Conte Sua História de SP: da imprensa ao cordel, uma vida dedicada às letras

 

Iracema Mendes Régis nasceu no distrito de Sapé, Limoeiro, CE, em 1952. Descendente por um lado de holandeses e por outro de portugueses, viveu sua infância neste pequeno distrito cearense. Em 1975 migrou para São Paulo, cidade que lhe causou espanto assim que chegou. Seguindo recomendação da mãe, estudou até se formar jornalista. Antes arrumou emprego na prefeitura de Mauá, de onde saiu dez anos depois ao passar no concurso para a prefeitura de São Paulo, onde trabalhou até se aposentar. Contista e cordelista, Iracema já publicou 23 livros. Conheceu esta arte no Ceará, mas a levou para o papel quando chegou aqui:

 

 

Iracema Mendes Régis é agora personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. O depoimento dela foi gravado no Museu da Pessoa. Você também pode ir até lá e registrar a sua memória: marque a entrevista pelo e-mail contesuahistoria@museudapessoa.net. Se quiser, mande um texto para mim: milton@cbn.com.br. Outros capítulos da nossa cidade, você encontra no meu blog: miltonjung@cbn.com.br.

"Farra do Caviar": governo do Ceará muda cardápio milionário

 

 

A ‘Farra do Caviar’, como a oposição batizou a denúncia de que o Governo do Ceará gastará R$ 3,4 milhões em serviço de buffet no período de um ano, levou o governador Cid Gomes (PSB) a recuar na pedida. Em resposta aos críticos, anunciou que vai ‘tropicalizar’ o cardápio oferecido aos convidados do Estado em recepções públicas. Ao abrir mão de pratos escritos em francês, Gomes atiçou nosso apetite e inspirou o encerramento do Jornal da CBN, trabalho conjunto de toda a equipe de produção.

Avalanche Tricolor: Sensações de sábado à noite

 

Grêmio 1 x 3 Ceará
Brasileiro – Olímpico Monumental

Douglas faz único gol do Grêmio, em foto do Grêmio.net

O sábado começou tarde, resultado da ressaca de uma sexta de muitos compromissos. Depois do Jornal e da reunião de pauta de ontem, segui para o Espírito Santo, onde me encontrei com a turma que participa do curso de residência em jornalismo, organizado pela Rede Gazeta, na qual também toca a CBN de Vitória. Jovens entusiasmados, dispostos a fazer melhor, mudar o que der e cheios de sonhos e criatividade. Foram três horas de conversa e a vontade deles era tanta que nem senti as costas doendo e as pernas cansadas. Desgastante mesmo é a rotina do aeroporto com saguão lotado de gente, pista cheia de aviões e estrutura rasa. Menos mal que no meu caminho havia funcionários a fim de fazer a coisa funcionar – nem sempre é assim. Quando retornei a São Paulo ainda havia um jantar japonês a minha espera que atrasou devido ao congestionamento no caminho. Fui dormir prá lá de meia noite, em um dia que havia se iniciado às quatro da manhã.

Hoje, a agenda era bem mais amena e a família estava em volta o tempo todo o que torna tudo mais agradável. Ver os filhos satisfeitos por estarem dentro de uma livraria sempre me dá esperança de que algo está mudando nesta geração. Um livro aqui, uma revista ali. Cada um faz a sua escolha de acordo com seu estilo e idade. Eu aproveitei e passei a mão na bibliografia de Steve Jobs, escrita por Walter Isaacson, pela qual estava tão curioso que em pouco tempo já havia lido às primeiras 13 páginas da introdução. Leitura obrigatória, também, quando o dia 20  se aproxima é a MacMais, revista editada pelo meu amigo Sérgio Miranda, que, não por coincidência, está com uma ótima caricatura de Jobs na capa. Sei que a redação deles é minimalista, por isso me admiro sempre que vejo como aquela gente entusiasmada consegue fazer um trabalho de qualidade. Entusiasmo, também, não faltou à minha mulher haja vista o catatau de revistas que colocou embaixo do braço, sem falar em mais um livro, desta vez do contador de histórias Marc Levy, “Tudo aquilo que nunca foi dito”. Feita a “feira” sentamos para almoçar em uma das melhores casas de carne da cidade, o Esplanada no Morumbi. Atendido por garços eficientes e experientes, a maioria dos quais conheceu minha família quando éramos apenas um casal, o resultado não podia ser outro: uma excelente refeição.

