Reforma convincente:menos deputado,sem suplente …

 


Por Antônio Augusto Mayer dos Santos

Não há mais possibilidade de contornar temas aflitivos que despertam indignação na própria “classe política”, além da sociedade. A sucessão de Comissões e adiamentos impulsiona uma sensação de que o desfecho pretendido jamais será alcançado. Se por um ângulo a constante exposição da matéria converteu a Reforma Política numa espécie de redenção ética de cunho salvacionista, a outro é leviano supor que a sua aprovação funcionará como um antídoto capaz de eliminar todas as mazelas políticas que vicejam no país.

Preocupante, no entanto, é a dualidade de Comissões a tratar do mesmo assunto. Câmara e Senado formaram grupos autônomos para debater a Reforma Política que todos difundem. Neste momento, sem algo novo, por conta da insuperável divergência entre parlamentares e blocos em alguns pontos, não se crê em modificação alguma a partir do proposto por ambas as Casas do Congresso. A oportunidade é de convergência e não de hegemonia entre as Casas do Congresso.

De rigor, para ser convincente, uma outra reforma deve brotar e se impor. Algo possível, dotado de razoabilidade. Chega de miopia e pirotecnia. É essencial que prevaleça lucidez na delimitação de temas que possam dar vitalidade à política como atividade pública respeitável. Lista fechada, voto distrital e financiamento público são temas importantes mas demasiadamente complexos para este momento-limite. Outras questões mais factíveis e nem por isso menos decisivas, todas com projetos formulados e tramitando, se credenciam como viáveis para atenuar os níveis de saturação que o sistema eleitoral e de representação manifestam.

Ampliação das atribuições de deputados estaduais e vereadores – A administração pública é compartilhada, em todas suas esferas. Não é razoável que iniciativas parlamentares sejam restringidas sob a alegação de interferência no Executivo. Projetos relevantes não podem ser repelidos por sua origem. Parlamentos são polpas vivas das comunidades e merecem real autonomia.

Eliminação do quociente eleitoral – A representação popular sofre desvirtuamento quando um candidato ao Legislativo, seja qual for este, amparado em votação retumbante, é preterido por outro de desempenho inferior. Conforme a PEC 54/07, os eleitores, além de não entenderem, desconfiam de um sistema eleitoral que admite a eleição de candidatos com pouca votação. O eleitorado brasileiro passou dos 2/3 da população e um sistema introduzido em 1932 já não se sustenta mais frente esta outra realidade.

Suplentes no recesso – Porque contrasta à realidade e ao bom senso, a efetivação de substitutos nos períodos de recesso é descartável vez que, na prática, sua finalidade se revela contraproducente. O parlamentar fica impossibilitado de apresentar projetos, participar de sessões, as Comissões não se reúnem. Esta anomalia desacredita o Parlamento perante o eleitor.

Transições pós-eleitorais – A PEC 60/2004, de autoria do ex-senador gaúcho Sérgio Zambiasi, preserva a continuidade administrativa e os serviços públicos, impedindo que mesquinharias paroquiais ou intrigas eleitoreiras desviem a finalidade e a rotina das instituições públicas em prejuízo do contribuinte. Tal como já ocorre no modelo federal, é preciso disciplinar uma relação organizada de responsabilidade entre o governante e o seu sucessor nos níveis estaduais e municipais.

Redução da Câmara dos Deputados – Inoperância pelo excesso de parlamentares, elevado custo público, sucessões de escândalos, apresentação de projetos inúteis ou bizarros, produção legislativa escassa ou irrelevante. É a indisfarçável ineficiência de uma estrutura acrítica justificando a sua diminuição.

Extinção dos suplentes de senador – Injustificável. Preenchida de forma indireta e confinada à homologação de nomes indicados por partidos ou coligações, a suplência, além de impopular, é destituída de respaldo pelo eleitor e vulnera a soberania popular que chancela as eleições para os demais cargos.

