Publicidade infantil: “peça pra mamãe comprar ..”, não pode

 

Por Julio Tannus

 

Há algum tempo atrás, fazendo uma pesquisa sobre telejornalismo, a pedido de uma rede de televisão brasileira, um garoto de 10 anos fez o seguinte comentário: “adoro violência, não perco um jornal da TV…” De imediato vê-se que a TV, com todos os seus conteúdos, inclusive publicitários, é absolutamente influenciadora do público infantil.

 

Não é para menos que o Código de Defesa do Consumidor proíbe a propaganda infantil dirigida diretamente a crianças.

 

A aprovação do projeto de lei que proíbe a propaganda infantil pela Comissão de Defesa do Consumidor da Câmara dos Deputados reacendeu a discussão em torno do tema. O Projeto de Lei 5.921 tramita na Casa desde 2001 e foi aprovado pela comissão no mês passado. A medida determina: “fica proibida qualquer tipo de publicidade, especialmente as veiculadas por rádio, televisão e internet, de produtos ou serviços dirigidos à criança, no horário compreendido entre 7 (sete) e 21 (vinte e uma) horas”.

 A dose diária de propagandas às quais as crianças estão submetidas é grande. Segundo o Instituto Brasileiro de Opinião e Pesquisa (Ibope), até os 11 anos, meninos e meninas assistem à cerca de 5 horas de televisão por dia, em média. E é justamente nos horários dos programas infantis que as propagandas para esse público mais aparecem.

 



Efeitos da propaganda.

 

Para especialistas, as crianças ainda não estão preparadas para lidar com o apelo gerado pela publicidade. “A criança não tem a capacidade de discernimento com o juízo crítico que o adulto tem. Se o adulto já é seduzido pelas propagandas, imagine a criança? A percepção delas vai sempre pelo lado emocional, e não costuma passar pelo racional, onde está o juízo crítico” enfatiza a psicóloga e psicanalista especialista em atendimento infantil Paula Ramos, da Escola Brasileira de Psicanálise.

 

E que o CONAR (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária) preceitua?:

 

• a publicidade deve ser um fator coadjuvante aos esforços de pais, educadores, autoridades e da comunidade na formação de crianças e adolescentes, contribuindo para o desenvolvimento positivo das relações entre pais e filhos, alunos e professores, e demais relacionamentos que envolvam o público-alvo.

• Não deve usar mais o apelo imperativo de consumo dirigido diretamente a crianças e adolescentes “Peça pra mamãe comprar…”.

• Não deve usar crianças e adolescentes como modelos para vocalizar apelo direto, recomendação ou sugestão de uso ou consumo por outros menores “Faça como eu, use…”.

• O planejamento de mídia deve refletir as restrições técnicas e eticamente recomendáveis, buscando-se o máximo de adequação à mídia escolhida.

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Às terças-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung

4 comentários sobre “Publicidade infantil: “peça pra mamãe comprar ..”, não pode

  1. Olá Julio,
    os conselhos de auto-regulamentação padecem de um vicio que os torna na maioria dos casos, inoperantes.
    Não tem a participação da sociedade. No caso da propaganda, é ela a principal interessada e não é ouvida. Talvez por não estar devidamente organizada e preparada para exercer esse papel.
    Acredito que sem o olho do cidadão nos conselhos de auto-regulamentação, a punição para os infratores não terá o mesmo efeito que teria se realmente pudéssemos contribuir. Sem o cidadão o interesse particular de cada uma das atividades que estes consócios pretendem gerir, será sempre o mais importante e acabaremos com produtos finais na mesma medida dos que vemos hoje nas TVs e nos bancos para citar dois casos apenas.
    Não vejo outra maneira em que realmente sejam eficazes sem que os usuários finais tenham papel fundamental em cada um deles.

  2. Eu gostaria de ter uma TV que suprimisse os intervalos comerciais com uma foto ou algum filmete pré programado! Assim ficaríamos livres da “tentação” consumista, em especial dessa que é dirigida às crianças!
    Mas, já que tal idéia me parace impossível (seria um tiro no pé dos fabricantes), acho que a limitação da propaganda para crianças é um começo!

  3. Não faz muito tempo, estava na residencia de um cliente e a tv ligada.
    Familia da classe média.
    Eis que vem os comerciais, os reclames.
    Como sempre, comerciais massificantes de automoveis e celulares.
    O casal de clientes pais de um menino de sete anos.
    Quando apareceu na TV o comercial de celular e depois de uma marca de automovel o menino pediu ao pai que comprasse o celular tal e o carro tal também
    O pai respondeu ao garoto, assim fosse aprovado na escola no final do ano, ganharia o celular de presente e o automovel quando ingressar na universidade.
    Sem esquecer de mencionar os massantes comerciais de grandes magazines, que induzem pessoas a comprar tudo o que veem nas propagandas.
    E ai acabam se endividando dia a dia e acabam no fundo do poço endividados, por causa do tal compre, compre, compre.
    Santa ignorância!

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