mudou aqui pro Brooklin, ai ficou mais complicado fazer isso.
    Esse é um dos problemas de SP, o modelo de urbanização que eu chamo de "estilo gafanhoto". Vamos devorando os espaços e quando não serve mais levantamos voô e vamos pra outro canto.
    Primeiro foi o centro velho, deslocou pra República, subiu pra Paulista, desceu até a Faria Lima, deslocou ao longo do Pinheiros em direção à Berrini. Uma parte da nuvem já está se preparando prá acabar com a Barra Funda ao longo da Marquês de São Vicente. Outra parte nuvem se desgarrou uns anos atrás e foi em direção oeste, mas precisamente para Alphaville. Essa região a tarde fica intransitável igual as ruas de SP.
    Estou pensando seriamente em comprar uma bicicleta, mas para uma pessoa com 50 anos atravessar SP da zona norte à zona sul de bicicleta, sei não, acho melhor ficar quieto no meu canto, ou melhor no meu volante.
    Terminando, tempos atrás parte dos moradores de Moema estavam fazendo um abaixo assinado contra a construção de uma estação de metrô no bairro. Vai entender esse povo…

    Abs
    Roberto

  10. Sou um estudioso da mobilidade urbana e acredito na “Mobilidade Cidadã”, portanto faço algumas observações quanto às propostas do Manifesto.
    Entendo que a única proposta que deveríamos gastar energia, por entender que não inviabilizaria às outras e de fato dá condições à viabilização destas.
    É a “Construção de um Plano Municipal de Mobilidade e Transporte Sustentáveis”, com ampla participação da sociedade para decidir pelos investimentos públicos na área.
    Agora não acredito que sem uma pressão da sociedade civil organizada, vá acontecer alguma coisa.
    O nosso posicionamento tem que ser firme frente às indignações, como a “obra da Marginal Tietê”, que além de impactar o meio ambiente negativamente, como comentado por vários especialistas, pela derrubada indiscriminada de algumas arvores e a contra partida, “sem pé nem cabeça”, ainda tem como conceito básico aumentar o espaço para o automóvel.
    Eduardo Facchini

  11. Milton, quero relatar algo que presenciei hoje por volta das 20:45 na Av. Paulista durante um movimento de ciclistas. Eu estava aguardando para atravessar a Av. Paulista diante da faixa de pedestres que existe próximo ao cruzamento com a Al. Joaquim Eugênio de Lima (em frente ao prédio da Gazeta), quando o farol abriu para os pedestres e vários ciclistas simplesmente ignoram este fato e continuaram a pedalar, como o outro farol também estava fechado tiveram que parar e ficaram em cima da faixa de pedestres. Eu, para fazer a minha travessia tive que fazer um “zigue-zague” entre as bicicletas. Não adianta reivindicar a criação de ciclovias ou faixas exclusivas se os atuais ciclistas já desrespeitam as leis de trânsito.

  12. Olá Milton,
    Pergunta para o nosso hororável Kassab como está a ciclovia da Av. Robert Kennedy.
    Moro na zona sul e por aquí o ciclista “pena” .
    Esta ciclivia esta em construção a quase um ano e até agora nada.
    Um abraço grande
    ,
    Miguel Magalhães

Deixar mensagem para Marcelo Cancelar resposta