Conte Sua História de São Paulo: uma manifestação de amor que começou em 2013

Por Carlos Eduardo Pinto Vergueiro Filho

Ouvinte da CBN

Jovens concentrados com bandeiras, faixas e gritos de guerra em frente ao Teatro Municipal, o mesmo marco histórico da Semana de 22 e a mesma juventude que dois anos depois pararia o Brasil. Mas não é de passe livre, Black Blocks e 20 centavos esta história. É sobre amor. 

Foi na passeata que subiu a Consolação, virou na avenida Paulista e terminou no Paraíso que dois jovens se encontraram. Foi em um bar de esquina com a 13 de Maio que se apaixonaram. 

Foi na Vila Madalena que namoraram. Foi no Jaguaré que se casaram. Foi na Cupecê que tiveram um filho. 

E é saindo da estação Vila Sônia do metrô que conto essa história que funde amor entre duas pessoas com as ruas, bares e o subterrâneo da cidade das tensões, São Paulo do nosso coração!

Parabéns terra da garoa, das multidões, das manifestações e da multiculturalidade. Que a sua história seja lembrada também pelos amores que fez nascer, tal como o nosso que completa 12 anos.

Carlos Eduardo Pinto Vergueiro Filho e Kraly de Castella Camolez Machado são personagens do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Seja você também personagem da nossa cidade. Envie seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br. Para conhecer outros capítulos da nossa cidade visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo

Conte Sua História de SP 463: o cheiro das coxinhas na padaria da Consolação

 

Por Miguel Chammas

 

 

Primeiramente, Escola Técnica de Comércio Frederico Ozanan; depois Colégio Comercial Frederico Ozanan – boate Ozanan para os detratores. Reduto e fonte de ensino para todos os alunos.

 

Fui admitido em suas fileiras nos primórdios da década de 1950 para cursar o antigo Admissão. Fui aluno, atleta, diretor do Grêmio, fundador e membro da fanfarra, diretor artístico do GATO, membro efetivo de diversas comissões pró-formatura, professor substituto de Contabilidade Básica e, finalmente, diplomando do Curso Técnico de Contabilidade, em 1965.

 

Comecei minha vida na escola quando ela estava na Praça Franklin Roosevelt, 123, e a acompanhei até meados de 1967 já na Rua Augusta 423.
Eu era de família humilde e mesmo antes da conclusão do curso básico, por necessidade de trabalhar, estudava no curso noturno. Para economizar, minha ida para a escola ao fim do expediente de trabalho era metade a pé e a outra, andando.

 

O grande obstáculo que eu tinha de vencer, diariamente, era o quarteirão entre as ruas Caio Prado Jr. e Marquês de Paranaguá. Nessa esquina, pouco antes da escola, estava, ou melhor, ainda está a Rotisserie Bologna. O aroma de seus quitutes nos encontrava metros antes de seus portais. Ato contínuo, inebriados pelo cheiro, consultávamos nossos bolsos, quase sempre vazios, na busca de alguma moeda que nos permitisse saciar nossa gula com mordidas nas coxinhas de paladar inigualável. O tamanho não era nada avantajado, mas ganhavam da maioria das coxinhas vendidas na velha Sampa. Secas de gordura, com um creme consistente e saboroso, e um pedaço considerável de frango.

 

Era o alívio da nossa fome durante os estudos da noite. Isso quando encontrava algum dinheiro no bolso.

 

Quando os trocados não nos permitiam fazer loucuras gastronômicas, nos contentávamos em entrar na loja e sentir o cheirinho das tais coxinhas de frango. Pra disfarçar, íamos ao balcão da sorveteria, abríamos a torneira e tomávamos um copo d’agua estupidamente gelada.

 

Triste consolo para este pobre estudante!

 

Miguel Chammas é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Vamos juntos comemorar mais este aniversário da nossa cidade. Envie seu texto para milton@cbn.com.br. 

