Grêmio 0x2 Botafogo
Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

O Grêmio joga no limite. Com o seu limite.
Luis Suárez é quem melhor representa essa verdade, ao não conseguir esconder mais a expressão de dor no rosto, a passada marcada pelo arrastar da perna direita e o segurar de joelhos com as mãos sempre que a bola para. Sofre em campo e não desiste. Não se entrega. Tira do limite do corpo o melhor que seu talento consegue oferecer. Tabela com os companheiros, antevê a jogada, se posiciona para receber e não desperdiça uma oportunidade de chutar a gol. Hoje, por duas vezes, esteve próximo de ser antológico. Na primeira, a bola desviou no travessão; na segunda, o goleiro adversário impediu o gol. Entre uma e outra jogada, chutou como poucas vezes se viu nesses últimos jogos. Desta vez, sem sucesso.
Considerando o limite do seu grupo de jogadores — que não é apenas físico, como no caso de Suárez —, o Grêmio surpreende até aqui ao permanecer entre os primeiros colocados do Brasileiro, especialmente se pensarmos que chegou na temporada alvo de desconfiança. Dentre os descrentes muitos dos nossos torcedores — alguns, é verdade, apenas oportunistas a espera de um revés para exalar suas discordâncias. Mesmo diante de todas as restrições, o Grêmio vem acumulando bons resultados, alguns construídos na última hora, como os da Copa do Brasil.
Temos indícios de bom futebol, também. Na partida de hoje, assistimos nossos jogadores se aproximando e tabelando apesar do pouco espaço diante da marcação forte do adversário. Toques curtos e de primeira permitiram que avançássemos em direção a área. Houve boas viradas de jogo, passes qualificados e entrega na marcação que permitia a roubada da bola para iniciar o ataque. As chances se acumularam no primeiro tempo. Infelizmente, foram desperdiçadas.
Desta vez, pagamos caro por não transformar nosso esforço em gol. Contra um adversário que também surpreende a lógica do futebol ao disparar na liderança do campeonato após entrar desacreditado na competição, fomos incapazes de conter a precisão de seus ataques e amargamos uma rara derrota em casa. Foram dez meses e 24 jogos de invencibilidade na Arena, o que, convenhamos, também desafiava nossos limites.
O resultado não nos tira do topo da tabela. Seguimos entre os três primeiros classificados no Brasileiro. Na Copa do Brasil, vamos para mais uma decisão, na quinta, outra vez diante da nossa torcida. A medida que a temporada avança novos limites surgirão e caberá ao Grêmio reconhecê-los e superá-los como sempre fizemos ao longo da nossa história.
Lá nas redes sociais, caros e raros leitores desta Avalanche perguntam por que não falei do lance de pênalti sobre Bitello quando ainda estava zero a zero. Pedi pênalti com certeza naquele instante assim como havia feito no que ocorreu na partida contra o Bahia – e os árbitros, assim como seus auxiliares de campo e de vídeo, foram incapazes de enxergar. Poucas vezes comento esses erros de arbitragem porque sempre fico na dúvida se meu olhar não estaria enviesado por gremista que sou. Agora, será que eu pediria a expulsão de um jogador adversário se fizesse com um dos meus aquilo que Reinaldo fez com um dos seus marcadores, ainda no primeiro tempo. Acredito que sim! O árbitro entendeu que bastava o amarelo e o VAR seguiu o “relator”. Diante desse viés e da quantidade de erros de marcação e não-marcação de pênalti somente nesta rodada do Campeonato Brasileiro (para não falar do restante da competição), prefiro me ater a ilusão e ao lúdico do futebol. E quanto aos erros quero sempre acreditar que são erros humanos — e com todas as nuances que os humanos têm.