Votar é um ato simples, a complexidade está na escolha. Em poucos minutos, entrei e sai da seção eleitoral sem pressa nem congestionamento, fatores comuns para quem vive em São Paulo. Milhares de brasileiros repetiram este gesto no domingo, talvez nem todos com a mesma tranquilidade que encontrei em meu caminho, mas tomando a mesma decisão pelo que entendiam ser melhor para o Brasil. Nem sempre meu pensamento vai no mesmo sentido que o seu, mas todos tem de estar voltado para a mesma direção: o bem do país em que vivemos.
Houve os que abriram mão da escolha, se ausentaram – a abstenção chegou a 21% -, mas nem por isso deixaram de ter uma atitude política.
Se mais não foram as urnas, mesmo que o voto seja obrigação, cabe aos partidos e políticos compreenderem o recado enviado. Talvez não tenham sido suficientemente convincentes em suas ideias. E convenhamos, o que temos assistido anos a fio na política brasileira não é mesmo de transmitir muita confiança.
Sem contar que a própria campanha eleitoral pecou ao não tocar em pontos fundamentais para o desenvolvimento do País. Mesmo pautado pelas pesquisas de opinião, os candidatos preferiram tratar de maneira rasa temas como educação que aparecia no topo da preferência do eleitor. As questões ambientais, com toda a influência da candidatura de Marina Silva, também se restringiram a comentários simplistas. Trocaram-se propostas por máximas imprecisas como “valorizar o professor” e “acabar com o desmatamento”.
Na cobertura da eleição deste domingo, na CBN, tive oportunidade de conversar com dois especialistas, um em educação, outro em meio ambiente. Interessante notar que os assuntos estão interligados. Sem conhecimento não se tem uma economia sustentável, capaz de atender as demandas do país e, ao mesmo tempo, preservar seus recursos naturais, por exemplo.
O oceanógrafo David Zee lembrou que foi com pesquisa (e pesquisadores, claro) que o setor agropecuário aumentou sua produtividade sem ter de derrubar mata. Sim, isto é possível, apesar de setores da economia rural não entenderem desta maneira e seguirem pressionando o parlamento a permitir a aprovação de um Código Florestal que pode se transformar em enorme risco à nossa sobrevivência.
O educador Mozart Neves Ramos, do Movimento Todos Pela Educação, entende que a qualidade do ensino somente terá avanços consideráveis se houver mais investimento e uma gestão profissionalizada nas escolas, além de faculdades de pedagogia capacitadas a qualificar o professor. Nem todos os temas são de responsabilidade direta do Governo Federal, mas o tem como indutor das políticas que permitam estes avanços.
Ambos concordam que as medidas para uma mudança qualificada do País na educação e meio ambiente não podem esperar. E este será dos grandes desafios da nova presidente Dilma Roussef, assim que assumir a função, em 1º de janeiro. Melhor ainda, assim que se iniciarem os trabalhos de composição do seu Governo, pois terá de encontrar pessoas comprometidas com estas ideias e não apenas com as cores partidárias.
Dilma poderia ler a edição da Revista Época deste fim de semana, na qual está pesquisa que trata dos valores mais apreciados pelos brasileiros. Fica evidente que o cidadão deseja viver em um Brasil no qual sejam satisfeitas as suas necessidades físicas e financeiras, mas também que existam condições que garantam a paz, justiça e qualidade de vida. Para tanto é preciso encarar os problemas estruturais e combater a corrupção, um dos aspectos mais citado pelos entrevistados.
E nada disso se constrói sem investimento na educação. Quando isto ocorrer, provavelmente os candidatos não terão mais de se preocupar com o índice de abstenção do eleitor. Por outro lado, terão de se esforçar para mostrar na campanha mais do que simples jargões e ideias vazias.
Além da Época era bom rever os pontos de Marina.
O desmatamento zero é uma das metas que precisaria ser abraçada.
Prezado Milton Yung,
O discurso “Bolsa Família ” do presidente Lula nos leva a pensar numa nova configuração geográfica, entre o Norte e o Sul: o programa Bolsa Família supostamente se destina a acabar com a fome da população de baixa renda. Se o dinheiro é utilizado na aquisição de bens de consumo e serviços, em detrimento da alimentação, não cumpre seu objetivo social.
Com isso o Bolsa Família foi transformado num programa de fidelização de votos. Os beneficiários na realidade estão vendendo votos à prestação e Lula os compra com dinheiro público ao longo dos 4(quatro) ou 8 (oito) e agora, 12 (doze)anos de mandato do Partido dos Trabalhadores. Em minha opinião, trata-se de um caso de polícia, pura e simplesmente. É compra de voto.
O povo precisa evoluir e banir do cenário político do país essas “famílias” que se assenhoraram do poder e sugam a Nação negando um futuro digno às próximas gerações.
O Brasil já gastou alguns planos “Bolsas Eleitorais” em bolsa família, bolsa miséria, bolsa gás e tantos outros programas inúteis. Sequer conseguimos romper a barreira de tirar toda população brasileira da miséria e oferecer saúde, segurança e educação.