Voltamos para casa quase no fim da tarde com tempo para tomar um chocolate quente – faz frio em São Paulo – com um tipo de panetone que desconhecia, mas que era uma delícia. Nos foi apresentado por uma das grandes amigas que temos aqui na cidade e que compartilhou deste momento conosco. Com a vontade que a turma encarou o “café da tarde” nem parecia que tínhamos saído há apenas algumas horas de um restaurante. Bota desejo nisso.

Chegava a hora, então, de sentar diante da televisão e assistir ao Grêmio jogar. Deste, porém, tenho pouco a escrever. O entusiasmo, a vontade, a satisfação, o desejo, o interesse e a eficiência das pessoas que estiveram em minha volta desde ontem faltaram àqueles jogadores que tiveram o atrevimento de vestir a camisa tricolor, na noite de sábado. Aliás, faltou a eles, também, vergonha na cara.

Conte Sua História de SP: Sonho de Almodovar

 

Nascer no interior do Ceará e ter de abandonar seu vilarejo aos três anos de idade com os irmãos porque o pai tinha medo de que os avós ficassem com eles após a morte da mãe. Deixar uma tia, ainda menina, para viver com um homem que acabara de conhecer enquanto ia até a farmácia. Dar as costas a tudo isso e vir morar em São Paulo para fazer pés, mãos e cabeça de ricos e famosos em um salão de beleza. Trechos de uma história cinematográfica contada pela sua protagonista Maria Floriceia Piovan, que aos 50 anos quer levar para as telas os momentos marcantes de sua vida. O roteiro ela própria escreveu, após ler muitos livros sobre o assunto. Mas não entregará para qualquer um, sonha em ver o filme dirigido por Pedro Almodovar, o Pedro, como se refere ao diretor espanhol.

Ouça esta história contada por Floriceia Piovan, editado pela Juliana Paiva e sonorizado por Cláudio Antonio.

O depoimento de Floriceia foi gravado pelo Museu da Pessoa. Você pode contar a sua história de São Paulo, também. Marque uma entrevista em áudio e vídeo no site do Museu da Pessoa ou envie um texto para milton@cbn.com.br.. O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, logo após as dez e meia da manhã, no CBN São Paulo.

Avalanche Tricolor: Até a lojinha fechou

 

Ceará 3 x 0 Grêmio
Brasileiro – Presidente Vargas (CE)

Foi um choque, confesso. Ao subir a escada rolante, pouco antes de chegar ao topo no primeiro andar, olhei ansioso para a única vitrina que me chamara a atenção nos últimos tempos. Era meu ponto de apoio, motivo de orgulho e certeza de que nossa história havia conquistado seu espaço merecido, houvesse o que houvesse nos gramados. Era lá, no meio dos meus passeios prediletos, que avistava a camisa do Imortal Tricolor em destaque, vestida por um manequim inanimado, sem cabeça, mas com o escudo do meu time no coração. Pouco tempo atrás havia escrito sobre isso neste mesmo blog (leia aqui, se tiver paciência)

Olhei e não a encontrei. Aquela camisa predominantemente azul-celeste com duas faixas em preto e branco na vertical e horizontal havia desaparecido. O cartaz ao fundo com Renato em destaque, Vitor, Rochemback e Gabriel como coadjuvantes, também. Pior, muito pior. A loja, a única loja em São Paulo a oferecer como seu produto principal o manto tricolor estava fechada. Para sempre. Substituída por um tapume com anúncio de um novo ponto comercial dedicado a sandálias.

Um prenúncio ? Sinal do que me aguardava ? Texto subliminar do destino traçado ao Grêmio na temporada de 2011 ? Detesto pensar que mensagens aleatórios sejam enviadas para anunciar o nosso futuro. Desagrada-me a ideia de que Deus ou qualquer força superior estejam metidos nesta coisa que é o futebol e interfira no passe, no deslocamento, no cruzamento, no chute ao gol e no placar da partida. Prefiro olhar para os fatos concretos, as ações e decisões tomadas aqui e agora que definem os resultados que buscamos. E estes não tem colaborado com meu ânimo e, menos ainda, com o resultado das partidas.

Antes mesmo de o jogo se iniciar nesta noite, notei que aquela camisa que era destaque na loja do shoping estava em campo. Quando a bola começou a rolar, me dei conta que a alma daquela turba que a vestia era tão viva quanto a do manequim da vitrina. Sequer pareciam jogadores de um time marcado pela imortalidade. Estavam distante do que representaram meus heróis. Afastados da imagem que sempre construí nesta Avalanche e em meus sonhos infantis. Pareciam um bando de ninguém.

