Mobilidade sofre de esquizofrenia urbana

 

Estação Brás da CPTM

O metrô está mais lento em São Paulo, os congestionamentos maiores no nordeste e o sistema de ônibus funciona de maneira precária no Brasil. Desde a semana passada, temos sido bombardeados por uma quantidade enorme de análises e informações que escancaram a falta de infra-estrutura do ambiente urbano, não bastasse o choque de realidade que a catástrofe fluminense provocou.

O aniversário da maior cidade do País, na terça-feira, dia 25.01, induziu muito dos trabalhos apresentados, como a divulgação do IRBEM pela Rede Nossa São Paulo que mede indicadores de bem estar na cidade e capta a percepção de seus moradores.

E a mobilidade está por trás de boa parte da insatisfação do paulistano.

Líderes comunitários de Capela do Socorro e Cidade Ademar, bairros do extremo sul da capital, que apresentaram os piores índices de satisfação, apenas 4,5, disseram que a carência no transporte influenciou a opinião do cidadão. “Como grande parte da população local não trabalha na região, as pessoas precisam de um transporte coletivo de qualidade, o que não existe”, disse Vania Araújo Correia, integrante da Pastoral da Juventude e do Fórum Social da Cidade Ademar e Pedreira, em artigo do jornalista Airton Goés, no site da Rede Nossa São Paulo.

O Jornal da Record publicou série sobre a crise no transporte público com enfoque na Região Metropolitana de São Paulo. No momento em que o jornalismo passa a observar a vida das pessoas a reportagem ganha alma; e ficamos impressionados com a mãe que madruga e desperdiça boa parte do seu dia dentro de ônibus e metrô para dar tratamento digno ao filho com câncer; ou a outra que apenas os vê acordado nos fins de semana, pois de segunda à sexta para chegar ao trabalho precisa levantar antes do amanhecer e retorna tarde da noite.

São cidadãos que passam mais tempo viajando na própria cidade do que produzindo ou amando, um direito que já foi extirpado de muitas famílias.

Dados do Sistema de Percepção Social (Sips), feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que acompanhei em reportagem da CBN, revelaram que na Região Sudeste onde mais da metade da população depende do transporte público está concentrado, também, o maior percentual de pessoas insatisfeitas com ônibus, trem e metrô (45,9% dizem ser “ruim” e “muito ruim”).

O trabalho do Ipea mostra, ainda, que reclamar de congestionamento não é privilégio de paulistano em fim de férias escolares. Independentemente da região onde moram, 66% dos brasileiros sofrem em engarrafamentos. E, para espanto de muitos, as maiores reclamações estão na Região Norte, onde a percepção do motorista é bem pior do que em áreas como Rio de Janeiro e São Paulo.

Na dúvida, sobre o que leva o morador de Manaus a reclamar mais do trânsito do que o de São Paulo, lembrei-me de artigo assinado pelo doutor em marketing Carlos Magno Gibrail, aqui no Blog:

Pesquisa realizada pela fundação Dom Cabral do Núcleo de Estudo em Infra-estrutura e logística, constata que 61% dos paulistanos estão acomodados e conformados com a atual situação dos congestionamentos na cidade.

É a síndrome de Estocolmo adaptada ao trânsito. O raptado passa para o lado do raptor. Pelo menos no sentido do encarceramento, do cerceamento da liberdade

Se em São Paulo somos reféns do carro, Norte e Nordeste também passam por processo de adaptação aos problemas de mobilidade. Nestas regiões, a motocicleta é o segundo meio de transporte, logo depois do ônibus e acima do automóvel.

Quem não se adapta às demandas urbanas são as prefeituras.

Apesar de termos um dos mais modernos sistemas de ônibus do mundo, o Bus Rapid Transit – BRT , implantado em Curitiba, acreditamos pouco no potencial dos corredores exclusivos.

Na capital paulista, em seis anos de gestão Serra/Kassab foram entregues apenas dois: o Ibirapuera (2006) e o Expresso Tiradentes (2007). Nos últimos três anos, somente promessas.

Pior do que isso, apesar de 84% das viagens serem feitas na superfície, a prefeitura paulistana preferiu colocar dinheiro no metrô que avança de forma mais lenta devido a complexidade da execução da obra. Sem contar que este sistema está sufocado pela incapacidade de diálogo com as linhas de ônibus e o excesso de passageiros.

