Schettino, um comandante de navio covarde

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Meus avós, desde a minha mais tenra infância, moraram conosco na casa paterna. Quando o meu avô faleceu, passei a dividir com a minha avó um dos quartos da residência de três dormitórios. Os inúmeros livros do meu pai, o que veio a calhar para um menino que gostava de ler, isto é, este seu criado, guardados numa estante com portas envidraçadas, então ficaram à minha disposição nela, que era um dos móveis do quarto e o que mais me interessava. Até papai se dar conta de que nem todos os livros podiam ser lidos por crianças, eu devorava os que, por algum motivo, chamavam mais minha atenção. Ao descobrir as leituras que não condiziam com a idade do leitor, as portas da estante passaram a ser chaveadas. Antes, porém, entre os proibidos, jamais vou esquecer, li dois que figuravam entre os proibidos: O Crime do Padre Amaro, de Eça de Queirós, Zadic,do filósofo iluminista Voltaire e O Vermelho e o Negro, de Stendhal. Não lembro se os entendi. Já os que tratavam de aventuras de toda espécie, que eu compreendia perfeitamente, eram os que mais me agradavam. Em vários deles, que contavam sobre naufrágios – e chego ao assunto, me desculpem, após enorme nariz de cera – fiquei sabendo que o capitão ou comandante, em casos de navios que se acidentam, é sempre o último a abandoná-los e, em histórias por mim lidas, em certos caso, vão ao fundo com a embarcação.

 

Havia, dentre histórias verídicas acerca de acidentes com navios, havia também as que eram fruto da verve de escritores. Criança, eu sempre dei crédito aos relatos das tragédias marítimas reais. Espantou-me saber que, Francesco Schettino, o comandante do Costa Concordia, ao contrário do que ocorreu em desastres anteriores ao que está na ordem do dia, foi o primeiro ou dos primeiros a desembarcar. Logo ele, o principal culpado pelo terrível acidente, eis que levou o imenso navio para as proximidades da costa, alegando, em sua defesa, que as cartas não indicavam a presença das rochas que arrombaram o casco da embarcação, mentira deslavada. Não me recordo que, em tragédias anteriores – a do Andrea Doria, por exemplo – o comandante tenha deixado passageiros e tripulantes entregues à própria sorte. As notícias garantem que Schettino está preso. Mas até quando? Covardia do tamanho da que se viu deveria ser punida com prisão perpétua.

 

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

5 comentários sobre “Schettino, um comandante de navio covarde

  1. Na politica tá cheio de Comandantes covardes. Aqui no Brasil tem tragêdias anunciadas e as autoridades nem tomam conhecimento, deixando a população abandonada e sem socorro assim como fez esse Schettino.

  2. O Cmte Schettino nem o básico ele fez, executado por um Arrais Amador.
    Navegou em águas razas em uma embarcação com calado da altura de um predio de tres andares aproximadamente.
    Não compensou a inclinação com ancoras no outro bordo, fora dagua para que o navio pudesse se manter equilibrado proximo a 90°
    Virou a proa ao contrario.
    Por último, baseando-se nos dizeres biblicos, “Matheus primeiro os teus”
    Tratou de cair fora covardemente e deixou todos para traz.
    Esse merece ir preso por assassinato.

  3. Parabéns Milton Ferreti Jung, por mais um post interessante e oportuno.
    Como escreveu o Sr. Italo, realmente nem um Arrais Amador como eu (e tb Eng. Naval) faria uma aproximação tão proxima da costa com um grande navio, mesmo se não soubesse de rochas submersas. Mas se existem rochas na costa, é claro, que elas se estendem pelo leito do mar. E a distancia boa para um barco que navegue ao longo da costa é no minimo de 200m longe da linha dágua da costa.
    A empresa navegadora nunca deveria contratar pessoas que pudessem ter este tipo de comportamento para ser capitão, pois ele deve ter até desvio de comportamento em outras situações. A cia. é tambem culpada.

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