Conte Sua História de São Paulo: Orra meu, que saudade do meu sogro!

Izadora Splicido

Ouvinte da CBN

Bixiga a noite
Cena do bairro do Bixiga, em SP Foto: Eli Kazuyuki Hayasaka Flickr

Orra meu!

Aprendi a amar São Paulo assim. Com meu sogro e seu sotaque de um genuíno paulistano. Ele nasceu no Bixiga. Tinha um jipe onde levava a bebida do bloco Esfarrapado. O bloco mais antigo de São Paulo — foi o que ele me contou). 

Aos sábados, vestia a camiseta toda rasgada do bloco. Era um orgulho!

Se dizia palmeirense, mas não gostava de futebol, não. Gostava da bagunça do Palestra.

No carro era proibido usar Waze. Ele dizia:

— Pega a Padre João Manoel e depois a Lorena, vai em frente.

    Eu, olhava confusa, será que ele acha que eu sei onde é a Lorena?

    Me casei onde ele escolheu:  Nossa Senhora Achiropita, e até hoje agradeço a escolha. Que igreja linda!

    Meu sogro faleceu. Mão chorei quando ele morreu: era um homem feliz! Chorei agora, lembrando e agradecendo tudo que me ensinou.

    São Paulo, aprendi a te amar com o Zé, e assim como meu amor por ele, acho que o nosso é para sempre.

    Orra meu, que saudade!

    Ouça o Conte Sua História de São Paulo

    Izadora Splicido é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva agora o seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

    Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: estratégias bem-sucedidas para aproveitar o Carnaval

    Foto Pexels

     “Nós sempre dizemos que só constrói marca forte quem entende de gente.  Por isso, entender como se faz a conexão entre Carnaval e marcas, depende essencialmente de compreender o que é essa verdadeira catarse na vida dos consumidores”.

    Jaime Troiano

    O Carnaval, uma das festividades mais aguardadas e emblemáticas do calendário brasileiro, não apenas celebra a cultura e a alegria inerente ao povo do Brasil, mas também se apresenta como um período estratégico e crucial para o marketing e a identificação de oportunidades pelas marcas. No programa “Sua Marca Vai Ser Um Sucesso”, apresentado por Jaime Troiano e Cecília Russo, na CBN, o foco se volta para como as marcas podem aproveitar a efervescência do Carnaval para fortalecer sua conexão com o público.

    Cecília Russo ressalta a singularidade do Carnaval brasileiro em comparação com outras festas globais, destacando a expectativa do público e a receptividade às marcas que se fazem presentes neste período.

    “Carnaval é uma das datas mais esperadas e importantes… um habitat natural para marcas, especialmente as de cerveja, que encontram nesse espaço a perfeita combinação de descontração, alegria e celebração.”

    Jaime Troiano, por sua vez, oferece uma perspectiva histórica e cultural, referenciando o sociólogo Roberto da Matta para ilustrar como o Carnaval desafia as normas sociais, permitindo uma liberdade de expressão única.

    “Carnaval é o momento de romper os limites…”

    Muito além da cerveja

    O programa também enfatiza a importância de uma conexão autêntica entre marcas e consumidores durante o Carnaval. Cecília Russo e Jaime Troiano concordam que, além da presença tradicional de marcas de bebidas, categorias como beleza e saúde encontram no Carnaval uma oportunidade para atender às necessidades específicas dos consumidores, como maquiagem e cuidados para quem exagera na festa. 

    Uma estratégia bem-sucedida no Carnaval, segundo os apresentadores, depende do entendimento profundo do que representa essa festa para o público e de como as marcas podem genuinamente agregar valor a essa experiência. A recomendação de Cecília é clara: 

    “Descubra se há uma autêntica conexão entre a necessidade que o consumidor tem nessa época e se a sua marca pode de fato atender”

    A marca do Sua Marca 

    Como em qualquer outro período do ano, não permita que sua marca seja uma  oportunista. Para ela entrar, na avenida ou na folia do Carnaval descubra se há uma autêntica conexão entre alguma necessidade que o consumidor tenha nessa época e ela possa atender. 

    Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

    O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN. A apresentação é de Jaime Troiano e Cecília Russo. 

    Conte Sua História de São Paulo 470: dos bondes lotados às cabras do Cambuci

    Joao Coppa

    Ouvinte da CBN

    Reproduçao do site São Paulo Antiga do pesquisador Douglas Nascimento

    Os bondes que usávamos estavam sempre cheios de pessoas andando em pé nos estribos. Quando a gente não tinha dinheiro, era preciso fugir dos cobradores, que andavam em volta do bondes mesmo quando em movimeto. A maioria dos cobradores de bondes era de portugueses .

