Avalanche Tricolor: é o que define o Grêmio de 2025

Corinthians 2×0 Grêmio
Brasileiro – Itaquerão, São Paulo (SP)

Gremio x Corinthians
Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Termina o jogo e o narrador da TV faz o que manda o protocolo: confere a tabela. É o momento de entender quem sobe, quem desce e quem apenas se arrasta. Confesso que já nem lembro a última vez em que vi o Grêmio entre os dez primeiros. Continuamos teimosamente na segunda página, aquela reservada aos que ainda respiram, mas sem fôlego para correr.

É verdade que o cenário já foi mais dramático; flertamos com a zona do rebaixamento e voltamos vivos. Hoje, o perigo parece distante, menos por mérito nosso e mais pela inércia dos que estão abaixo. O Grêmio melhorou, sim, mas pouco.

Nas últimas dez rodadas, vencemos quatro, perdemos quatro e empatamos duas. Há cinco jogos, seguimos um roteiro previsível: vitória em casa, derrota fora. Faltam sete partidas: quatro na Arena e três longe dela. Algumas complicadas, contra times que ainda sonham com o título. Outras, que pedem apenas o trivial. E o trivial, convenhamos, é o que temos a oferecer.

Nosso destino, portanto, parece traçado: o meio da tabela. E é o que merecemos após uma temporada claudicante. Esperar mais seria pedir clemência a deuses do futebol que andam de má vontade com a gente.

O caro e cada vez mais raro leitor desta Avalanche já deve ter percebido alguns delírios recentes deste escrevinhador. Foram surtos de entusiasmo, nada mais. O jogo seguinte sempre se encarrega de nos trazer de volta à realidade, às vezes com crueldade, como na goleada na Bahia.

Por isso, sair de Itaquera com um revés não surpreende. Disseram na transmissão que não perdíamos para o Corinthians, fora de casa, há onze jogos. Bonita estatística, até lembrarmos que ultimamente o Grêmio tem se notabilizado por colecionar marcas históricas negativas.

Em 2025, o meio, o mediano, o quase. É isso que nos cabe. E, infelizmente, é isso que nos define.

Avalanche Tricolor: amor que empata, mas não esfria

Grêmio 1×1 Corinthians

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Foi no Dia dos Namorados que o Grêmio entrou em campo para enfrentar o Corinthians. Um a um, placar final. Um empate que, à primeira vista, parece pouco para quem jogou em casa. Mas quem ama sabe: nem todo encontro precisa ser vitória esmagadora. Às vezes, o que vale mesmo é não sair derrotado.

Essa partida foi mais do que futebol. Foi quase um jantar a dois, daqueles em que os dois lados evitam discussões maiores, escorregam num ou outro erro, mas permanecem sentados à mesa. O Grêmio, que vinha tropeçando muito no Campeonato Brasileiro, resistiu. E resistência, numa fase dessas, é mais do que suficiente para manter acesa a chama.

Sim, tem quem diga que empatar em casa é tropeço. Pode até ser, tecnicamente falando. Mas para quem, como eu, vive esse relacionamento de décadas com o tricolor gaúcho, há algo mais profundo. Quando a maré anda brava, o que importa é não deixar o barco virar. E o Grêmio não virou. Manteve a invencibilidade dos últimos jogos — há cinco partidas não perdemos . E isso já é uma forma de cuidado, de reencontro com um pouco de estabilidade.

Mano Menezes agora terá tempo com a parada para a Copa do Mundo de Clubes. E tempo, todo casal sabe, é matéria-prima do recomeço. Com tempo, ajeita-se a defesa, melhora-se o entrosamento, encontra-se o tom certo da conversa entre meio-campo e ataque. Com tempo, o amor reencontra seu jeito de jogar.

Amar um time é como viver um relacionamento longo. Há momentos de paixão arrebatadora, títulos levantados como declarações públicas de afeto. E há fases de silêncio, de desentendimentos, de expectativas frustradas. Mas a gente permanece. Não por teimosia, mas por compromisso. Por memória. Por promessa.

No Dia dos Namorados, o Grêmio me presenteou com um empate. Não foi buquê nem bombom. Foi apenas o sinal de que, apesar das falhas e da fase, ainda estamos juntos. E isso, convenhamos, também é uma forma de amor.

