Por Carlos Magno Gibrail

O punhado de artistas que foram mais censurados pelo regime militar, exatamente pela qualificação, ação e expressão que representavam, se junta novamente agora. Só que para defender o controle da informação. Uma brutal mudança de lado.
O DCDP – divisão de censura de diversões públicas, criado em 1968 pelo Governo Militar, censurou previamente artes e comunicação. O critério talvez fosse não tê-lo, porque cobria moral, política, religião, e eventuais suposições do censor que quando não entendia o texto, a cena ou a foto agia de acordo com a sua incompreensão. E como toda a censura, foi descambando para o ridículo. Tipo um seio à mostra pode, dois não pode.
Chico Buarque foi o mais censurado, mas deu seu recado. “Cálice” (ou Cale-se), dele e de Gilberto Gil, ambos exilados, foi uma das grandes performances a favor da liberdade de expressão.
Caetano Veloso, assim como Chico e Gil, foi exilado e deixou um acervo importante contra a ditadura. “É proibido proibir” foi umas das suas melhores obras.
Milton Nascimento, o artista que teve a música mais decepada, “Diálogo entre pai e filho” ficou só com “Meu filho”, foi também um dos que mais lutaram contra o DCDP. Ainda assim faz parte do recente grupo Procure Saber, composto por Chico Buarque, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Djavan e Erasmo Carlos presidido por Paula Lavigne, cujo objetivo é exigir a autorização prévia do biografado para a comercialização de livros.
O “Rei” Roberto Carlos ganha um reforço e tanto. Principalmente, porque enquanto Sua Majestade nunca teve posição política, esse grupo esteve no front da luta democrática. E, venceu, com louvor.
Ao buscar compreender tamanha distância, maior até do que os 45 anos que as separam, entre a posição democrática de então e a ditatorial de agora, encontro na explicação de Lavigne a chave do enigma. Respondendo a ANEL – Associação Nacional de Editores de Livros, entidade que move ação no STF para liberar a publicação de biografias sem a autorização de personalidades públicas, Paula Lavigne em matéria da FOLHA, informa que não é contra a publicação, mas apenas a comercialização. E foi além, ao pedir que a matéria fosse aprovada por ela antes de ser publicada. Mas Djavan não ficou atrás ao declarar em nota enviada ao jornal O GLOBO que a liberdade de expressão é um problema porque “Privilegia o mercado em detrimento do indivíduo”.
Portanto, o dinheiro é a expressão maior deste grupo que outrora se movia pela democracia, “sem lenço e sem documento”, “para ver a banda passar” ou para determinar que ”é proibido proibir”.
“O Haiti é aqui. O Haiti não é aqui”.
Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Milton Jung, às quartas-feiras.