A montanha a Maomé

 

Por Carlos Magno Gibrail

Ainda sem recompor as apreensões e energias despendidas nas discussões sobre o novo Código Florestal, eis que a Câmara procede à votação de dois projetos sobre a criação de novos Estados federativos.

Sem voto nominal, apenas em votação simbólica, na qual apenas os líderes partidários comparecem, foram aprovados os plebiscitos para os desmembramentos do Estado do Pará:

O Projeto do senador Mozarildo Cavalcanti do PTB–RR que trata do Estado de Tapajós a oeste, com 27 municípios, 58% da área e 1,3 milhões de habitantes.

O Projeto do ex-senador Leomar Quintanilha do PMDB–TO sobre o Estado de Carajás no sul e sudoeste, com 39 municípios, 25% da área e 1,6 milhões de pessoas.

Esta decisão reabriu o debate sobre a divisão do Piauí, Projeto do deputado Paes Landim PTB, reunindo 87 municípios no sul composta de 27% da população do Estado e tendo Alvorada do Gurguéia como capital. Entretanto, diferente do Pará, que conseguiu através de fortíssimo esquema a votação simbólica, não houve nem manobras nem consenso de peso.

Todavia não se pode desconsiderar interesses e forças na direção de manipulações futuras, pois segundo o senador Wellington Dias PT há mais de 20 projetos semelhantes no Congresso, e oficialmente o seu partido é contrário a novos desmembramentos. Posição que o PSOL se destacou no caso recente do Pará, atacando com veemência o tipo e o resultado da votação. Tomada que difere do DEM, ao menos na visão do piauiense Júlio César Lima na reportagem de Vanessa Mendonça de O DIA:

“Não é divisão. É fortalecimento. Os estados criados recentemente, Mato Grosso do Sul e Tocantins, mostram isso. Vamos nos articular com os parlamentares do Maranhão (que lutam pela criação do Maranhão do Sul) para colocar a matéria em votação”.

A empresária Sofia Avny do Nacional Shopping atesta o sucesso de Tocantins, mas contesta a réplica no Pará alegando que Carajás e região são áreas ricas em recursos naturais, e com eficácia administrativa não precisam de divisão. Além disso, lembra que é preciso investigar compras recentes de grandes áreas nas regiões envolvidas, tais quais as aquisições de ações no mercado financeiro podem caracterizar crime se realizadas com informações privilegiadas.

A jornalista Lucia Hipólito, tão precavida quanto a gasto público e meio ambiente, surpreendeu ontem ao descrever ao âncora do Jornal da CBN Milton Jung , o apoio aos desmembramentos de estados.

Estudo do IPEA, Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas mostra que o custo fixo anual estimado para a manutenção de um novo Estado é de R$832milhões.

Enfim, de todos os riscos parece que o maior mesmo é ao chegar a montanha entregá-la a Maomé. Neste caso, exímio planejador e manipulador em benefício próprio.

Carlos magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve, às quartas-feiras, no Blog do Mílton Jung

15 comentários sobre “A montanha a Maomé

  1. Ola Carlos
    Toda esta divisão esta sendocriteriosamente planejada para “dar lugar a mais politicos”, o que vai aumentar mais a mamata, mais descalabros, mais abusos, mais desmandos, mais corrupção, mais custos Brasil, etc etc etc
    Politico não da ponto sem nó
    Ou acha que com esta divisão estão pensando nos probleas e no povo?
    Sonhar faz bem ne?
    Abraços
    Armando italo

  2. Armando Italo, veja o tipo de votação que se realizou, apenas os lideres votaram.
    Se em alguns casos houve progresso é duvidoso que as circunstâncias sejam as mesmas em todos os estados. Principalmente quando temos histórico de priorizar interesses pessoais .
    Abrir o olho é fundamental, ainda mais em regiões com riquezas naturais e plena em biodiversidade.

