Por Márcia Aparecida Lourenço da Silva
Ouvinte da CBN

Trago no coração, entre tantas boas experiências em São Paulo, a lembrança das escolas em que passei. O primário, estudei no Centro Educacional Sesi. Era na avenida Gustavo Adolfo, na Vila Medeiros, uma importante avenida que liga o bairro do Tucuruvi ao de Vila Sabrina — esse, já bem próximo da Rodovia Presidente Dutra. Hoje, a escola não existe mais, foi demolida há muitos anos, dando lugar a um condomínio residencial.
Parte dela era de madeira, com várias salas de aula dos dois lados do corredor e, no fim dele, a tão temida diretoria. O piso era com assoalhos de madeira, que rangiam a mais suave pisada. Quando o sino tocava, o velho assoalho tremia com a correria da garotada e o som mais parecia de um grande terremoto.
Minha primeira professora foi Dona Elci, uma referência de professora que guardo em destaque no coração. Amável e muito doce, tirava assim todo medo e ansiedade da nova situação de estar na escola e não ter minha mãe por perto.
Também, conheci minha primeira amiga de escola, Regina Helena, que tive o prazer de rever depois de quase 50 anos. O tempo não lhe tirou a simpatia, a bondade e o belo sorriso. Ficávamos felizes quando a professora nos colocava sentadas na mesma carteira. Carteiras essas cujos assentos eram duplos e o encosto, numa só peça, servia de escrivaninha para os dois alunos de trás. Ali, trocávamos lápis de cor, borracha e rápidos cochichos, além do lanche, no recreio.
Quarto ano concluído, hora de mudar de escola. Para isso um temido exame de admissão deveria ser feito para entrar no concorrido Colégio Estadual Dr Miguel Vieira Ferreira, também na Vila Medeiros. A entrada principal era na rua Eurico Sodré. Anos depois, cedeu parte do seu terreno ao posto de saúde que vem servindo desde então a comunidade da região.
Na época, o terreno era nossa quadra. Toda de terra e com direito a torcida no barranco. Para o terror das mães, o conga branco voltava para casa imundo. A quadra oficial da escola era outra, aliás, meu paraíso. Foi onde aprendi a jogar vôlei e me encantei com esse esporte pelos quatro anos seguintes.
Passei da infância para a adolescência de forma encantadora e rápida, ao mesmo tempo intensa, a ponto de, depois de tantos anos, conseguir expressar em poema o tesouro que guardei tatuado em meu coração e ofereço com carinho aos ouvintes da CBN:
Corações tatuados 💖
Doces anos que passamos,
sem o passado presente,
e o futuro parecia
Distante…longe da gente.
Época de nossas vidas
que nos desperta saudade.
Um desabrochar de tudo,
encantamentos da idade.
Crises até enfrentamos,
mas isso não impedia
de, misturados, sentirmos
o clima que nos unia.
Provas, trabalhos, lições,
aquela chamada oral
que, por vezes, fomos salvos
pelo “bendito” sinal.
No pátio, de braços dados,
as meninas circulavam.
Assuntos, risadas, segredos…
Quase nunca se esgotavam.
Momentos compartilhados
sem os recursos de agora.
Estarmos juntos, bastava,
nosso mundo, nossa escola.
Tempos muito preciosos,
Hoje, na história fincados.
Tesouros que ninguém rouba, nos corações tatuados.
Ouça a poesia Corações Tatuados
Ouça o Conte Sua História de São Paulo
Márcia Lourenço é personagem do Conte Sua História de São Paulo. O poema “Corações Tatuados” que a Márcia nos oferece está em texto e áudio publicados no meu blog: miltonjung.com.br. A sonorização é do Cláudio Antonio. Lá no blog e no podcast do Conte Sua História de São Paulo, você encontra outros capítulos da nossa cidade.
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Muito feliz de fazer parte desta história. Gratidão pela sua amizade de tantos anos Márcia Lourenço. Regina Helena ❤
Feliz por sua amizade também Regina, que o tempo não conseguiu diminuir. 💕