Conte Sua História de São Paulo: o dia em que a Mooca parou para ver o e elefante passar

Alceu Carreiro

Ouvinte da CBN

Foto de Regan Dsouza

Memória de elefante! Com meu novo livro de cabeceira “A viagem do elefante”, de José Saramago, me encorajei a escrever sobre  um fato curioso que, talvez, muita gente ao escutar esta narrativa, lembre do ocorrido.

Nasci no antigo hospital Leão XXIII, nove dias após o golpe militar de 1964 — tempos difíceis que nos tiram o sono até hoje. Sempre relembro minha mãe contando que, quando foi ao hospital, sentindo as dores do parto, meu pai, ao volante, cruzou com vários tanques de guerra; talvez, fazendo cumprir-se uma inaceitável GLO ( Garantia da Lei e da Ordem), nas proximidades do Museu do Ipiranga. 

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Mas isso é só um adendo. Vamos ao fato que me traz aqui: morávamos na Mooca. E eu, como um garoto que brincava nas calçadas de pique esconde, junto com os colegas, fomos surpreendidos — se não me falha a memória, em 1972 — com a passagem pela rua de um majestoso elefante. 

Todo o trânsito parou. As donas de casa se ausentaram da cozinha e abandonaram seus afazeres domésticos para ver o inusitado. Os comerciantes — o padeiro, o dono da banca de jornal, o açougueiro, enfim —, todos queriam testemunhar o inacreditável. 

A garotada seguiu em procissão acompanhando o enlace para desespero das mães. Não havia, como no livro de Saramago, um conarca no dorso do elefante, vestido em trajes indianos — o que em nada tirou o glamour e o encantamento da comitiva que anunciava um circo na região. Foi um dia histórico na Rua Chamantá. Por anos foi assunto sempre lembrado por todos nós. 

São Paulo de outrora já despontava como uma metrópole, mas os bairros ainda tinham um ar interiorano. Hoje, moro em Atibaia, fugindo da agitação e talvez procurando, no subconsciente, a Mooca daqueles tempos em que a passagem de um elefante era atração na vizinhança.

Ouça o Conte Sua História de São Paulo

Alceu Carreiro é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio e a interpretação de Mílton Jung. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br Para ouvir outros episódios da nossa cidade, visite meu blog miltonjung.com.br e coloque entre os seus favoritos no Spotify, o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

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