Os discos voltam a tocar nossa lembrança

 

 

O toca disco Sony, com fonte improvisada e cabo RCA conectado ao primo mais novo, o tocador de DVD, trouxe de volta ótimas lembranças neste fim de semana. Os discos de vinil vieram na mala com a qual desembarquei em São Paulo, assim que deixei Porto Alegre, no primeiro dia de 1991. Um solo de Mick Jagger, um clássico dos Beatles, James Taylor, Cazuza e mais alguns exemplares interessantes que não listarei aqui para não tomar seu tempo. Todos ficaram guardados por anos e só ganharam o direito de se transformar em peça de decoração recentemente. Por curioso que pareça, foi um garoto de 12 anos que me incentivou a dar uma solução para o aparelho sem vida. Fernando, meu sobrinho mais novo, por influência do pai, o Christian, meu irmão mais novo, adora vinil e tem se esforçado para encontrar algumas raridades, em especial do Red Hot Chili Peppers, sua banda favorita. Quando esteve aqui em casa, fomos juntos à Galeria do Rock, centro da capital paulista e ponto de encontro de admiradores da velha mídia. Fiquei impressionado com o que é possível achar naquelas lojas e com o preço que cobram, especialmente em tempos de músicas baixadas de graça (ou quase) na internet.

 

De volta para casa, Fernando queria saber porque meu ‘prato’ – é assim que os jovens se referem a esse aparelho – estava servindo apenas de decoração ao lado dos discos. Sem resposta convicente, no dia seguinte saí em busca de alguém que me ajudasse a arrumar minha eletrola – é assim que os mais antigos se referem a esse equipamento. A solução foi caseira, pois descobri que um dos técnicos da CBN, Gugu, era craque nesses consertos, conhecia como poucos os atalhos necessários para encontrar as peças que faltavam e enjambrar soluções. Em menos de uma semana, o toca disco já estava de volta com uma nova fonte e agulha zero quilômetro. Bastava conectá-lo em um receiver e aumentar o som: foi o que fiz nesse fim de semana para alegria das minhas boas memórias.

 

O chiado no começo das faixas reativa as lembranças de um passado que deixou marcas e acumulou pó. Algumas dessas marcas impedem que a música continue tocando, repete estrofes e nos obriga a pular a agulha para o sulco seguinte. A turma mais nova se divertiu com minhas manobras para ouvir o disco até o fim e se impressionou com o fato de um dia alguém ter imaginado que aquelas trilhas riscadas em um vinil poderiam se transformar em música para nossos ouvidos. Um deles chegou a suar quando pedi para levantar o braço da agulha e trocar de faixa, movimento que exige habilidade e sutileza, coisa que aprendemos de pequeno, mas que é uma tremenda novidade para quem jamais havia visto um LP rodar.

 

Hoje somos capazes de registrar o mais sutil dos sons e de destacá-los em nossos aparelhos ultra sofisticados com muita precisão. É incrível, porém, como o som rústico que sai dos discos consegue nos trazer a sensação de pureza das canções, resultado da tecnologia de gravação que havia à disposição na época e das lembranças que tenho.

 

10 comentários sobre “Os discos voltam a tocar nossa lembrança

  1. Milton, bom dia.
    Tenho 25 anos, e não me lembro de um toca disco na minha casa.
    Ano passado meu amigo comprou um e passei a comprar discos com ele, e curtir algo que pela minha idade não curti.
    Esse ano fui surpreendido pela minha noiva que me deu um toca discos zerado, que ela trouxe de fora.
    Não há sensação melhor, comecei a frenquentar sebos atrás de coisas que o tempo apagou, cantos e bandas que não chegaram até o século XXI para conhecer coisas novas, e venho descobrindo muita coisa boa.
    E o que tenho achado melhor do vinil é que você não escolhe a música, para chegar na música que você gosta, tem de ouvir o disco todo.

    • Gabriel,

      Até é possível escolher a música,mas o melhor é deixar rolar (ou melhor, rodar). Quanto ao presente da sua namorada, vê-se que você fez bela escolha.

  2. Milton, aqui em casa minha família ainda tem guardado muitos LPs. Desde cantores românticos dos anos 70 e trilha sonora de novelas dos anos 80 (no caso da minha mãe), até Roxette, Madonna, Turma do Balão Mágico, Xou da Xuxa (no caso do meu irmão). Infelizmente nunca consegui ouvir no aparelho que tínhamos. Sim, tínhamos, porque as caixas de som foram danificadas, a agulha também não funciona mais e alguns botões simplesmente sumiram (imagino que eu e meu irmão mais velho durante a infância devemos ter arrancado, rs). Uma pena, pois ainda existem muitas lojas especializadas nisso. Felizmente!

    • Bruno,

      Fala a verdade: Xou da Xuxa era o seu vinil preferido. Lá dentro ainda guardava aquela revista em que a apresentadora desfilou à vontade e depois desapareceu do mercado.

      Em relação as peças, em São Paulo ainda é possível encontrar lojas com equipamentos para toca disco, como o caso da agulha.

  3. É simplesmente instantâneo: nossa memória é feita de sons, odores, cores, músicas, objetos, basta apenas um momento, um mecanismo para o gatilho e, pronto, tudo volta á nossa lembrança num piscar de olhos, em frações de segundo; as impressões deixadas por algo, ou por alguém, como que magicamente nos remetem a épocas passadas, situações vivenciadas, doces lembranças que nos fazem ser como somos ( o menino do futebol) , o que a vida nos proporcionou ..( ou deixou de… ). É como a velha canção que diz: “Recordar é viver “.. Eu e meu irmão guardamos alguns exemplares de vinil, porém ao contrário de você, não guardamos a ” vitrola ” ou ” pick-up”. Bela crônica, Milton.

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