Avalanche Tricolor: choque de realidade na hora certa

Juventude 2×0 Grêmio

Gaúcho – Alfredo Jaconi, Caxias do Sul RS

Arezo em tentativa de ataque é destaque em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Jogar às dez da noite pelo Campeonato Gaúcho é proibitivo. Protesto feito, vamos ao que interessa: a desinteressante performance gremista contra o primeiro time da Série A que enfrentou na temporada.

Chegamos à partida na Serra Gaúcha após uma sequência de vitórias, goleadas e novidades na forma do time se movimentar em campo. Havia entusiasmo nas arquibancadas, especialmente pelas mudanças de comportamento de alguns jogadores sob novo comando.

Na última edição desta Avalanche, alertei o caro e cada vez mais raro leitor, citando minha mãe, Dona Ruth: “Devagar com o andor que o santo é de barro”. A temporada estava apenas no início, e os adversários eram, em sua maioria, de divisões inferiores – constatação feita sem desrespeito, apenas baseada na posição deles no ranking nacional. A superioridade gremista era evidente e justificável.

Diante disso, o confronto desta quarta-feira trouxe um choque de realidade. Mesmo sem o time titular, o Grêmio enfrentou uma equipe mais bem organizada, que marcou a saída de bola, jogou com velocidade e mostrou talento. O resultado? O time tricolor foi inferior e incapaz de resistir à pressão, apesar de ter desperdiçado algumas boas oportunidades no primeiro tempo. Sofreu seus dois primeiros gols na competição, fruto de falhas na marcação que passaram despercebidas nos jogos anteriores muito mais pela fragilidade dos adversários do que por méritos defensivos do Grêmio.

Essa foi uma dura realidade para o Grêmio – e não deve ser ignorada. A boa notícia é que veio na hora certa. Quinteros, diante do que assistiu, poderá ajustar a equipe para o Gre-Nal, que, afinal, é o que realmente importa.

Avalanche Tricolor: mais sorte do que futebol

Corinthians 0x0 Grêmio

Copa do Brasil – NeoQuímica Arena, SP/SP

Foto: Lucas Uebel/GremioFBPA

O Grêmio é especialista em Copa do Brasil. Desde a primeira edição, sabemos vencê-la. Com cinco copas no armário, somos o segundo time que mais ganhou essa competição. Já viramos placares improváveis, já vencemos em casa e decidimos fora, já perdemos fora e decidimos em casa, já empatamos nos 180 minutos e nos classificamos na cobrança dos penaltis. Já fizemos de tudo um pouco. 

Nessas muitas jornadas, aprendemos que só não se pode perder a classificação na primeira partida. É preciso levar o resultado para o segundo jogo quando, de verdade, tudo se decide. Sendo assim, empatar como fizemos na noite de hoje, e fora de casa, está dentro do figurino de quem pretende ser campeão. O problema foram as circunstâncias que proporcionaram esse empate. 

Uma partida em que parecia se iniciar bem para o Grêmio, com a bola sob nosso domínio e a aproximação na área de ataque. O lance de maior perigo veio de uma cobrança de falta e, na sequência, o rebote, ambos salvos pelo goleiro, ainda no primeiro tempo. Mal havia começado o segundo e a expulsão de um jogador adversário sinalizava uma vantagem inesperada. O jogo se desenhava a favor do Grêmio.

Em nenhum momento, porém, o Grêmio soube se aproveitar dessa vantagem. Perdeu o controle da bola e quando a recuperava mal sabia o que fazer com ela. Desorganizado, como se fosse um amontoado de jogadores em campo, viu-se pressionado na maior parte do tempo, e não amargou a derrota por um detalhe que somente o VAR é capaz de enxergar.

O Grêmio teve mais sorte do que futebol, nesta noite, em São Paulo. Apesar disso e mesmo que o desempenho na temporada não seja animador, ainda estamos vivos na competição.

Avalanche Tricolor: Marchesín fala em nome da minha paixão

Corinthians 2×2 Grêmio

Brasileiro – Itaquerão, São Paulo/SP

Marchesin defende mais uma. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Futebol é paixão. E por apaixonados, extrapolamos. Já fiz coisas absurdas em nome deste sentimento humano que é intenso no corpo e na mente. Briguei e me arrependi. Chorei e me lamentei. Praguejei ao mesmo tempo que roguei. Gritei e, de tanto gritar, calei.

