Dez Por Cento Mais: geriatra Vitória Arbulu diz como chegar com boa funcionalidade aos 80

Image by Mabel Amber from Pixabay
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“A idade cada vez quer dizer menos; quem determina como a gente vive é a funcionalidade.”

O Brasil está envelhecendo rápido, e a pergunta deixou de ser apenas “até quando vamos viver” para se tornar “como vamos chegar lá”. A cena é conhecida em muitas famílias: alguém que ainda tem muitos anos pela frente, mas já perdeu autonomia para tarefas simples como subir um lance de escada, carregar a sacola do mercado ou brincar com os netos no chão. Foi sobre esse ponto – viver mais sem abrir mão da capacidade de fazer as coisas do dia a dia – que a médica geriatra Vitória Arbulu concentrou sua participação no Dez Por Cento Mais, apresentado por Abigail Costa, no YouTube.

Funcionalidade no centro do envelhecimento

Na prática clínica, Vitória percebe que o foco deixou de ser apenas doença e passou a ser o jeito como a pessoa vive. Para ela, funcionalidade é a síntese do envelhecimento: “Se for pra gente ter foco em alguma coisa que a gente precisa prestar atenção, precisa trabalhar e precisa dedicar nosso tempo, é a funcionalidade”, afirma.

Funcionalidade, explica a geriatra, é a combinação das capacidades físicas e mentais em interação com o ambiente – casa, bairro, condições financeiras, contexto social e cultural. Não se trata só de exames “normais”, mas da pergunta concreta: essa pessoa consegue se movimentar, se vestir sozinha, lembrar compromissos, manter conversas, participar da vida social?

Aos olhos de Vitória, esse é um dos grandes marcadores de qualidade de vida na velhice: “É a funcionalidade que vai dizer se a gente vai conseguir se mover, interagir, ter nossas conversas, se lembrar e ter nossas memórias.”

O declínio começa antes do que se imagina

Quando se fala em envelhecimento, a imagem comum é a de alguém já idoso. Vitória puxa a linha do tempo para bem mais cedo. Ela lembra que sinais de problemas cardiovasculares podem aparecer ainda na infância e o auge da massa muscular e da força óssea costuma acontecer por volta dos 30 anos.

A partir dessa idade, se não houver atenção ao estilo de vida, o declínio funcional começa, mesmo que de forma silenciosa. E ganha novos “degraus” aos 60, 70 anos. Pequenas mudanças no humor, na irritabilidade, na paciência, na disposição para encontros em família, na perda de peso sem explicação, na dificuldade para ouvir ou se comunicar e, principalmente, nas quedas frequentes, são alertas que muitas famílias tratam como “coisa da idade”.

Vitória faz questão de corrigir essa percepção: “A gente acha que está associado ao envelhecimento normal e nada disso está considerado envelhecimento normal: nenhuma dessas condições é ‘normal’.

Entre os fatores que aceleram a perda de funcionalidade, ela lista as doenças crônicas mal controladas, como hipertensão e diabetes, o abandono do fortalecimento muscular, problemas sensoriais (visão e audição), além da redução da interação social.

O básico que muda tudo: sono, alimentação e força

Apesar da profusão de tecnologias e exames, a resposta de Vitória quando alguém pergunta “o que eu posso fazer?” volta sempre ao mesmo ponto: o básico.

A medicina está voltando para o básico: sono, alimentação e atividade física”, resume. A recomendação vale para todas as idades, inclusive para quem chega ao consultório aos 80 ou 90 anos.
“Não importa a idade, o paciente pode chegar para mim com 90 anos, eu vou tentar convencê-lo a começar uma prática de atividade física”, diz.

Vitória destaca que não basta “estar sempre em movimento” no dia a dia. Caminhar até o mercado ajuda, mas não substitui exercício estruturado. Há um componente de dose e de qualidade: número de passos, redução do tempo sentado, e, principalmente, fortalecimento muscular. “Musculação é essencial, inegociável e insubstituível”, afirma, ao falar do combate à sarcopenia – a perda de massa e força muscular que, quando avançada, vira doença e compromete até cuidados básicos, como levantar da cama ou ir ao banheiro.

