Avalanche Tricolor: só pode ser algum tipo de provação

 

 

Grêmio 0 x 2 Santos
Copa do Brasil – Arena Grêmio

 

 

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Começo esta Avalanche antes de a partida se encerrar, não porque tenha desistido do jogo. Jamais desistirei. E espero que o Grêmio não desista, também. A tarefa é difícil, mas não impossível. E mesmo que seja impossível, está é uma palavra que não está no nosso vocabulário. Veio para frente do computador, porém, porque estou tentando entender o que acontece. Há algum tempo não assistia ao Grêmio jogar bem, ter rapidez na troca de passe e intensidade no ataque como nestas últimas partidas. Está evidente que o time é melhor neste momento do que foi durante todo o restante do ano. Em textos anteriores já escrevi sobre alguns jogadores que encaixaram melhor no time, tais como Zé Roberto e Dudu. O próprio Barcos melhorou sua participação, sem contar Giuliano que cresceu em seu desempenho (e aí me refiro ao jogo de hoje à noite), após uma fase ruim. Sem contar Marcelo Grohe com defesas incríveis. Não quero porém me estender falando de indivíduos quando o que mais tem me agradado é o coletivo. E é isso que torna mais difícil entender o resultado desta noite. Por muito tempo, nosso time foi acusado de jogar feio, uma forma de desvalorizar vitórias sofridas que tivemos. Agora, produzimos mais, jogamos melhor. Mas o gol não sai, e quando sai não é o suficiente. Será que não estamos fazendo por merecer sorte maior em campo? Será que toda provação imposta a Luis Felipe com a malfadada Copa do Mundo não foi suficiente? Sim, Felipão pelo que fez, pelo que passou e pelo que, agora, está reconstruindo no Grêmio teria o direito de ser recompensado.

 

 

Há outro motivo pelo qual decidi escrever esta Avalanche antes da hora, além da injustiça do placar diante do futebol produzido. Foi a injustiça imposta por um árbitro que não esteve a altura do posto que ocupa no quadro da Fifa (ou esteve). Permitiu jogada irregular na arrancada do segundo gol santista e impediu a nossa arrancada para a virada ao não marcar pênalti em Zé Roberto. Não bastasse a forma displicente com que agiu diante da indisciplina. Prejudicou claramente o Grêmio e com sua atuação desequilibrou o time, mais do que o adversário teria feito por seus próprios méritos (sem desmerecer a qualidade deste). Que fique claro, minha indignação com a injustiça do resultado e do árbitro, não é suficiente para me cegar diante de erros que cometemos. E gostaria muito de ver Felipão fazendo ao menos duas mudanças entre os titulares, porque há erros que têm se repetido com frequência acima da média, e escrevo isso pensando no lado direito da nossa defesa, e jogador que não têm sido capaz de entregar o que promete.

 

 

Chego ao fim desta Avalanche no instante em que a partida se encerra e, infelizmente, ficamos sabendo que algo mais triste do que o resultado e os erros do árbitro acontece no jogo. Idiotas voltaram a usar palavras e gestos racistas, uma gente que não merece vestir a camisa do Grêmio nem ocupar espaço naquela Arena. Deveriam ser extirpados do clube e mantidos afastados das nossas cores. Sinto vergonha do que fazem. E espero não precisar ouvir a voz de nenhum outro gremista defendendo este bando.

Avalanche Tricolor: o juiz roubou meu post

 

Grêmio 3 x 1 Bahia
Brasileiro – Olímpico Monumental

 

“Juiz ladrão, porrada é a solução; juiz ladrão, porrada é a solução”. A frase era repetida à exaustão por um coro desencontrado e de voz infantil e o som vinha do pátio da escola, onde meninos jogavam bola em uma quadra de terra sem muita estrutura nem goleiras com rede. Fiquei curioso para saber o que acontecia lá dentro e em vez de seguir meu passeio aproveitei o portão enferrujado semi-aberto para entrar. O alvo era um outro garoto que, com apito na boca, fazia trejeitos de árbitro impondo-se diante dos colegas, ditando regra, interrompendo o jogo a todo instante como se querendo mostrar que por mais talentosos que fossem os meninos em quadra nada seriam capazes de fazer diante da autoridade dele. Percebi, também, que os gritos tinham muito mais de humor do que de raiva, e a intenção era tirar uma da cara do amiguinho que, sabe se lá o motivo, em vez de jogar bola prefere controlar o jogo.