No latim, paixão é sofrimento e ato de suportar. O grego nos remete ao sentir. A religião relaciona esse sentir à dor física, espiritual e mental. Com o tempo, paixão passou a ser traduzida por forte emoção e desejo; mais tarde ainda, por predileção.

Paixão é essa coisa que nos leva a acreditar no impossível, mesmo que o possível se imponha a todo instante. É o que nos capacita a persistir na torcida, apesar de tudo que se realiza anunciar que chegou a hora de renunciar.

Por apaixonado que sou, reajo na intimidade enquanto me contenho na vida pública. Critico o árbitro e ofendo o adversário na privacidade do meu lar, onde a liberdade de expressão é maior e as consequências são menores. Prefiro manter o respeito ao outro e ao esporte, lembrando que a paixão, quando exposta sem filtro, pode ferir e ofender.

Futebol é um espetáculo coletivo e, como tal, exige de nós um comportamento que preserve a harmonia e o espírito esportivo. Cada gesto e palavra dita em público têm o poder de influenciar e impactar não apenas os jogadores e torcedores, mas toda a comunidade que se envolve com o esporte. A paixão, quando bem dosada, enriquece a experiência e fortalece os laços entre os fãs e seus times.

Portanto, é no equilíbrio entre a emoção fervorosa e a razão respeitosa que encontramos a verdadeira essência do torcedor apaixonado. A paixão não precisa ser escondida, mas sim, canalizada de forma a contribuir positivamente para o ambiente do futebol. Porque, no fim, a paixão que nos une é a mesma que deve nos lembrar de manter o respeito e a dignidade, tanto dentro quanto fora de campo.

Agora, perdoe-me a lógica e a prudência, como é difícil conter os sinais que a paixão emite diante de mais uma injustiça sofrida no mesmo palco e  contra os mesmos atores.

Independentemente do futebol que expressamos, das falhas que seguimos cometendo, das intempéries inerentes a um time que improvisa sua formação e sua estratégia, a sensação de que mais uma vez poderia ter sido diferente não fosse a intervenção do árbitro é de dor e irritação. Por isso, não culpo Marchesin de misturar alhos e bugalhos no momento em que revelou a dor de sua paixão, ao fim do primeiro tempo da partida desta noite, em São Paulo. Ele representa a minha paixão.

Sua Marca Vai Ser Um Sucesso: o 12º jogador e o valor das marcas no futebol 

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“Os que disputam o jogo sabem, imaginam, ou, pelo menos, supõem que a marca na camisa transcende a importância de cada um deles individualmente”

Jaime Troiano

Na arena esportiva, uma nova realidade se destaca e se consolida como uma espécie de décimo segundo jogador de um time de futebol: a marca. Esse fenômeno vai além da simples presença em campo, elevando-se a um patamar de significância econômica e emocional para os clubes e seus torcedores. Esse foi o tema do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, no Jornal da CBN, onde Jaime Troiano e Cecília Russo mergulham nas profundezas dessa interação entre esporte e branding.

Ao destacar que a marca da camisa transcende a importância de cada um dos jogadores individualmente, Jaime Troiano ressalta não apenas o valor intangível dessas marcas, mas como elas se entrelaçam com a identidade e o desempenho dos times: 

“A marca, este 12º jogador, não é um reserva, muito longe disso. É, sim, uma reserva de recursos.  Ela é escalada para todas as partidas, para todos os treinos ,para a presença editorial do clube, para as celebrações. Ela está sempre lá”

Jaime Troiano

Sem dúvida, são os torcedores, com sua devoção frequentemente comparável à fé religiosa pelo sucesso de seu time, os principais alimentadores do valor de mercado da marca. É essa paixão que impulsiona as receitas da marca, seja através da compra de ingressos para os jogos ou da aquisição de mercadorias associadas ao clube.

Cecília Russo, por sua vez, pontua a dificuldade e, simultaneamente, a possibilidade de transformar o glamour que um time tem para seus torcedores, o sentimento apaixonante por ele,  em uma realidade que tenha, de fato, essa dimensão econômica e mercadológica:

“O valor da marca do time é fruto de uma batalha diária nessa administração das relações que ela estabelece com os seus múltiplos stakeholders, que são os públicos com os quais uma marca se relaciona”. 