Nesse pacote, a alimentação entra como aliada direta do músculo: “A sarcopenia tem tratamento. A base é atividade física resistida e alimentação, principalmente hiperproteica.

Histórias que mostram o que está em jogo

Ao falar de mudança de estilo de vida, Vitória recorre a histórias que ilustram o que está em disputa quando se fala em força, funcionalidade e autonomia. Uma delas é a da própria avó, hoje com 85 anos. Ela não tinha o hábito de fazer exercícios e foi convencida pela neta, aos 84 anos, a participar de uma atividade em grupo promovida pela prefeitura. Os números dos testes físicos melhoraram: mais velocidade para levantar, caminhar, melhor equilíbrio, menor risco de quedas. Só que, quando perguntada sobre o que mudou, a avó não menciona nada disso: “A única coisa que ela fala é que está conseguindo brincar com os bisnetos no chão e levantar sozinha”, conta Vitória.

Outra paciente, na casa dos 70 anos, chegou ao consultório com artrose avançada de quadril e resistência à atividade física. Depois de muita conversa, aceitou entrar em um grupo de exercício. Ganhou força, ampliou a rotina de movimento e, no meio do caminho, conheceu um parceiro na turma de atividade. “Ela começou a ter dor não mais por ficar parada em casa, mas porque estava fazendo trilha com o namorado”, relata a médica.

A partir dessa nova etapa de vida, Vitória encaminhou a paciente para prótese de quadril, confiando que, com reabilitação adequada, ela teria mais anos de vida ativa pela frente. Para a geriatra, essas histórias mostram que atividade física não se resume a “puxar ferro”, e sim a recuperar experiências: ir ao mercado sozinha, subir escadas, brincar com netos, encarar uma trilha.

Comparação, autonomia e saúde mental

A comparação com o outro aparece no consultório em todas as idades. E na velhice não é diferente.
A comparação faz mal em qualquer cenário”, diz Vitória, que desestimula frases como “os pacientes da minha idade”. Para ela, envelhecer é um processo profundamente individual: há pessoas acamadas aos 60 anos e outras escalando montanhas na mesma idade.

“Muito mais do que o número da idade, o que determina como a gente vive são o estilo de vida, as escolhas e a atenção com a própria saúde”, reforça.

Ela lembra que questões emocionais pesam. O Brasil figura entre os países com mais casos de ansiedade e depressão, e a população idosa não está fora desse quadro. Mudanças rápidas na sociedade, dificuldade de adaptação ao próprio corpo, distanciamento de filhos e netos, sensação de perda de utilidade após a aposentadoria e isolamento social compõem um cenário que exige cuidado com saúde mental, e não apenas com exames físicos.

O recado para quem ainda é jovem

Ao final da conversa, Vitória volta o olhar para quem ainda se considera “longe da velhice”. A mensagem é direta: o futuro do corpo está sendo construído agora. “Não importa se você tem cinco, 10, 50 ou 100 anos, a atenção à própria saúde o quanto antes é melhor”, afirma.

Ela defende que atividade física deve ter o mesmo peso de hábitos óbvios como escovar os dentes e beber água: “O nosso corpo precisa de atividade física e isso não está no nível de querer ou não querer, de gostar ou não gostar”, diz.

Além do movimento, Vitória destaca o cuidado com a alimentação em um ambiente de alta industrialização, agrotóxicos e microplásticos, e propõe um compromisso mais gentil consigo mesmo: priorizar a própria saúde física e mental como condição para cuidar dos outros.

Na síntese que deixa para o público, Vitória resume o “mínimo essencial” para chegar aos 80 anos com boa funcionalidade em três pilares:

Se eu tivesse que escolher uma só coisa, seria a musculação. Mas não tem como deixar de lado o que a gente come e o jeito como a gente gerencia o estresse.”

