Direto da Cidade do Cabo
Primeiro de tudo. Esqueça este papo de que jornalista é imparcial. Não torce por ninguém. Torcemos, sim. E este que vos escreve é gremista desde pequenininho. Azar de quem não gosta.
Em seguida, vamos ao que interessa.
A bola começa a rolar, e você lá com aquele olhar blazê. Coreia do Sul e Grécia, não interessa. A troca de bola rápida chama a atenção. A movimentação de um dos times lhe agrada. A defesa do goleiro, entusiasma. E, de repente, o gol. E você, discreto, comemora. Por que você torce ?
Eu escolhi os asiáticos porque mostraram futebol melhor do que os gregos, e estavam cheios de Jung na escalação. Me dei bem.
Aqui na Terra da Copa, há torcedores de todos os lados. Eles caminham juntos, cruzam um pelo outro, tocam uma corneta (não, não é da vuvuzela que estou falando), brincam, se cumprimentam e seguem em frente. Vestem a camisa da sua seleção, pintam o rosto com a bandeira nacional e às vezes pregam algumas peças.
O menino com a jaqueta do Brasil é mexicano. O brasileiro de verde e amarelo veste o uniforme da África do Sul. As suecas, também. E os dois argentinos não se acanham de andar prá lá e prá cá com a bandeirinha da Inglaterra – receberam de umas moças de shorts curto que saíram de dentro de um enorme e barulhento ônibus que tocava o hino da Rainha, diante da praça na qual turistas se encontram em V & A Waterfront, área rica da cidade.
No jogo da Argentina, a torcida dos brasileiros pela Nigéria era explícita. Os poucos ataques do time africano eram acompanhados com atenção; enquanto os chutes de Messi e companhia, com apreensão. Não fiz parte desta torcida, pois tendo a ficar com os sul-americanos, mesmo quando estes são considerados arquirivais. Acertei o lado, de novo.
EUA e Inglaterra estavam em campo lá na parte de cima da África do Sul. Aqui na parte de baixo, “americanos” e “ingleses” sentaram lado a lado em uma pequena arena montada diante de um tela gigante de TV na praça do shopping Victoria Wharf. Havia africanos-ingleses, franceses-americanos, indiano-ingleses, sei-lá-o-quê-americanos e assim por diante.
Conversei com alguns brasileiros: Marcelo torce para os EUA porque “eles estão melhorando”; Fabi para a seleção de Beckham e ele é o motivo da torcida dela; Carol morou seis meses em Londres e não tem receio em socar o ar quando sai o primeiro gol do jogo; está com mais dois amigos que também viveram por lá e até agora não entenderam como Green deixou a bola passar. Eles quiseram saber para quem eu torcia: Inglaterra, eu disse. Se não os americanos vão perder em que esporte ?
A torcida internacional no Victoria Wharf se definia de acordo com o passar do jogo. Havia umas 400 pessoas sentadas nas arquibancadas ou debruçadas nas cercas do andar de cima. Os ingleses de origem e os agregados eram maioria, apenas uma pequena parcela comemorava os lances em favor dos Estados Unidos. Havia americanos de verdade, com bandeira enrolada, garrafa de whisky na mão e mais exaltados do que todos. Quando ensaiavam um “USA” desafinado, eram logo calados pelo “England” que soava mais alto e em diferentes sotaques.
As três amigas sul-africanas que estavam voltando para casa, depois de um dia de trabalho no shopping, sentaram por ali mesmo. A mais excitada era “american”, a colega “england” e a terceira “não-fede-nem-cheira”: “Nem gosto muito de futebol, mas está muito divertido.
Assim que a temperatura baixou ainda mais e a chuva apareceu, Inglaterra e Estados Unidos perderam o apoio de uma parcela da torcida.
“Por que vai embora ?”, perguntei. “Com essa chuva, deixa eles pra lá”, respondeu o torcedor com o moleton estampando a bandeira da Eslovênia. Deve ter deixado o local feliz com o empate de 1 a 1 que assistiu. Ele não estava ali torcendo, estava secando. A seleção dele joga amanhã contra a Argélia e se vencer termina a primeira rodada líder.
E você, como escolhe a seleção pela qual vai torcer. Ou secar ?




Olá Milton,
Eu torço pela seleção que pode surpreender até mesmo os melhores comentaristas de futebol do mundo! Afinal, deve ser mais divertido ter que explicar o imponderável do que o óbvio!
Não gosto muito dessa coisa ‘Brasil:ame-o ou deixe-o’ imposta pela comandante da seleção brasileira. Aliás, não gosto nem um pouco dessa imagem de ‘guerreiros’ de alguns dos nossos meninos propaganda de cerveja. Prefiro a brincadeira do ‘pedala Robinho’ de um comercial de tv a cabo pois tem mais a cara do Brasil.
Enfim, torço pela diversão. E acho que não é isso que veremos com a nossa seleção comandada pelo homem mais ‘zangado’ do mundo!
Bjos e não se esqueça das pantufinhas de zebra do prof Heródoto.
Ciça Lopes