
O voo atrasou como têm atrasado os voos no Brasil, assim como o calor me acolheu como acolhe a todos os que chegam em Belém. Na minha ida a capital do Pará, há cerca de uma semana, a novidade eram as máquinas e homens em placas publicitárias e em canteiros de obras, esboço do que a cidade pretende apresentar na COP 30, no ano que vem. Fui a convite da CBN que me propôs apresentar uma edição especial do CBN Sustentabilidade, programa que tem minha colega e amiga Rosana Jatobá como titular.
O caro e cada vez mais raro leitor deste blog sabe que me sinto mais confortável diante do noticiário factual do Jornal a CBN e das discussões estratégicas do Mundo Corporativo. Embora o foco em sustentabilidade tenha me levado a um território diferente dos meus programas habituais, posso dizer agora que a transição foi natural. A pauta ambiental faz parte tanto do noticiário do dia — especialmente em meio a tragédias e emergências climáticas — quanto das conversas estratégicas com líderes de empresas, onde a sustentabilidade assume um papel cada vez mais determinante.
O programa teve como pano de fundo a Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, uma das muitas prévias dos debates que a COP 30 — que será realizada em Belém — levará ao cenário global. Isabela Teixeira, ex-ministra do Meio Ambiente, e Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), foram os meus entrevistados, recebidos em um estúdio de podcast, cercado de vidros, que chamava atenção dos conferencistas que se deslocavam de um painel e outro de discussão.
Experientes, Isabela e Jungmann trouxeram perspectivas que resumem o momento delicado e ao mesmo tempo promissor que vivemos. Segundo a ex-ministra, a vitória de líderes com visões opostas à pauta ambiental, como Donald Trump, é um desafio, mas também uma oportunidade para realinhamentos geopolíticos. O Brasil, sendo um dos poucos países capazes de oferecer alternativas econômicas que não dependem de combustíveis fósseis, assume um papel estratégico em fóruns internacionais como o G20, que começa semana que vem no Rio. Esse cenário coloca o país na vanguarda de um movimento global que olha a natureza como uma aliada essencial no desenvolvimento econômico e na preservação ambiental.
Raul Jungmann, por sua vez, reforçou que a sustentabilidade não é apenas uma pauta dos ambientalistas, mas uma questão de sobrevivência econômica e social. Ele destacou a importância de definir um preço para o carbono como forma de inibir as energias fósseis e de financiar uma transição para uma economia limpa. A Amazônia, neste contexto, é central não apenas por sua biodiversidade, mas por representar um modelo de desenvolvimento sustentável que o Brasil ainda precisa consolidar. Segundo Jungmann, essa transição exige um projeto robusto para a região, que inclua emprego e renda para os 29 milhões de brasileiros que vivem ali, muitos em condições de extrema vulnerabilidade.
Belém, ao se tornar sede da COP 30, representa simbolicamente a “COP da Floresta”, ou, como os próprios convidados enfatizaram, a “COP da Esperança”. É o momento em que o Brasil pode liderar um movimento global, mostrando que é possível alinhar desenvolvimento econômico e proteção ambiental. Isabela Teixeira ressaltou que, enquanto avançamos lentamente em políticas incrementais, a crise climática já está em um “elevador”, movendo-se rápido e exigindo respostas mais eficazes e globais.
Com isso, saí deste programa especial com uma visão ainda mais clara de que a sustentabilidade precisa deixar de ser uma agenda à parte para se tornar parte integrante de todas as esferas do debate público e privado, com impacto profundo no futuro do Brasil e do planeta.
Assista ao CBN Sustentabilidade
Na entrevista com Isabela Teixeira e Raul Jungmann falamos da importância do setor privado na garantia de que as pautas ambientais sejam permanentes e fortalecidas; dos cuidados a serem adotados para que se realize uma transição energética sustentável no Brasil; e das expectativas de avanços na COP 30. O CBN Sustentabilidade teve as participações de Carlos Grecco, Priscila Gubiotti e Renato Barcellos.