Por Frei Antonio Leandro da Silva
Tenho sede não só de conhecer a metrópole, como também desvendar seus recantos obscuros, percorrer interstícios, caminhar sempre um pouco mais…
Impressionam-me suas largas e movimentadas avenidas, arrojados viadutos, fascinantes monumentos, modernas arquiteturas, templos monetários… Uma cidade construída sobre concreto e asfalto. Nessa sociedade, sinto-me desconhecido de todos, estranho no meio da multidão.
Sigo a Rua São Bento, atravesso as praças do Patriarca e Antônio Prado. Subi a Avenida São João e, no cruzamento desta com a Ipiranga, experimento o que tantos nordestinos já sentiram: o anonimato de quem vive na cidade grande. Visito a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, espaço sagrado para acolher os fadigados, refúgio dos caminhantes. Ajoelho-me, rezo. O espaço fortalece minhas forças e esperanças para caminhar. A oração reanima, acalenta e silencia a alma.
O tempo corre, olho para o relógio, levanto-me. Retorno pela Avenida São João. Contemplo situações e pessoas, cines pornográficos, prostitutas encostadas nas esquinas e bares, bêbados deitados no chão, adolescentes cheiram cola, mulheres, com seus filhinhos, imploram esmolas aos transeuntes. Homens de gravatas conduzem pastas, mulheres bem vestidas e simpáticas seguem caminhos, camelôs desmontam suas barracas. Polícia faz a ronda, ambulâncias acionam as sirenes. Atravesso o Vale do Anhangabaú, olho atentamente os arredores. Subo a rampa da Rua São Francisco, cruzando com a Rua do Ouvidor.
Finalmente, meus passos me trouxeram de volta ao convento. Caminho direto ao meu quarto e concluo a escrituração:
“Uma coisa aprendi neste dia: o caminho da vida é longo, sinuoso e penoso. Preciso sempre caminhar com determinação, coragem e autoconfiança, mesmo quando as circunstâncias me pareçam estranhas, pois é vivenciando o novo, o estranho, que podemos dar significado ao caminhar sem desanimar”.
Frei Antonio Leandro da Silva é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte outros capítulos da nossa cidade: escreva para milton@cbn.com.br.
O melhor texto até agora publicado! Parabéns ao Frei Leandro! Parabéns a você, Milton Jung, por essa bela iniciativa!
Magnifico, caminhei junto!