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Mundo Corporativo: a biografia de Vicente Falconi, o maior consultor de empresas do Brasil

 

 

Sem medição não há gestão. Essa é uma das muitas lições ensinadas pelo mais famoso consultor de empresas do Brasil, Vicente Falconi, personagem do livro escrito pela jornalista Cristiane Correa, entrevistada do programa Mundo Corporativo, da rádio CBN. Ela tem se dedicado a escrever a história dos principais empresários e gestores do país desvendando algumas das estratégias que transformaram as empresa em sucesso e identificando falhas que cometeram ao longo de suas carreiras.

 

Em “Vicente Falconi, o que importa é o resultado”, Correa descreve como o consultor ajudou o Brasil a escapar de um apagão que seria catastrófico para a economia nacional. Por outro lado, revela sua surpresa ao descobrir que o homem que salvou muitas empresas enfrentou dificuldades para tocar o seu próprio negócio.

 

O Mundo Corporativo pode ser assistido ao vivo, às quartas-feiras, no site e na página da CBN no Facebook. O programa vai ao ar, aos sábados, no Jornal da CBN e aos domingos, às 11 da noite, em horário alternativo. Participaram do programa Juliana Causin, Rafael Furugen e Débora Gonçalves.

A Jovem Rainha Vitória: para entender a Era Vitoriana

 


Por Biba Mello

 

 

FILME DA SEMANA
“A Jovem Rainha Vitória”
Um filme de Jean Marc Vallè
Gênero: biografia/histórico.
País:EUA

 

Biografia da Rainha Vitória da Inglaterra, em sua juventude.

 

Por que ver
Amo filmes biográficos. Este, além de muito bem filmado, coerente e fiel aos fatos, conta a linda história de amor entre dois monarcas: Vitória e Albert.

 

Interessante saber como seria a vida de uma princesa e rainha… Confesso que achei ser uma vida bastante chata… O filme é repleto de detalhes do dia a dia de um nobre.

 

Amei especificamente este filme pois desde pequena sonhava em ser princesa (pude ver que a realidade não é muito um conto de fadas, rsrsrsrs), uma vez fui para Disney, e estava chorando porque tinha brigado com minha irmã. Minha mãe falou: “Gabriela, o príncipe pode estar disfarçado aqui na Disney e se ele te vir chorando não vai querer casar com você”… Imediatamente sequei minhas lágrimas e ameacei minha irmã com toda convicção do mundo: “quando eu for princesa e morar no castelo, vou convidar todo mundo para ir lá, menos você. Você não servirá nem para Aia!”… Tiraninha, não!

 

Curiosidades
Fui checar se o filme era uma reinterpretação da realidade ou se era fidedigno e achei algumas curiosidades…

 

Já Rainha, logo após sua primeira noite com Albert, Vitória escreveu em seu diário:

NUNCA, NUNCA passei uma noite assim!!! O MEU QUERIDO, QUERIDO, QUERIDO Alberto (…) o seu grande amor e afecto fizeram-me sentir num paraíso de amor e felicidade que nunca pensei alguma vez sentir! Segurou-me nos seus braços e beijamo-nos uma e outra e outra vez! A sua beleza, a sua doçura e gentileza – como posso agradecer vezes suficientes ter um marido assim! (…) ser chamada por nomes ternurentos, que nunca me chamaram antes – foi uma benção inacreditável! Oh! Este foi o dia mais feliz da minha vida!”

Foram muito apaixonados um pelo outro, trabalharam intensamente juntos em prol da Inglaterra, e logo que ele morreu, aos 42 anos de idade, a Rainha nunca mais tirou o luto, vestindo preto por uma vida…

 

O seu reinado de 63 anos e 7 meses foi o mais longo, até aquela data, da história do Reino Unido e ficou conhecido como a Era Vitoriana. Foi um período de mudança industrial, cultural, política, científica e militar no Reino Unido.

