Rádio ao vivo e responsável

 

Por Mílton Jung

 

Por muitos anos o radiojornalismo pecou por entender que o ouvinte estava em busca da notícia em primeira mão quando, na realidade, a busca era pela notícia certa em primeira mão. Até hoje se percebe esta confusão, resultado da precipitação e falta de responsabilidade. Pode ser, também, falta de habilidade para equilibrar agilidade e precisão, conceitos que pautam, cada vez mais, a vida dos jornalistas de uma maneira geral e os de rádio em especial, devido às características intrínsecas do veículo, tais como imediatismo e a instantaneidade. No rádio, ao vivo, o risco se potencializa e a tentação pelo furo pode ferir reputações – sugere-se cautela, apuro e tranquilidade. Toda vez que o jornalista abre mão da precisão em nome da agilidade paga com o que há de mais caro em sua carreira, a credibilidade.

 

Há não muito tempo, os principais veículos de comunicação brasileiros transformaram um incêndio em loja de colchões, na zona sul de São Paulo, em uma tragédia área. A informação que havia chegado truncada às redações era de que um avião da companhia aérea Pantanal havia caído sobre um prédio, próximo da avenida Santo Amaro. A dificuldade em chegar ao ponto do suposto acidente, devido ao congestionamento na região, impedia a confirmação in loco, mas não diminuía a pressão do público e dos chefes sobre os apuradores e repórteres. Sem conseguir uma confirmação por fontes próprias, várias emissoras de rádio e TV, além de portais na internet, se basearam em informação divulgada por um canal a cabo especializado em notícias, a GloboNews, e publicaram uma mentira. Alguns minutos foram suficientes para se perceber o erro, voltar atrás, pedir desculpas e tocar a vida em frente. Nada suficiente para eliminar o vexame e impedir a demissão de colegas.

 

A notícia quando chega à redação precisa ser apurada antes de publicada. Quanto maior seu impacto, maior deve ser a precisão. Pode vir por telefone, por e-mail, através de uma fonte, nas mais diferentes situações. Atualmente, pode circular nas redes sociais, também. É comum percebermos rumores na internet que, mais tarde, se transformarão em fato, e muito mais comum ainda vê-los sumir pela total inconsistência da verdade. Nem sempre dar a fonte para um agência de notícias é suficiente para se eximir da culpa de um erro. O que diferencia o jornalista em momentos como este é a responsabilidade em divulgar o tema, com a velocidade que os veículos e o público exigem, mas com a precisão que a profissão pede.

7 comentários sobre “Rádio ao vivo e responsável

    • Bruno e Carlos,

      Tanto quanto a instantaneidade o é para o rádio, o erro é intrínseco a vida humana. Não há como viver sem errar, mas há como aprender com eles. Se não erramos é porque não tentamos. Mas se podemos tentar com a responsabilidade que a circunstância exige, melhor.

  1. Leio seu texto e por coincidência vivenciei algo semelhante hoje. Pois um amigo me falou da decisão do Papa, mas somente acreditei ao ouvir a informação na CBN. A renúncia dele surpreende a todos os católicos, pois é um ato de coragem que espanta nestes tempos de vaidade.

  2. Mílton,tão ou mais errado do que divulgar,por açodamento,uma notícia inverídica,é tentar ludibriar,no caso do rádio,os ouvintes e os concorrentes,dizendo-se autor de um furo. Foi o que ocorreu em Porto Alegre quando da contratação,pelo Grêmio,do centroavante Barcos. A notícia havia sido divulgada no meio da manhã, pela Rádio Guaíba,durante o programa "Ganhando o Jogo". Um jornalista,porém,talvez em um ultra acesso de megalomania,deu o "furo" (já velho),às 15h20 min.

  3. É verdade, Milton. Mais importante que a notícia em primeira mão é a notícia confiável. Credibilidade não tem preço. Não posso deixar de partilhar com o “ouvinte internauta” Carlos Soares em sua admiração pelo ato de coragem do Papa Bento XVI, em tempos de egos inflados. Até.

  4. Milton, acho que o furo serve apenas para a vaidade do jornalista. O público não quer saber se foi a emissora x ou Y que deu a noticia. O publico que saber da noticia e pronto. Ninguem sai por ai comentando tipo: olha eu ouvi essa noticia primeiro em tal rádio. Ou tal jornalista deu essa informação primeiro. Lembro que nos anos 80 as emissoras brigavam para ver quem tocava determinada musica em primeira mão. Para mim como ouvinte não me interessava quem tocava primeiro. O que me interessava era ouvir a musica seja em que emissora for. Noticia idém. Quando ouço uma noticia na CBN para mim não importa se outras emissoras ja deram aquela noticia. O importante é que naquele momento eu estou recebendo a informação. No futebol é uma verdadeira loteria. Vejo jornalistas dando como certo que determinado jogador vai atuar em determinado time. Se o cara errou. Ninguem fala nada. Mas se acertou o jornalista só falta sair por ai gritando que ele deu o furo de reportagem. É igual a Mãe Dinah. Se fez a previsão que determinado artista erá morrer e não acontece nada. Todos levam na brincadeira. Mas se no meio de 30 erros ela acertar um, vira manchete de jornal. No futebol isso é comum. Todos falam com certeza em contratações que nunca irão acontecer. Mas tbem se acontecer, vira MANCHETE. Rsss Quantas vezes o Neymar ja foi vendido? No futebol ainda a briga é grande pelo furo porque os atletas tem blogs e facebooks e geralmente a noticia circula por lá. Ultimamente tá dificil ouvir Esporte no Rádio e na TV e ler noticias de jornais e internet. Criam noticias inveridicas. Ganso era vendido todo dia para o exterior. E foi parar no Sao Paulo. Esporte com esses palpiteiros ta ficando chato. O radio deveria repensar a forma de dar essas noticias falsas de vendas de jogadores em nome do furo de reportagem. E tenho dito.

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