Ecos do carnaval: roteiro de acidentes é lugar-comum no Brasil

 

acidentejpg_610x340

Vítimas de acidente são atendidas no Sambódromo (reprodução site CBN)

 

 

Perdão pelo lugar-comum. Sei que poucas coisas são tão antigas quanto a expressão “ecos do carnaval”. Leio e ouço isso desde os tempos em que a mãe pintava um pinico na minha testa e me convencia que era o suficiente para estar fantasiado para o baile de carnaval dos Gondoleiros, clube da zona norte de Porto Alegre do qual meu avô era sócio remido – e reproduzo aqui essa informação pois lembro que na infância imaginava que esta categoria de associado era destinada às famílias nobres e, portanto, tinha orgulho de contar aos amigos.

 

 

O uso da palavra “eco” é uma desculpa que costumamos usar quando queremos voltar a escrever sobre assuntos que parecem esgotados, mas ainda reverberam na nossa cabeça. É o meu caso neste momento.

 

 

Mesmo depois de três semanas seguidas de festa, o carnaval ainda nos oferece subsídios para reflexão, especialmente diante dos acontecimentos no Sambódromo do Rio de Janeiro, onde dois carros alegóricos, da Paraíso do Tuiuti e Unidos da Tijuca, estiveram envolvidos em acidentes ferindo ao menos 30 pessoas, entre as quais algumas com gravidade.

 

 

Um dos diretores da Liesa – Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro – Elmo José dos Santos comparou os dois acidentes na Marques de Sapucaí a desastres de avião, mas não para revelar a dimensão da tragédia: “Tudo pode acontecer. O avião não cai? O avião não foi feito para cair, mas ele também cai. Então tudo pode acontecer”.

 

 

Infeliz comparação.

 

 

Apesar do clamor popular que acidentes de avião geram, por motivos óbvios, é inegável a seriedade com que os agentes envolvidos – fabricantes, companhias aéreas, engenheiros, pilotos, autoridades entre outros – tratam a questão da prevenção. Atitudes como as que levaram a tragédia da Chapecoense são raras. Se em lugar de desdenhar da gravidade dos acontecimentos no Sambódromo, o dirigente se espelhasse na forma como o setor aéreo atua, provavelmente estaríamos aqui apenas comemorando o título da Portela (aliás, eu nem estaria aqui escrevendo).

 

 

Por coincidência, ao mesmo tempo em que nossos carros alegóricos se envolviam em acidentes, no Rio, o mundo se mostrava escandalizado com a gafe proporcionada pela organização do Oscar, o maior prêmio do cinema internacional.

 

 

063_645726598jpg_610x340

Gafe histórica no Oscal (Reprodução site CBN)

 

 

Apenas para relembrar: os apresentadores Warren Beaty e Faye Dunaway anunciaram “La la land” como melhor produção quando o vencedor na categoria havia sido “Moonlight”. A PwC – PriceWaterhouseCooper, auditoria contratada para a apuração dos votos dos 6.600 jurados do Oscar, assumiu a responsabilidade pelo erro, imediatamente. Um de seus funcionários, no mínimo descuidado, entregou o envelope trocado aos apresentadores, enquanto ainda curtia o resultado de uma selfie com Emma Stone, vencedora na categoria melhor atriz.

 

 

A retratação não foi suficiente para a PwC, uma das empresas de auditoria e consultoria mais conhecidas do mundo, presente em 157 países, cerca de 223 mil colaboradores e receita bruta de US$ 35,9 bilhões, em 2016. Sua história não resistiu ao erro humano e a organização do Oscar cancelou o contrato e a parceria que durava oito décadas. Manchou seu legado.

 

 

Aqui no Brasil, a Liesa premiou as escolas responsáveis pelos carros alegóricos acidentados ao decidir que, neste ano, não haveria rebaixamento para não prejudicar as agremiações. E, sem pestanejar, isentou de culpa o engenheiro Edson Marcos Gaspar de Andrade, que certificou o carro da Paraíso do Tuiuti. Um engenheiro pra toda obra, como destacou em manchete o jornal O Globo, ao constatar que ele tem longa ficha de serviços prestados à Liga e a nove das 12 escolas de samba do grupo principal, no Rio.