 

Quando não ver
Se você também sonhou em ser princesa e não quer desistir tão cedo! Afinal, o Harry está solteiro!!! (muitos risos)

 

Biba Mello, diretora de cinema, blogger e apaixonada por assuntos femininos. Escreve sobre filmes no Blog do Mílton Jung.

O Jogo da Imitação: o difícil é desvendar o enigma da intolerância

 

Por Biba Mello

 

 

FILME DA SEMANA
“O Jogo da Imitação”
Um filme de Morten Tyldum
Gênero:Biografia / Drama.
País:EUA / Reino Unido

 

É a cinebiografia de um gênio da matemática, Alan Turing, que é contratado pelos aliados para decifrar o “Enigma”: uma máquina criada pelos alemães que mandava códigos indecifráveis durante a guerra, combinando ataques e discutindo estratégias.

 

Por que ver:
Não tem o que falar da técnica cinematográfica do filme. Impecável e clássica. Em relação ao roteiro, os amantes de história sobre a segunda guerra vão dar cambalhotas de alegria ao assistir este filme.

 

Estima-se que esta descoberta(Enigma) salvou em torno de 14 milhões de pessoas e antecipou o fim da segunda guerra mundial em 2 anos!!!

 

Apesar de detestar fazer spoiler (se não gostarem de quem faça parem de ler agora), acho importante abordar outro aspecto da fita; Alan era gay e por sê-lo foi condenado(era crime na época, pasmem!) à castração química, resultando em um final trágico. A história também nos ensina a não repetir erros do passado. Portanto a prática da tolerância é muito importante…Vejam só, alguém tão genial foi condenado por sua opção sexual, mesmo tendo poupado tantas vidas…Inconcebível…Triste mesmo…

 

Como ver:
Aprender sobre história é sempre bom. Assista com alguém que entenda sobre a história da segunda guerra pois a mesma certamente terá outros fatos curiosos para acrescentar.

 

Quando não ver:
Proibido para menores de 12 anos.

 


Biba Mello, diretora de cinema, blogger e apaixonada por assuntos femininos. Escreve sobre filmes no Blog do Mílton Jung

“É proibido proibir” ganha de goleada

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

Caaras

 

O Brasil, sétima economia do mundo, é de extremos. Impedíamos a moderna história nacional proibindo a publicação de biografias não autorizadas, enquanto países desenvolvidos mantinham uma abertura absoluta, permitindo edições de toda espécie.

 

Há uma semana, o STF mudou tudo. “Cala a boca já morreu” disse a ministra Carmen Lúcia, relatora do processo que derrubou a exigência de autorização prévia para biografias. Nessa longa batalha, a vitória unânime não foi a única vantagem, pois vilões e heróis foram identificados.

 

“Roberto Carlos em detalhes” foi recolhido por ação do “Rei”, que alegava intromissão na sua vida e no seu bolso. Certamente mais no bolso porque o livro de Paulo Cesar de Araujo não apresenta nenhuma faceta negativa. É como se fora escrito por um fã.

 

Caetano Veloso, o autor de “É proibido proibir”, impediu a publicação de sua biografia após sete anos de elaboração. Além disso, deve ter sido consultor da ex-mulher para através do “Procure Saber”, após reunir Chico Buarque, autor de Cálice, Gil e o próprio Caetano, todos vítimas da censura e exilados durante o período ditatorial, saírem a público com Roberto Carlos em defesa da proibição às biografias não autorizadas.

 

A biografia de Mick Jagger na edição brasileira não contém a parte do canil, por exigência da apresentadora Luciana Gimenez.

 

Lily Safra conseguiu no Brasil o que não obteve na Europa. Proibiu a publicação de sua biografia.

