D’aqueles dias

 

Por Maria Lucia Solla
Ouça D’aqueles dias na voz da autora

Ontem foi mais um daqueles dias.

“Aqueles dias” têm enredos diferentes, mas elementos comuns: balbúrdia e tsuname de emoção, sensibilidade à flor da pele, incoerência, derrame lacrimal, incapacidade de realizar tarefa dita normal e dificuldade de concentração. Esse é o sintoma mais grave num mundo onde eficiência é fundamental, e a falta dela, condenação; ponto final.

você pode não ser agradável sociável inteligente
mas se não for eficiente
é considerado socialmente doente

pobre do poeta sonhador
que sofre do mal de amor
pobre de quem tem saudade
e que para tudo por um momento de amizade
que dá o que tem pela fé
e não abre mão da verdade

O fato de não fazer o que deve, sem ter muito claro o que é que deve fazer, é para ser escondido de todos. Dito à boca pequena. Não é falta confessável. É para ser guardada no cofre onde moram a dor de amor, da saudade e a fome de cumplicidade.

quem não tem eficiência de verdade
não anda no ritmo marcado pela sociedade
não ostenta o oficial carimbo
não encaixa a própria vida em planilha do Excel
é condenado a passar seus dias no limbo
Santo Deus do Céu!

Há rótulo e oficina para cada caso, no entanto; pílula mágica vendida na farmácia, legal ou ilegalmente – tanto faz – na drogaria, na academia, na clínica de estética e de dieta frenética. O objetivo é fazer você caber no modelo da hora, e se você atrasa ou adianta, meu filho, é simplesmente largado do lado de fora.

só o poeta sonhador que acolhe e respeita a dor
consegue escapar das teias da eficiência
com arte e com rima
com esperançca e paciência

o homem não tem mais tempo de ser poeta
atrofia o coração e esquece a grandeza do perdão

Mas eu não quero te levar a perder tempo, a deixar as tarefas de lado, a perder a distribuição da senha da eficiência. Nem quero que franza o teu senho pensando na dor que eu tenho, porque amanhã certamente, depois desse expurgar de algo que era preciso deixar, vou sorrir como nunca, vou cantar e desafinar sem medo, sem pudor de mostrar também o avesso da dor.

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e realiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung

17 comentários sobre “D’aqueles dias

  1. Pobres de nós que maximizamos, otimizamos, sabemos a teoria do certo, escolhemos sempre o melhor. Anestesiamos toda a dor e calculamos o futuro no vestibular aos 16 anos de idade, se é que ainda é aos 16.
    Quem sabe da vida aos 16?
    Viva os poetas que sofrem e tremem os medos que transformam em ciência pra se viver melhor. Sem muito calcular riscos, mas certos de que depois da tempestade sempre haverá a bonança e que tão gentilmente dividem com quem têm ouvidos para ouvir. Gosto muito das minhas manhãs de domingo. Valeu Malú!

  2. Realmente Mike Lima
    Tem dias que nos parece que dá umas travadas" e nem com Ctrl+Alt+Del resolve.
    Só resetando o sistema e recomeçar doz ero tudo de novo!
    Principalmente hoje com calor beirando os 30, abafado e com 1010 QNH.
    ôoo preguiça mardita!
    Bjus
    Armando Italo

  3. Cláudio,

    passei o dia fora e só cheguei aqui agorinha. Aniversário da mamãe, a dona clélia!

    Bom trabalho pra vc e passa por aqui de novo.

    Beijo,
    ml

  4. alfa india november,

    o blog engoliu a minha resposta para você.

    Então vai só a minha gratidão por me ouvir e que vc tenha uma ótima semana.

    Beijo,
    ml

  5. Malu,

    As vezes penso:

    A vida é uma dívida
    Desde que nascemos
    Temos o dever disso
    dever daquilo
    Somos eternamente cobrados
    pelo que não devemos

    Desejo boa semana, e que não lhe cobrem o que vc não deve

  6. Lindo texto Maria Lucia, o pior é que a tal da eficiência às vezes é cobrado por nós mesmo. A gente se cobra muito. Estamos sempre de pires na mão mendigando atenção e aprovação dos outros. A gente tem que ser o primeiro em tudo, do contrário vem a insatisfação e depressão. Por isso adoro a frase do filosófo Róger Moreira (vocalista e compistor do Ultraje a Rigor): “Eu Me Amo e Não Consigo Mais Viver Sem Mim”, e dane-se a sociedade que nos exige eficiência e perfeição.

