Lauro Vieira de Oliveira
Ouvinte da CBN
Minhas memórias começam na época em que morava no bairro do Jardim São Paulo, Zona Norte. A casa na avenida Cabuçu, hoje avenida Marechal Eurico Gaspar Dutra, com dois dormitórios, sala, cozinha, banheiro, portão e quintal com poço, permanece a mesma daquela época, em 1960 — feliz e, corajosamente, não alteraram as suas características de fachada.
Nela moravam meus pais —- mãe baiana e pai alagoano, descendente dos índios caetés —-, meus quatro irmãos —- o mais velho dos homens trabalhava em uma fábrica de instrumentos de percussão, ali bem próximo —- avó, tio, o filho mais novo da avó materna e um primo. Comigo, éramos 11. Nos arredores está a Igreja de Nossa Senhora Aparecida, que minha avó era devota fervorosa. Hoje, sob a casa, passa a linha Azul do Metrô. A estação Ayrton Senna/Jardim São Paulo, também está por ali.
Tinha uns 5 anos com uma infância muito dinâmica. Brincava-se com tudo o que tínhamos direito; e sem direito também, como descer ladeira dentro de um pneu de caminhão.
Um vizinho criava cavalos. E a diversão era roubar um para dar umas voltas até ter levado um tombo e quebrado a cabeça.
Quando chovia, ou quando minha mãe lavava o quintal, ensaboávamos o peito e escorregávamos, no corredor do quintal, dos fundos para a frente da casa, uns 8 metros de pura adrenalina.
De quando em quando jogávamos bola no campo de futebol, ao lado do hoje Clube Escola do Jardim São Paulo, administrado pela prefeitura. Era de terra, a grama ainda não cresceu. Em parte do campo tinha poças d’água que não secavam nunca, quando você pisava afundava até o joelho. Dalí tínhamos uma perspectiva maravilhosa, avistávamos a passagem do Trem da Cantareira, com destino ao Jaçanã e Guarulhos.
Em um dos lados do campo, na rua Professor Fábio Fanucchi estava a escola Professor Antonio Lisboa, onde estudei o primeiro ano primário. Lembra-se da cartilha “Caminho Suave?“ Graças a ela, e, lógico, a minha professora que não lembro o nome, aprendia a juntar letrar e formar palavras. Incrível é que uns 35 anos depois minha mulher foi concluir o seu segundo grau nesta mesma escola! Coisas do destino.
Em frente a minha casa havia um espaço imenso, com uma grande depressão. Era o “Buracão”, com uns 200 a 300 metros de comprimento, partindo da rua Almirante Noronha, 10 metros de largura e sete de profundidade. Em uma ocasião, estávamos com uns trocados e fui com os amigos fazer um piquenique em um caverna —- um buraco encrostado em um dos lados do Buracão. Comemos muita coisa boa até que o Seu Antonio, um vizinho que costumava tomar umas cangibrinas começou a bater com os pés na parte superior da caverna. Foi um corre-corre só, todos descendo, escorregando para o fundo do Buracão.
Quando iniciaram o aterro do “Buracão“, houve muita tristeza da molecada, pois era um ambiente que, além de estarmos acostumados, fazia parte do nosso parque de diversão. Como vimos que não teria jeito, fomos assistir às máquinas e caminhões trabalharem. Naquela movimentação de terra, descobrimos umas raízes, que delícia, parecia cana-de-açúcar de tão doce que eram!
Depois dessa época, fomos morar no Parque Edu Chaves. Mas está é uma outra história.
Lauro Vieira de Oliveira é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva suas lembranças e envie para contesuahistoria@cbn.com.br.
Grande oportunidade par a relatar belos momentos e memórias positivas da terra da garoa; me comoveu a história do rapaz do Jardim São Paulo
Vou enviar a minha história mas hoje o mundo está cheio de negatividade
Grande iniciativa de Milton Jung
Fernando, será um prazer receber sua história — é uma ótima oportunidade para lembrarmos momentos marcantes que experimentamos na vida. Ficarei à espera.