O símbolo da cruz vai além da religião

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Peço licença aos leitores deste blog para tratar de uma questão que, embora cause polêmica numa cidade gaúcha, talvez interesse, especialmente, aos leitores católicos. Aos que prezam as tradições do Rio Grande do Sul, com certeza, ficarão revoltados. Refiro-me ao ocorrido no município de Santo Ângelo, situado na encosta ocidental, região noroeste do planalto médio do estado, fundado em 1706 pelo padre belga Diogo de Haze. O então Sant’Angelo Custódio foi consagrado ao Anjo Custódio das Missões, considerado o protetor de todos os povos missioneiros. Não faz muito, causou espanto por aqui, a retirada dos crucifixos presentes nos prédios do Judiciário gaúcho por determinação do Conselho da Magistratura. Foi uma decisão unânime dos conselheiros, atendendo a pedido da Liga Brasileira de Lésbicas e entidades de defesa dos direitos dos homossexuais. A explicação para a atitude dos conselheiros não me convenceu: o estado é laico. Logo, não pode manter símbolos religiosos.

 

A mesma “justificativa” esfarrapada foi dada agora para a retirada da cruz missioneira da frente do quartel do 1o Batalhão de Comunicações do Exército, em Santo Ângelo, presente há 18 anos no local. A cruz missioneira ou cruz de Caravachia, foi trazida para o Rio Grande do Sul pelos padres jesuítas em 1626, durante a colonização do Brasil. Alegadamente, essa cruz teve origem numa espada usada pelos espanhóis durante as Cruzadas, na Idade Média. Já o tenente-coronel Luiz Carlos Damasceno, que o texto de Zero Hora, lido por mim, não esclarece se é o comandante do 1o Batalhão de Comunicações ou apenas um porta-voz do comando, tenta justificar a retirada dessa cruz, dizendo que, embora a fé seja valorizada pelos militares, o Exército é uma instituição laica e de todos. Prefiro ficar com a opinião da professora do curso de História da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Nadir Damiani a respeito de mais esta polêmica provocada na cidade, que faz parte dos Sete Povos das Missões, pelos defensores do laicismo. Disse ela: “O símbolo da cruz vai além da religião. A cruz é uma referência à origem dos nosso povo, à nossa História”.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

5 comentários sobre “O símbolo da cruz vai além da religião

  1. Caro Milton,
    Confesso que sou favorável a laicidade do Estado. Mas também creio que de nada adianta retirar os símbolos religiosos se nossos deputados, senadores e vereadores insistirem em empurrar à população seus dogmas sem que nem eles mesmos estejam dispostos a observarem os mandamentos de suas respectivas religiões. Fica parecendo que no Brasil está valorizado mais o símbolo que o ato. Se vamos retirar-los, por certo, teríamos que fazer sair também essa pregação vazia de dentro do Estado. Mas ai, a luta seria tremenda!
    Por agora, estou com a professora.

  2. Boa tarde Senhores. Milton(pai e filho)!
    Eu li e analisei o artigo e, refleti…a Cruz, como foi dito, tem valor histórico e faz parte da cidade já à muito tempo.
    Essa conversa de “país laico” está certa. Porém, deve-se saber diferenciar uma coisa de outra…se formos levar a coisa por esse lado, teremos que retirar estátuas, quadros e qualquer coisa que tenha conotação religiosa, inclusive os oratórios,móveis muito comuns na minha época!
    Veja bem…eu não sou católico, sou evangélico porém não me incomoda nem um pouco se eu chegar em lugar público e ver uma cruz ou uma estátua! Para mim ela indicará apenas que, naquele local existe um sentimento religioso que, é bem verdade vai contra às minhas crenças religiosas mas não me influenciam de maneira alguma! Não baseio minha crença pela crença dos outros…pelo contrário, respeito todas, apenas deixando claro que respeitar não é concordar! Acho errado a atitude de retirarem um ornamento histórico e, não é pelo fato de ser evangélico que vou sair por aí, contra tudo e todos os que não concordam comigo…aí seria fanatismo, né?
    Abraços!

  3. Concordo plenamente com a conclusão da Professora. Veja o que acontece na França, onde se defende este radicalismo contra símbolos, as mulheres muçulmanas Nao podem usar véu para cobrir os seus cabelos, convivo com a comunidade muçulmana aqui em Curitiba e há mulheres que desejam usar e outras que Nao e a posição de cada uma eh respeitada, Nao havendo a obrigatoriedade.
    O Homen somente chegou ao nível de desenvolvimento tecnológico porque desenvolveu símbolos para passar o conhecimento as novas gerações.
    Será que estamos mergulhando em uma nova idade media?

  4. Prezado Jornalista Milton Jung:

    Bravos! Só em ver um homem de comunicação do seu quilate se importar com a retirada de símbolos religiosos de repartições públicas, verificamos que nem tudo está perdido. Vivemos hoje uma guerra assimétrica das comunicações, em que determinadas vertentes denominadas de “avançadas” estão impactando os valores morais e tradicionais de nossa cultura. O Brasil, quando descoberto, foi sob o manto religioso. Tivemos a 1ª e 2ª missas após o desembarque dos portugueses e assim seguimos nossa história, sob a égide da cruz. Assim, Milton Jung, já o respeitava por apresentar um jornalismo de elevado nível, principalmente as entrevistas do Mundo Corporativo, agora percebo que posso colocá-lo no rol daqueles poucos jornalistas que estão preocupados em informar, mesmo que para isso vá de encontro a interesses de grupos que estão comprometendo a cultura e a cidadania do nosso povo, mas que estão empoleirados em cargos públicose, portanto, com o poder de mando temporal.

    Respeitosamente,

    ANTONIO CELENTE VIDEIRA

  5. Atendendo sua solicitação, quanto a pergunta de Deus Seja Louvado, que constou por um período nas notas de nossas moedas e reclamada seu retorno, por um representante de uma das milhares de religiões, que se sustentam com a fé do povo. Basta ver, como as religiões se proliferaram em todos os lugares, e cada vez mais aumentando seus patrimônios, suas riquezas, enquanto o Povos estão cada dia mais pobres e nas dependências de suas idéias, com isso deixando as pessoas cativas de suas resoluções a eles favoráveis em seu mercado (financeiro e religioso).
    Somos um país Laico e portanto todos devem respeitar as idéias e pensamentos de outrem, não impondo seus interesses.
    Acredito muito na existência de Deus (Força Cósmica), mas não como são propagadas pelas religiões criadas pelos homens!
    Deixem o povo ter suas próprias idéias e fazerem suas reflexões sobre o assunto, sem imposição de ninguém, como é próprio de um pais Laico!

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