Redução do mandato dos senadores – A demasiada extensão do mandato senatorial (oito anos), a par de anacrônica e sem justificativa plausível, é fator impeditivo à renovação e fiscalização da Casa Legislativa e de seus membros. O cargo de Senador é relevante por suas atribuições e não pela sua duração.

“Janela” partidária – Não adianta impregnar o tema de ranço, generalizações e preconceitos. Uma troca de partido no curso do mandato não pode ser vedada de forma artificial e tampouco rotulada de injustificável. É imperativo atenuar o rigorismo vigente, decorrente de uma regra estabelecida pelo TSE e não pelo Congresso Nacional. No seio das agremiações ocorrem fatos que tornam a coexistência insuportável. O que deve ser reprimido são malícias e dissimulações.

Antônio Augusto Mayer dos Santos é advogado especialista em direito eleitoral, professor e autor do livro “Reforma Política – inércia e controvérsias” (Editora Age). Às segundas, escreve no Blog do Mílton Jung.

Campanha pede renovação ampla, geral e irrestrita no Congresso

Ilustração divulgada pela Internet pede renovação ampla, geral e irrestrita no Congresso

Uma campanha contra a reeleição de deputados e senadores, sem dono, começa a circular na internet e tende a ganhar dimensão com a multiplicação da imagem em que parlamentares são defenestrados do Congresso Nacional. Ao  pedir a saída de todos indiscriminadamente abre-se mão de cumprir um dos mais complicados papéis do eleitor: avaliar o trabalho do legislador.

Dizer que todos não prestam pode até ser uma opinião construída a partir dos exemplos lamentáveis que temos assistidos nos últimos meses (seriam anos ?). Justificável. Pouco resultado terá, porém, esta ação se apenas substituirmos os maus pelos piores, se continuarmos usando a mesma falta de critério na seleção do nosso representante entre as centenas de nomes que se candidatam.

Depurar o parlamento assim como os demais poderes é nosso dever e para tal é preciso analisar o deputado que elegemos há três anos, verificar o comportamento dele nos temas que consideramos prioritários no país, e saber se este cumpriu fielmente com suas duas funções: legislar e fiscalizar o Executivo. Ideia que reforça a campanha Adote um Vereador que desenvolvemos em São Paulo e, hoje, já está em outras cidades brasileiras.

A manutenção dos esquemas de corrupção no Congresso Nacional não está relacionada a falta de renovação do legislativo, mostra estudo do cientista político Lúcio Rennó, do Centro de Pesquisas e Pós-Graduação sobre as Américas, da Universidade de Brasília (UnB).

O trabalho dele foi destacado na reportagem “De Olho em Lilliput”, do jornalista Leandro Fortes, na revista CartaCapital desta semana:

“De acordo com o levantamento feito pelo pesquisador, nas eleições de 2006, dos 115 deputados envolvidos diretamente em escândalos de corrupção, 71 concorreram à reeleição. Desses, somente 30 se reelegram. Segundo ele, isso é uma regra: os parlamentares metidos em roubalheira têm, historicamente, um baixo índice de reeleição”, diz a revista.

Na mesma publicação, enquete feita pela internet mostra que a maioria dos votantes (42%) entende que a mudança no comportamento parlamentar  e o fortalecimento do Legislativo passam pela aprovação urgente de uma reforma política ampla e que diminua o fisiologism0 que, segundo Cláudio W. Abramo, da Transparência Brasil, é dos piores males a assolar o País. A Justiça mais veloz na punição aos políticos corruptos também ganha adesão com o apoio de 23% dos participantes até a última olhada que dei no site da revista. Concorrem pau a pau as opções “fechar o parlamento”, 17%, e “promover por meio do voto nas próximas eleições uma profunda renovação dos deputados e senadores”.