    Nasci em São Paulo, no bairro do Cambuci na Rua José Bento, lá pelos anos de 1930. A ruas do bairro eram de terra, onde se faziam fogueiras na época de São João. A festa durava a noite inteira e o melhor momento era o de pescar com uma varetinha as batatas doces no meio da fogueira. 

    Tinham também pinhões assados e pipocas, além do gostoso quentão, só para maiores Os balões coloridos passeavam à vontade lá entre as estrelas, e, às vezes, caiam, por sorte, perto da gente. 

    De vez em quando ouvia-se um tilintar de sinos e lá vinha uma porção de cabras, lideradas por um bode. Eram os vendedores de leite de cabra, que por uns trocados nos forneciam um copo de leite ainda quente, pura delícia! 

    Nos fundos da vila de casa onde morávamos, passava uma valeta, onde, nos campos em redor, meu pai catava cogumelos, que minha mãe fritava. 

    Todos os dias, no cair da tarde, enxames de pernilongos vinham atacar, e minha mãe costumava, acender jornais dentro de uma bacia, a luz atraía os insetos que morriam no calor. Ainda não havia inseticida. 

    Fomos morar depois na rua do Paraíso, onde meu tio tinha uma loja de armarinhos, em que se vendia fazendas em peças, roupas, linhas e agulhas. Comecei a trabalhar nessa loja enquanto frequentava o curso primário no Grupo Escolar Rodrigues Alves, que ainda existe lá na  avenida Paulista. Eu fazia entregas da loja, alem de varrer, arrumar as mercadorias. As entregas me levavam longe, lá para o bairro da Aclimação. Para chegar até lá tinha de atravessar a mata que hoje é a avenida 23 de Maio. Pura aventura! No meio tinham bicas d’água sempre geladinha, frutinhas silvestres, moranguinhos e amoras, coquinhos e pitangas. 

    Naquele tempo, o Carnaval era festejado na Paulista, e os carros enfeitados com os foliões vinham da Consolação e faziam a volta  na Praça Osvaldo Cruz, que só tinha uma única via, e alguns casarões no entorno.

    Durante a Segunda Guerra, as padarias não tinham trigo para fazer o pão e de vez em quando produziam um pão preto e intragável. Gasolina também não tinha, e inventaram o carro a gasogênio, que funcionava a carvão e soltava uma fumaça preta e mal cheirosa. 

    Chegando nos anos 1950, na Praça da Bandeira, onde é hoje o terminal de ônibus, havia o Circo de Alumínio, que era também um parque de diversões. Naquele tempo, o Palhaço Piolin e sua turma faziam as brincadeiras no seu próprio circo, na praça Marechal Deodoro. 

    Já na esquina da São João com a Ipiranga, grande filas se faziam para entrar nos belos cinemas: o cine Art-Palácio, o Paisandu, o Ipiranga e o belo Cine Metro, onde os homens só entravam de gravata ao lado de mulheres bem chiques.

    Todas essas coisas e lembranças boas que o tempo deixou para trás.

    Ouça o Conte Sua História de São Paulo

    Joao Coppa é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Daniel Mesquita. Seja você também uma personagem da nossa cidade. Venha participar da edição especial do Conte Sua História de São Paulo, em homenagem ao aniversário da cidade. Escreva seu texto agora e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos visite o meu blog miltonjung.com.br ou ouça o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

    Procrastinação: na volta a gente fala sobre isso

    Com o fim das férias se aproximando em alta velocidade, paro alguns minutos (apenas alguns porque não quero perder tempo de descanso) para pensar sobre o que havia planejado para esses dias, tarefas que fiquei de fazer enquanto estivesse longe do trabalho e projetos que havia programado para a volta. Talvez tenha feito mais do que devesse — considerando as recomendações dos especialistas em saude mental e relaxamento — e bem menos do que imaginei há três semanas. Com certeza li muito e de tudo um pouco. Hoje mesmo, assim que acordei, deparei com a newsletter de Leo Calcio, um italiano especialista em gestão de marcas, que trazia artigo com o título: “Vamos conversar sobre isso em setembro?”.