 

Livros

 

Paulo Coelho, o mais bem sucedido escritor brasileiro de todos os tempos, talvez o mais criticado, e dono do melhor exemplo, pois abriu a Fernando Morais a sua vida, não gostou da biografia feita, mas liberou-a, se posicionou em relação aos 9×0 na Revista Época:

“Depois que Roberto Carlos conseguiu o que quis, largou o grupo. A culpa ficou com os chamados progressistas. Porque, do Roberto Carlos, todo mundo esperava uma atitude assim, mas ninguém esperava do Caetano, do Gil, do Chico. Os artistas que apoiaram o cantor na luta pela proibição de biografias não autorizadas caíram numa “armadilha de quinta categoria, como patinhos”

 

Será que é a credulidade apontada por Paulo Coelho que explica os “progressistas” ou seria a ganância?

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.

O Rei está nu, e foi o Réu quem denunciou

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

Roberto Carlos ficará para a história definitivamente como cantor e censor. Como Rei, estará mais para o personagem da fábula de Christian Andersen: um monarca que desfilava com traje imaginário e era aplaudido pelos súditos, que, coniventes, não viam a sua nudez.

 

Este maio de 2014 também ficará para a história do Brasil. As dezenas de biografias censuradas e outras tantas a se fazer, deverão estar em breve liberadas. No início do mês a Câmara Federal aprovou emenda que autoriza a publicação de biografias sem a aprovação do biografado. Sistema democrático que responsabiliza o escritor, mas o libera na busca de todos os aspectos que possam compor a trajetória da personalidade estudada.

 

Na metade do mês, Roberto Carlos entrou no STF Supremo Tribunal Federal com um pedido para participar da discussão das biografias. Através do Instituto Amigos, criado por ele para poder entrar como parte interessada.

 

Na terceira semana de maio, o escritor e réu do Rei no processo cível e criminal que Roberto Carlos lhe dirigiu pelo livro “Roberto Carlos em detalhes”, surpreendeu a todos. Lançou a sua própria biografia na relação com o Rei. O Réu e o Rei, Paulo C. Araujo, Companhia das Letras, R$ 34,90, 528 páginas.O livro escancara os absurdos que fama e poder podem interferir unilateralmente nos comportamentos, procedimentos e julgamentos. O seu autor, o jornalista e biógrafo Paulo Cesar de Araujo, fã desde os 11 anos, poupa o autor e cantor, mas não esconde a agressividade que Roberto Carlos como censor lhe dedicou. Disse em entrevista ao Jornal da CBN que “Roberto Carlos será o último censor do Brasil”. E, aí assume a criança da fábula, que sem medo, grita cruelmente: “O Rei está nu”.

 

Este é o verdadeiro Roberto Carlos!

 

Vale aqui colocar a advertência da VEJA sobre o livro O Réu e o Rei: “os advogados de Roberto Carlos estão lendo o livro. Por via das dúvidas, é melhor correr para garantir o seu exemplar”.

 

Ouça aqui a entrevista de Paulo C. Araujo, ao Jornal da CBN:

 

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Milton Jung, às quartas-feiras.

A autobiografia cantada do Rei Roberto Carlos

 

O cantor Roberto Carlos, em entrevista ao programa Fantástico, da TV Globo, disse que pode aceitar a lei que permite a publicação de biografias não autorizadas, que está em discussão no Congresso Nacional, mas com algumas restrições. Os comentários do Rei inspiraram o encerramento do Jornal da CBN, nesta segunda-feira. Ouça, divirta-se e discuta.

 

Nossos ídolos não são mais os mesmos e as aparências não enganam

 

Por Carlos Magno Gibrail

 


O punhado de artistas que foram mais censurados pelo regime militar, exatamente pela qualificação, ação e expressão que representavam, se junta novamente agora. Só que para defender o controle da informação. Uma brutal mudança de lado.

