O cavalheirismo está moribundo

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Cláudia Tajes, uma das minhas sobrinhas, filha de minha irmã Mirian e do jornalista Tito Tajes, ambos já falecidos, custou a decidir que profissão mais lhe interessava seguir. Se não me engano, seu pai não gostaria que a sua jovem filha optasse pela profissão paterna. Os meus filhos e os seus primos visitavam com frequência tanto a Rádio Guaíba quanto a redação e as oficinas do velho e saudoso Correio do Povo. O Mílton, responsável por este blog e por minha presença nele, embora viva escrevendo que são raros os seus leitores, coisa em que não acredito, foi o único da turminha que se formou em jornalismo e acabou trabalhando, no início da carreira, como produtor e apresentador de um programa que tratava de esportes amadores. Os “caros e raros leitores” devem estar se perguntando por que comecei este texto citando a Cláudia. Talvez tenha dado a impressão de que havia esquecido a frase inicial.

 

Não esqueci. Abri com ela para dizer que minha sobrinha, creio que surpreendentemente, transformou-se em escritora, roteirista e ex-redatora de importantes agências de propaganda gaúchas. É, também, colunista do carderno Donna, que é um encarte do jornal Zero Hora dominical. No último domingo, sua coluna começa com uma pergunta: – Cavalheirismo:isso existe?

 

Cláudia fez a pergunta e, embora sendo uma indagação retórica, respondo: o cavalheirismo está, no mínimo, moribundo. Quando eu era um gurizote e meus pais permitiam que eu fosse para o colégio (ou os colégios, pois foram vários) pegava o bonde Floresta ou São João, numa das paradas próximas a minha casa, na Avenida Benjamin Constant e, se havia lugar para viajar sentado, me aboletava num dos bancos e ficava torcendo para que entrasse uma pessoa idosa ou uma mulher mais velha do que eu para, sem titubear, ceder o meu lugar. Naquela longínqua época, não só os meninos da minha idade, mas qualquer homem que visse um idoso ou uma mulher em pé, no bonde, logo se levantava. Cavalheirismo era algo que se aprendia em casa. Hoje, Cláudia tem razão: no trânsito é onde até os razoavelmente educados se transformam em bandidos. Os jovens, então, são os piores.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele) às quintas-feiras.

2 comentários sobre “O cavalheirismo está moribundo

  1. Olá, Mílton Pai,

    que bom que ela aborda esse tema. Venho pensando nissso há tempo, mas acredito que o cavalheirismo não deve ser uma qualidade apenas esperada do sexo masculino. O cavalheirismo deve imperar entre as mulheres e as crianças também. E agora que tenho uma cachorrinha – há cinco anos, aprendi o cavalheirismo entre raças diferentes – o dela e o meu.

    Valeu a reflexão,

  2. Amiga do meu filho é,também,minha amiga. Permito-me,então,tratá-la por amiga Maria Lucia Solla. Concordo que cavalheirismo seja uma virtude extensiva a mulheres e crianças. E,como não,às cachorrinhas e suas donas. Um abraço!

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