    A frase-título do artigo, escrita na forma de pergunta, costuma ser dita em tom de afirmação, especialmente em ambientes profissionais, na Itália, de acordo com Calcio. É o jeito italiano de procrastinar decisões neste período do ano, quando se iniciam as férias de verão.  É algo como nós, no Brasil, deixando os temas mais relevantes para depois do Carnaval. A intenção por trás do “deixa para setembro” ou do “depois do Carnaval” é não lidar com o problema imediatamente e postergá-lo para um momento futuro e indeterminado. A atitude cria uma falsa sensação de alívio, mas acaba afastando todos de uma solução imediata e até mesmo de uma transação financeira vantajosa — já que estamos falando aqui de projetos profissionais.

    Os motivos por trás da escolha de setembro

    Embora a escolha de setembro como o mês para retomar as discussões possa parecer arbitrária, existe um contexto cultural e psicológico por trás disso, explica Calcio. Muitos veem setembro como o mês do “recomeço”, um período em que se sentem mais motivados e dispostos a enfrentar novos desafios — no caso europeu, devido as férias de verão no meio do ano, uma segunda chance de recomeçar, já que a sensação de janeiro é a mesma. Além disso, a volta ao trabalho tende a despertar um senso de urgência em retomar os compromissos. Então, deixemos para quando as férias terminarem.

    Comportamento humano diante de compromissos

    Seja com a justificava de quando setembro chegar ou quando o Carnaval passar, a procrastinação é um traço comum do comportamento humano quando se trata de compromissos e responsabilidades. Ela pode ser causada por diversos fatores, como medo do fracasso, falta de motivação ou desejo de preservar a zona de conforto. Compreender esses motivos nos ajuda a lidar de forma mais eficaz com a procrastinação e melhorar nossa produtividade.

    “Certo? Errado? Provavelmente a última opção. Exceto pelo fato de estarmos no verão, a vida é mais do que trabalho e, por uma vez, talvez pudéssemos parar de nos perguntar “por que” das coisas e “deixar ir”, sem forçar algo que claramente não é forçado porque faz parte da cultura de nosso país desorganizado, mas também virtuoso”.

    Leo Calcio

    Dados sobre a procrastinação e suas consequências

    Somos muito parecidos, brasileiros e italianos, em relação a procrastinação. Mas não somos apenas nós. É do ser humano  a despeito dos males que essa prática exagerada possa causar. Estudos têm mostrado que a procrastinação pode ter efeitos negativos tanto no ambiente de trabalho quanto na vida pessoal. Ela leva a atrasos, aumento do estresse e redução da qualidade do trabalho. É importante reconhecer essas consequências para buscar soluções e estratégias que nos ajudem a superar a procrastinação.

    Estratégias para lidar com a procrastinação

    Calcio brinca ao fim de seu artigo, perguntando aos leitores se devemos falar desse assunto, a procrastinação, agora ou devemos deixar para setembro. Por brasileiros que somos e diante do fato de que estarei retornando ao trabalho em três dias e, portanto, não terei mais como fugir de alguns compromissos que posterguei, vamos a algumas estratégias para lidar com a procrastinação — esse hábito que nunca tira férias:

    • a) Conscientização: Reconheça os padrões de procrastinação em sua vida e esteja ciente dos momentos em que está adiando compromissos importantes.
    • b) Defina metas claras: Estabeleça metas específicas e mensuráveis, e divida-as em etapas menores para torná-las mais alcançáveis.
    • c) Gerencie seu tempo: Utilize técnicas de gestão do tempo, como a técnica Pomodoro*, para ajudar a manter o foco e a produtividade.
    • d) Encontre motivação: Descubra o que o inspira e motive-se com recompensas ou prazos estabelecidos.
    • e) Busque apoio: Compartilhe seus objetivos com outras pessoas, que possam lhe fornecer suporte e prestação de contas.

    *Técnica Pomodoro é um método de gerenciamento de tempo desenvolvido por Francesco Cirillo no final dos anos 1980. A técnica consiste na utilização de um cronômetro para dividir o trabalho em períodos de 25 minutos, separados por breves intervalos.[1] A técnica deriva seu nome da palavra italiana pomodoro (tomate), como referência ao popular cronômetro gastronômico na forma dessa fruta. O método é baseado na ideia de que pausas frequentes podem aumentar a agilidade mental (Wikipedia)

    Sábio Chico: só queremos “uma ofegante epidemia que se chamava Carnaval”

    Por Simone Domingues

    @simonedominguespsicologa

    Foto de Imagem de JL G por Pixabay

    “E um dia, afinal

    Tinham direito a uma alegria fugaz

    Uma ofegante epidemia

    Que se chamava carnaval

    O carnaval, o carnaval”

    Chico Buarque

    Confesso que nunca fui das maiores folionas de Carnaval, mas admirava aqueles dias de festa, as pessoas nas ruas, a explosão de sons e cores. 

