
Nas palestras para executivos e empresas um dos pontos que destaco é que a mentira jamais deve pautar a política de comunicação corporativa. Quando houver informações que devem ser mantidas em sigilo, seja por questões estratégicas seja por questões legais, o porta-voz deve ser sincero, pedir desculpas se for o caso e dizer de forma direta que não pode comentar o assunto. Se possível, ofereça alguma dado que seja útil ao interlocutor demonstrando boa vontade em atendê-lo. Porém, jamais, em nenhuma situação, por mais grave que seja, minta. A mentira fragiliza a corporação e seus profissionais. Agora ou daqui a pouco, nós vamos descobrir a verdade.
A mesma regra deve prevalecer nas relações internas dos profissionais, no entanto é evidente que os mentirosos estão à solta. Afinal, a mentira é inerente ao ser humano e muitas vezes garantia de sobrevivência não apenas nas corporações. Há os que mentem para agradar e os que mentem para escapar de situações constrangedoras. Há os que mentem para prejudicar e os que mentem para se beneficiar. Há mentiras aceitas socialmente e mentiras reprováveis. O maior cuidado que devemos ter é quanto a dimensão e o efeito desta mentira.
Em 29 anos de redação cruzei por muitos mentirosos. E, confesso, contei as minhas também. Espero que nenhuma tenha prejudicado colegas ou empresa. Nunca foi esta a intenção nem soube de mal que tenha sido cometido por este ato. Vale o destaque: mentir para o público nem pensar, é condenável, é execrável, um desserviço à sociedade. Podemos, como jornalista, não publicar toda a verdade em determinados momentos porque esta se constrói no decorrer dos fatos e não a temos desde os primeiros instantes. Nem sempre ao se cobrir casos jornalístico se tem o domínio de todos os acontecimentos e para se chegar a verdade final são necessárias investigações mais profundas. De qualquer forma, busca-se sempre publicar a verdade daquele momento, que pode ser transformada diante de novas informações.
Um caso engraçado de mentiroso: um ex-colega – omito o nome não para mentir, mas para nos preservar – era incapaz de ouvir qualquer assunto sem contar algo extraordinário do qual teria feito parte. Os que conheciam a fama dele, costumavam provocar alguns assuntos apenas para ver como se sairia. Uma das histórias mais interessantes foi quando ouviu grupo de colegas falando de acidentes de avião e ele, sem constrangimento, contou que já havia pilotado e, por habilidade e sorte, conseguira escapar de uma tragédia ao pousar o monomotor sobre a rede de fios elétricos. Tentou convencer os colegas ainda de que Dolores Duran compôs para ele a música ‘A Noite do Meu Bem’, em 1959, e, em uma de suas viagens à Washington, foi convidado por assessor de JFKennedy para visitá-lo na Casa Branca. Não estou mentindo, não. Foi isso mesmo que ele contou. Se duvidar, pergunte ao meu pai, também colega do referido. Foi ele, aliás, que, em texto publicado aqui no Blog do Mílton Jung, apelidou nosso companheiro de rádio de Barão de Münchhausen, nascido no século 18, que serviu ao exército alemão e de tantas histórias extraordinárias e inverossímeis virou personagem de livro infanto-juvenil e de filmes para o cinema.
Infelizmente assisti a casos de mentiras que me levaram a questionar o comportamento ético do jornalista. Conto um dos que mais me incomodaram: uma ex-colega foi pautada a cobrir um assunto pois seu diretor de departamento tinha interesses comerciais no produto que seria apresentado. Ao retornar para a redação, o editor tentou entender qual o interesse jornalístico da reportagem e a jornalista, sincera, explicou a situação. Ao ser cobrado, o diretor negou que tivesse pautado a repórter. Ela foi demitida e o mentiroso garantiu seu emprego por mais alguns anos, a despeito do peso que levou na consciência. Em situações como essa, quando seu superior mente, é preciso avaliar bem se vale a pena permanecer naquele ambiente de trabalho e quanto estas situações podem prejudicar a sua imagem profissional.
Quanto a colegas mentirosos é sempre bom usar uma régua simples. Mentiras engraçadas, sorria; mentiras brandas, releve; mentiras graves, denuncie ou vá para bem longe para não ser contaminado.
Adorei seu texto, Milton
Em 22 anos de vida corporativa e empreendedora, à frente de uma pequena empresa de 140 colaboradores, não é fácil dizer a verdade o tempo todo. Nem todos estão preparados, e eu também não estou – ainda. O sucesso da tal assertividade, do feedback claro, carinhoso e honesto (e tão propagado) depende muito mais da maturidade de quem ouve, do que imaginamos. Alguns simplesmente não querer ouvir e se magoam. Aí vem uma ponta de arrependimento de quem falou: “devia não ter falado nada, para preservar esta relação.” Mas e os resultados, ficariam comprometidos? Difícil.
E para demitir alguém querido? Você tem de contratar um substituto, que passa por “assistente” do futuro demitido, ele é treinado e só depois você conta a verdade. Ou conta com antecedência e lida com o eventual descaso na capacitação do substituto? Ainda prefiro a verdade, mas sei que ela não é para todos – requer maturidade, humildade, doçura e equilíbrio, para falar e para ouvir. Como disse Voltaire: “Existem verdades que não são para todos os homens, sem para todos os tempos.” Ou Oscar Wilde (mais atual que nunca em tempos de Facebook) : “Dê uma máscara ao homem e ele dirá a verdade.” Grande abraço!