 

 

O mais triste é perceber que tanto quanto a expressão “ecos do carnaval”, o comportamento da Liga das Escolas de Samba diante dos acidentes é lugar-comum no Brasil. A maneira leniente com que a Liesa trata o assunto é a mesma que permitiu a morte de 242 jovens na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), e causou o maior desastre ambiental que se tem notícia, além de ter matado 19 pessoas e deixado milhares sem abrigo, em Mariana (MG). Infelizmente, não faltariam exemplos se quiséssemos estender essa lista de tragédias. E não nos faltarão no futuro. Ao menos enquanto políticas de segurança e prevenção não se transformarem, estas sim, em lugares-comuns no Brasil.

Conte Sua História de SP: meu primeiro Carnaval de rua, na Vila Esperança

 

Por Wagner Nobrega Gimenez

 

 

Imagine a época em que ainda existia Carnaval de rua em São Paulo. Hoje, essa tradição está voltando. Eram cordões, bandinhas com instrumentos rudimentares, confete, serpentina, gente fantasiada e muita alegria. Tudo o que se tinha direito a um bom desfile popular. Nunca eu havia assistido nada parecido e ainda era ao vivo e em cores, como se dizia naquele tempo.

 

Para nós, o Carnaval eram aqueles fatídicos banhos de espuma ou de água das guerrinhas que os moleques faziam entre si e que também jogavam nos poucos carros que passavam pelas ruas do Brás, onde eu morava na minha infância.

 

Meu cunhado tinha uma “parenta” na Vila Esperança, na zona Leste, onde lá sim desfilava um tradicional bloco carnavalesco. Todo ano, ele tentava me carregar para lá, mas a minha mãe não deixava: “Carnaval é confusão, dá briga, tem homem vestido de mulher, uma coisa absurda, não é bom para o menino”.

 

Mas, naquele Carnaval, já com 10 anos, consegui uma deixa para que fosse com ele e com a minha irmã: “Ele já está grandinho, não há problema, mamãe, nós vamos olhá-lo bem”, dizia ela.

 

Imediatamente, fui contar a novidade para todo mundo na rua: “pessoal, eu vou no Carnaval, vou sair fantasiado, vou até aparecer na televisão”. É claro, tudo mentira, e os garotos não acreditaram, mesmo assim ficaram com a maior inveja. Eles também não saiam muito longe, para nada além de ir à Igreja ou à escola, uma ou outra quermesse. Filmes também eram na Paróquia Santa Rita de Cássia, sabe, igual ao Cine Paradiso; só uns anos depois abriu na Avenida Celso Garcia, o Cine Universo. Agora é um prédio da Igreja Universal (combina um pouco com o nome antigo, não?).

 

Na verdade, a questão é que o tal do desfile era na terça-feira, chamada Gorda. Sinceramente não sei o porquê deste apelido.

 

Neste dia a rua da minha casa, devido ao feriado, parecia uma cidade abandonada: ninguém, nenhuma viva alma, nada para fazer, toda a garotada aproveitando para dormir até tarde. Nas casas preparavam-se almoços que seriam regados à cerveja ou vinho e depois o pessoal iria roncar nas poltronas das salas ou nos quartos, como preferissem.

 

Tudo muito calmo, menos eu. É que na noite passada não consegui dormir direito …

 

e havia acordado de mau humor. Imaginem um molequinho de mau humor, nada mais engraçado, não é?

 

“Meu filho, quer mais manteiginha no pão?”
“Nada não.”
“Porque isso benzinho, você sempre come bem de manhãzinha”
“Não enche mãe, estou esquisito hoje”
“Olhe, não responda assim que o papai do céu castiga, hem!”
“Chega disso, só quero café preto e pronto, estou muito nervoso”.

 

Então saí pela rua deserta. Bati na casa dos coleguinhas. Que nada, muitos tinham saído, outros ainda estavam dormindo, nenhum movimento a não ser os visitantes que chegavam com as suas roupas de domingo. Meus outros dois irmãos haviam viajado para o interior, para uma chácara de meu tio. Arre, meus pais, o que eu iria ficar fazendo com eles até a chegada da hora do desfile?