    Esse ano nosso Carnaval está diferente, como todas as demais festas que foram canceladas por conta da pandemia. A maior manifestação cultural brasileira foi silenciada.

    O Carnaval no Brasil teve início no período colonial, como uma brincadeira popular praticada pelos escravos, alguns dias antes da Quaresma, na qual as pessoas saiam às ruas e jogavam umas nas outras líquidos que poderiam ser desde água, café ou até mesmo urina.

    No século XIX, houve uma campanha para reprimir essa brincadeira ao mesmo tempo em que surgiam os bailes em clubes e teatros criados pela elite do Império. Apesar disso, as camadas mais populares não desistiam das comemorações de Carnaval e criaram os cordões. Ainda no século XIX, surgiram as marchinhas de Carnaval. No século XX, o frevo, o maracatu, as escolas de samba, os trios elétricos… o Carnaval continuou fazendo história. Se tornou uma das peças da formação da identidade e símbolos do nosso povo.

    Retratado em poesias e canções, o Carnaval serviu de inspiração para muitos artistas, com seus ideais de liberdade, de sonhos, de fantasias e do saudosismo trazido com a Quarta-Feira de Cinzas, anunciando o fim da festa.

    Exatamente na Quarta-Feira de Cinzas, algumas religiões cristãs iniciam a Quaresma, momento dedicado ao recolhimento e à penitência.

    Das inversões produzidas pela pandemia, temos um Carnaval com privações, distanciamento e silêncio. 

    Quiçá isso seja capaz de reduzir as contaminações e, com as vacinas em curso, possamos logo nos livrar desse mal que nos atinge.

    Me sinto como aqueles foliões que na Quarta-Feira de Cinzas ficavam sonhando com o próximo Carnaval. Não porque eu esteja desejando tal data, mas porque vislumbro o momento no qual poderemos sair às ruas, cantar, dançar e nos abraçar como fazíamos em outros carnavais. Parafraseando Chico Buarque, a única epidemia que queremos agora é de uma alegria contagiante: “Vai passar!”.

    Saiba mais sobre saúde mental e comportamento no canal 10porcentomais

    Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

    Conte Sua História de São Paulo: as brincadeiras com xiringa no Carnaval da Vila Bonilha

     

    Helena Francisca de Oliveira
    Ouvinte da CBN

     

     

    Gosto de relembrar minha infância entre as décadas de 1960–1970. Morávamos num bairro da periferia, a Vila Bonilha, na rua então chamada “Dona Cecília”. Naquela época, como no romance, “éramos seis”: meus pais, dois irmãos, uma irmã, e esta que escreve — uma menininha magricela, cheia de alegria e imaginação. Nossa vida era simples, meus pais faziam o impossível para que não nos faltasse o essencial. E o essencial, tanto material quanto emocional, nunca nos faltou.

     

    Lembro-me de quando nos sentávamos na cama da minha mãe, quatro pares de ouvidos atentos às histórias que ela nos contava enquanto esperávamos que meu pai chegasse do trabalho, no trem que se aproximava da “paradinha”. Na “paradinha”, hoje estação do Piqueri, nem todos os trens paravam. Não era uma estação de trem oficial, era uma Parada da companhia Estrada de Ferro Santos—Jundiaí. Sabíamos exatamente quando o trem havia parado ou não: acompanhávamos tudo pelo som! E quando ele parava, aumentava nossa alegre ansiedade, já que o pai bem podia ter chegado nele, e isso significava ganhar carinho, ouvir alguns “causos” e saborear as balinhas coloridas ou as deliciosas paçoquinhas que ele sempre nos trazia.

     

    Lembro-me de datas especiais, como o Natal … como o Carnaval.

     

    Brincávamos na rua de xeringa, cada um enchendo a sua com água e espirrando nos coleguinhas. Que farra! Íamos aos bailinhos da matinê no salão da subestação que ficava do outro lado da linha do trem. Minha mãe costurava alguma fantasia, nos abastecia com confetes e serpentinas e nos levava para a folia:

     

    “ …menina, você é um doce de coco, tá me deixando louco, tá me deixando louco”…

     

    Eu me lembro com clareza do tempo em que minha rua era de terra, depois recebeu um calçamento de paralelepípedos que a deixou ainda mais encantadora.