  3. Caro Carlos Magno,

    tem-se tanto para se preocupar na atual situação do Brasil que dividir estados para criar cargos e funções me parece oportunismo político. Que tal aumentar o nível das escolas com período integral de aulas, em vez de desperdiçar dinheiro com criação de novos estados? Que tal pagar melhor os professores? Que tal selecionar melhor os professores? Que tal formar melhores professores? Que tal os alunos respeitarem os professores? EDUCAÇÃO JÁ.
    Grato,
    Giulio

  4. A decisão final depende exclusivamente da “aprovação da população diretamente interessada”. Qual é a população “diretamente interessada”? A da região de Carajás, a paraense ou a brasileira? Pelo tamanho da conta a ser paga, deveria ser a brasileira, mas o plebiscito deve se limitar ao Pará ou, até mais provável, apenas a Carajás/Tapajós.
    P.S. Não podemos esquecer a criação do Estado da Guanabara, criado em 1960, quando a capital foi transferida para Brasília, que não vingou e foi “devolvido” ao Estado do Rio de Janeiro

  5. Boa Tarde Milton e aos Colegas do Blog,

    Concordo com vc meu caro Armando coment. 1. Com certeza essas alterações, já estão sacramentadissimas. O plebicito que seria o correto e seria a vontade do povo dessa região, é que menos importa. Nessa altura do campionato, o que importa, é a ganancia deles em aumentar o tamanho de tetas no peito da coitada da vaca amarela, azul e branca. E ao povo? bananas. Se não gostarem, apenas a casca das bananas.

    Abr,

    JR.

  6. Alecir Macedo, pensando bem ainda há muito que falar. Por exemplo sobre a representação na Câmara dos Deputados, pois como sabemos os militares restringiram São Paulo mas não estabeleceram limite no quadro geral. Já imaginou se todas as novas unidades venham a ter seus representantes?
    E a quantidade de deputados estaduais?
    Uma farra e tanta. Evidentemente para quem estiver dentro do esquema.

  7. Giulio Rolfo, veja que um dos problemas é de gestão e o que se cogita é o desmembramento para que se possa dar mais atenção e melhorar a administração.
    É um raciocínio que funciona muitas vezes na atividade privada. Neste caso podemos correr o risco de multiplicar a má gestão atual, proporcionalmente ao numero de novos estados. E, certamente aumentar o quadro de pessoal.
    Então, que tal aplicar este dinheiro em saúde e educação e focar na melhoria administrativa e operacional?

  8. Sofia Avny, esta questão do plebiscito nacional é bem interessante, pois quem irá pagar a conta será o país e não a região.
    Em referência ao Estado da Guanabara houve no primeiro instante um prejuízo aos cariocas, mas ao longo do tempo uma grande vantagem para os fluminenses. Para o Brasil certamente a fusão foi melhor do que o desmembramento.

  9. José Sinval, a Sofia Avny lembrou bem que poderia ser um plebiscito nacional.
    Na hora de tirar do Rio de Janeiro o beneficio do petróleo a distribuição planejada foi nacional, e não fosse o veto de Lula, os fluminenses teriam o bônus sequestrado, ficando apenas com o ônus.
    Conclusão, quando é para dividir o ônus a consulta é na região favorecida e quando é para perder o bônus a decisão é com os favorecidos. Moral da história , é um regime de favorecimento.

  10. Caro Carlos Magno,

    Realmente existe muita coisa a ser dita, novas assembléias, novas vagas no senado e câmara federal, milhares de afiliados políticos serão pendurados nesses cabides de empregos (sem contar os fantasmas).

    O que eu acompanhei e posso falar foi a divisão do estado de Goiás e Mato Grosso. Com a criação dos estados do Tocantins e Mato Grosso do Sul, foi evidente o desenvolvimento destes estados nos primeiros anos, depois vieram os velhos coronéis e dominaram tudo como sempre.

    O coronélismo é igual erva daninha, não adianta arrancar que nasce outra, se espalha por todas as partes. Veja os casos dos dois estados, seus políticos sempre envolvidos em escândalos de corrupção. A criação de novos estados só vem favorecer estes elementos oportunistas que infectam todo o nosso país e se locupletam as custas do dinheiro público.

    Infelizmente nada no Brasil é feito pensando no eleitor (povão que mantém estas mordomias), tudo é arquitetado e executado em benefício próprio.

    Abraços!

  11. Legal!
    Aí todos Brasileiros terão vagas no serviço público e o Brasil nunca mais tera chance de crescer.
    Um político que dá uma idéia dessa deveria ser caçado e nunca mais poder se candidatar a nenhum cargo público.

  12. Alecir Macedo, realmente a divisão que criou Tocantins parece que foi bem sucedida, é o que inclusive atesta a Sofia.
    Entretanto, este exemplo não pode ser aplicado indiscriminadamente, principalmente quando se sabe que o interesse pessoal e partidário é grande naqueles que preconizam tais mudanças.

Deixar mensagem para Sofia Avny Cancelar resposta