 

Naquela época não gostava de ler. Na TV não tinha programa bom e nem tampouco havia transmissão de desfiles de carnaval. O rádio era exclusividade do meu pai quando estava em casa.

 

“Vai comprar uma meia dúzia de ovos para eu fazer uma omelete.”

 

Lá fui eu na venda, comprei o que minha mãe pediu, voltei para casa. Daí que olhei para o relógio e parecia que ele estava parado, petrificado. A bendita hora não passava.

 

“Mãe, que horas é o desfile lá na Vila Esperança?.”
“Às 3 da tarde, ainda falta muito, são 10 horas ainda”

 

Ficava cada vez mais ansioso, sentia o coração acelerado. Não conseguia me controlar. Não podia imaginar nada, só ficava martelando na minha cabeça aquele Carnaval que não chegava nunca.

 

Saí no quintal e resolvi jogar bola. Pô, que coisa mais chata. E brincar sozinho, poderia? Sim, mas não naquele dia. Minha imaginação parecia bloqueada, branca, opaca, sei lá. Outra vez conferi o horário: 10 e quinze. Súbito pensei que ia enlouquecer. Nunca havia tido isso antes e fiquei com muito medo e afastei rapidamente aquela onda de energia malévola.

 

Bom, podia sair na rua e andar. Fiz isto. Estava com muita ansiedade. Porém ia até o fim da rua e voltava. Nem para isso eu estava criativo. Fiquei assim até a hora do almoço. Então resolvi comer bastante para passar mais o tempo.

 

“Nossa você comeu tanto hem, vai fazer mal, cuidado.”
“Não se preocupe, estou com fome mesmo.”

 

Depois de almoçar, escovei os dentes, tomei banho, me troquei e fiquei prontinho esperando o casal chegar para me levar ao tão esperado evento. Fiz tudo isso devagar, ganhando tempo, e aí com muito receio verifiquei: era 1 e meia  da tarde, faltavam 60 minutos, 1 hora inteirinha para nós sairmos do meu bairro até o local do grande encontro.

 

Passei o período restante contando minuto por minuto até deixar minha casa.

 

Para chegarmos lá, também a hora não passava. Pior. Foi um congestionamento, tudo por causa do excesso de carros e de pessoas nas ruas, o que atrasou bastante a nossa chegada.

 

Ainda mais essa!

 

Chegamos bem depois das 3, nem sei que horas eram, e o desfile já estava no fim, tinha só um carro; e uns músicos; e umas poucas pessoas fantasiadas.

 

Mesmo assim adorei aquele espetáculo: maravilhoso, lindo, deslumbrante. Sabe o que eles cantavam: “O trem das Onze” do Adoniran Barbosa, era a marchinha final do dia.

 

Valha-me Deus, a minha alegria era tanta que até chorei. E ria também.

 

Sinceramente sentia vontade de entrar no meio deles e sair sambando e cantando, mas não podia, porque tinha um cordão de isolamento.

 

Todavia a minha satisfação foi enorme, pena que acabou rápido demais, o meu primeiro Carnaval de verdade.

 

Wagner Nobrega Gimenez é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você mais um capítulo da nossa cidade: escreva para milton@cbn.com.br .

Conte Sua História de São Paulo: a poesia da Terra da Garoa

 

Lúcia Edwiges Narbot Ermetice (Lu Narbot)
Ouvinte-internauta da Rádio CBN

 

 

A menina que eu fui
passeava às margens do Ipiranga
e imaginava o grito de D. Pedro I:
“Independência ou Morte!”

 

A menina que eu fui
brincava nas ruas sem asfalto e sem perigo,
e amava e se orgulhava de sua cidade,
a que mais crescia no mundo!

 

A menina que eu fui
ouvia a mãe falar dos antigos carnavais da Paulista,
desfile de carros enfeitados e gente chic,
o Corso, palavra reveladora das origens italianas.

 

Ah! A menina que eu fui!

 

O Ipiranga continua lá,
ecoando o grito de D. Pedro I,
mas as ruas em que eu brincava
hoje estão asfaltadas e perigosas.

