Avalanche Tricolor: com os olhos mais velhos e abertos

Fluminense 1×0 Grêmio
Brasileiro – Maracanã, RJ/RJ

Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Foi um fim de semana de reencontro, abraços e presença da família. Completei 62 anos, na sexta-feira, e recebi a visita dos meus parentes de Porto Alegre. Um deles, meu irmão, ainda mora na casa da Saldanha, onde praticamente nasci. É o endereço vizinho ao saudoso estádio Olímpico, ambos parte de um território afetivo que ainda pulsa em mim — cenário de muitas das minhas histórias da infância e adolescência, algumas já confessadas nesse espaço.

Brinquei nas calçadas da Saldanha, joguei taco, bola de gude e futebol; andei de bicicleta, pulei corda (sempre desajeitado) e fiz mais um monte dessas coisas comuns para a época. O trajeto até o estádio, sem precisar da companhia dos pais, era sinal de autonomia, mesmo que a distância não fosse grande. Considerando que no início nem atravessar a rua era permitido, quando fui autorizado a ir ao Olímpico sozinho era como se tivessem expedido minha carteirinha de “gente grande”.

No Olímpico, vivenciei momentos marcantes. E não estou falando apenas das emoções dos dias de futebol. Fiz amizades, tive aprendizados, amadureci nas perdas e me lambuzei nas conquistas. Uma série de situações com as quais me deparei jogando futebol e basquete, mas, também, conversando com pessoas mais velhas, compartilhando confidências com mais jovens e observando o comportamento humano.

Parcela do que sou depois de mais de seis décadas de vida foi construída por lá. Isso explica por que o Grêmio se tornou tão importante para mim. Por outro lado, o tempo me fez trocar o fanatismo insano pela paixão racional. Gritava com o juiz antes mesmo do apito, encontrava um culpado externo para cada tropeço em campo e acreditava que bastava vestir a camisa para vencer. Hoje, continuo fanático — não perco um jogo, sofro a cada passe errado, vibro com cada gol. Mas minha paixão ganhou um contorno mais racional. Passei a entender melhor o que somos capazes de entregar, a reconhecer as limitações do time e a aceitar que, muitas vezes, a culpa não está lá fora, mas dentro de casa. Sigo acreditando, mas com os pés no chão e os olhos abertos.

E o que vi na noite de sábado, no Maracanã, me deixou pouco confiante em relação ao que podemos alcançar nas próximas rodadas do Campeonato Brasileiro — que as mudanças ocorram o mais breve possível. Consola saber que, na sala de casa, aqui em São Paulo, de onde assisti ao Grêmio, eu estava cercado pela família que veio comemorar meu aniversário.

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