 

O DCDP – divisão de censura de diversões públicas, criado em 1968 pelo Governo Militar, censurou previamente artes e comunicação. O critério talvez fosse não tê-lo, porque cobria moral, política, religião, e eventuais suposições do censor que quando não entendia o texto, a cena ou a foto agia de acordo com a sua incompreensão. E como toda a censura, foi descambando para o ridículo. Tipo um seio à mostra pode, dois não pode.

 

Chico Buarque foi o mais censurado, mas deu seu recado. “Cálice” (ou Cale-se), dele e de Gilberto Gil, ambos exilados, foi uma das grandes performances a favor da liberdade de expressão.

 

Caetano Veloso, assim como Chico e Gil, foi exilado e deixou um acervo importante contra a ditadura. “É proibido proibir” foi umas das suas melhores obras.

 

Milton Nascimento, o artista que teve a música mais decepada, “Diálogo entre pai e filho” ficou só com “Meu filho”, foi também um dos que mais lutaram contra o DCDP. Ainda assim faz parte do recente grupo Procure Saber, composto por Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan e Erasmo Carlos presidido por Paula Lavigne, cujo objetivo é exigir a autorização prévia do biografado para a comercialização de livros.

 

O “Rei” Roberto Carlos ganha um reforço e tanto. Principalmente, porque enquanto Sua Majestade nunca teve posição política, esse grupo esteve no front da luta democrática. E, venceu, com louvor.

 

Ao buscar compreender tamanha distância, maior até do que os 45 anos que as separam, entre a posição democrática de então e a ditatorial de agora, encontro na explicação de Lavigne a chave do enigma. Respondendo a ANEL – Associação Nacional de Editores de Livros, entidade que move ação no STF para liberar a publicação de biografias sem a autorização de personalidades públicas, Paula Lavigne em matéria da FOLHA, informa que não é contra a publicação, mas apenas a comercialização. E foi além, ao pedir que a matéria fosse aprovada por ela antes de ser publicada. Mas Djavan não ficou atrás ao declarar em nota enviada ao jornal O GLOBO que a liberdade de expressão é um problema porque “Privilegia o mercado em detrimento do indivíduo”.

 

Portanto, o dinheiro é a expressão maior deste grupo que outrora se movia pela democracia, “sem lenço e sem documento”, “para ver a banda passar” ou para determinar que ”é proibido proibir”.

 

“O Haiti é aqui. O Haiti não é aqui”.

 


Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Milton Jung, às quartas-feiras.

No Reino das Biografias

 

Por Carlos Magno Gibrail

Roberto Carlos não gosta nem mesmo de caricatura

 

Essa nossa mania de chamar de “Rei” personalidades do mundo pop tinha mesmo que sair da metáfora e extrapolar ao mundo das divindades. É o que está acontecendo com Roberto Carlos, o cantor. E, com o beneplácito geral, até mesmo da mídia, que nem liga ao fato de RC não atender jornalistas. Exemplo disto é o tom da coluna da Mônica Bergamo, ontem, destacando ações dos advogados do cantor a quem usar o nome ou a imagem do “Rei”.

 

Tema antigo, mas atualizado em virtude da tramitação no Congresso, através da CCJ Comissão de Constituição de Justiça, cujo relator Alessandro Molon (PT-RJ) conseguiu aprovar, há duas semanas, em caráter conclusivo, isto é, sem necessidade de ir a plenário, o Projeto das Biografias 393/2011. Entretanto o deputado Marcos Rogério (PDT-RO), evangélico, apresentou recurso, sem data prevista para votação em Plenário. Desta forma, o Projeto não vai direto ao Senado e a parte mais importante que é a liberação para biografar pessoas com dimensão pública será ponto central das discussões. Marcos Rogério exemplifica sua preocupação: “Imagine que um adversário seu resolva fazer uma biografia para te atacar ou até mesmo que um aliado resolva te promover”. Por aí percebemos qual é a intenção do deputado que registra também a dificuldade de estabelecer a dimensão pública do biografado, obstáculos visivelmente sem consistência.