Cecília Russo

Há um contraste significativo no valor de mercado entre os clubes brasileiros e seus congêneres europeus americanos, sugerindo um vasto campo para crescimento e fortalecimento das marcas locais. Com base em dados publicados no jornal Valor Econômico, Cecília lembra que o Real Madrid e o Manchester United valem US$ 6 bilhões cada um. Os três clubes brasileiros que mais bem aparecem nessa classificação são Flamengo (US$ 922 milhões), Palmeiras (US$ 729 mihões) e Corinthians (US$ 627 milhões). 

Veja aqui o ranking completo dos clubes da Europa, do Brasil e da MSL (EUA), segundo a Sports Value

Além da boa notícia de que existe espaço para crescimento dessas marcas nacionais, a previsão é que venha uma geração de times cujas marcas têm crescido surpreendentemente e o jornal Valor Econômico chamou de “artilheiros do branding”. São os casos do Fortaleza e do Red Bull Bragantino.

A marca do Sua Marca

O futebol é mais do que um esporte ou entretenimento; é uma indústria regida pelas mesmas dinâmicas de mercado que influenciam marcas em diversos setores. O “décimo segundo jogador”, portanto, não é apenas uma metáfora para o apoio da torcida, mas simboliza o valor monumental que as marcas representam para os clubes, tanto em termos financeiros quanto emocionais. 

“Na década de 1950 e por algumas décadas seguintes, os europeus aprenderam muito sobre futebol com o Brasil. Quem sabe agora,  possamos aperfeiçoar a gestão das marcas dos nossos times aprendendo com eles”. 

Jaime Troiano

Ouça o Sua Marca Vai Ser Um Sucesso

O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, logo após às 7h50 da manhã, no Jornal da CBN, e tem sonorização de Paschoal Júnior:

Avalanche Tricolor: paciência!

Grêmio 0x1 Corinthians

Brasileiro – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS

Foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

O melhor mandante contra um dos piores visitantes. A possibilidade de ser líder contra quem só quer fugir do rebaixamento. A formação tática ofensiva enfrentando um sistema puramente defensivo. A oportunidade de ter um jogador a mais a partir dos 10 minutos de partida. E a superioridade na posse de bola. Tudo isso empurrado por mais de 51 mil torcedores que não desistem jamais de sonhar. 

Qual a chance dessa conjugação de fatores favoráveis conspirar contra você? Todas! Sim, todas! Porque o jogo jogado é o futebol e este esporte, talvez mais do que qualquer outro que conheço razoavelmente bem, permite que o pior vença. Desde que esse tenha disciplina, um pitaco de sorte, um tanto de acaso e alguns descuidos do adversário. 

Pior pode soar como um adjetivo exagerado para o time que enfrentamos hoje, apesar de estar na metade de baixo da tabela toda a competição. Porque afinal se considerarmos que o sucesso em uma partida são os três pontos conquistados, quem os leva alcançou o objetivo e tem ainda mais méritos se o alcançou cumprindo a risca a estratégia traçada no vestiário. Isso o faz um vencedor, mesmo que circunstancialmente.

Ao Grêmio: paciência! Depois de uma sequência de vitórias, algumas conquistadas com raça e talento, nas quais alcançou resultados que mesmo o seu torcedor tinha alguma dúvida, não surpreende o revés. Aconteceu hoje e aconteceu em rodadas anteriores, em situações até mais favoráveis e contra equipes bem menos cascudas. 

Ainda nos faltam quatro jogos a serem disputados, dois em casa e dois fora. O título segue logo ali em cima, apesar de haver um congestionamento maior pelo caminho. É difícil, muito difícil! Não é impossível!

Agora, caro e cada vez mais raro leitor desta Avalanche, você haverá de convir: havia torcedores preparados para uma temporada medíocre; os otimistas acreditávamos na disputa por vaga na Libertadores e esse objetivo segue nas nossas mãos. Bastam duas coisas: não deixar que a frustração de um título quase inalcançável influencie o grupo de jogadores e paciência, muita paciência (especialmente para este escrevinhador que amanhã desde cedo terá de suportar os corintianos que me cercam aqui em São Paulo). 

Avalanche Tricolor: alguma coisa acontece no meu coração!