 

Quando assisto a uma partida como desta tarde no estádio Olímpico lembro-me da cena que vivi há alguns anos, em Porto Alegre, em escola estadual que existe até hoje perto da casa em que morava no bairro do Menino Deus. Esclareço desde já que não estou dizendo que o juiz Cláudio Francisco Lima e Silva, do Sergipe, seja ladrão e menos ainda defendendo a violenta solução proposta no versinho dos meninos. Mas sempre me pergunto o que leva alguém a decidir-se por esta profissão ingrata que se exercida com perfeição não será sequer percebida, talvez não mereça uma só menção na crônica do jogo. Que somente terá o privilégio de ver seu nome em destaque no primeiro parágrafo de uma reportagem esportiva se estiver metido em confusão.

 

Ao fim da partida de hoje vi em Seu Lima e Silva a mesma cara de menino safado e arteiro que havia naquele garoto da escola porto-alegrense. Em vez de medo pela forma agressiva com que os jogadores do Bahia reclamavam, ele parecia orgulhoso pelo dever cumprido, ou seja, ser mais importante em campo do que todos os jogadores. Com a colaboração de seus auxiliares, interferiu no andamento da partida, anulou gol legítimo, legitimou gol irregular, permitiu que a regra fosse descumprida por jogadores dos dois lados e ainda realizou a façanha de permitir que um jogador com dois cartões amarelos permanecesse em campo. (sim, no momento em que o Grêmio fez o gol da virada, Mancini do Bahia já teria que estar no vestiário)

 

Nem Zé Roberto que conduz e passa a bola com precisão rara no futebol brasileiro, nem Elano que arma e dribla com qualidade, nem o belo gol de Marcelo Moreno, nem o fato de o Grêmio permanecer por mais uma rodada no G4 serão mais falados do que as trapalhadas de Seu Lima e Silva. Seus erros impedem que os méritos sejam destacados assim como escondem as falhas de uma equipe que aceitou a reação do adversário mesmo jogando em casa. E o que mais me incomoda: me roubou a oportunidade de escrever um post sobre mais um momento de superação do Imortal Tricolor. E para isso não tem perdão: “juiz ladrão, porrada é a solução”.

Razão e versão vistas por trás do lance

 

O lance do penâlti, indiscutível, de Fábio Rochemback no Gre-Nal desse domingo ganha destaque por uma cena inusitada. O quinto árbitro Alexandre Kleiniche está atrás do gol gremista e gesticula no momento em que o volante põe a mão na bola (confira no vídeo). Para parte dos torcedores do Grêmio foi uma contida comemoração em favor do Inter; na voz dele e de seus colegas, gesto casual provocado pela irregularidade do lance.

A defesa de Kleiniche, porém, não ajuda muito. Ele nega qualquer comemoração. Já Carlos Simon, que não tem a simpatia dos torcedores gremistas, disse que o auxiliar vibrou com a marcação correta do penâlti. Enquanto o presidente da Comissão de Arbitragem da Federação Gaúcha, Luis Fernando Moreira, afirmou que “com uma mão ele bate no antebraço” para sinalizar Simon de que houve irregularidade. Não custaria terem alinhado a informação, antes de sairem falando por aí.

Kleiniche que é do quadro nacional de arbitragem me parece ter sido vítima mesmo da casualidade. Árbitro que é – ou bandeirinha -, atento a movimentação dentro do gramado, fez o gesto como reflexo da “defesa” ilegal de Rochemback. Nada mais do que isso.

Gosto muito de futebol, mas entendo pouco dessas peculiaridades. Por isso, não vou me ater as questões técnicas da arbitragem, tem gente bem preparada no Brasil para explicar isso tudo.

Prefiro falar de comunicação.

Ao contrário do que muitos imaginam, uma imagem não vale mais do que mil palavras. A cena em foco é prova disto. Não é objetiva. Por mais que seja reproduzida, cada um terá sua própria verdade. É uma daquelas que podem ser vistas milhares de vezes – aliás, já tinha mais de 13 mil acessos no You Tube, nesta tarde – e cada um vai enxergar o que bem entender, influenciado por sua consciência e conhecimento.