Os trens do metrô em São Paulo reduziram a velocidade em 7% ano passado se comparado com 2009, período em que houve enorme investimento no plano de expansão. Gastou-se mais dinheiro e se anda mais devagar.

Não por acaso, para cada ônibus novo que começou a rodar nas cidades, surgiram 52 automóveis.

O país vive uma espécie de esquizofrenia urbana.

Texto escrito para o Blog Laboratório de Temas

12 comentários sobre “Mobilidade sofre de esquizofrenia urbana

  1. Hoje fala-se muito em sustentabilidade, mobilidade, etc.
    Mas em São Paulo falta tudo isso!
    Por causa da falta de governabilidade e prefeitabilidade.
    A cidade cresceu, mas os serviços publicos foram ficando para tras.
    ai perguntamos:
    Como uma cidade com uma população de onze milhões e meio de pessoas pode ter mobilidade, sustentabilidade, qualidade, quantidade?
    Ontem estava na Sub Prefeitura da Vila Mariana, e quando voltei para casa, fiquei esperando o onibus 775V Santa Cruz Rio pequeno por quase 40 minutos.
    E o pessoal, pacientes, idosos, mães com crianças, pessoas deficientes, que fazem tratamento no Hospital do Servidor Publio, AACD, e outras casas de saude no setor, que também utilizam a 775V tmabém ficaram 40 minutos esperando o dito cujo.
    Precisamos ter mais onibuzibilidade, metrobilidade, trem_bilidade, aviãobilidade.

  2. Esta foto é a verdadeira imagem do inferno!
    Mudei de São Paulo a trinta anos e pretendo não voltar mais do jeito que a cidade acabou se tornando
    Um horror de dar medo até no Drácula.
    Confesso que fico muito triste de ver como a minha são Paulo acabou se tornando
    Um verdadeiro inferno, sem governo honesto e eficiente, sem prefeito competente.
    E mesmo assim é uma das cidades mais caras para se viver em comparação com cidades de paises de primeiro mundo.
    Estive ouvindo o Milton Jung agora pela internet a noticia que o prefeito Kassab quer a todo custo acabar com a tradicional e historica rua Santa Efigenia.E assim os “seus amigos” construtores incorporadores, a especulação imobiliaria poderão construir mais predios do que ja existem alem do suportavel em São Paulo com a desculpa que agindo assim poderá acabar com a cracolandia!
    Isso para mim é nada mais que desculpa esfarrapada para construir mais predios nesta e em outros locais tradicionais de São Paulo
    O que o prefeito que mesmo e grana das construtoras, certamente financiam as suas campanhas politicas e todos sabem.
    Seria o prefeito Kassab pertencente a algum cargo no SECOVI?
    Assim fiquei sabendo.

  3. Não existe solução a curto prazo para no transporte de São Paulo sem melhoramento do sistema de ônibus, incluido ai mais e melhores corredores. E não me espanta a preferência dos políticos pelo metro. Note-se bem que Metro e Maracutaia ambos começam com M.

  4. Impostos federais: (2009)

    São Paulo arrecada: R$ 204.151.379.293,05
    São Paulo recebe: R$ 22.737.265.406,96
    Deficit: R$ 181.414.113.886,09

    Fontes:
    http://www.mises.org.br/ArticlePrint.aspx?id=682
    http://www..receita.fazenda.gov.br/Historico/Arrecadacao/PorEstado/2009/default.htm
    http://www.portaltransparencia.gov.br/PortalTransparenciaListaUFs.asp?Exercicio=2009&Pagina=1

    Pergunto:

    É justo nós vivermos com vários problemas de infra estrutura no estado que mais arrecada ????

    Investimento federal já, caso contrário vamos ter um caos maior.

  5. Prezado Milton Yung,

    Li e reli atentamente o artigo de sua autoria: Mobilidade sofre de esquizofrenia urbana: Você não vive. Se defende !

    Quando o cidadão paulistano se depara com a falta de mobilidade, ele desenvolve medidas defensivas, que serão função das características pessoais, do grau de desenvolvimento do ego da natureza do perigo ameaçador.

    O desenvolvimento de um sistema de defesa provoca uma grave perturbação entre as energias psíquicas a serem mobilizadas no esforço defensivo.

    Na verdade, o primeiro sinal de alarme ante o perigo é um sentimento de angústia, que tem como característica negativa, o fato de ser desconfortável.

    Algo como alguém que tenha certeza de que sua propriedade será invadida, despende recursos de toda ordem para evitar os prejuízos, além de gastar muito tempo com o planejamento e o desenvolvimento de técnicas novas para reforçar os sistemas já instalados: ao final de alguns anos alguém poderá lhe dizer: “Você não viveu.Você se defendeu!”.