     

    Brincávamos até tarde da noite: bicicleta, roda, boneca, pião, queimada, pega-pega … e o que mais nossa imaginação sugerisse. Ainda me recordo da noite em que as luzes de mercúrio se acenderam pela primeira vez na Rua Dona Cecília! Que festa fizemos! E, naturalmente, naquela noite a brincadeira terminou ainda mais tarde…

     

    O tempo passou, a Dona Cecília, hoje com outro nome, continua lá, no mesmo lugar, mas há muito deixou de ser a rua da minha infância. Uma parte de nossos vizinhos teve que deixar suas casas, ainda na época da minha adolescência, por conta de uma tal avenida que passaria por ali – o que não aconteceu até hoje, quase trinta anos depois…

     

    Minha rua encantada perdeu o encantamento, mas às vezes acontece, quando passo por ela, de eu vislumbrar um pedacinho de paralelepípedo meio descoberto por uma falha no asfalto e, então, é como se ela se reencantasse, me carregando de volta ao tempo em que, em sua simplicidade, era a rua mais linda que eu já vira. E nesse breve instante, envolvida pelas lembranças, consigo ouvir nossas vozes infantis em meio às brincadeiras, os risos e o alarido alegre… E, no fundo, lá longe, como num sonho… a voz de minha mãe me chamando de volta para casa.

     

    Helena Francisca de Oliveira é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também a sua história. Escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br

    Adote um Vereador: do Carnaval ao lixo, dos parques à reciclagem, como deixar a cidade melhor?

     

     

     

    Tudo começa com uma xícara de café que será acompanhada, ao longo da tarde, por várias outras. Na mesa do bar que funciona no Pateo do Collegio, local de fundação da cidade de São Paulo, tem espaço para suco, refrigerante e alguns comes em parceria com os bebes, também. Em torno da mesa recheada de xícaras, pires, pratos e copos um grupo disposto a falar muito sobre o que viu e o que quer para a cidade. São os integrantes do Adote um Vereador, que se encontram pessoalmente todo segundo sábado do mês.

     

    A situação dos parques da cidade e a intenção da prefeitura em conceder a administração para a iniciativa privada foram dois dos assuntos conversados no encontro desse sábado, enquanto ainda se ouvia o som do trio elétrico que puxava um dos últimos blocos a desfilarem no centro, nesse Carnaval.

     

    O Adote, como instituição — que, aliás, procuramos não ser —-, não tira posição a favor ou contra projetos ou ideias. É uma das nossas marcas, deixar que os integrantes pensem livremente sobre o assunto e quando há pontos em comuns podemos desenvolver alguma iniciativa. Os com viés liberal entendem que, a persistir o projeto da prefeitura, se pode ter parques mais bem cuidados; outros —- me pareceu a maioria dos que estavam sentados à mesa — preferem que a prefeitura assuma sua responsabilidade, aplique melhor o dinheiro de nossos impostos e se capacite para prestar o serviço que é público.

     

    Falei de Carnaval e lembrei que, enquanto esperava por mais um café, alguém da mesa reclamou das interrupções na cidade devido aos blocos. Outro relatou que os banheiros químicos colocado à disposição dos foliões não tiveram a limpeza adequada. Houve quem chamou atenção para o fato de as subprefeituras terem destinado todos os seus funcionários para os 15 dias de festa, deixando de atender chamadas em áreas essenciais. Em tempo: a prefeitura diz que nenhum serviço de manutenção deixou de ser realizado no período.

     

    A propósito: nesta segunda-feira, soube-se que 14 milhões de pessoas participaram do Carnaval de rua na capital paulista — um recorde para o qual a administração municipal terá de se atentar. Afinal, quanto maior a festa, maior a estrutura necessária. Qual o limite para São Paulo? Deixo a pergunta para pensarmos mais à frente, pois ainda faltam 348 dias para o próximo Carnaval e até lá teremos muitos outros problemas a resolver.

     

    Em São Paulo, tudo tende a se agigantar. Do Carnaval aos problemas nas mais diversas áreas — haja vista o temporal das últimas horas que parou a cidade.

     

    Quer outro exemplo —- esse lembrado no encontro de sábado? O lixo.

     

    Em média, os paulistanos geram 18 mil toneladas de lixo, por dia. Só de resíduos domiciliares são coletadas quase 10 mil toneladas por dia. Números oficiais da prefeitura. A encrenca fica ainda maior quando se percebe que parte está espalhada pelas calçadas e ruas, pelos mais diversos motivos —- inclusive a falta de educação de alguns moradores. E outra boa parte poderia ser reaproveitada, pois é material reciclável.