  7. A a vida, a sociedade, a familia, todos de alguma forma, cobram.
    e como cobram!
    somos pressionados dioturnamente sobre vários aspectos.
    ai pergunto:
    Para chegarmos aonde?
    Para quê?
    Para quem?
    Quais as finalidades, as vantagens de nos matarmos para atingirmos metas, numeros, posições inatingíveis, com objetivos únicos e tão somente “para dar satisfação” a sociedade?
    Vale apena, “aceitar e acatar” tantas e tantas pressões, cobranças, estas muitas veses ultramassam os nossos limites?
    Boa semana a todos.
    Armando Italo

  8. daniel,

    bem lembrado!
    Aí vai a letra para quem ficou curioso:

    Há tanto tempo eu vinha me procurando
    Quanto tempo faz, já nem lembro mais
    Sempre correndo atrás de mim feito um louco
    Tentando sair desse meu sufoco
    Eu era tudo que eu podia querer
    Era tão simples e eu custei prá aprender
    Daqui prá frente nova vida eu terei
    Sempre a meu lado bem feliz eu serei

    Refrão
    Eu me amo, eu me amo
    Não posso mais viver sem mim

    Como foi bom eu ter aparecido
    Nessa minha vida já um tanto sofrida
    Já não sabia mais o que fazer
    Prá eu gostar de mim, me aceitar assim
    Eu que queria tanto ter alguém
    Agora eu sei sem mim eu não sou ninguém
    Longe de mim nada mais faz sentido
    Prá toda vida eu quero estar comigo

    Refrão
    Eu me amo, eu me amo
    Não posso mais viver sem mim

    Foi tão difícil prá eu me encontrar
    É muito fácil um grande amor acabar, mas
    Eu vou lutar por esse amor até o fim
    Não vou mais deixar eu fugir de mim
    Agora eu tenho uma razão pra viver
    Agora eu posso até gostar de você
    Completamente eu vou poder me entregar
    É bem melhor você sabendo se amar

    Refrão
    Eu me amo, eu me amo
    Não posso mais viver sem mim

    Beijo e boa semana,
    ml

  9. Oi Mike Lima

    Desde a tenra infância “nos ensinam” para lutarmos que nem malucos, freneticamente, doentiamente, para estudfar, termos uma formação, profissão, depois arduamente vamos ganhar dinheiro, de preferencia muito, para depois de muita luta, labuta, batalha, sofrimentos, stresses, conseguimos, bela moradia super equipada, belos automoveis do ano, um barco, uma moto, sitio, chácara imoveis, ações, frequentamos melhores restaurantes, lojas, lugares da moda, e por ai vai.
    Depois das tantas e tantas “realizações”, lutamos o triplo numa tentativa de se conseguir manter tudo isso acima pró sociedade, “amigos e parentes”.
    Que paradoxo não?!
    e o aspecto mais importante, entre outros citados no poema acima, ………. o amor……………..

    “Refrão
    Eu me amo, eu me amo
    Não posso mais viver sem mim”

    Deixa de exisistir e quando vamos nos dar conta, acabar ficando tarde!

    Bjus
    Armando Italo

  10. Maria Lúcia escapei de uma, você não sabe !!

    Tive uma sexta-feira D’AQUELAS, há muito tempo não me sentia D’AQUELE jeito, então quando a Jú chegou (de madrugada) eu disse a ela : Jú, amanhã não vou pra feijoada com seu pai, eu vou ligar para Maria Lúcia e se der passo lá para conversar. Então a Jú com seus 21 anos de sabedoria, delicadeza me disse: Mãe…espera outra oportunidade para falar com ela, não leve esta carga…e conversamos um pouco sobre…e assim no sábado fiz o que eu tinha que fazer, e agora bastaria colar e copiar o último parágrafo do seu texto. Menina, o que aconteceria se eu tivesse levado meu peso para você ?? Só tenho uma certeza: me ouviria com todo seu amor e o resto, só Deus sabe. Conversaremos breve, espero.

    beijos, rosa

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