 

Diante disso, a preocupante demora na futura tramitação no Congresso recebeu um alento. Eis que o “Rei” Roberto Carlos não gostou de um desenho seu estampado em uma dissertação de mestrado e enviou uma notificação extrajudicial à autora, Maíra Zimmermann. Aluna do Centro Universitário SENAC, com o apoio da FAPESP, publicou pela Editora Estação das Letras e Cores o livro “Jovem Guarda, Moda Música e Juventude”. A obra contempla seu trabalho acadêmico que se propõe a analisar o contexto da formação do mercado consumidor jovem resultante dos novos aspectos comportamentais da década de 60, e associado ao início da sedimentação do prêt-à-porter brasileiro.

 

A sintonia fina do trabalho, a extensão estritamente acadêmica, o específico mercado potencial, nada disso inibiu o “Rei”, cujos advogados argumentaram: “a própria capa do livro contém caricatura do notificante e dos principais integrantes da jovem guarda sem que eles nem sequer fossem notificados”.

 

Nem D.Pedro II, Imperador de fato, numa época em que havia escravos, ousou usurpar o direito da caricatura aos súditos.

 

Acreditamos que a extrapolação de Roberto Carlos contribua para chamar a atenção dos parlamentares ao exagero a que a atual legislação permite chegar. Além do impedimento às informações históricas de personalidades relevantes da vida brasileira, cria-se combustível para ações doentias como esta.

 


Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras.

Sorte que Steve Jobs não era brasileiro

 

Por Carlos Magno Gibrail

Se fosse, provavelmente o mundo não teria conhecimento da vida e obra de Jobs através do meio mais convencional e didático. Sua biografia. Através das lentes mais diversas. Até mesmo das adversas, o que para a cultura geral democrática é bem recomendável.

O cantor Roberto Carlos e a família de Mané Garrincha são brasileiros e, portanto, corremos um risco enorme de não deixarem à posteridade os feitos e os fatos relevantes de ambas as trajetórias. Que poderiam servir para futuras gerações como estímulo, alerta e cultura efetiva, mas a lei está beneficiando o poder destas e demais personalidades nacionais.

Se não houver mudança na lei e nem na interpretação dos juízes, a biografia total do “Rei” e do “Mané” não ficará para a história. E as riquezas de todas as demais biografias também estarão fora da pauta das principais editoras nacionais.

O Código Civil diz que sem autorização de herdeiros ou biografados a publicação de informações ou imagens pode ser proibida se “atingirem a honra, a boa fama ou a respeitabilidade de retratados”.

É uma anomalia, e para não ir longe podemos imaginar a biografia da Sra. Roriz excluindo a parte quando, ao vivo e a cores, recebia propina.

Felizmente dia 7 foi aprovado na Comissão de Educação e Cultura o projeto de lei de Newton Lima (PT-SP) para mudar esta parte do Código Civil, e ao texto foram agrupados dois projetos semelhantes e encaminhado a CCJ Comissão de Constituição e Justiça. Se aprovado, seguirá para o Senado.

A boa notícia não para aí, pois o SNEL Sindicato Nacional dos editores de livros está constituindo uma associação para levar ao STF esta disputa, pois anteriormente um “drible já na prorrogação” barrou proposta semelhante na CCJ.

As editoras farão uma Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o artigo 20 do Código com o argumento do conflito com a liberdade de expressão contida na Constituição.

Para Roberto Feith, presidente da SNEL, o artigo é um “acidente”. “Estavam preocupados em preservar a privacidade do cidadão comum, mas esqueceram de que esse mesmo texto poderia ser aplicado a grandes figuras da vida nacional.”

Como vemos, os poderosos e famosos sempre levam vantagem, até mesmo quando se intenciona proteger os cidadãos anônimos. Esperamos que a lei e sua correta aplicação destravem este bloqueio. A história não pode ficar só com estórias.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve às quartas no Blog do Mílton Jung