 

No Carnaval da Paulista já não há mais Corso
e outros imigrantes somaram-se aos italianos
para fazer a cidade crescer.
E ela cresceu tanto, mas tanto, que virou um caos.

 

A menina que eu fui
e que hoje habita este corpo maduro
ainda assim ama e se orgulha
da cidade em que nasceu,
a sua Terra da Garoa!

 

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar, aos sábados, logo após às 10h30, no programa CBN SP. A sonorização é do Cláudio Antonio e a interpretação de Mílton Jung

 

Conte Sua História de SP: nossas mudanças, e as do Carnaval, também

 

Por Elmira Pasquini

 

 

Em 1937, quando nos mudamos de Itaquera, que era um lugar muito agradável com suas chácaras, sem luz elétrica, sem calçamento e sem água encanada, muito diferente da Itaquera de hoje,fomos morar na Avenida Brigadeiro Luiz Antonio, número 146.

 

Era uma casa pequena, de sala, dois dormitórios e banheiro, cujas cozinha e área da lavanderia ficavam no alto, com vistas para um matagal que mais tarde veio a tornar-se a Avenida 23 de Maio.

 

Estávamos felizes, perto do centro da cidade, a 140 metros do largo São Francisco, bem perto da já famosa Faculdade de Direito 11 de Agosto.

 

Após quase dois anos, recebemos um convite para desocuparmos essa residência pois acabava de ser aprovada a construção de um viaduto que iria passar por cima da Avenida 23 de Maio, ainda a ser construída, ligando a Rua Cristovão Colombo, que sai do Largo São Francisco, com a Avenida Brigadeiro Luiz Antonio.

 

Hoje ambos são partes importantes no centro da cidade de São Paulo.

 

Logo conseguimos um belo sobrado na própria Avenida Brigadeiro Luiz Antonio número 254, onde, na parte de baixo, havia a loja da companhia  Gessy. Lá nos acomodamos com muita facilidade e conforto, morando quase em frente ao Restaurante e Pizzaria Giordano, apenas a cem metros do Cine Teatro Paramount. Quanto conforto, quanta facilidade. Tínhamos diversas linhas de bonde para diversos lados da cidade.

 

No Carnaval, assistíamos ao desfile de blocos em carros conversíveis. Um carnaval bem diferente dos dias de hoje. Eram grupos de jovens uniformizados como marinheiros, havaianos, soldados romanos, damas antigas, clubes esportivos … que passavam cantando as gostosas marchinhas de carnaval: “o Jardineira porque estás tão tristes”… “Mamãe eu quero”,  Eu fui a touradas de Madrid…” e outras mais. De vez em quando paravam, desciam de seus carros e formavam alegres blocos, atirando serpentina, lança perfume e confetes.

 

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, no CBN SP, logo após às 10h30 da manhã. A sonorização é do Cláudio Antonio.

O Carnaval se foi, que comece logo o ano!

 

Por Ricardo Ojeda Marins

 

salgueirojpg1_610x340

 

Ao ler este meu artigo, aqui no Blog do Mílton Jung, os leitores pensarão que sou contra o feriado que o brasileiro mais ama – talvez mais do que o próprio Réveillon.

 

Não, não tenho nada contra o Carnaval, mas confesso que chega a ser patético e preocupante ver como o brasileiro se empenha na causa. Paga o preço que for por uma viagem, por um abada, por um show… muitos até pagam sem ter condições de realizar este sonho.

 

Quisera toda essa força fosse usada para lutar por educação, um país melhor ou o fim da corrupção.

 

A verdade é que fomos (mal) educados assim. Se tem pão e circo, estamos felizes. Mas acredito que cada vez haja mais circo e menos pão.

 

Este fenômeno já aparece nas páginas de publicações renomadas como a revista The Economist, que escreveu sobre o fato de o país festejar o Carnaval enquanto caminha ao fundo do poço. Sem contar que os escândalos de corrupção em nosso governo também ganham cada vez mais destaque internacional.

 

Miséria, corrupção, desemprego, falta de segurança. Vivemos um caos que tende a piorar, mas que poucos enxergam a situação com um olhar real.

 

Bilhões de dólares são roubados de cofres públicos, enquanto a presidente Dilma Roussef pede apoio do Congresso para a volta da CPMF, com o intuito de retomar o crescimento econômico do país.