     

    Conforme a prefeitura “todo o município de São Paulo é contemplado pela coleta seletiva (ou diferenciada), seja pelas cooperativas ou pelas concessionárias — em algumas prefeituras regionais, a coleta é realizada por ambas”.

     

    Quando vamos para a vida real, porém, quem sabe o que fazer com o material reciclável?
    O que separar?
    Quando a coleta passa lá em casa?
    Foi, então, que surgiu a ideia de provocarmos os vereadores a pensarem sobre o tema e, quem sabe, destinarem parte da verba publicitária da capital para campanhas educativas que levem o tema às escolas, aos bairros, a cada uma das casas dos paulistanos. Eis aí um ponto em comum, sobre o qual escrevi alguns parágrafos acima.

     

    Enquanto isso não acontece, a própria turma do Adote indicou dois caminhos para quem busca informações sobre coleta seletiva em São Paulo:

    o site da prefeitura 

     

    No qual é informado que “o Programa de Coleta Seletiva da Prefeitura de São Paulo tem como objetivo promover a reciclagem de papel, plástico, vidro e metais. Após recolhidos, esses resíduos são encaminhados para as cooperativas e para as centrais mecanizadas de triagem, onde serão separados e comercializados pelas cooperativas”. Além de trazer outras dicas importantes.

     

    o APP Limpa Rápido, também da prefeitura 

     

    Com a o aplicativo é possível saber se o caminhão da coleta seletiva passa na sua rua. Quando não passa, se existe algum PEV — Ponto de Entrega Voluntária ou Ecoponto mais próximo. E tem canal de reclamação.

    Aos colegas que se encontraram nesse sábado, deixo uma sugestão. Um desafio. Espécie de lição de casa.

     

    Já que o assunto nos interessou, a ponto de consumir tanto tempo e xícaras de café, vamos separar o material reciclável na nossa própria residência —- se você já faz isso, parabéns.

     

    Em seguida, lembre-se de mandar um recadinho para o seu vereador perguntando o que ele pode fazer para aumentar a coleta seletiva na cidade. Quem sabe no próximo Carnaval, teremos menos lixo nas ruas e muitos mais reciclável coletado.

    De política, de costumes e de tragédias: marchinhas finalistas falam do Brasil

     

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    Tanto faz como tanto fez. Seja lá quem estiver no poder, será alvo das marchinhas e músicas do Carnaval brasileiro. Foi assim na Ditadura de Getúlio e foi na Ditadura Militar. Foi com Collor, Itamar, FHC, Lula e Dilma. Não seria diferente com Bolsonoro. E, claro, seu governo e seus ministros, assim como suas frases e expressões, mexeram com a criatividade de compositores como se percebeu na série de sugestões enviadas pelos ouvintes para o 6º Concurso Nacional de Marchinhas de Carnaval do Jornal da CBN. Outros temas nacionais também mobilizaram a produção musical, como a tragédia provocada pela Vale.

     

    Com uma centena de músicas inscritas, muita letra debochada e ritmos misturados, chegamos às cinco indicadas para o voto popular. Curta a letra, aumente o som e vote no site www.cbn.com.br até quinta-feira às 11h59 da noite. A campeoníssima será conhecida na sexta-feira, durante o Jornal da CBN:

     

    ________________________

     

    OS PASSA-PANO
    Dudu Pinheiro

     

     

    Eu tô passado, indignado, horrorizado, assustado, tô bolado não é
    possível tá demais!

     

    Com tanta treta não escuto uma panela ser batida na janela do
    vizinho aqui de trás

     

    É que tem gente que anda tão acomodada
    Fingindo que não tem nada acontecendo de anormal

     

    É um tal de passar pano na cabeça, no laranja, na ministra da goiaba nesse bando sem noção

     

    Essa galera do passado vive passando vergonha já passaram do
    limite dando só passo pra trás

     

    Mas não vai passar batido, não!
    Eu não passo pano!

     

    Se liga no recado:
    Não passarão!

