Por Simone Domingues

“Seu futuro ainda não está escrito, o de ninguém está.
Seu futuro será o que você quiser, então faça dele algo bom”
Frase do filme “De volta para o futuro”
No filme “De volta para o futuro”, Marty McFly (Michael J. Fox) é um jovem que aciona acidentalmente uma máquina do tempo, construída pelo cientista Dr. Emmett Brow, sendo transportado para o passado. No fim da trama, Marty volta para o ano de 1985 e tenta salvar o Dr. Brown, mas chega tarde demais para impedir que ele fosse baleado. Surpreendentemente, o cientista acorda e revela que ao tomar conhecimento da carta que o alertava sobre seu assassinato, se muniu previamente de um colete à prova de balas.
Longe da ficção e sem a possibilidade de alterarmos alguns desfechos em nossa vida, precisamos lembrar de pegar o guarda-chuva porque a previsão alertou que mais tarde o tempo muda. Precisamos lembrar que às 8:00 o remédio precisa ser tomado, que dia 10 vence o boleto da mensalidade da escola, que acabou o ovo e precisamos passar no mercado antes do jantar. E o livro que você pegou na biblioteca? Era para ser entregue ontem!
Pois é! Essa máquina do tempo que nós humanos temos, chamada memória, nos permite recordar eventos passados, mas também nos possibilita criar intenções voltadas para o futuro, nos orientando naquilo que ainda vai acontecer.
A memória prospectiva compreende um conjunto de habilidades cognitivas envolvidas na capacidade de planejar uma intenção e se recordar dessa intenção, em algum ponto do futuro, em momento ou contexto específico, possibilitando que as ações sejam realizadas.
Em outras palavras, significa “manter em mente” o que precisa ser feito e se lembrar disso no momento certo!
A memória prospectiva é um dos sistemas mais utilizados no cotidiano e envolve tarefas como se lembrar de um compromisso, como uma reunião de trabalho ou consulta médica, transmitir um recado, organizar os detalhes de uma viagem que vai acontecer e pagar as contas no dia do vencimento.
Diversas estratégias podem ser usadas para amenizar possíveis falhas na memória prospectiva, como recorrer a agendas, alarmes, realização de lista de tarefas e lembretes.
Apesar de tantos avanços tecnológicos e científicos, nossa capacidade de viajar pelo tempo só é possível – ainda – através dos nossos recursos mentais. Nossa mente tem essa capacidade incrível de retomar situações passadas e antecipar o futuro, através da imaginação.
Não sei você, mas eu fico pensando: se tivesse um jeito da gente olhar o futuro, saber o que nos aconteceria, será que a gente seria mais feliz? Será que a gente conduziria a vida de uma outra maneira?
Não temos spoiler. Não temos um bilhete nos alertando dos riscos, como no filme, o que nem sempre nos permite um colete à prova de balas, à prova de tristezas, decepções ou sofrimento. Mas temos a capacidade de olhar para o nosso momento presente e construir uma ponte com o nosso futuro, com sonhos e esperança.
Ainda é possível: A máquina do tempo pode travar, mas ela acaba ligando novamente! Não foi assim com o Marty McFly?
Então, faça as suas anotações, escreva um bilhete para você. Mas não coloque ali apenas a reunião ou a conta que você não pode esquecer. Das obrigações a gente até se lembra com mais facilidade.
Escreva aquilo que pode fazer a sua viagem para o futuro valer a pena. Aquilo que todos os dias você precisará se recordar, porque lhe é valioso. A sua memória do amanhã.
Dr. Brown estava certo: “seu futuro ainda não está escrito, o de ninguém está”. Então faça dele algo bom!
Simone Domingues é psicóloga especialista em neuropsicologia, tem pós-doutorado em neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do canal @dezporcentomais, no YouTube. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung.