
Por Devanir Amâncio
ONG EducaSP
Para o carroceiro Francisco Inácio do Santos, a quarta- feira, 13/1/010, foi um dia de muito trabalho e reflexão. Seria apenas mais um dia de busca de materiais recicláveis, se a sua carroça não tivesse perdido a direção e quebrado na descida da rua do Ouvidor, Praça da Bandeira, com 250 quilos de papelão. Para consertá-la, contou com a solidariedade de algumas pessoas.
Francisco falou um pouco de seu trabalho: “Quando a tarde vai chegando, o cansaço é tremendo. Sinto uma enorme fraqueza nas pernas. Há horas que dá vontade de desistir e largar tudo. Não posso fraquejar. O que mantém um homem de pé é a disposição pelo trabalho, a fé num ser superior. De que tenho medo? Olha, a rua é brutal. Tenho medo de gente pessimista, ignorante… Medo de morrer puxando carroça. É muito peso. Estou a caminho dos 70. Não, não sou o único velho, tem gente mais velha do que eu no varal de uma carroça. É preciso garra! Nem todo mundo aguenta, pensa assim… A velhice não me assusta. O que me assusta é a velhice acomodada, maltratada, esquecida, abandonada. Não, não me sinto velho abandonado. As pessoas são diferentes. Tenho um projeto… Alguém sabe quantos velhinhos de rua tem a cidade? Muitos estão doentes, morrendo à míngua debaixo dos viadutos. Eu estou trabalhando. A cidade está entupida de moradores de rua. Uma hora tudo isso explode¨.
Francisco está cuidando de sua aposentadoria e sonha com a paz das praias de João Pessoa, Paraíba, a sua terra.
Quando eu crescer quero ser bem assim, feito o Seu Francisco. Tenho mais de cinquenta anos e estou convencido que antes que todos os outros, o idoso se abandona. Se eu não me abandonar, não vou dar exemplos aos outros de que eu posso ser abandonado. A cada dia que passa, mais as pessoas precisam trabalhar por mais tempo, avançar mais na idade produtiva sob o risco de morrer de fome. E isso tem sido muito bom pois a máquina que pára, enferruja e morre. Nossos velhos estão muito mais saudáveis que os de antigamente. Quando eu era pequeno as pessoas com mais de quarenta anos eram bem velhinhas e estavam esperando a morte e hoje, fui pai aos cinquenta e um e não tenho o direito de pensar em parar pois tenho obrigação de pagar escola até os setenta e tal. Gráças à Deus.
Muitos hoje carroceiros, por causa da idade, falta de opção foram expulsos de casa pela propria familia
Não imporque quais os motivos
Esquecidos pela sociedade, politicos, ongs, governantes.
Outros deixaram suas familias em seus locais de origem, vieram a São Pauio tentar a sorte, mas a sorte não lhes deu atenção e agora não tem condições de retornar as suas terras.
alguem ja parou um pouco para conversar com um carroceiro, sobre o seu passado?
Pois procurem saber.
temos bolsa familia, disso, daquilo, etc
E mesmo assim……………………
Quanta injustiça.
Filhos expusam pais idosos de casa para ficarem com as suas aposentadorias, pensão.
Onde está o pessoal dos direitos humanos, pastorais, etc?
Receita pessoal para a (boa) velhice:
– Seja auto-suficiente (uma confortável aposentadoria) e procure sempre estar invisível, inaudível, imperceptível.
– E lembre-se da oração sem contra-indicações:
Senhor Equilíbrio Emocional, fazei de mim instrumento de vossa sabedoria.
Onde houver ódio, que eu fique longe.
Onde houver ofensa, que eu fique distante.
Onde houver discórdia, que eu fique afastado.
Onde houver dúvida, que eu permaneça desconhecido.
Onde houver erro, que eu despreze.
Onde houver desespero, que eu nem fique sabendo.
Onde houver tristeza, que eu nem seja lembrado.
Onde houver trevas, que eu passe ao largo.
Oh Equilíbrio Emocional, neste meu ocaso de vida
fazei com que eu procure mais
cuidar ao menos um pouco de mim,
pensar mais em mim,
esquecer de fazer o bem para todos.
Pois é dando que somos mais explorados,
é perdoando que nos tornamos enfraquecidos,
e é morrendo que somos esquecidos por toda a eternidade.
(Na idade em que estou, velho, apanhei muito para continuar sendo burro de carga para os outros. O crematório me espera para muito breve!)