    Com a falta de mobilidade na cidade de São Paulo, constata-se na população paulistana: neurose, que vai resultar em sintomas neuróticos ou psicóticos.

    Abraços,

  6. Em quanto o povo, eleitor de São Paulo sofre, tem que pagar em vida todos os pecados, por causa da precaria saude publica, transporte publico, (a imagem acima não mente), com moradias, saneamento básico, etc a prefeitura insiste em vender para o lobby formado pelas construtoras e incorporadoras, leia-se especulação imobliária, quarteirões, bairros inteiros espalhados pela cidade inteira em troca de mais IPTU, financiamentos para campanhas politicas.

    http://blogdoaitalo.blogspot.com/2011/01/prefeitura-insiste-em-vender.html#comments

  7. .
    _ “Do POVO, pelo POVO e para o POVO”…

    …tais problemas não são de hoje, nem desta mais recentes administrações, devemos cobrar de todos…

    todos os caminhos possíveis são e serão bem vindos, além de necessários, certo?!…

    tbm, podemos ver, tais viagens do(s) prefeito/a(s), p/outros lugares, aquisições com contratos de escrivaninhas, além de ompres e vendas por R$1, 00 de imóveis, algo no mínimo intirgrante…

    …muito tem que se fazer, vamos exigir tudo e mais um pouco, pois quem entra na administração pública, lá estapor que e não por que tem um revolver na cabeça, certo!!!
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    ass: Douglas The Flash
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    R18x2Doug.R!*x227Jan111740IQui27111AspPjNewM1fj5173942199939
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    http://eujafuiprejudicadoporservicospublicos.wordpress.com/
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  8. Todo esse povo da foto enfrenta esse inferno todos os dias para trabalhar. Esse tumulto tanto é no horário de pico da manhã como no horário de pico do fim da tarde. Ou seja, um trabalhador passa 9 horas exercendo sua função numa empresa e 2 horas na ida ao trabalho nesse cáos de transporte público e leva mais 2 horas nesse tumulto para voltar para casa. Esse mesmo trabalhador vai levar 35 anos para se aposentar por tempo de serviço e com muitos cálculos vai receber uns R$ 800,00 por mês do INSS. Já um ex-governador que tem todas as mordomias do mundo enquanto trabalhava por apenas um periodo de 4 anos e que nunca pegou um ônibus nem Metrô para ir ao trabalho ao final de seu mandato vai receber cerca de R$ 20.000,00 de aposentadoria. Realmente, haja verba para sustentar todos os ex-governadores e suas esposas. Afinal, o transporte público vai muito bem e nem precisa de investimento. O cidadão de SP trabalha e paga impostos para dar mordomias aos politicos. A última vez que vi na TV, o secretário de transportes andava com um carro importado com ar-condicionado e motorista partiucular ao seu lado.

  9. Em toda esta situação o único que paga de verdade é o usuário, leia-se todo mundo. Dentro do carro, com ar-condicionado ou no calor e vexame dos ônibus, todo mundo sofre. A arrecadação é grande. O retorno, pouco. E isso acontece, também, por que a cidade paga por uma dívida feita em nome dela. Que tal perguntar aos credores da dívida interna se aceitam não receber?
    A outra alternativa é descobrir onde foi parar o dinheiro e responsabilizar quem se incumbiu de resolver e investir aqui, e não o fez.
    Quem não pode continuar pagando assim, somos nós.
    PS: Nem um vereador toma o trem em Guaianazes. Nunca vi nem prefeito nem secretários indo pro trabalho em transporte público, diariamente.

  10. S.Paulo tem todas empresas funcionando num mesmo horário. ou seja, vai chegar uma hora que pelos 40% das empresas precisarão mudar de horário. Os bancos funcionam das 10hs às 16hs. Por quê outras empresas não funcionam por exemplo das 13hs às 22hs? Em Sampa tudo funciona num mesmo horário, empresas, escolas, universidades etc. assim não há sistema de transporte que dê certo.

  11. Milton
    Aumento da passagem de onibus em Janeiro, Agora Aumento da Tarifa Metropolitana (CPTM, METRO, INTERMUNICIPAIS). Porque só a qualidade e a eficiencia nao aumenta? Alias a estação do Metro de Vila Prudente está em fase experimental a 6 meses, nao um absurdo?

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