O investimento nos campos de futebol de várzea, projeto que poderia se transformar em apoio a prática do esporte e incentivo as atividades de entreterimento nas periferias desasistidas da capital, se confunde com a estratégia eleitoral de vereadores e candidatos a tal, em São Paulo. Reportagem do Estadão de domingo, assinada pelos jornalistas Bruno Paes Manso e Diego Zanchetta, mostra que a prefeitura desembolsou cerca de R$ 800 mi, desde 2007, para recuperar mais de 300 campos, 1/4 dessa verba saiu de emendas parlamentares.
Das muitas frases das cinco reportagens publicadas em duas páginas, uma me preocupa em especial: “Alguns líderes comunitários, contudo, reclamam que atualmente só conseguem melhorias quando se comprometem com parlamentares”. No momento em que a construção e recuperação dos campos estão relacionadas ao apoio de vereadores, todos os objetivos do programa ficam desvirtuados. Contamina-se uma prática que deveria ser incentivada.
O Orçamento é público e a este deve servir, única e exclusivamente. No momento em que sua execução se torna refém dos desejos de vereadores, torna-se privado.
Deixarei aqui os links das duas reportagens que estão abertas ao público:
“Investimento público na várzea reforma 300 campos em três anos”
Para Prefeitura, grama fica até 40% mais cara
E reproduzo trecho do artigo “O que mantém o clientelismo vivo”, do professor Fernando Antonio Azevedo, cientista político e docente da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) que, infelizmente, está bloqueado e apenas pessoas cadastradas podem acessá-lo:
… Como tudo isso funciona? Na elaboração do Orçamento, o parlamentar destina verbas para atender sua base eleitoral. Como o Orçamento no Brasil não é impositivo, mas autorizativo, o Poder Executivo ganha grande margem de manobra para barganhar apoio político com os parlamentares: emendas são liberadas quase sempre de acordo com conveniências e necessidades políticas do governo. E o parlamentar aparece diante da sua clientela política como patrono dos benefícios.
É por isso que São Paulo terá mais de 622 campos para a prática do futebol de várzea. Isso pode não nos tornar uma potência olímpica, mas levará os políticos ao pódio eleitoral.

A prática de "faço um favor em troca do seu apoio" com relação a políticos com instituições, associações de bairro e quicá, nas entidades esportivas amadores, não é nenhuma novidade, dentro da cultura política que temos no Brasil.
Seria bom se as melhorias fossem apenas para satisfazer as necessidades da comunidade, mas é fato, cobrar as melhorias em troca de voto. No período das eleições é comum chegar correspondências de comunidades locais com apoio a um ou a outro político. Imagino o tamanho da "dívida" deles com os tais candidatos.