Reforma Política dispensa Constituinte

 

Por Antônio Augusto Mayer dos Santos

Com alguma freqüência, surge apregoada por Congressistas e neste ano eleitoral por candidatos, a idéia de convocação de uma Assembléia Nacional Constituinte para a implementação da Reforma Política que este país exige. Segundo eles, esta seria a solução ideal para resolver a questão político-eleitoral do país.

Entretanto, a par de messiânica, retórica e demasiadamente simplista, esta não é uma solução apropriada ou tampouco recomendada, sequer pela Ordem dos Advogados do Brasil. Vejamos.

Constituinte é um procedimento de natureza extraordinária que exige rigorosos pressupostos. Todavia, estes se encontram ausentes do cenário nacional. Além disso, é importante ressaltar que os principais temas da Reforma já estão materializados em projetos que tramitam no Congresso Nacional, muitos em condições de pauta. Por outra, conforme advertem renomados especialistas e estudiosos, uma Assembléia Nacional praticamente paralisa o Legislativo, situação esta que, por óbvias razões, dispensa aprofundamentos.

Também que, pelo fato de ser exclusiva, a Constituinte não disporia de poderes para legislar as matérias de hierarquia inferior que dariam efetidade às novas regras constitucionais, o que indubitavelmente frustraria a sua decantada gênese na medida que diversos itens permaneceriam pendentes de regulamentação.

Contudo, a principal impropriedade é mesmo de natureza técnica. Primeiro, porque a maioria dos itens da Reforma não ostenta mínima envergadura ou aptidão constitucional. Depois, que Constituinte parcial para tratar de uma única matéria é algo contraditório e praticamente inexplicável. Por fim, fique claro que não há nada, absolutamente nada no texto da Constituição Federal vigente que impeça a implementação de alterações eleitorais, partidárias ou de representação popular. Ademais, o povo já delegou poderes para esta finalidade. O que ocorre, na verdade, é uma vergonhosa omissão parlamentar.

Nem mesmo os anêmicos índices de credibilidade que as pesquisas de opinião conferem à maioria dos Congressistas tem sido suficientes para substituir a retórica pela atitude. Ora, se sem Constituinte a maioria do Congresso, a começar pelas bancadas governistas, já se curva sem maior esforço e crítica para ratificar as Medidas Provisórias, que se dirá sob uma Constituinte.

Para concretizar pressões legítimas em torno desta atitude, é importante que os eleitores brasileiros elejam neste pleito de 2010, parlamentares comprometidos com mudanças e reformas concretas. Assim, se na propaganda do candidato constar que ele se compromete com a Reforma Política mas no exercício do seu mandato ele não honrar o compromisso, que não seja reeleito na próxima.

E mais: que receba manifestações de cobrança dos eleitores pelo fax do seu gabinete na Câmara dos Deputados (www.camara.gov.br), escritório político, torpedos em celulares, cartas, telegramas, editoriais em jornais, sites, blogs, etc.

Assim, se num primeiro exame a tese da Constituinte se revela simpática, sedutora ou dotada de potencial para supostamente solucionar os problemas mais aflitivos da matéria, na prática, ela se revela um procedimento contraproducente e impróprio.

Diante do volume de projetos que tramita em torno do assunto, a convocação de uma Constituinte apenas acentuaria a incapacidade do Congresso Nacional para executar sua tarefa precípua e natural: legislar.

Antônio Augusto Mayer dos Santos é advogado especialista em direito eleitoral e autor do livro “Reforma Política – inércia e controvérsias” (Editora Age). Às segundas, escreve no Blog do Mílton Jung.

2 comentários sobre “Reforma Política dispensa Constituinte

  1. Pois é, o mais difícil neste caso, é encontrar parlamentares realmente comprometidos com a reforma política. Por enquanto sinto que este assunto continuará em pauta por muito tempo. Espero estar errado…

  2. Quanto tempo durará esta Constituição?

    (*) Nelson Valente

    Eu pergunto: quanto tempo durará esta Constituição? Porque suas falhas são múltiplas. Eu daria um elenco delas. A começar pelo voto aos 16 anos, que me parece jocoso. O cidadão não pode tirar carta de motorista, não pode viajar sem autorização dos pais e pode votar. Há alguma lógica nisto ? Ele não pode abrir nem um boteco na esquina, porque a lei o impede.

    Ela não vigorará por muito tempo. Será reformada de acordo com as circunstâncias ou será reformada através de ato de violência.

    Não é uma boa Constituição. Para começar, os que a escreveram não devem ter tido noções elementares da língua portuguesa.
    Esse filólogo que lá esteve deveria falar o esperanto, porque a Constituição o leva estudar o esperanto. Ou então ele já desistiu da língua portuguesa.

    Em primeiro lugar, a escolha dos constituintes não foi a melhor. Foram eleitos deputados e se fizeram constituintes.
    Nós temos uma Constituição boi-vaca. Venha alguém me dizer que ela é de esquerda. Venha alguém me dizer que ela reacionária. Não concordo com nenhum deles.

    Na reforma agrária os erros são muitos. Até nas concessões sociais para a mulher gestante, por exemplo, ou para o repouso do marido na licença-paternidade. Quero acreditar que o Xingu, tenha influenciado bastante, porque lá a mulher dá à luz e o homem vai para a rede repousar.

    Essa Constituição é uma frustração. Imaginava-se uma Constituição liberal, com algumas concessões populares, que não chamo de esquerdizantes, porque a legislação inglesa, ligada a monarquia, prevê alguns desses princípios.

    Temos um país no qual as condições econômicas são tão ruins que se o dinheiro aplicado no exterior por brasileiros voltasse para cá, nós poderíamos ser credores do mundo, não devedores. Milhares e milhares de brasileiros têm dinheiro lá fora. E quem quer aplicar sua fortuna aqui ?

    Depois, há no Brasil, o que é muito ruim, uma desigualdade, uma discrepância muito grande entre ricos e pobres. Os ricos têm tudo e os pobres não têm coisa alguma.Não têm nem terra, não têm alguns metros quadrados para arar, plantar seu feijãozinho, milhinho, suas plantas.

    A nossa Constituição diz claramente que são proibidos os privilégios. Pois agora se fala em reservar um certo número de vagas nas universidades para jovens oriundos das escolas públicas, acabando com a “seletividade”dos exames vestibulares, que estariam privilegiando estudantes dos estamentos sócio-econômicos de mais alto nível.Todos são brasileiros, todos deveriam ter direito à cidadania, mas enquanto uns têm o privilégio do ensino superior, outros de candidatam ao vestibular da marginalidade, com a pós-graduação no crime organizado.

    (*) é professor universitário, jornalista e escritor

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