Avalanche Tricolor: entre o tedioso jogo e a glória literária

Grêmio 1×1 São Luiz

Gaúcho – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS

Na iminência de mais uma Avalanche Tricolor, me vi diante de um dilema peculiar: dedicar minha atenção ao Grêmio que se desdobrava na televisão ou ao que repousava, imortalizado, sobre a mesa do meu escritório. O jogo mal-jogado, nesta tarde de sábado de Carnaval, fez inclinar minha balança de forma inesperada., infelizmente. Preferia ter tido uma escolha mais acirrada, daquelas que surgem sob o signo da incerteza, que exigem reflexão e, muitas vezes, nos proporcionam soluções criativas. 

A falta de criatividade no campo e o tedioso futebol de um time que parecia derreter no calor de 34 graus de Porto Alegre, desfez qualquer hesitação: o Grêmio eternizado em minha mesa revela-se superior. É um Grêmio de glórias, repleto de conquistas, batalhador e vencedor! Um time que supera limites, transcende a lógica e faz história. É um Grêmio que sofre! Em alguns momentos também é sofrível. Mas que, mesmo assim, merece a devoção de seus torcedores fervorosos e eloquentes.

Na minha mesa estão dois livros que merecem ser lidos pelos gremistas de todos os rincões. Os não-gremistas podem se atrever também, pois estarão diante de capítulos importantes da história do futebol brasileiro. Talvez fiquem com inveja, especialmente se tiverem oportunidade de ler “120 anos de glória”, livro comemorativo escrito por Léo Gerchmann. Um convite à reflexão sobre futebol, arte e Brasil se apresenta em “Onde o Grêmio estiver”, de João Campos Lima.

Minha sugestão é que você os compre agora, os dois. Desfrute da boa escrita de meus colegas de profissão e de torcida: Léo e João são jornalistas e gremistas apaixonados. Refletem essas duas baitas qualidades nos textos que me encantam neste feriado de Carnaval. Uma delícia de leitura que suaviza a amargura de um jogo tão insípido quanto o presenciado.

Em “120 anos de glória”, coube a Léo Gerchmann esbanjar o talento de um camisa 10, essencialmente ausente nos gramados atuais, para tecer de forma épica a história do Grêmio, tendo os 40 anos do título mundial como inspiração. O caminho que escolheu para nos entregar essa obra literária, ao escrever de forma não linear e entrelaçando fatos e paixões, é daqueles que só os craques da caneta são capazes. Faz um livro-arte com ilustrações de momentos incríveis e outros pouco conhecidos, imagens antigas e históricas, e textos que nos ajudam a explicar o amor que temos pelo clube. Léo transcende as quatro linhas utilizando esta chance singular para reiterar seu maior engajamento em favor do Grêmio: a confirmação da pluralidade do Clube de Todos. Uma luta que hoje se expressou na camisa 0 de Villasanti, em alusão à campanha “Zero Assédio”, focada na prevenção da violência contra as mulheres.

Em “Onde o Grêmio estiver”, João Campos Lima vestiu a camisa 5, que representa a coragem, a garra, o futebol sem medo, capaz de superar qualquer adversidade, protagonizado por Vitor Hugo, China, Dinho e Luis Carlos Goiano. Destemido, aceitou o desafio imposto por amigos de WhatsApp e arquibancada e se transformou em cronista do Grêmio na série B. Não a da Batalha dos Aflitos, que ele assistiu na casa de um vizinho quando era guri de calças curtas. A de 2022, sem graça nem glamour. De jogos duros de roer, time limitado, técnicos trocados e futebol claudicante. Tarefa árdua esta assumida pelo autor. Ao fim e ao cabo, sua audácia nos premiou com textos que, ao lado do desempenho do Grêmio em campo e nos bastidores, costuram fatos que marcaram o cotidiano de todos os brasileiros, destaques da arte e da cultura, e, sim, um paralelo muito bem traçado com a histórica jornada de 2005. Inclusive com coincidências que não reproduzo aqui para atiçar sua curiosidade.

Num e noutro livro, encontraremos as diversas nuances do nosso Grêmio, algumas históricas e outras apenas passageiras. Todas escritas com paixão, apuro e criatividade — qualidades que estiveram ausentes do Grêmio que se apresentou na minha televisão, neste sábado.  

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