 

É muito fácil para um governo resolver suas questões financeiras arrochando o trabalhador com impostos e taxas, criados para sustentar a esbórnia financeira da máquina pública. Dinheiro que vai do nosso bolso e não volta na forma de serviços bem prestados.

 

Agora que já pulamos o Carnaval, que tal se empenhar em ler um livro? Que tal se inteirar da situação do País ? Que tal lutar por um Brasil com mais e melhor educação?

 

Com a educação que temos hoje, certamente as próximas gerações serão ainda mais alienadas.

 

Vamos  nos divertir, por que não? Mas se não pensarmos – e agirmos – por um país melhor, no futuro nem o Carnaval irá nos restar.

 

Feliz Ano Novo, Brasil!

 

Ricardo Ojeda Marins é Coach de Vida e Carreira, especialista em Gestão do Luxo pela FAAP, Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. É também autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung.

Carnaval 2016: destaque para as mudanças

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

rio478238jpg_610x340

 

No Mundo Corporativo, no Jornal da CBN de sábado, Fábio Stul da McKinsey disse a Mílton Jung que o passado não significa o futuro, e se os negócios prosperavam mais nas grandes capitais, a partir de agora as cidades menores terão crescimento maior. Mesmo nas atuais circunstâncias.

 

Ontem, os noticiários mostraram as mudanças ocorridas no Carnaval. Os cariocas, que tinham perdido o espírito da folia popular da década de 1940 e 1950 em benefício das grandes escolas de samba dos anos 1980 e 1990, retomaram com vigor o espírito da comemoração popular através de centenas de blocos e muita animação.

 

Em São Paulo, os blocos chegaram a superar a participação e até a arrecadação gerada pelos desfiles das escolas de samba. Segundo o prefeito Fernando Haddad, a cidade estima receber de movimentação econômica R$250 milhões com as escolas e R$ 400 milhões com os blocos.

 

Quanto a projeção da McKinsey, é positivo saber que usando a técnica e fazendo a escolha certa do território e respectivo produto possa se chegar a bons resultados.

 

 

Em relação ao Carnaval, é animador que o momento de crise não tenha reduzido a motivação das pessoas, como foi demonstrado pela disposição e animação nas comemorações. Expectativa existente nas empresas mais ágeis que patrocinaram os blocos e/ou distribuíram brindes e materiais promocionais.

 

Além de várias marcas de cerveja, começaram a surgir novos anunciantes.

 

No Rio, dos 200 mil brindes da Antarctica, patrocinadora de 110 blocos, às mil calcinhas e cuecas da Du Loren, apareceram bolsas, sandálias, óculos, que disputaram o agrado aos foliões.

 

Em São Paulo, a cerveja Amstel foi uma das patrocinadoras e teve sucesso com os vendedores ambulantes que receberam reabastecimento automático e ainda ganhavam um real adicional em cada venda. Houve queixa de monopólio, apreensão, etc. Uma verdadeira batalha de marketing.

 

Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.

Avalanche Tricolor: o Grêmio fez por merecer neste Carnaval

 

Grêmio 1×0 Coritiba
Copa Sul-Minas-RJ – Arena Grêmio

 

24882596125_f901d2c6cb_z

Geromel salva de cabeça foto LUCAS UEBEL/GREMIO FBPA no Flickr

 

Carnaval no Brasil já foi coisa séria. Antigamente, o país parava de sexta à quarta-feira de cinzas; o consumidor ainda não estava acostumado com a cultura dos shoppings, que nos ensinaram a fazer compras de domingo a domingo; e ai de quem se atrevesse a questionar se era ou não feriado oficial na terça-feira gorda. Claro que sim!

 

Nas festas de Momo ninguém se metia a jogar futebol, porque na avenida o Rei era outro. Mesmo no Rio Grande do Sul, onde Momo não tem lá essa fama e passei boa parte dos meus Carnavais, a bola deixava de rolar pela total ausência de torcedor. A turma toda se mandava para praia. Exceção para confirmar a regra: o Rio abria as portas do velho Maracanã e botava seus times mais tradicionais em campo de olho nos turistas que visitavam a cidade.

