Avalanche Tricolor: o retorno amargo e o fim de uma ilusão

Grêmio 2×3 Atlético MG

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Braithwaite marca o gol inicial, em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Foram 134 dias distante da Arena, desde as enchentes que destruíram o Rio Grande do Sul e deixaram marcas no coração dos gaúchos. O Grêmio foi o time de futebol mais prejudicado com a tragédia que abateu o Estado. Peregrinou como um circo mambembe por estádios brasileiros disputando três competições importantes. Embora tenha conquistado resultados significativos, despediu-se de dois torneios, em meio a essa jornada cambaleante, e persiste no Campeonato Brasileiro com a pouco inspiradora luta para ficar longe da zona-que-você-sabe-qual-é. 

O retorno ao estádio foi marcado pela precariedade. A infraestrutura não permitia jogos sem luz natural, por isso a disputa foi às 11 da manhã de domingo. Apenas parte das arquibancadas está liberada e muitos espaços internos seguem interditados. As manchas da lama aparecem em várias paredes e no mobiliário da Arena. O gramado foi instalado de maneira emergencial e trouxe uma cor e aparência estranhas. 

A coincidência do calendário nos trouxe de volta à Arena em momento de emoções diversas. Não bastasse a retomada nossos estádio, o adversário foi o clube que melhor soube acolher o drama de todos os gaúchos. Merecia nossa reverência. Há uma semana, havíamos perdido o patrono e o “maior de todos os torcedores”, Cacalo. E o futebol amargava o luto provocado pela morte de Juan Izquierdo, do Nacional, esse time uruguaio que nos é próximo do coração.

Com a bola rolando, o sofrimento, a alegria e a frustração voltaram a se expressar. Ter Gustavo Martins expulso com menos de 20 minutos de partida – exagerada ou não a punição ao zagueiros que fez dupla trapalhada  na jogada — nos colocava diante de dois cenários: o da derrocada iminente, que serviria para destruir a ilusão de que o drama que enfrentamos nesta temporada haveria de ser recompensado com uma recuperação heróica; ou o da vitória pela superação, sustentando a escrita da imortalidade e da energia emanada por um lugar sagrado que voltava a nos abrigar.

O primeiro tempo, em especial, e boa parte do segundo rascunhavam uma história incrível, daquelas de contar para os filhos, reunir os amigos e deixar a lágrima correr pelo rosto. Dizer do gigantismo deste time pelo qual escolhemos torcer e agradecer àqueles que nos tornaram gremistas. O primeiro gol veio pelos pés de Braithwaite, o atacante dinamarquês pelo qual já nos apaixonamos, e o segundo, na insistência de Cristaldo, que voltou a marcar.

De tão incrível que era o roteiro, sequer sofremos com o primeiro gol do adversários, aos 26 minutos do segundo tempo, após mais um pênalti cometido pelo nosso time e não defendido por nosso goleiro — que tem a capacidade de errar o lado em que a bola vai em quase que 100% das cobranças as quais é submetido. O revés naquela altura do jogo, estaria ali apenas para corroborar como seria glorioso sofrer pelo Grêmio. Ledo engano!

Nos acréscimos, aquele momento em que nosso técnico insiste em sinalizar a seus jogadores que “acabou, acabou”, levamos dois gols e a virada. O primeiro, de empate, também de pênalti e o segundo na pressão do adversário, quando tínhamos quatro zagueiros dentro da área. A jornada do herói imortal foi desconstruída em poucos minutos. Restaram a tristeza e a frustração, sentimentos dolorosos diante da expectativa que tínhamos no retorno à Arena.

A verdade é que o futebol é jogado dentro de campo, minuto a minuto.  A história que nos trouxe até aqui pode não servir para nada na partida seguinte.  O jogo depende muito mais das escolhas feitas pelo técnico e os jogadores, no instante em que a bola está rolando, do que qualquer fenômeno sobrenatural que costumamos evocar. A partida desta manhã de domingo chutou para longe toda e qualquer ilusão de que os deuses do futebol estariam dispostos a interferir a nosso favor. Eles não estão nem aí para nós. É no que acredito, ao menos até a próxima partida.

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