Direto de Roma/Itália
Fique atento ao hino nacional alemão assim que se iniciar a cerimônia de abertura do jogo que decidirá o terceiro lugar da Copa do Mundo contra o Uruguai. Não é preciso se ater a letra nem mesmo a sonoridade – hinos costumam ser eloquentes em qualquer parte do mundo. Enquanto a câmera desfila no gramado, preste atenção no rosto daqueles jogadores. Em cada face a melhor resposta que a Alemanha poderia dar ao capítulo mais estúpido de sua história, a mais absurda guerra racial que o mundo já assistiu.
Aparecerão brancos e negros perfilados. Olhos com traços turcos e sérvios. Narizes espanhóis e poloneses. Cabelos africanos e brasileiros. Todos vestindo a mesma camisa e defendendo a mesma Nação. Uma diversidade inimaginável para um povo que teve sua vida marcada pelo regime nazista, nas décadas de 1930 e 1940.
Ao elencar os 23 jogadores que disputariam a Copa da África, os critérios usados por Joachim Löw foram esportivos. Nem poderiam ser diferentes. E os resultados alcançados até aqui, mesmo fora da final, mostram que as escolhas foram corretas. Para muitos, a Alemanha foi quem mostrou o melhor futebol deste Mundial e mereceria, inclusive, o título da edição 2010.
O jovem treinador e ex-jogador alemão, porém, reuniu uma diversidade de atletas que simbolizam muito mais do que apenas uma equipe de futebol – uma equipe de futebol muito boa, ressalte-se.
Onze dos que foram para a África representar a Alemanha nasceram fora do País ou são de origem estrangeira.
Dois de seus maiores destaques, Lukas Podolski e Miroslav Klose, são poloneses por nascimento. Autor de um dos primeiros gols da Alemanha, nesta Copa, Cacau é de Santo André (SP). Marko Marin é da Bósnia, tem origem sérvia, e se naturalizou alemão.
O pai de Jérôme Boateng é de Gana e se casou com uma alemã. Sangue africano também tem Dennis Aogo, nascido no país e com ascendência nigeriana. Sami Khedira tem pai da Tunísia. Özil e Tasci são de origem turca; Trochowski, polonesa; e Mário Gomez, espanhola.
Sabemos que na maioria das vezes estas histórias sequer são percebidas por seus protagonistas muito mais pragmáticos nas escolhas do que a própria geopolítica do futebol possa nos parecer. Mas é sintomático que estes alemães-turcos e alemães-africanos – apenas como exemplo – estejam lado a lado disputando uma Copa construída na África, país que ainda sofre com as sombras criadas pelo apartheid.
Quando Nelson Mandela imaginou levar a competição para a África do Sul sabia que seria a oportunidade de chamar atenção do mundo para seu povo e alertar a todos sobre a necessidade de combater, constantemente, o racismo. Faixas são abertas diante das câmeras de televisão e capitães são convocados a ler mensagens a todo o público, mas poucas coisas podem ser mais ilustrativas na luta à intolerância do que estas seleções ‘globalizadas’.
E quando este sinal vem de um país como a Alemanha, seu grito é ainda mais forte. Muito mais forte e importante do que o futebol apresentado até aqui por esta ou qualquer outra seleção.
Portanto, hoje, quando o hino alemão tocar, em lugar das vuvuzelas, tente ouvir a mensagem subliminar que a mistura daqueles rostos nos transmite. E pense como é possível no seu dia a dia ser menos intolerante com qualquer tipo de diferença.
Poie é Milton
Alemanha!
Quem te viu, quem te vê!
é por ai!
Mussolini utilizou a Copa do Mundo em seu país para promover o homem italiano, mas nenhum líder foi tão nefasto no uso de atletas quanto Adolf Hitler. O seu ministro de propaganda Paul Joseph Goebbels utilizou a luta entre Joe Louis dos E.U.A e Max Schmeling de seu país como uma forma de exaltar o homem ariano e a supremacia do nacional-socialismo sobre a democracia americana – os iangues queriam provar que sua forma de viver era superior a outra – e um encontro marcante no boxe se tornou uma ferramenta ideológica.
Quando Jack Johnson se tornou o primeiro atleta negro de destaque, ao vencer o título mundial de boxe no início do século XX, revoltas raciais tomaram os E.U.A.
É bom ver que o esporte não é apenas entretenimento, mas uma ferramenta de integração social.