Todos esses fatos levam a uma única conclusão. O que falta ao Brasil não são recursos. O Brasil carece de capital humano.
Dois Brasis – desigualmente desiguais.
Separatismo: uma ideia que vem de longe. A unidade nacional brasileira, firmemente proclamada logo na primeira linha da Constituição Federal de 1988, sempre foi contestada, de Norte a Sul, com mais ou menos vigor.
O separatismo nem é novo e nem se baseia sempre nos mesmos argumentos, de região para região. O histórico dos movimentos que procuraram e procuram fragmentar o Brasil, dando origem a novas repúblicas em solo americano, desde o episódio de Amador Bueno, “o rei de São Paulo”, ocorrido em 1641, até os dias de hoje.
Ao que se vê, o nacionalismo riograndense se alastra e já é ostentado em adesivos apostos nos automóveis e lugares públicos inserindo um mapa do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná encimado pelo lema: “O Sul é o meu país!”
No Nordeste repontam reações idênticas. O aguerrido nordestino, que suporta a desgraça com dignidade, vive em estado de penúria, porque a área desenvolvida do Brasil, ao sul da Bahia, assim determinou.
O Nordeste quer isso desde o século XVII, quando os pernambucanos se uniram aos maranhenses para expulsar os franceses do Maranhão (terra de Lula e Sarney). Em 1824, a Confederação do Equador pregava um movimento separatista. Infelizmente, o desfecho foi a execução dos seus líderes, entre eles Frei Caneca. A ideia continua de pé.
Também o Estado de Mato Grosso ensaiou a independência ou anexação à Bolívia, por volta de 1892. Solidária com o Brasil, a Argentina se prontificou a mandar navios de guerra a Corumbá, o que não chegou a ocorrer porque com seus próprios meios o Brasil sufocou o movimento.
São Paulo tem uma extensão territorial superior à de muitos países do continente europeu e podendo comparar perfeitamente em seu seio uma população de mais de quarenta milhões de habitantes, ninguém poderá dizer que São Paulo não possui os elementos necessários para tornar efetiva a sua autonomia política.
Em São Paulo, a hipótese separatista foi abortada. O discurso do presidente da República caminhou para o separatismo famélico entre o Norte e o Sul. Separatismo da “ Bolsa Família”!
O governo cultiva a miséria como se fosse um patrimônio. Gasta boa parte dos recursos destinados à área social em programas de pão e circo que perpetuam a miséria e estimulam a preguiça improdutiva. Dessa forma está garantido que os filhos dos miseráveis serão miseráveis e potenciais candidatos a esses mesmos programas sócio-eleitoreiros. Em troca da política de do pão e circo o povo oferece votos.
Uns afirmam que o Brasil, apesar de tudo, está progredindo. E eu direi que não é o país que está progredindo, mas alguns cavalheiros que estão prosperando à custa do Brasil. O clima político no Brasil é tão ruim, que não há bola de cristal que não esteja embaçada.
Há uma relação inequívoca entre pobre e falta de educação, podendo com isso gerar o fenômeno da violência. Os exemplos existem em nossos bolsões de atraso, infelizmente ainda bastante numerosos no Brasil.
A educação brasileira é um grande mosaico, formado por uma grande e dinâmica diversificação. Temos sistemas avançados, principalmente no Sul do país, convivendo com esquemas atrasados, sobretudo no Norte e Nordeste.
O ingresso do Brasil ao Primeiro Mundo não pode se cingir a um exercício de retórica. Deve ser algo muito mais consistente, que passa pelos cuidados com a educação, a ciência e a tecnologia. Se investirmos apenas 0,5% do Produto Interno Bruto em Ciência aí está o sintoma claro de que nos distanciamos de nações mais desenvolvidas.
Está na hora de mudar isso. A educação é o caminho, antes que o país afunde de vez na ignorância, miséria e violência.
Nelson Valente
Professor universitário, jornalista e escritor.
O bolsa-família é o velho conhecido voto de cabresto!
É isso ai Brasil!
Agora é a hora de cobrar, principalmente os que não votaram na Dilma.
abs
Bom dia Milton Jung
O que distingue o homem de outros animais é o pensamento. Vamos então pensar num mundo melhor onde tudo terá que iniciar pela educação. A arma mais poderosa para vencer qualquer desafio na vida.
Quanto vale uma vida?
Árvores, pássaros, rios, sons da natureza, tudo Isso representa vida. Despertas tu que dormes! Abras a consciência e te perguntes: por que estou vivo?