O Grêmio esqueceu o que é ser o Grêmio. E eu não tenho mais a lojinha para ludibriar minha dor.

Avalanche Tricolor: De Lara a Douglas, a imortalidade

Grêmio 5 x 1 Ceará

Brasileiro – Olímpico Monumental


“É craque mas muito lento”. Foi das primeiras coisas que ouvi de colegas ao ser anunciada a contratação de Douglas.

“Está com data de validade vencida”, me provocou amigo de redação após vê-lo carregando com sofreguidão a bola em um time desmontado.

Mesmo entre torcedores havia dúvidas sobre o comprometimento do nosso camisa 10 com a nossa camisa tricolor. O topete de ator canastrão e o olhar neutro de poucos amigos colaboravam para a construção dessa imagem.

Qualquer dessas visões se desfaz, porém, quando Douglas começa a dialogar com a bola. Poucos no futebol brasileiro são capazes de se entender tão bem com ela.

A suposta lentidão é negada pela forma como conduz o jogo, sem ansiedade para se livrar dela, e pelo toque que desconserta o adversário, sempre disposto a servir da melhor maneira possível o companheiro de equipe.

Consegue ser preciso, decisivo e solidário.

Foi assim ao lançar a bola na cabeça de André Lima, no primeiro gol; ao cruzar de pé trocado para Jonas completar, no segundo; ao distrair a defesa na falta de Rochenback, no terceiro; ao marcar de maneira excepcional o quarto gol.

E no quinto gol ? Onde estava Douglas ?

Provavelmente, aplaudindo a jogada de Jonas e André Lima. E descansando seu talento para as próximas quatro decisões que temos pela frente nesta caminhada em que a cada jogo escrevemos mais um parágrafo desta história marcada pela imortalidade.

Uma história que começou a ser contada há 75 anos, em um seis de novembro, quando o maior goleiro que já pisou o planeta Terra foi viver em outra encarnação e nos deixou este legado, Eurico Lara.

Avalanche Tricolor: Se inspirem em Lumumba

 

Ceará 2 x 1 Grêmio
Brasileiro – Fortaleza

8822911Azul de tão negro, assim se definia Paulo Lumumba, que conheci quando ainda era menino e visitava quase que diariamente o estádio Olímpico com meu pai. “Meu irmão” era como chamava seus interlocutores mais próximos, com um cumprimento recheado do sotaque sergipano que manteve apesar de tantos anos vivendo longe de seu Estado.

O orgulho por sua própria história e raça estava não apenas no andar altivo, com peito cheio e cabeça em pé, mas na voz e forma de conversar. Tinha condição física invejável, e lembro-me razoavelmente dele batendo a mão sobre o músculo do antebraço para mostrar suas resistência. Se não me falha a memória, ensaiava discursos para enaltecer a força daqueles que foram escravos.

Tive o prazer de passar às mãos dele, no Pórtico dos Campeões, a tocha carregada em maratona para comemorar os 80 anos do Grêmio. Dela participei pois ainda era jogador de basquete no clube. Quando a recebeu, o rosto de pele lisa – e azul – não escondia a emoção pela homenagem. A conduziu até a parte interna do estádio Olímpico com a certeza de que ali havia o reconhecimento a tudo que ele representou ao Tricolor.

Não o assisti jogando, pois quando vestiu a camisa gremista eu estava para nascer. Diziam ter sido um atacante e tanto. Formou uma das melhores equipes que o Grêmio teve em sua história com Marino, Milton Kuelle, Gessy, Juarez e Vieira, nos anos de 1960.

Fui saber recentemente que também havia jogado no São Paulo, onde fez ao menos uma boa temporada, antes de ser vendido para o Sul. A transferência foi definitiva. Depois de encerrar carreira como jogador, permaneceu no clube onde chegou a treinar a equipe principal, antes de Telê Santana assumir como técnico. Trabalhou no auxílio de treinadores e foi responsável pelas categorias de base. Nunca mais deixou o Rio Grande do Sul.

Antes de a partida de sábado à noite se iniciar, o árbitro pediu um minuto de silêncio em homenagem a Paulo Lumumba, que havia morrido aos 74 anos. Provavelmente a maioria daqueles jogadores que vestiram a camisa do Grêmio contra o Ceará não tinham a menor ideia do que ele significou para o clube. É bem provável, também, que eles não tenham a menor ideia do que o Grêmio significa para nós.