Conte Sua História de SP: o cemitério salvou minha vida

 

Por Paulo Roberto Nakashima
Ouvinte-internauta da rádio CBN

 

 

Estava eu caminhando pela Rua Aurora, entre o Largo do Arouche e a Rua da Consolação, no final da década de 80, entre as 23:00 / 24:00, voltando da escola. Eu usava o cabelo bem comprido, algo pouco comum naquela época para um homem e seguia tranquilamente o meu caminho quando me deparei com um homem visivelmente embriagado, que falava alto em espanhol, abraçado por duas mulheres que, provavelmente, prestavam-lhe serviço como acompanhantes. Ao passar por eles o homem gesticulou algo para mim e tentou me beijar. Acho que me confundiu com uma mulher por causa do meu cabelo e as mulheres começaram a rir e zombar de mim. Empurrei o homem e respondi de forma impetuosa as mulheres. Uma delas começou a gritar enquanto que a outra entrou correndo em um barzinho próximo e logo saiu de lá acompanhada de um homem enorme, do tamanho de um armário, bufando com olhos arregalados, enquanto que a mulher falava: “ Foi aquele ali !” e apontava para mim.

 

Tenho que confessar que não me sinto envergonhado em dizer que não pensei duas vezes em sair correndo. Fui em direção a Rua da Consolação seguido pelo furioso armário ambulante que gritava: “Eu te mato, eu te mato, filho d#%¨¨&* !”.

 

Fui subindo a Consolação e só parei quando cheguei aos portões do cemitério, lugar bem conveniente para um descanso no caso dele me alcançar. Felizmente não vi sinal algum do homem. Fiquei surpreso com a minha capacidade atlética. Cheguei a pensar seriamente em participar da São Silvestre, mas desisti da ideia porque não tive a oportunidade de convidar aquele homem para correr atrás de mim, já que eu mudei o meu caminho que eu fazia para voltar da escola.

 


O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar aos sábados, após às 10h30 da manhã, no CBN SP. E você participa enviando seu texto para milton@cbn.com.br ou agendado entrevista em áudio e vídeo no Museu da Pessoa pelo e-mail contesuahistoria@museudapessoa.net.

Conte Sua História de SP: Susto no cemitério da Consolação

 

Trabalhar próximo do Cemitério da Consolação causou alguns sustos em Luciano Strami que, em depoimento ao Museu da Pessoa, falou dos tempos de adolescente em que entregava carne para o açougue do pai, em Higienópolis. Luciano é paulistano, nascido em 1929, e acrescentou mais um capítulo no Conte Sua História de São Paulo, em homenagem aos 458 anos da cidade.

 

Ouça o depoimento de Luciano Strami, sonorizado pelo Cláudio Antônio

 

O Conte Sua História de São Paulo vai ao ar no CBN SP, aos sábados, logo após às dez e meia da manhã. Você pode participar enviando um texto para milton@cbn.com.br ou agendando entrevista em áudio e vídeo no site do Museu da Pesoa.

Conte Sua História de São Paulo: Eu vi o Zepellin

 


Ouça estas duas história sobre o Zepellin sonorizadas por Claudio Antonio

Na década de 1930, apenas dois anos antes do início da Segunda Guerra Mundial, o Hindenburg Zeppelin passou pela cidade de São Paulo. A imagem do monumental dirigível cortando os céus da cidade marcou a memória dos moradores na época. Alzira Paulino, nascida em São Paulo em 1931, contou suas lembranças durante uma oficina de memória do Museu da Pessoa em novembro de 2008:



Morávamos, eu e minha família, na rua da Consolação, travessa da avenida Paulista.
Deveria ter mais ou menos 7 anos quando ouvimos um grande alvoroço na rua. Era um Zepellin que estava passando lentamente, muito grande, parecia um balão. Saímos todos muito assustados, pois nunca tínhamos visto tal coisa no ar; mamãe, vizinhos, todos acenando para o alto, e éramos correspondidos; as pessoas que nele estavam também acenavam para nós. Foi emocionante, ficamos muito tristes quando soubemos que o mesmo havia pegado fogo com todos os tripulantes e passageiros. Foi um fato que muito marcou a minha infância.



