Conte Sua História de SP: Nos anos de 1950

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Cecília Florio Moser nasceu em 1950 em São Paulo. Em suas lembranças, a cidade das décadas de 1950 e 1960 ganha contornos bastante peculiares, como ela revela nesta história enviada ao Museu da Pessoa em julho de 2008.

Ouça o texto de Cecília Moser sonorizado por Cláudio Antonio

“Minha infância querida”. Estas palavras fazem parte de um verso do famoso poema ‘Meus oito anos’, de Casimiro de Abreu. Ele que me perdoe, mas ouso dar esse título para minhas memórias.

Passei a infância e grande parte da adolescência em Campo Belo. Naquele tempo, o bairro não era como hoje, as ruas eram de terra, inclusive a Vieira de Moraes, onde eu morava com meus pais, irmãs e avô materno. Não havia ônibus, somente o bonde que trafegava na atual Avenida Vereador José Diniz.

Ao completar 6 anos, entrei na 1ª série, na classe de uma professora, a inesquecível Dona Yolanda, que dava aulas em uma classe improvisada na garagem de sua casa, enquanto não se concluía, na Rua Vieira de Moraes, a montagem de um galpão de madeira da Prefeitura. Uma de minhas irmãs, com 12 anos na época, buscava-me na garupa da bicicleta.

Ao iniciar a 2ª série, mudamos para a nova escola, assim como alunos de outras professoras que também aguardavam a conclusão das obras. Recordo-me de algumas, além, é claro, da Dona Yolanda, de quem fui aluna até a 3ª série: Dona Leonor, Dona Sumaia, Dona Cacilda, Dona Alzires e a diretora, Dona Yvone.

O pátio não era coberto nem calçado, era de terra, por isso em dias chuvosos tomávamos lanche na classe. Lembro-me bem do uniforme obrigatório: meninas com saia de sarja de pregas, na cor cáqui; blusa branca com gola esporte, abotoada na frente; meias brancas e sapatos pretos. Os meninos usavam calça curta até os joelhos.

Anos mais tarde, a escola foi construída em alvenaria e passou a chamar-se EMEF Chiquinha Rodrigues. Aos domingos, meu pai nos levava ao Aeroporto de Congonhas para passear. Era lá que ele trabalhava, na Real, companhia aérea que mais tarde uniu-se à Varig. Minhas irmãs e eu nos divertíamos vendo os “moderníssimos” Douglas DC10 decolando e aterrissando, ou como dizíamos, “subindo e descendo”, numa linguagem mais própria de crianças.

Não havia ônibus para o transporte dos passageiros, que caminhavam pela pista, bem mais reduzida que hoje. As aeronaves possuíam uma hélice em cada lateral, que precisavam ser impulsionadas por mãos humanas para entrar em funcionamento. Maravilhados, apreciávamos tudo de um terraço ao ar livre, que hoje não existe mais, no andar superior do saguão principal. Anos mais tarde, na adolescência, o salão do aeroporto era o local onde íamos dançar nos bailes de formatura, muito comuns na época, animados por famosos maestros como Silvio Mazzuca ou Élcio Álvares.

Terminado o baile, voltávamos em grupo para casa, a pé e descalços, depois de uma noite de muita animação. O aeroporto servia também para os encontros, o cafezinho de máquina, e para vermos “ao vivo e em cores” artistas da TV que se utilizavam da recém-inaugurada ponte aérea Rio-São Paulo. Congonhas foi palco também da chegada ao Brasil da seleção campeã mundial de futebol de 1958, e bi em 1962. Quem diria que um dia também seria pentacampeã?

São muitas as lembranças, muitos os momentos felizes e inesquecíveis, e cada vez que deles me recordo, vivo outra vez minha infância querida.

Um comentário sobre “Conte Sua História de SP: Nos anos de 1950

  1. Prezada Senhora Cecilia Moser
    Apesar de nao ter residido no Campo Belo, passei grande parte da minha infancia neste antes verde bairro com suas ruas de terra.
    Hoje……………..
    Meu padrinho também morava no Campo Belo e trabalhava na Real Aerovias Brasil
    Muitos que trabalhavam em Congonhas moravam no Campo Belo, Moema, vila Olimpia.
    Todos finais de semana, feriados, lá estava eu perambulando pelos hangares da Real, na prainha, por todo Aeroporto de Congonhas vislumbrando e como não também voando em voos checs nas velhas águias de aluminio, os clássicos DC3, constelltions, DC6 entre outros da aviação de outrora.
    Obrigado por relembrar tempos que não voltam mais.
    Armando Italo

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