     

    ________________________

     

    AI, MOURÃO!
    Os Marcheiros

     

     

    Ai Mourão aí Mourão
    Não faz assim
    Que eu te dou meu coração

     

    Aí aí aí aí aí
    É uma tortura essa paixão
    Mas tem gente com ciúme
    Esse amor
    ainda vai dar confusão

     

    ______________________

     

    TALQUEY, TALQUEY (A CULPA É DO PT)
    Marília Passos e Isis Passos

     

     

    A culpa é do Petêêêê
    E dessa corja vagabunda de artistas
    Essa mamata ai acabar
    O Bozo é o mito
    Fora fora comunistas

     

    A culpa é do Petêêêê
    E dessa corja vagabunda de esquerdistas
    “Vamo acabá com isso daííí”
    O Bozo é o mito
    Fora fora comunistas

     

    Nossa bandeira jamais será vermelha
    Quem garantiu foi Jesus na goiabeira
    Chegou a hora da nossa oração
    Partiu igreja com a arma na mão

     

    Bandido bom é bandido morto
    Sou cidadão de bem porque eu sou cristão
    Melhor JAIR procurando o que fazer
    Vou acabar com a Lei Rouanet

     

    Traz a Damares
    Traz o Mourão
    Que traz seu filho pra mamar no tetão
    Prepara o suco de laranja pro Queiróz

     

    Que traz um dinheirinho para todos nós

     

    ________________________

     

    ASSIM NÃO VALE
    Rodrigo Soares

     

    Assim não vale
    Assim não vale
    Transformar a vida em lama
    e ainda fazer com que ela espalhe

     

    Assim não vale
    Assim não vale
    Transformar a vida em lama
    e ainda fazer com que ela espalhe

     

    Fiz minha casa no alto de uma montanha
    Imaginado ar puro, sombra e água fresca
    Mas um dia me chegou um testa de ferro
    E minha vida virou de ponta cabeça

     

    É ferro, é ferro, é ferro
    É ferro, é ferro que interessa
    Dinheiro, riqueza
    Emprego e desenvolvimento à beça

     

    E todo dia da minha janela eu via
    Muito buraco e a poeira que subia
    Muito barulho e a montanha que encolhia
    Água sujando e minha casa que tremia

     

    Mas temos celular
    Temos um carro e internet para acessar
    E ainda vamos ter dinheiro para gastar
    E avião para podermos viajar

     

    Então aconteceu naquele dia
    Rompeu aquilo que não se rompia
    E a cidade viveu muita agonia
    Muita tristeza, muita dor

     

    É lama, é lama, é lama
    É lama em todo o lado,
    Embaixo e em cima
    E o emprego e o conforto,
    E o dinheiro era um negócio da China

     

    E o emprego, e o conforto,
    E o dinheiro era um negócio da China

     

    Assim não vale
    Assim não vale
    Transformar a vida em lama
    E ainda fazer com que ela espalhe

     

    ________________________

     

    TODA COR, TODO AMOR
    Tereza Miguel

     

     

    Eu visto toda cor, toda cor que eu quiser
    E não faz diferença se eu sou homem ou mulher
    Eu sou uma pessoa total e poderosa
    Por isso eu visto azul, por isso eu visto rosa

     

    O amor não tem só duas cores
    Mas todas as cores do olhar
    O medo de amar cega os olhos
    De quem não quer enxergar

     

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    Carnaval 2018: sambas-enredo fotografam o Brasil real

     

    Por Carlos Magno Gibrail

     

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    Prefeito Crivella apareceu como Judas no desfile da Mangueira 

     

    A retomada da crítica social e política pelas escolas de samba de SP e RJ não foi surpreendente embora contundente. O apoteótico encerramento do desfile carioca pela Beija Flor e os componentes fantasiados de juízes e políticos na X9 Paulistana, que abriram a abordagem política em São Paulo, não só refletiram o conturbado momento em que estamos, mas também o claro entendimento que toda a nação está tendo.

     

    A manifestação política no samba é de origem. No Rio, em 1920 os protestos foram dirigidos à repressão policial. De cunho racial e musical. Era contra negros, mulatos e samba. A Estação Primeira de Mangueira reagiu e seus membros foram considerados arruaceiros.

     

    Em 1932, foi criado pelo jornalista Mário Filho, do jornal Mundo Sportivo, o formato que resiste até hoje. Um concurso de escolas de samba. Para cativar o prefeito Pedro Ernesto, Mário estabeleceu que os enredos devessem se ater à História do Brasil. Regra que levou o ditador Getúlio Vargas usara os desfiles como meio de propaganda governamental.

     

    A Portela foi campeã, em 1941, mostrando “Os Dez Anos de Glórias” do governo de Vargas e a vice-campeã foi Mangueira, com homenagem a Pedro Ernesto. No encerramento da Segunda Guerra as escolas foram obrigadas a falar sobre a Vitória dos Aliados.