Corinthians 4×4 Grêmio

Brasileiro — Neo Química Arena, SP/SP

Suárez comemora o quarto gol em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Um jogo maluco! Um jogo incrível! Um jogo histórico! É o que ouço na transmissão da partida desta noite. O narrador, o comentarista e o repórter repetem essas expressões aos borbotões. O jogador entra na onda e usufrui do adjetivo alheio para explicar o placar de oitos gols e dois vira-viras. Nas redes sociais, não faltarão torcedores repetindo os elogios a esse confronto fora de data — imagine que a partida desta noite se refere a décima-quinta rodada do campeonato quando a competição já está na sua vigésima-terceira. 

Há quem queira animar o público e arrisque a pergunta que será feita no futuro: “onde você estava naquele empate de 4 a 4?”. Eu responderei, se a memória ainda me permitir: sentado no sofá, diante da televisão e resignado. 

Alguma coisa acontece no meu coração!

No passado, estaria alucinado diante de uma partida como esta que se encerrou agora há pouco. Nesses últimos tempos, porém, tenho assistido aos jogos do Grêmio sem a ilusão dos apaixonados que sempre me moveu como torcedor. 

Perdi o êxtase do gol. Comemoro desconfiado. Seja porque imagino que o árbitro vai anular seja porque temo a sensação da frustração a seguir. Fazemos um, fazemos dois gols. E ainda assim ponho em dúvida a vitória. 

A dinâmica da partida de hoje certifica esse sentimento. Vejo o adversário avançar e tenho certeza de que o revés se aproxima. A virada que tomamos no primeiro tempo apenas reafirma meu temor.

O segundo tempo começou e o que veio na sequência confirmou minha intuição, a despeito de no peito bater o desejo de que eu estivesse profundamente enganado. Mesmo que a bola role de pé em pé; o talento surja no passe, no toque e no chute a gol; e nos mostremos capazes de recuperar a vitória que havia sido perdida, ainda assim desconfio. 

Temo o resultado tanto quanto temo estar sendo injusto com quem sempre me seduziu. E lá vem a realidade acolher meus maus presságios. Para que não reste dúvidas, não basta ver o empate se realizar depois de estar duas vezes a frente do placar, ainda sou obrigado a assistir a mais um lance de pênalti crasso não marcado pelo árbitro e sequer alertado pelo VAR.

Um jogo maluco! Um jogo incrível! Um jogo histórico! Repetirão por aí. Para mim, mais um jogo em que desperdiçamos a oportunidade de conquistar três pontos e fomos prejudicados pela falta de critério e coragem dos árbitros brasileiros. 

Que tudo isso que sinto hoje seja breve e o Grêmio reascenda a paixão enrustida em algum lugar do meu coração e acabe com essa minha resignação! 

Avalanche Tricolor: se é para morrer, que seja de aflição

Corinthians 1×1 Grêmio

Brasileiro – Arena de Itaquera, SP/SP

Geromel, Gigante, em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

O locutor da TV falou em rebaixamento virtual. Confesso que não sei bem o que isso significa. Fosse no esporte eletrônico, faria algum sentido. No futebol de verdade – este disputado no gramado, com suor e inspiração; no qual vencer as bolas divididas é preciso; em que lutar é essencial e driblar é fazer a diferença – os fatos só se concretizam no apito final. 

No dicionário, virtual é o que existe apenas em potência. É o que poderá vir a ser, existir, acontecer ou praticar-se. Virtual era a derrocada gremista, em 2005. E o que assistimos foi a maior de todas as conquistas, porque foi a superação do inacreditável, do inimaginável. 

Quem imaginaria um time com essa campanha jogar o fino da bola como temos feito em muitos desses últimos jogos que disputamos. Jogos como o de hoje, em que uma torcida inteira se armou para nos vencer e teve de sair de seu estádio comemorando um pífio e insuficiente empate conquistado com um gol mágico, na bacia das almas. 

Confesso: sempre que vejo reações como essas no adversário – e estou aqui lembrando dos encardidos que nos venceram uma vez e festejaram como se fosse o título que não ganharam em toda uma temporada -, só me sinto ainda maior, a despeito da pequenez de nosso desempenho na maior parte da temporada. E se me sinto assim é porque acredito na ideia que um clube não é grande pelo resultado de uma partida ou temporada. O é por sua história. E a nossa é enorme. Isso ninguém é capaz de negar. 