Samuel Blay, nascido em São Paulo em 1922, era adolescente quando o Zeppelin passou pela cidade. Ele também se lembra da comoção na época do incêndio do dirigível. Mas o que mais o marcou foi a lentidão com que a aeronave cruzava o céu, como ele contou ao Museu da Pessoa em 1999:





Foi em 1937 que o Zeppelin Hindenburg passou por São Paulo, e depois ele pegou fogo lá nos Estados Unidos, caiu e matou muita gente.  A velocidade do Zeppelin era três vezes menor do que a de um avião e parece que tinha também compartimentos, camarotes para passageiros… Isso eu não tenho muita certeza, havia uma forma de acolher os passageiros, porque levava dois, três dias uma viagem de Paris a Nova York. O avião levava 15 horas e o Zeppelin levava, vamos dizer, umas 40 horas.


Participe do Conte Sua História de São Paulo enviando seu texto ou agendando uma entrevista em vídeo e áudio no site do Museu da Pessoa.

Os restaurantes da Consoleta

Por Ailin Aleixo
No Época SP na CBN

Anita

Da cozinha envidraçada chefiada por Fabiana Caffaro saem pratos bem simples, muitos declaradamente inspirados na dita baixa gastronomia, aquela dos botecos, mas com algumas gostosas frescurinhas. Tem filé oswaldo aranha (feito com prime rib), frango com creme de milho (empanado com panko, uma farinha de rosca japonesa) e deliciosos bolinhos de arroz (que levam creme de queijos na mistura). A entrela da casa, porém, é a máquina de assar galetos, a típica televisão de cachorro, estacionada na calçada inclusive à noite. As aves, bem torradinhas e douradas, chegam à mesa já cortadas, acompanhadas de farofa, batata bolinha ao alecrim e vinagrete de tomates verdes. Na sobremesa, não deixe de provar a ótima panqueca de doce de leite com sorvete de nata. No almoço executivo, vale o sistema de prato do dia: quarta-feira, por exemplo, é dia de mignon de porco com couve e quibebe de mandioca. A casa fecha no dia 23 de dezembro para os festejos do final do ano e reabre no dia 6 de janeiro.

R.Mato Grosso, 154 – Higienópolis, 2628-3584

AK Delicatessen

A cozinha de Andrea Kaufmann está cada vez mais surpreendente. Hábil no preparo de receitas judaicas tradicionais, como o spondre, costela bovina cozida lentamente com cebolas, ela também se sai muito bem nos pratos de outras procedências. É o caso do chupe peruano, sopa de camarão, arroz e queijo. Vale experimentar as novidades que ela introduz de tempos em tempos no cardápio, mas há hits já consagrados que é um pecado perder. Por exemplo, o medalhão envolvido em pastrami, gratinado sob uma camada generosa de queijo brie, servido sobre mix de cogumelos: quem prova não esquece. O restaurante, inaugurado em 2007, segue bombando. O andar de baixo, antes inteiramente tomado pelo balcão da rotisseria, hoje também abriga mesas, mas não com o mesmo charme do andar superior. E continua saindo gente pelo ladrão.

R. Mato Grosso, 450 – Higienópolis, 3231 4497

La Frontera

O belíssimo salão art déco, repleto de metais dourados e enormes ventiladores de teto, foi inspirado nos antigos bares de Buenos Aires – tudo a ver com a vizinhança, já que o imóvel fica coladinho ao Cemitério da Consolação, em uma região que realmente lembra a terra do tango. Uma das sócias da casa é a argentina Ana Maria Massochi, também proprietária do Martín Fierro. Mas a cozinha do chef e sócio Leo Botto, como indica o nome do restaurante, fica no meio do caminho entre os dois países. Na grelha, ele prepara nobres carnes portenhas e prosaicas sardinhas com a mesma desenvoltura. O serviço é dos mais atenciosos: tem até couvert de cortesia, ótimo por sinal, com pão caseiro quentinho. Quem pede um ojo de bife tem não só a chance de escolher o peso do corte, de 200 ou 300 gramas, como ainda decide o acompanhamento: não dispense os nhoques quadradinhos de batatas assadas na grelha com creme de parmesão, uma iguaria de lamber os beiços. Na sobremesa, as bolinhas de mussarela de búfala vêm com delicioso doce caseiro de tomatinhos, tipo compota da vovó.

R. Coronel José Eusébio, 105 – Consolação, 3159-1197