Para azar do personagem principal deste caso, todas as explicações que oferecer serão insuficientes. Quem quiser ver falta de isenção, verá; quem quiser dar ouvidos à sua inocência, dará.

Porém, na próxima partida que entrar em campo, no jogo mais distante que for trabalhar, Kleiniche não vai escapar. Alguém haverá de lembrar da reação dele.

No campo da comunicação, a regra é clara: A razão de um gesto jamais irá superar a versão.

Árbitros, erros e trapalhadas no caminho do Hexa

Direto da Cidade do Cabo

O Brasil estará em campo na disputa por uma vaga nas quartas-de-final enquanto eu estarei em um avião no caminho de volta pra casa, duas semanas depois de ter desembarcado na África do Sul. Dunga terá todo seu time à disposição ao que parece, com o retorno de Kaká, insubstituível mesmo combalido, Elano, imprescindível neste momento, e Robinho, imbatível quando se solta a driblar. O treinador vive o melhor dos cenários, comparado a colegas de profissão, despachados mais cedo ou com times sem capacidade para ficar entre os 16 melhores.

De todas as seleções que apareceram até aqui, boa parte da crítica esportiva, fora do País, concorda que o Brasil é das mais equilibradas – outras equipes tem um ou outro setor em destaque – e segue firme e forte entre os candidatos ao título. Mesmo o baixo rendimento do jogo anterior, prejudicados que fomos pelas mudanças por suspensão ou exaustão, mostrou que o time pode segurar ataques fortes e atrevidos.

O Chile é um adversário curioso, pois apesar de seus bons momentos aqui na Copa e mesmo nas Eliminatórias sofre ao saber que terá de pegar o Brasil pela frente. Foi goleado na ida e na volta (3×0 e 4×2) na disputa sul-americana. E Bielsa terá de ter muito mais do que arrojo e competência para ganhar da seleção brasileira, apesar de alguns de seus jogadores apontarem suposta fragilidade da nossa defesa.

Hoje, vimos o que pode acontecer com uma equipe que respeita além da conta seu adversário. E me refiro ao México que, apesar de prejudicado pelo árbitro, visivelmente, temia a força argentina.

Nosso favoritismo, porém, não nos dará o direito de errar. O futebol jogado nesta Copa e a estratégia montada pelos treinadores têm demonstrado que o espaço para construir é cada vez mais escasso. O ato de destruir tem privilégio nos esquemas táticos e, assim, fica-se a espreita da bola mal cortada, do passe irresponsável, da falta próximo da área, do vacilo do goleiro ou de alguma artimanha da jabulani.

Soma-se a isto o erro dos árbitros, fundamental nos dois resultados desse domingo, a começar pela conquista alemã. A seleção da Inglaterra não tinha futebol suficiente para superar a Alemanha, mas se o gol legítimo tivesse sido sinalizado as dificuldades da equipe de Joachim Low seriam muito maiores.

Dunga e o Brasil mostraram que sabem encarar estas situações e têm dado poucas chances ao adversário. Portugal, o mais habilitado, não alcançou nada além de um empate contra uma seleção desmontada em seu meio-campo pelos motivos que já conhecemos. Por isso, não se arrisca nenhum resultado que não seja o da vitória, com direito a classificação a fase seguinte.

É provável que somente saiba do placar quando estiver a bordo do avião. Não terei o direito de torcer pela bola chutada por nossos atacantes ou secar o avanço chileno contra o gol de Júlio César. Fico com a impressão de que não terei como ajudar o Brasil neste desafio. Pura pretensão de torcedor, sem dúvida. Pois nada do que façamos lá fora é suficientemente maior do que os jogadores podem aprontar em campo. Ou o que podem aprontar com eles.

Que a seleção brasileira jogue o futebol para o qual está capacitada e foi preparada. E que esteja livre destes árbitros trapalhões no caminho do Hexa.

Sem recurso eletrônico, torcedor vira idiota

 

Direto da Cidade do Cabo

 

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O futebol movimenta U$ 256 bilhões por ano e se calcula é praticado por 400 milhões de pessoas em todo o mundo, oficialmente em 208 países que fazem parte da Fifa, muito mais do que os 192 filiados a ONU. A quantidade de gente diante das televisões para assistir à Copa do Mundo bate a casa do bilhão, muitos dos quais apaixonados e capazes de ir aonde nenhuma outra fé os levaria.