Ordem e Progresso no Congresso

Por Carlos Magno Gibrail

Clodovil HernandezDo tiroteio entre o pai de Fernando Collor e Góes Monteiro, que a má pontaria de Arnon de Melo resultou na morte do suplente de Senador José Kairala diante de mulher e filhos que assistiam à sua estréia no Senado, ao pronunciamento de Cristovam Buarque, pedindo o fechamento do Congresso Nacional, nada a acrescentar a respeito de ética, civilidade e moral.

De quatro de dezembro de 1963 até ontem, apenas constatar, que udenista e pessedista foram absolvidos e que Buarque não pode estar falando sério.

Às vésperas de completar 183 anos não é o fechamento do Senado e da Câmara que irá resolver os problemas, pois representar o povo, legislar e fiscalizar a aplicação dos recursos públicos é função essencial ao Estado democrático.

Exemplo vivo da primeira Lei de Parkinson sobre o aumento dos cargos e funções, a Câmara ainda apresenta um órgão como o Conselho de Ética e Decoro Parlamentar que é a disfunção da própria função.

Tudo indica, entretanto que a exposição que a mídia contemporânea passa a exibir tenderá a inibir os desmandos financeiros e administrativos.

Os dados são provocativos, para 513 deputados, 104 diretores, 3470 servidores concursados, 1350 comissionados, 11500 secretários parlamentares, 2300 terceirizados, totalizando quase 20000 funcionários, mais os aposentados, consomem R$2,6 bilhões dos R$3,5 bilhões da Câmara para 2009.

Temos então 32 funcionários para cada deputado, enquanto nos EUA são 15, no México 6 e na Índia 6.

Comparando o custo mensal com a renda per capita:
Brasil US$49800, 126 vezes a renda per capita – EUA US$30000, 8 vezes – Inglaterra US$26600, 8 vezes – Alemanha US$15200, 5 vezes – França US$9800, 3 vezes.

Entretanto se Buarque, educador experimentado se atentasse para a fala da classe teria percebido que a solução já foi sugerida.

“Cheguei aqui como um alienígena, um estranho, mas não vou deixar passar em branco meu mandato de jeito algum. Estou vivendo do dinheiro do povo, a serviço do povo, e para ele vou trabalhar loucamente. Aos 70 anos resolvi que agora é hora de limpar minha alma para mandá-la de volta a Deus polida, pelo menos com atitudes.” Clodovil Hernandes.

Brigou com o Presidente Chinaglia logo no primeiro pronunciamento, no dia seis de fevereiro de 2007. Clodovil reclamava da falta de educação, do barulho, das longas e improdutivas sessões, do andar arrastado da vida pública. Um estilista, só, não faz verão, mas talvez possa ter alinhavado para o futuro.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 280/08, apresentada em julho do ano passado, não saiu do lugar. Clodovil quis, explicitamente, uma Câmara dos Deputados mais enxuta, com apenas 250 representantes, com um mínimo de quatro e o máximo de 35 vagas por Estado. “A composição da Câmara dos Deputados resulta em um Parlamento com diversidade de idéias, bastante plural, o que é imensamente positivo. Mas o atual número de deputados me parece excessivo, mormente em um momento em que a sociedade se volta contra a classe política e exige a depuração de seus quadros”, disse em sua justificativa.

Nem da Universidade, nem da Política nem das Grandes Corporações, mas do mundo da Moda a observação mais aguda relativa ao Plenário da Câmara, onde 513 deputados se desrespeitam em todos os sentidos. Não ouvem, circulam, não sentam, dormem. Leem jornal, telefonam, conversam, algumas vezes dançam, tentam se esmurrar, etc.

Eu acredito que a maioria dos brasileiros não daria  nem assistiria aula numa classe em que ninguém prestasse atenção em quem fala. Não trabalharia numa empresa em que ocorresse o mesmo.

E você?

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e às quartas escreve aqui no blog sempre atento a tudo o que dizem e deixam de fazer lá no Congresso.