As coligações, os arranjos e o poder

 

Por Antônio Augusto Mayer dos Santos

Os horários de propaganda eleitoral no rádio e na televisão a serem veiculados apenas nos 45 dias anteriores à eleição decorrem de algo bem objetivo e específico: o resultado obtido pelos partidos políticos nas eleições para a Câmara dos Deputados. Quanto mais deputados federais eleitos, maior será o horário do partido nas eleições seguintes. Antes, quando não vigorava a fidelidade partidária, predominava a composição das bancadas à época da posse, agora vale aquela da eleição.

É por esta singela razão que (a) as coligações estaduais e mesmo a presidencial demoram a acontecer e são entabuladas ou armadas como se tudo não passasse de um grande jogo nu e cru e (b) os partidos maiores resistem a formar coligações para disputas proporcionais, vez que correm o risco das siglas menores, uma vez coligadas, elegerem alguém naquela vaga.

Ante o visível enfraquecimento, senão desaparecimento dos comícios tradicionais e o crescente desinteresse do povo pela política, o que vale agora é ter espaço na propaganda eleitoral gratuita. Com isto, dane-se a coerência ou as afinidades entre os partidos, o que vale mesmo são os preciosos minutos de mídia e ponto. Aliás, saiba o eleitor que não existe regra jurídica no Brasil que obrigue as coligações a buscarem afinidade programática para se associarem na disputa de pleitos.

Contudo, é justamente este aspecto de promiscuidade e interesse eleitoreiro que vitaliza o embrião das corrupções eleitorais e administrativas: aquelas por conta de negociações de duvidosa probidade acerca dos horários de propaganda gratuita para a campanha eleitoral; estas outras pelo loteamento de cargos públicos nas administrações.

Vejamos de outra forma:

O que é eleição proporcional?

É a disputa entre candidatos a deputado estadual e federal. Cada partido terá direito a um número de cadeiras conforme seu desempenho eleitoral. Quanto maior a votação total da sigla, maior será o número de vagas. A distribuição de forças decorre de um cálculo proporcional (quociente) e os lugares são preenchidos pelos mais votados.

O que é a coligação na proporcional?

Esta aliança ocorre quando duas ou mais legendas se unem formalmente (após as coligações assim deliberarem) para fazer propaganda eleitoral e disputar cadeiras legislativas. Os votos dos partidos são computados conjuntamente (todos os partidos formam um só) para calcular a porção de cadeiras destinada à coligação.

Quando essa aliança pode ser vantajosa?

Tema complexo.

Partidos pequenos – Sozinhas, siglas com estrutura limitada não disporiam de nomes para preencher integralmente as nominatas, tampouco votos suficientes para garantir vagas na hora do rateio. Com a aliança, somam forças para obter uma votação maior. Ficam com os lugares conquistados os candidatos que tiverem maior votação individual.


Partidos grandes – Tendo candidatos fortes, podem ampliar o seu número de eleitos (número de cadeiras). Isso porque a aliança garante uma maior fatia de vagas à coligação, mas a maior parte das cadeiras fica para a legenda que tiver os nomes com maior votação individual.

Quando essa aliança pode ser desvantajosa?

Tema também complexo.

Partidos grandes – Mesmo dotada de nominata completa e nomes fortes, experimentados e com amplos apoios consolidados, um partido corre o risco de a outra legenda coligada surpreender no momento da contagem de votos e ter candidatos com votação individual maior, que levariam mais cadeiras.

Partidos pequenos – Coligada a um partido grande, uma legenda menor ou pequena contribui para ampliar o total de cadeiras, mas pode ver a maior parte delas migrar para o partido maior, com candidatos de maior
votação.

Antônio Augusto Mayer dos Santos é advogado especialista em direito eleitoral, professor e autor do livro “Reforma Política – inércia e controvérsias” (Editora Age). Às segundas, escreve no Blog do Mílton Jung.

5 comentários sobre “As coligações, os arranjos e o poder

  1. Olá Milton,

    Agora dá para entender porque os partidos “nanicos” costumam lançar “celebridades” como candidatos.
    Vale tudo em nome da propaganda eleitoral, candidatura de ex-BBBS, funkeiros, ex-jogadores, comediantes, cantores, etc…

    Abraços.

  2. Depois da eleição e de conquistas de bons números de cadeiras, as coligações viram conchavos, apadrinhamentos, favorecimentos e cobrança entre eles. Bons projetos se tornam coadjuvantes, diante da dificuldade de aprova-los, a começar pelos coligados: Estes, cada um com seu próprio interesse. Harmonia de intenções, é apenas suposição em época de eleição.

  3. Sempre assim.
    politicos só,pensam neles, em seus próprios beneficios.
    Para o povo não ficar pensando que não fazem nada em beneficio do povo, dão as migalhas para o povo.
    A megalomania impera!
    E assim voltamos a época do feudalismo.
    Caso de um estudo profundo na área da psiquiatria.
    Acho que nem Freud conseguiria explicar essa megalomania dos politicos.

  4. Prezado Armando Italo: Saudações! Freud explica sim. Há um estudo que não somente explica mas nos convence acerca da PSICOPATIA no reino da política. Breve trarei tais considerações para o Blog do Milton Jung, para debatermos. Creio que será muito interessante. Na POLÍTICA, há muita gente boa em atividade mas também há muita gente perturbada que deveria estar ou banida, ou sob tratamento médico ou então nos estabelecimentos penitenciários deste país.

  5. Prezado Dr antonio Augusto.

    Certamente que em todos os meios existem pessoas, profissionais honestos, dignos em suas funções, de caráter ilibados.
    Os normais!
    Infelizmente, em se tratando do meio político os anormais, ao meu ver, e de grande parte da população, são a grande maioria.
    Politicos, do alto e do baixo escalão sendo filmados, flagrados escondendo dinheiro em cuecas, bolsas, sacolas, nos mais bizarros esconderijos, desviando, etc aos olhos de todos e mesmo assim afirmam que não cometeram tais atos, juram de pés juntos diante de todos os santos, que são inocentes, que estão sendo perseguidos ou pela oposição ou pela situação.
    É caso sim de psiquiatria.
    Cada politico, candidato deve ser sim exigida a sua ficha, o seu curriculum, criminal, cível, e o que se fizer necessário e ser publicado na midia.
    Sorte terão os honestos
    E os que devem……………………
    Por onde anda Diógenes e a sua lanterna?
    Abraços
    Armando Italo

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