 

Um jogo desta importância não pode ser decidido por um homem só como ocorre, atualmente, mesmo que ajudado por dois auxiliares. Ou atrapalhado por eles, como ocorreu, nesta sétima rodada de partidas da Copa da África do Sul, com o árbitro maliano Koman Coulibaly, que anulou gol legítimo dos Estados Unidos contra a Eslovênia. A bola cruzada por Donovan partiu do lado direito e passou sobre parte da defesa eslovena para ser jogada às redes por Maurice Edu.

 

Os americanos que se consagrariam com uma vitória histórica, pois teriam virado o jogo depois de estarem perdendo por 2 a 0, reclamaram no ato, mesmo sabendo da incapacidade deles mudarem a decisão. A torcida chiou nas arquibancadas e deve ter se voltado para os dois telões que reproduzem imagens da partida no estádio, mas não tiveram o direito de rever o lance, pois estas são “censuradas” pela Fifa e pelas regras do futebol. A questão é que apenas eles, diretamente envolvidos no jogo, tiveram este direito cassado.

 

A imensa audiência das emissoras de televisão viu e reviu a jogada de longe e de perto, por trás e pela frente, a partir de câmeras com capacidade de gerar slow motion de alta definição. Recursos com área sombreada, linhas imaginárias e imagem digitalizada deram suporte a opinião dos comentaristas. E foram unânimes em apontar o erro fatal.

 

A Fifa que faz acordos milionários com empresas de desenvolvimento tecnológico – a cada Copa temos uma explosão de vendas de aparelhos de televisão mais modernos, por exemplo – é a mesma que se nega a permitir o uso desses recursos no futebol sob a alegação de manter a igualdade de condições na disputa do jogo em qualquer canto do mundo. A entidade entende que para a prática do esporte bastam as traves, as redes, os uniformes e a bola, que podem ser usados por ricos e pobres, sem diferenças.

 

Primeiro, é irônico a instituição que lucra quase U$ 4 bilhões na Copa da África, doa a quem doer, nesta hora ser a porta-voz dos desvalidos. Segundo, a persistir a tese, deveríamos questionar o uso de técnicas avançadas de preparo físico, médico e psicológico dos atletas, afinal os time do Mali não conseguem oferecer a seus jogadores as mesmas condições que os times da Espanha.

 

Curioso ainda constatar que o mesmo futebol que abre mão desta tecnologia, aceita punir após a partida jogadores flagrados cometendo algum ato de violência. Flagrados pelas mesmas câmeras “cassadas” na hora do jogo.

 

Houvesse o “árbitro eletrônico” – se me permitem chamar assim o uso do vídeo para conferir lances polêmicos -, não teríamos sido obrigados a ver o futebol medíocre da seleção da França aqui na África. Em lugar dela, estaria a Irlanda, que vinha jogando muito mais, contudo acabou punida com um gol de mão de Tierry Henry. Tão pouco, os Estados Unidos estariam ameaçados de uma desclassificação pré-matura nesta Copa.

 

Pena os americanos não serem no futebol a potência que o são em outros esportes, pois talvez tivessem força para pressionar a Fifa a aceitar mudanças na regra, como ocorreu, em 2006, com o tênis. Graças a injustiça sofrida pela tenista Serena Williams, na partida contra Jennifer Capriati, pelo US Open, dois anos antes, iniciou-se um movimento em favor do replay-instantâneo. Atualmente, o tenista tem o direito a três pedidos de revisão por set e um adicional caso haja tie-break. O Hawk-Eye – Olho de Águia, em português – não é obrigatório em todas as competições, sendo usada apenas nas que distribuem maior premiação.

 

Na época em que a regra foi implantada, o número 1 do tênis Roger Federer fez duras críticas, sendo hoje um dos que mais se utilizam do recurso. Marat Safin, agora aposentado, chegou a dizer que eram idiotas os que defendiam o Hawk-Eye.

 

Idiotas somos nós, torcedores do futebol, enganados por árbitros que têm cada vez mais dificuldade para acompanhar a velocidade dos jogadores e da bola. Enquanto o futebol não aceita implantar os Olhos de Águia nos estádios da Copa do Mundo, estaremos sempre vulneráveis a manipulação dos Gaviões da Fifa.

 


A imagem acima é da galeria de Tiago Celestino, no Flickr