Por Célia Corbett
Ouvinte da CBN
Essa história aconteceu em maio de 1971. Éramos uma família recém-chegada ao bairro de Higienópolis, na Avenida Higienópolis esquina com a Rua Sabará, no Edifício Parque Higienópolis, um edifício pomposo de 21 andares e novinho em folha. Éramos meu pai, Helio Ferrari, três filhos, Márcia, Carlos e Célia e meus avós paternos, Anna e Francisco.
Meu pai já havia decidido presentear o Carlos que havia passado no vestibular para cursar a faculdade de engenharia, no Instituto Mackenzie. O Carlos sempre foi um ótimo aluno, rapaz correto e filho amoroso que merecia um bom presente, mas Sr. Ferrari era um pai prestimoso e queria que o presente fosse entregue literalmente embrulhado.
Sr. Ferrari poderia dizer: — “Carlos, vamos à concessionária da Rua Maria Antonia buscar seu fusca”. Mas, ele era um pai muito especial e estava presenteando um filho do qual muito se orgulhava. Foi quando me passou a missão: — “Filha, embrulhe o carro de seu irmão para presente com laço e tudo”.
Sr. Ferrari foi para o centro da cidade trabalhar na Rua Conselheiro Crispiniano. O Carlos foi para bem longe, uma vez que meu pai lhe deu uma tarefa deveras difícil para executar e eu meio atônita, fui providenciar um grande lote de papel celofane azul.

Seu Ferrari entrega o presente para o filho Carlos em foto da família
Missão dada, eu, de joelhos colei uma folha à outra no chão da garagem do prédio onde morávamos e onde o fusca já estava. Ninguém entendia nada, papel para todos os lados, uma trabalheira enorme. O pessoal do prédio — porteiros e faxineiros e condôminos — olhavam incrédulos para aquele trabalho todo. Seguiu-se o cuidadoso procedimento de embrulhar o Fusca para presente. Até aí funcionou tudo bem. Mas depois veio o laço, pois um pacote de presente que se preze tem que ter um belo laço, não é mesmo? E assim foi feito, um laço bem grande com papel celofane vermelho.
Sr. Ferrari sentou-se na sua máquina de escrever e datilografou uma carta temática como se o Fusca fosse um “gênio do bem” que chegaria para cumprir uma missão para o seu novo “amo”.
Assim era a carta:
Quando o Carlos voltou já estava tudo pronto, carta escrita, chaves separadas, fusca embrulhado para presente e máquina fotográfica preparada. A entrega do carro ocorreu com toda a pompa e circunstância que haviam sido meticulosamente idealizadas e preparadas por meu pai e por mim. Quem não estava esperando tudo isto era o Carlos e não é difícil imaginar a emoção que envolveu este fantástico acontecimento familiar. Tudo aconteceu no bairro de Higienópolis, precisamente no dia 2 de maio, quando o Carlos completava 19 anos.
Eu sou a Célia, hoje eu tenho 64 anos e o Carlos, 66. Tenham certeza que essa história está guardada no melhor lugar dos nossos corações.
Célia Corbett é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é de Cláudio Antonio. Venha participar desta série e envie seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br
Bom dia família Ferrari e Sr. Carlos !
Que alegria senti ao ler vossa historia !
Que amor abraçou a todos que participaram deste acontecimento !
Que o filho e moço Carlos que foi o homenageado nesse acontecimento , possa retribuir ao próximo o que recebeu do seu pai .
Parabéns
Obrigada por essa linda mensagem. Sou irmã do Carlos e posso te garantir que ele é uma pessoa extremamente generosa. Abraço. Celia Corbett