Então, faças de conta que, sentado junto à natureza, tens em mãos um enorme tesouro a desvendar. Abras a tampa desse “baú de sonhos” e retires todas as sementes que se encontram armazenadas dentro dele e as Joguem ao seu redor ou um pouco distante, até onde tuas mãos alcançarem . O restante, deixes que os pássaros e outros animais alados ou não, venham colaborar com o evento; porque os rios, os ventos, também darão a sua contribuição. A terra observará e esperará, pacientemente, por elas no seu ventre. Dessa forma, acalentará esses seres fragilizados que morrerão por um tempo, no silêncio, recebendo os nutrientes necessários até à germinação. Como miragem , a terra devolverá alegremente novas vidas que buscarão a Luz. Portanto, repensar na educação e no seu poder de reconstrução é devolver vidas à sociedade; são as memórias do conhecimento que ajudam a entender melhor o mundo.Vale pensar em educação
Luciah Rodriguez
Prezado Milton Yung,
Em defesa do meio ambiente
Sabe-se que nem sempre o que se promete em campanha pode ser transformado em medidas concretas, mas espera-se que o governador eleito, José Geraldo Alckmin Filho, com reconhecida determinação, possa dar um show em matéria de defesa do meio ambiente.
Ele têm tudo para isso.
No caso da área ambiental, Geraldo Alckmin, apresentou ideias (em meus sonhos e delírios de escritor) que se dividem em três partes: definição das prioridades, vitalização do sistema nacional de gestão ambiental e mecanismos de planejamento integrado.
Com isso, o elenco de medidas ficou bem diversificado:
1 – Estabelecer um programa nacional de educação ambiental, o que se fará em consonância com o que já prescreve a Constituição de 1988;
2 -Promover projetos de proteção, conhecimento e aproveitamento da biodiversidade;
3 – Rever o quadro institucional, para redistribuir atribuições, em particular na área federal. Com isso, será possível aperfeiçoar todo o sistema de fiscalização, hoje bastante precário;
4 – Estabelecer padrões de desenvolvimento específicos para cada grande região, levando em conta ecossistemas típicos e seu melhor aproveitamento econômico;
5 – Promover projetos de recuperação de áreas degradadas;
6 – Apoiar programas e projetos de combate à poluição;
7 – Incentivar o desenvolvimento de tecnologias ambientais, pelo apoio à cooperação entre universidades, empresas, organizações não-governamentais e governo;
8 – Garantir o acesso brasileiro a tecnologias ambientais atuais. Campanha é campanha. A hora da verdade é mesmo quando se inicia o governo e o que era sonho ou simples promessa deve passar a realidade. A esperança é muito grande.
Abraços,
Nelson Valente
Educação Ambiental
(*) Nelson Valente
Educação Ambiental é uma nova forma de educar, ampla e significativa (uma “meta-educação”). Tem como ponto de partida e de chegada o próprio meio ambiente e, como preocupação maior, a melhor qualidade de vida.
A Educação Ambiental, se bem aplicada, leva o estudante a uma real integração com o ambiente onde vive, que, na realidade, é a continuação do seu próprio corpo e, como tal, tem que ser conhecida, respeitada e preservada.
Será imprescindível, de agora em diante, a inclusão do tema educação ambiental nos currículos das Faculdades de Educação, bem como sua promoção em nível de pós-graduação. Pelo caráter inovador da Educação Ambiental, precisamos de técnicos, praticamente inexistentes nessa área. O que possuímos atualmente são pesquisadores que se aprofundam no assunto por autodidatismo.
O texto constitucional prevê a promoção da educação ambiental “em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para preservação do meio ambiente”. Em outras palavras, busca-se o apoio da população para a solução dos problemas ambientais. Acreditamos que exista uma consciência ecológica, embora ela ocorra de maneira incipiente.
O que prevalece é a presunção errônea de que nossos recursos naturais são inesgotáveis, dando margem à política do usufruto desmedido e imediato, sem preocupações quanto ao empobrecimento ou exaustão.
No caso específico da educação ambiental, a maioria das constituições estaduais tem adotado em seus textos a determinação de que ela seja implantada. Deve-se buscar um meio de compatibilizar ecologia e desenvolvimento, de forma responsável. “Ecodesenvolvimento” é o termo que vem sendo usado para definir essa nova postura.
Não devemos parar de crescer industrialmente; ao contrário, devemos buscar o desenvolvimento sustentável, que pressupõe o respeito pela preservação ambiental. Limitar o crescimento econômico, ao contrário do que pensava, só ajuda mesmo a agravar as condições ambientais dos países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
Algumas empresas têm ajudado muito na preservação do meio ambiente. Os exemplos são bastante representativos. Esso, White Martins e Souza Cruz adotaram parques e reservas e têm investido verbas consideráveis na aquisição de materiais e equipamentos.
A Petrobrás tem projeto pronto para desenvolver o “turismo ecológico”, visando à preservação dos 34 parques nacionais. Basta apenas que a empresa aparelhe o Ibama com recursos humanos especializados para que não ocorram atividades predatórias. O turismo feito de forma orientada e consciente pode ajudar na conservação.
A questão ambiental adquiriu contornos universais, como se pode verificar pela polêmica em torno da camada de ozônio e o papel de discussão em torno da possibilidade (cientificamente não comprovada) de sermos hoje pulmão do mundo.
Tudo o que conseguimos foi arranhar a consciência individual. Mas há ainda, certamente, uma consciência coletiva.
(*) é professor universitário, jornalista e escritor