O capítulo final do Campeonato Brasileiro de 2021 ainda não foi escrito. Disseram-me que para reverter a tragédia, precisaremos vencer o último jogo e esperar que dois times que estão na parte baixa da tabela não marquem um só ponto nos dois jogos – a começar pelos que disputarão nessa segunda-feira. Enquanto não o fizerem, estamos na disputa. Aflitos, mas na batalha. E se é para morrer, que seja de aflição, como em 2005.

Avalanche Tricolor: salvo pelo sonho de criança que realizei há 20 anos, em São Paulo

Sport 1×0 Grêmio

Brasileiro – Ilha do Retiro, Recife PE

A conversa corria solta e animada com os estudantes de Jornalismo e da Administração, da UNISATC, de Criciúma, quando a partida desta noite já havia se iniciado. O papo virtual tinha jornalismo e comunicação como temas predominantes. Às boas perguntas que ouvi, me esforcei para dar respostas que atendessem o interesse da turma. Estrategicamente, deixei uma tela extra, ao lado do computador, com a bola rolando na Ilha do Retiro. 

Foi de revesgueio que assisti àquela cobrança de falta que resultaria no único gol da partida — e deles, não nosso. Porque nós, até onde consegui ver, só forjamos jogadas mas não soubemos concluí-las com o mínimo de precisão. Diante das dificuldades para fazer a bola chegar ao alvo, já começava a imaginar onde encontraria inspiração para esta Avalanche que teimo escrever mesmo quando o time não faz por merecer.

Salvo pelo gongo. Ops, salvo por uma pergunta. Se não me falha a memória foi o Marcelo, um dos estudantes. Ou teria sido o Heitor? Perdão, guris. Sei que fui provocado a falar da minha passagem pelo futebol, como repórter, apresentador e narrador de TV.

Isso moveu com minha memória afetiva e me fez lembrar que, há exatos 20 anos, eu havia realizado o maior sonho, ou um dos maiores, que um torcedor pode sonhar com seu time: narrei o título de campeão da Copa do Brasil, de 2001, do Grêmio. O tetracampeonato!

Trabalhava na RedeTV, que havia recebido da TV Globo o direito de transmitir as partidas da Copa do Brasil daquele ano. A convite de Juca Kfouri fui testar o que considerávamos ser um novo formato na narração esportiva da televisão — até então contaminada pelo modelo das transmissões de rádio. Era para ser uma locução mais pausada, focada em informar o nome dos jogadores e alguma outra circunstância que se desenvolvia em campo ou fora dele. Sem gritaria, sem animação de torcida e valorizando o silêncio, sempre que possível. Acreditávamos que a riqueza das imagens e do som ambiente seriam suficientes para acompanhar o telespectador. Acho que já falei com você, caro e  cada vez mais raro leitor deste blog, desta experiência.

Naquele ano, o Grêmio, sob o comando de Tite, fez uma campanha incrível na competição e se candidatou à final contra o Corinthians,  de Vanderlei Luxemburgo, considerado pela crônica esportiva o favorito. No primeiro jogo, os paulistas saíram com dois gols de vantagem, em pleno estádio Olímpico. Mas o Grêmio encontrou forças para empatar e chegar vivo à decisão em São Paulo.

Fui privilegiado e escalado a transmitir a final, tendo Juca Kfouri, Jorge Kajuru e Oswaldo de Oliveira ao meu lado como comentaristas. As cabines de transmissão, no Morumbi, sacudiam com a animação do torcedor corintiano que tomou conta de praticamente todo o estádio. Apenas uma pequena parcela das arquibancadas foi reservada aos gremistas. 

Antes de os jogadores subirem as escadas que davam acesso ao gramado, Tite reuniu o elenco e fez apenas um pedido: “vão lá e divirtam-se!”. Algo sobrenatural deve ter acontecido, porque mesmo estando distante deles, foi como se eu tivesse recebido aquela mesma mensagem e decidido que me divertiria com o microfone em mãos. Vencemos por 3 a 1 e, por mais que o profissionalismo exigisse equilíbrio, vibrei a cada gol do meu Grêmio, revivendo os tempos em que narrava futebol entorno da mesa de botão quando meu time sempre vencia. 

Lembrar daquela tarde de domingo, no Morumbi, e assistir às imagens dos gols que marcamos foi estimulante nesta noite e uma ótima desculpa para eu não perder tempo com o mal e desorganizado futebol que estamos jogando.