Conte Sua História de São Paulo: o Natal em que nasci

Antonio Dionísio

Ouvinte da CBN

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Sou paulista e paulistano. Nasci na noite de Natal, no bairro da Consolação. Eram 25 de dezembro de 1963. Sou filho de migrantes pernambucanos. Meu pai, Antonino Dionísio Marques, de Vitória de Santo Antão, terra da Pitu, uma das mais conhecidas cachaças do Brasil. Minha mãe, Maria do Carmo. Natural de Correntes, na época distrito de Garanhuns.

Papai era era alfaiate e foi para São Paulo, em 1957, após trabalhar com Seu Bruno Perrelli, no Recife. Na capital paulistana, acompanhou a agitação política no fim dos anos de 1950 e início de 1960. 

Ele assistiu à partida inaugural do Estádio do Morumbi. Além do fato de ter acompanhado a construção do estádio, decidiu ver o jogo de estreia porque era torcedor ferrenho do rubro-negro Sport Recife. Não que seu time estivesse em campo, mas o anfitrião São Paulo receberia o Sporting de Lisboa, jogo que a equipe da casa venceu por 1 a 0, com gol de Peixinho.  Foi o que bastou para que Seu Antonino se transformasse em torcedor do tricolor paulista. Falava com entusiasmo de tudo que presenciou naquele dia.

Após os eventos de 31 de março de 1964 e se sentindo inseguro, enviou  para o Recife, sua esposa, minha mãe, e eu, no fim de abril. Ele e o irmão, João Dionísio, deixaram São Paulo, no mês de Sant’Ana, como o nordestino chama o mês de junho. 

Religiosamente, meu pai retornava à capital paulista para rever os amigos. Por várias vezes, eu o acompanhei. Ficávamos na casa de um cunhado dele que também era migrante e morava na rua Cuiabá, número 96, bairro da Mooca. Chegávamos a ficar até 20 dias.

Ao me formar no ensino superior, fiz um estágio, para aprimorar os conhecimentos em voleibol, no Esporte Clube Banespa e morei um tempo no bairro de Santo Amaro, na zona Sul. Quando a grana permitia, visitava o centro da cida e almoçava pastel com caldo de cana, no Mercado Público. 

Hoje, viajo menos a São Paulo, devido os afazeres. Vou eventualmente, a cada dois, três anos. Sempre que vou me emociono andando a pé pelo centro. Assim admiro melhor suas ruas, monumentos, parques, museus, exposições e tudo de bom que essa megalópole oferece.

Por restrições financeiras, faz uns seis anos que não saboreio aquele caldo de cana acompanhado de pastel, uma parada obrigatória sempre que assistia a um jogo da Taça São Paulo de Futebol Junior.

Por uma dessas coincidências que o destino nos apronta, meu pai morreu na manhã de um 25 de dezembro, quando eu estava completando 43 anos. Preparava um churrasco para comemorar meu aniversário e havia convidado seus parentes de Vitória de Santo Antão e os da minha mãe, da cidade de Correntes. A presença deles naquela data, ao menos serviu para que todos pudessem prestar uma homenagem ao Seu Antonino que, assim, como eu, adorava a cidade de São Paulo.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Antonio Dionísio é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Claudio Antonio. Seja você também uma personagem da nossa cidade. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos visite o meu blog miltonjung.com.br ou ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

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