 

Hoje, por mais que a maioria ainda acredite que nada se faz nos quatro dias de Carnaval, as lojas funcionam aos domingos; o comércio de ruas populares abre às segundas-feiras, a espera do pessoal do interior; supermercados, mesmo desabastecidos, estão com os caixas à disposição; e jogador de futebol não tem mais folga no entrudo: o calendário gordo dos clubes os obriga a jogar em pleno domingo carnavalesco.

 

Foi assim que ontem, em meio a desfiles de blocos e escolas, no Brasil, e com uma cidade esvaziada pela migração temporária, em Porto Alegre, o Grêmio apareceu no gramado da Arena com time titular e tudo para disputar partida pela Copa Sul-Minas-RJ e foi recebido por cerca de 11 mil pessoas.

 

Ao menos quem estava lá teve o direito de ver o lance do único gol da partida. Para quem, como eu, assistiu ao jogo, pela TV, restou o replay, pois o diretor, responsável por escolher as imagens que seriam levadas ao ar, dormiu no ponto, assim como o zagueiro adversário ao tentar devolver a bola para o goleiro.

 

Ao vivo, a TV perdeu o lance do gol a 24 minutos do primeiro tempo. O que foi uma pena, pois até então nada de mais havia sido produzido pelo nosso ataque. Depois, a jogada foi repetida à exaustão destacando a pixotada do zagueiro. Foi descuidado, sem dúvida. Afoito, ao tomar a decisão do passe.

 

Quero, porém, ver a jogada por outro ângulo.

 

Dos muitos méritos de Roger no Grêmio está o sistema defensivo que montou. Longe de ser retranqueiro, amontoando zagueiros e volantes, o técnico sabe que apenas roubando a bola pode-se pensar em atacar. Impõe a participação de toda a equipe na marcação, que começa na saída de bola. Quem não está prestes a tomá-la, ou não tem habilidade para tal, encurta o espaço em campo e obriga o adversário a forçar o passe.

 

Na cobrança do tiro de meta, em vez de voltar para o meio de campo a espera do adversário, o Grêmio estava com seus jogadores mais avançados perto da linha da grande área. No momento em que o goleiro, em vez de repor a bola com um chutão para o alto, decidiu sair jogando com o zagueiro mais próximo, caiu na arapuca montada por Roger. Com Luan de um lado e Douglas de outro, o defensor se atrapalhou. Aproveitando-se do vacilo, Douglas ficou sozinho diante do goleiro e fez uso de sua categoria para, com o pé esquerdo, desviar a bola para o gol.

 

O Grêmio fez por merecer o gol!

 

Escrevi alguns parágrafos acima sobre os muitos méritos de Roger. Destaco outro: eliminar o chutão como alternativa de ataque. Sempre que retomam a bola, os jogadores se aproximam e formam triângulos e losangos em campo, segundo descrição do próprio técnico. Isso facilita o passe, faz a bola correr, deixa o marcador desorientado e permite que se chegue ao ataque com rapidez.

 

Ontem, como uma bateria que atravessa o samba na avenida, o Grêmio não conseguia manter a harmonia regida por seu técnico, por mais que ele tentasse, aos berros, acertar o ritmo. Preferiu a ligação direta ao passe preciso e desconcertante. Isso fez o time render bem abaixo do que está acostumado e o torcedor sofrer muito mais do que era necessário.

 

E se sofremos para vencer, fizemos por merecer!

 

Aliás, mais um pitaco deste escrevinhador na transmissão das partidas de futebol: com tantos microfones captando o som ambiente, sugiro que falem menos nas transmissões na TV e nos deixem ouvir as instruções enviadas pelos técnicos aos seus comandados. Teria sido excelente, se tivéssemos tido oportunidade de saber o que Roger tanto gritava com Everton, Wellington Oliveira e companhia. Principalmente porque ouvir Roger instruindo nos ajuda a entender melhor o futebol.

 

Como estou no clima de Carnaval, para encerrar esta Avalanche destaco mais um mérito gremista: Geromel. Ontem, novamente, foi precioso. Não bastasse exercer com eficiência o papel de zagueiro, senhor da área, ainda defendeu no gol e driblou no ataque quando necessário. Foi aplaudido e aclamado como melhor jogador em campo.

