Grêmio 2 x 1 Veranópolis
Gaúcho – Olímpico Monumental

Com 17 anos ainda pensava na possibilidade de ser professor de educação física, tinha o jornalismo como excelente oportunidade e o basquete como realidade. Joguei apenas alguns anos mais, desisti de dar aulas de ginástica no segundo ano de faculdade e a comunicação se transformou na opção mais viável e apropriada como a vida profissional tem demonstrado.
Nesta idade, a maioria dos garotos ainda está em busca de uma personalidade, apesar de dar alguma pista nos palpites que arrisca e nas decisões tomadas, ambos ainda com a marca da imaturidade. Por isso, ver um guri jogando o futebol que L. tem demonstrado em campo é surpreendente mesmo em um esporte no qual a precocidade tem se tornado exigência, haja vista a quantidade de novos valores que surgem a cada temporada.
Perdão se utilizo apenas a inicial dele, mas sigo regra estabelecida nos veículos de comunicação que não citam o nome de crianças ou adolescentes que, por ventura, tenham se envolvido em prática infracional.
E o nosso L., camisa 21, hoje à tarde, cometeu o crime de querer fazer gols.
Quando o time já vencia por 1 a 0 – gol dele, registre-se – foi dividir bola com o goleiro adversário que chegou antes e teve seu braço tocado pelo pé do craque. Seu atrevimento foi punido com um peitaço do goleiro e uma reprimenda pública em rede nacional de televisão – desculpe-me, isto é apenas um jargão, pois a bronca foi no P.P.V, aquele que a gente paga pra ver e de troco tem de ouvir, também.
O comentarista era Batista, volante bastante conhecido no futebol brasileiro que com a bola nos pés teve todo nosso respeito. Ao lado do narrador da partida, fez um discurso que me causou mais indignação do que a agressão do arqueiro adversário.
Quase deram razão ao agressor. Afinal, L. tinha de ter evitado a jogada. Pouca vergonha, este guri querer chegar antes do goleiro e marcar seu segundo gol nessa tarde de domingo, que se transformaria em seu sexto gol em apenas cinco partidas profissionais.
Das muitas faltas que ele foi vítima neste e nos demais jogos nada foi declarado.
L. vai ter de ouvir muita coisa neste futebol. Dos comentaristas e dos colegas de profissão. É daquele tipo de jogador predestinado a sofrer ataques, caçado por todo canto em que tentar um drible, sempre que arriscar um passe preciso ou um chute certeiro. Alguém o acusará de querer humilhar o adversário, exagerar nas jogadas bonitas ou – como hoje – de insistir em chegar ao gol.
Até aqui, porém, deu sinais de que não vai se intimidar com esta marcação cerrada – em campo e fora dele. Tem a mania de jogar para frente nem se entusiasma com a firula sem sentido.
Tem personalidade para tomar a camisa de titular do Imortal e oferecer à torcida alegrias infindáveis … até que dure. Até que nossos dirigentes cometam a insanidade de perdê-lo para o futebol europeu como já fizeram com tantos outros craques que despontaram no Olímpico. Ou até que os toscos consigam convencê-lo de que não existe mais espaço nos gramados para quem acredita no talento do futebol.
Enquanto nada disto acontece, não percam o próximo espetáculo de L., 17 anos, craque de bola.
N.B: Apesar da prática de divulgar as iniciais de crianças e adolescentes envolvidos em atos infracionais ou submetidos a humilhação, o Estatuto da Criança e do Adolescente, desde 2003, proíbe qualquer tipo de identificação.
Milton,
Queria poder repetir o que Romário disse a respeito de Pelé, mas não dá. Batista, de boca fechada, é apenas um ex-jogador de futebol, longe de ser um poeta. Quando fala, porém, é um péssimo comentarista de futebol, que não esquece sua origem no aterro.
Fabiano,
Nem gostaria de particularizar a crítica ao Batista. A tarefa de enxergar futebol da cabine não é simples. Eu, por exemplo, não me atrevo Vejo o jogo muito mais como um torcedor e não escondo isso. Mas há uma mania recorrente de querer transformar a vítima em algoz que não tem sentido. São coisas do tipo: jogador que tenta driblar é atrevido e está pedindo para apanhar; quando se divide a bola como deve ser dividada se está passando do limite. É como fizeram com o árbitro que acrescentou o tempo na partida final do primeiro turno do Gaúcho e foi duramente criticado por causa disso quando estava, na verdade, aplicando a lei.
Milton,
Belo comentário. Pelo elogio ao garoto e pela crítica aos narradores. eu tenho assistido sem som para não me irritar.
Dizem, não tenho provas, que está correndo solto o jabá para promover o outro lado e, de tabela, para criar crises no Imortal. A verdade é que as evidências todas apontam para que seja verdade.
Abraço
Algoz,
Confesso que não acredito nesta teoria da conspiração. Há exageros com certeza como querer enxergar uma briga entre Carlos Alberto e Borges na hora da cobrança do penâlti. Veem coisas que não acontecem. Além disso, pesa a preferência clubística que distorce o pensamento e a lógica.