     

    Esse processo manipulativo tomou outro rumo, em 1960, quando o Salgueiro apresentou “Quilombo dos Palmares”. Continuou esta trilha, em 1967, com “A História da Liberdade no Brasil”, em plena ditadura militar. Dois anos depois a Império Serrano focou os “Heróis da Liberdade”. A Vila Isabel apresentou como enredo “Onde o Brasil Aprendeu a Liberdade”, em 1972, auge da repressão.

     

    As Diretas Já, nos anos 1980, foi levada aos enredos dos desfiles pela Caprichosos de Pilares e São Clemente.

     

    A mudança de poder nas escolas, dos bicheiros para os patrocinadores, acarretou situações essencialmente mercantilistas. Os enredos algumas vezes eram vendidos sem critérios artísticos e históricos, comandados por departamentos de marketing de empresas contratantes.

     

    Recentemente, a queda de patrocínio privado, a redução da verba estatal e o crescimento do carnaval de rua, levaram a criação de enredos mais autorais. E, nesses termos, cinco escolas do eixo Rio-São Paulo adotaram tom social e político nos sambas-enredo.

     

    A X9 Paulistana atacou com “A Voz Do Samba é a Voz De Deus – Depois Da Tempestade Vem a Bonança”

     

    Sou xisnoveano apaixonado, “o bicho vai pegar”
    “Tiro da cartola” o que no bolso não tem
    “Nem sempre o que brilha é prata meu bem”

     

    A Império da Casa Verde mostrou o samba enredo “O Povo: A Nobreza Real” que usou a Revolução Francesa para exibir a falência nacional, tal qual a Queda da Bastilha

     

    Quem sou eu na ‘selva de poder’?
    Mais um ‘bobo da corte’ a padecer
    Sem desfrutar da riqueza
    Que a realeza tem pra oferecer
    No ‘Reino das Regalias’

     

    Na Estação Primeira da Mangueira o título do samba “Com Dinheiro ou Sem Dinheiro, Eu Brinco” traz crítica ao corte de verba e ao menosprezo com o carnaval.

     

    O morro desnudo e sem vaidade
    Sambando na cara da sociedade
    Levanta o tapete e sacode a poeira
    Pois ninguém vai calar a Estação Primeira

     

    A Paraíso de Tuiuti através do samba “Meu Deus, Meu Deus, Está Extinta a Escravidão?” mostra que desde a Abolição até hoje existe escravidão explicitada nas diferenças sociais e econômicas.

     

    “Não sou escravo de nenhum senhor
    Meu Paraíso é meu bastião
    Meu Tuiuti o quilombo da favela
    É sentinela da libertação”

     

    A Beija Flor condena os aspectos sociais, econômicos, religiosos e a diversidade não respeitada, com o tema “Monstro é Aquele que Não Sabe Amar. Os Filhos Abandonados da Pátria que os Pariu”.

     

    Oh pátria amada, por onde andarás?
    Seus filhos já não aguentam mais!
    Você que não soube cuidar
    Você que negou o amor
    Vem aprender na Beija-Flor

     

    Quem disse que o carnaval não serve para nada?

     

    Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.

    Sua Marca: 4 lições para você aprender no Carnaval

     

     

    O Carnaval pode ser muito útil para o seu negócio mesmo que você não associe diretamente sua marca à festa mais popular do Brasil. Jaime Troiano e Cecília mostram algumas lições que podemos aprender com o Carnaval em conversa com o jornalista Mílton Jung, no quadro Sua Marca Vai Ser Um Sucesso:

     

    1. Carnaval é pura descontração. Não complique a vida de seu consumidor ou de seu cliente. Seja simples na comunicação com ele.

     

    2. Carnaval é o momento da fantasia. Use formas diferentes de mostrar a sua marca. Mas como na vida real. Tem que ser uma fantasia que não grude em você. Ao tirá-la todos vão reconhecer que é você mesmo.

     

    3. Carnaval é um momento de explosão de alegria. Mesmo as marcas mais carrancudas podem ter momentos mais suaves e mais soltos, sem perder a compostura. Algumas companhias aéreas, bancos brincam mais descontraídos nesses momentos sem comprometer suas personalidades.

     

    4. Carnaval é democrático. Será que sua marca não poderia pensar também em outros públicos que gostariam muito de ser clientes delas? Mas sentem que não é pra elas.

     

    O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, às 7h55 da manhã, no Jornal da CBN.