 

Geromel, fez por merecer!

Conte Sua História de SP: andava de bicicleta com licença da prefeitura, em Pinheiros

 

Por Silvia Maria Aleixo Araujo

 

 

Bairro de Pinheiros … aquele que a atualidade desconhece.

 

Pinheirense da gema.

 

Nasci no prédio que ainda está lá, no térreo funciona o famoso bar das Batidas, bem atrás da Igreja Nossa Senhora do Montserrat, no largo de Pinheiros. Ali no largo, o bonde que descia a rua Theodoro Sampaio fazia a volta e retornava para a rua Xavier de Toledo, no centro.

 

O grupo escolar era na rua Sumidouro. Arquitetura dos anos 40/50, naquela época sem muros, só jardins, construção que lá permanece livre das obras do metrô e da tal revitalização do bairro que o descaracterizou em nome do progresso.

 

Era um bairro tranquilo, eu andava de bicicleta – ela chegou a ter uma placa de licença da prefeitura – no largo de Pinheiros e na rua Cardeal Arcoverde, onde moravam meus avós, entre a rua Theodoro Sampaio e a avenida Eusébio Matoso, onde hoje é o Shopping Eldorado e naquela época, um campinho de futebol.

 

Trânsito escasso e o respeito entre as pessoas era evidente.

 

No Carnaval, a família, primos e amigos sentavam em cadeiras nas calçadas da rua Theodoro Sampaio para assistir à passagem dos blocos carnavalescos, enquanto brincávamos com lança-perfume e seringas plásticas com ‘sangue de diabo’, um corante vendido em farmácia.

 

Brincadeiras inocentes e crianças felizes.

 


O Conte Sua História de São Paulo tem narração de Mílton Jung e sonorização do Cláudio Antonio. Você pode participar enviando seu texto para milton@cbn.com.br

Conte Sua História de São Paulo: no cortiço, os melhores dias da minha infância

 

No Conte Sua História de São Paulo, o texto de Mariza Christina, de 60 anos, moradora da Água Funda, que preferiu escrever uma carta à mão em lugar de nos enviar um e-mail, pois assim se sente mais próxima das pessoas:

 

 

Em 1961, eu estava com 7 anos e minha irmã, 5. Meus pais passavam por dificuldades financeiras, não podiam pagar mais o aluguel da casa onde morávamos, no bairro da Ponte Rasa, onde nasci, por isso decidiram que iríamos morar com a minha avó materna até a situação melhorar. Ela morava na Rua da Glória, entre a Rua Conselheiro Furtado e a Rua Lava-pés, bem no centro de São Paulo. Era um terreno longo e estreito com vários quartos. Imagine seis pessoas num quarto 6×3, mais ou menos, era um aperto danado, bem diferente da casa grande e confortável que vivíamos, mas para mim e minha irmã era novidade e nos divertíamos muito.

 

Naquela época era comum quartos como aquele por serem baratos e fáceis de alugar, eram popularmente chamados de ‘cortiços’. E foi nesse quarto tão simples e apertado que passei os melhores dias da minha infância. Moramos lá um ano, mas o suficiente para deixar muitas lembranças.

 

Fiquei encanada quando vi pela primeira vez o bonde, aquele carro grande que andava sobre trilhos carregando pessoas, e fiquei intrigada como elas não se molhavam quando chovia, pois não tinham portas! Será que elas abriram o guarda-chuvas?! Corri para contar à minha avó, tão curiosa e ofegante que mal podia falar. Assim que pude, a enchi de perguntas. Quanto ela me disse que os bondes iriam acabar, pois estavam sendo substituídos por ônibus, fiquei muito triste: eles eram tão bonitos! Às vezes, ficava horas no portão só para vê-lo passar, queria gravar aquela imagem na memória.

 

Todos os dias, as duas horas da tarde, saía uma fornada de pão da padaria que havia em frente a nossa casa, o cheiro era inebriante e tão delicioso que até hoje quando me lembro posso sentir aquele cheirinho maravilhoso. É inesquecível!

