Há 48 anos narrando notícias no rádio

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Acredito que os leitores mais idosos deste blog (se é que tenho leitores) têm bons motivos para apreciar as histórias de rádio que, por sugestão do Mílton, venho contando em algumas quintas-feiras. Particularmente, é o assunto de que mais gosto. Vivencio-as desde 1954, data em que me atrevi a fazer um teste numa emissora que estava para ser inaugurada e buscava profissionais do ramo ou, no meu caso,de quem se dispusesse a passar da condição de ouvinte à de radialista, mesmo alguém cuja única experiência diante de microfones fosse mínima: era, na paróquia que frequentava, um “speaker” de esporádicas quermesses e cuja “rádio” se chamava Voz Alegre da Colina. No Colégio Nossa Senhora do Rosário, tradicional educandário marista de Porto Alegre, último dos muitos em que estudei, havia uma equipezinha de locutores que, antes das aulas, levava aos colegas todo tipo de informação que lhes pudesse interessar.

 

Havia, no mínimo, duzentos candidatos. No teste, tínhamos de ler anúncios e notícias. Depois, os candidatos recebiam folhas com a programação musical da Rádio Canoas. Queriam saber se a gente sabia pronunciar os nomes de músicas em diversas línguas. Três apenas foram aprovados. Um era radioator, outro trabalhara na Rádio Difusora, hoje Bandeirantes. O terceiro foi este “que lhes fala”. Fiquei por quatro anos na Canoas que, embora usasse o nome de um município da Grande Porto Alegre, sempre teve sua sede em Porto Alegre. Transferi-me, em 1958, para a Rádio Guaíba, emissora da Companhia Jornalística Caldas Jr., que foi ao ar com uma proposta diferente das suas concorrentes. Seus dez locutores comerciais (eram nove homens e um voz feminina) liam os textos ao vivo. Somente os programas de radioteatro – Mestre Estrela e Teatrinho Cacique e o Grande Teatro Orniex, esse apresentado aos domingos, eram gravados. A Guaíba (alguém me corrija se estiver enganado) não aceitava propaganda em jingles e spots. Era um grande diferencial. Fez diferença na época, igualmente, o fato de, em 1958, com pouco mais de um ano de existência, ter feito a cobertura da Copa do Mundo, disputada na Suécia. Seu diretor-técnico, Homero Simon, graças à sua “expertise”, criou um sistema que proporcionou à Guaíba a possibilidade de acompanhar a vitória Brasileira na competição, com narração de Mendes Ribeiro. Foi ele que me transformou em narrador de futebol e outros esportes. Eu tivera uma experiência em narração na Rádio Canoas. Transmiti um jogo entre o Cruzeiro e o Renner. Creio que vivi essa experiência em 1957. A partida foi disputada no Estádio da Montanha, onde se vê, hoje, o Cemitério João XXIII. Comecei a apresentar, na Guaíba, em 1964, o seu principal noticiário: o Correspondente Renner. Hoje,a síntese informativa é patrocinada pelo Banco Renner. Das suas quatro edições, me encarrego, hoje, apenas a da uma da tarde. Creio que nenhum apresentador de notícias está faz tanto tempo no ar quanto eu: 48 anos.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

6 comentários sobre “Há 48 anos narrando notícias no rádio

  1. Já comentei neste espaço, mas é bom sempre repetir, que esta voz do locutor do Correspondente Renner é simplesmente (e carinhosamente) chamada de “A VOZ DO RIO GRANDE”!
    Lamento apenas que a gente não encontra no Youtube (já que no site da Guaíba não existe mais arquivos de áudios, o que é um erro enorme da emissora), com alguns programas para que os ouvintes vivam e curtam um passado gostoso, embora fosse apenas ouvir noticiários!

  2. Diversos são os fatores impulsionadores do orgulho. Quando ele, o orgulho ou a admiração, segue nas duas mãos de uma relação entre pai (mãe) e filho (a), o sentimento entre eles se estende por uma régua sem medida. É quando descobrimos que o amor se funde com outras sensações e é capaz de nos proporcionar um sentimento que poucos na vida tiveram a chance de experimentar. Então, parabéns aos dois…pai e filho.

  3. Prezado Milton,
    Apesar de meus quase 90 anos, e sou leitora de seus artigos. Creio que ainda deve se lembrar de mim, sou mãe do Portella. Então tens pelo menos uma leitora idosa assidua.
    Um abraço
    Dirma

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