 

O Carnaval estava próximo. A ansiedade era grande, eu nunca tinha assistido a um desfile. Ao lado da nossa casa tinha uma lojinha que vendia de tudo; fantasias, plumas, máscaras, adereços, etc … O movimento na loja era enorme, pessoas que entravam e saíam alegres com fantasias que iriam vestir. Meus olhos brilhavam com tantas coisas bonitas e coloridas. Meus pais também iam desfilar e deixaram que eu ajudasse a escolher suas fantasias. Compraram ainda confetes, serpentinas e bisnagas de água, para mim e minha irmã.

 

Ainda não existiam blocos ou escolas de samba, eram cordões. As fantasias simples, sem luxo, porém, muito bonitas e criativas. Os cordões se concentravam na Rua Lava-pés e de lá saíam cantando marchinhas que até hoje são lembradas, subiam a rua da Glória e outras ruas do bairro. Quem não desfilava acompanhava jogando confetes e serpentinas. No ar, exalava um perfume delicioso de lança-perfume. Ao fim do desfile ia-se atrás do cordão preferido.

 

Apesar das dificuldades foram os dias mais felizes das nossas vidas e, com certeza, deixou muitas saudades em todos nós.

 

Mariza Christina é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade. Escreva para milton@cbn.com.br. Ou mande um carta como fez dona Mariza.

Aproveite que o ano começa agora e encontre seus objetivos!

 

Por Ricardo Ojeda Marins

 

16031088392_2eed4d7889_z

 

É incrível! A frase pronta “O Brasil só começa depois do Carnaval” é cada vez mais levada a sério em nosso país. Ainda que este ano o Carnaval aconteceu no meio de fevereiro, o que nos leva a começar o ano antes de março. O feriado do Carnaval, assim como os de fim de ano, são os mais desejados pelos brasileiros, tanto que as diárias de hotéis e bilhetes aéreos têm seus preços multiplicados, tornando-se até abusivos. Ir para o Rio de Janeiro, por exemplo, fica mais caro do que passar alguns dias (em alto estilo) em Paris. Lei de oferta e procura? Sim! Também não podemos negar que o Brasil é um país que encanta e não apenas aos brasileiros. Vêm estrangeiros de diversas partes do Mundo.E isso tem seu preço!

 

Fora essa questão, há um aspecto moral bem interessante: após o Carnaval, as pessoas começam a (tentar) por em prática suas promessas, aquelas feitas durante o Ano Novo: fazer dieta, encontrar o amor da vida, trocar de emprego…enfim, inúmeros desejos que somente poderão ser almejados com muito esforço da própria pessoa. Profissionalmente, como coach, ou apenas pela curiosidade que tenho no ser humano, faço muitas análises e observações. E aproveito o texto de hoje para comentar algo que tem me feito pensar nestes últimos dias.

 

Estamos cada vez mais apegados a modismos e, por exemplo, adoramos as soluções propostas por sucos detox (que eu tomo, frequentemente). Não percebemos ainda que o necessário é um “detox” interno. Autorreflexão, autoconhecimento, análise do valores de vida e o questionamento desses valores, a busca por se tornar uma pessoa melhor … e, principalmente, se convencer de que não bastam reclamar e prometer mudanças. É necessário ser coerente consigo mesmo. Tantas pessoas se dizem tão abertas para o que buscam, mas não basta buscar. É essencial identificar suas qualidades e, também, seus pontos de melhoria. É necessário agir como seus pensamentos, ir ao encontro de seus objetivos e, se não souber quais são eles, procurar a ajuda de um profissional. Dependendo do nível da questão, pode ser um terapeuta, um coach, um profissional de consultoria ou mentoring. Pessoas que vão ajudá-lo nessa caminhada, agora que o ano começou no Brasil!

 

O luxo no mundo contemporâneo é cuidar do SER, com muito mais valor que o TER.

 

Agora sim: Feliz 2015!

 

Ricardo Ojeda Marins é Professional & Self Coach, Administrador de Empresas pela FMU-SP e possui MBA em Marketing pela PUC-SP. Possui MBA em Gestão do Luxo na FAAP, é autor do Blog Infinite Luxury e escreve às sextas-feiras no Blog do Mílton Jung.