Local em que homem fez explosão no DF Foto: EVARISTO SA / AFP CBN
Toda vez que ocupamos o espaço público dedicado à política, precisamos agir com respeito e responsabilidade. No instante em que priorizamos ataques em detrimento dos argumentos e trocamos a ideia de convencer pela de vencer, corremos o sério risco de adubar solos propícios à violência. Existem pessoas transtornadas, marcadas pelo desequilíbrio, que recebem essas mensagens e, a partir delas, consideram a possibilidade de ações insanas – algumas expressas em redes sociais, outras na vida real, em atos que ameaçam a integridade física e a segurança de todos nós e da sociedade como um todo.
O filósofo e educador brasileiro Paulo Freire, ao discutir a importância do diálogo na construção de uma sociedade mais justa e equitativa, afirmou que “o diálogo é um encontro amoroso dos homens, que, mediatizados pelo mundo, o transformam e, transformando-o, humanizam-no para a humanização de todos.” Nesse sentido, o respeito e a responsabilidade que devemos manter na esfera pública estão enraizados em uma comunicação que visa o entendimento, e não a divisão.
Ao usarmos o espaço público para atacar, humilhar ou propagar discursos de ódio, deixamos de lado o diálogo que constrói pontes e humaniza a convivência. Isso não significa abdicar de pontos de vista divergentes, mas sim promover uma cultura de argumentos que priorize a escuta, o respeito e a ética. Somente assim podemos construir uma sociedade mais segura e menos propensa à violência, onde o espaço público seja, verdadeiramente, um ambiente de troca e construção coletiva.
Por isso, ao comunicarmos nossas ideias e posicionamentos, especialmente na política, é fundamental lembrarmos que, como nos alertava Hannah Arendt, “o poder corresponde à capacidade humana de agir em concerto.” Se esse poder se corrompe pela violência ou pelo desejo de vencer a qualquer custo, perde-se a essência democrática da política, que é, por natureza, o espaço do diálogo e da ação conjunta.
Bastidores da gravação com Luiz Calina, em foto de Priscila Gubiotti
“O preconceito é quebrado através do encontro da experiência do diálogo. Então, o diálogo acaba sendo uma das partes mais importantes do assunto”
Luiz Calina
“Contrato e depois não posso demitir?”. Eis aí uma preocupação se não legítima, bastante comum entre empregadores desafiados a contratarem pessoas com deficiência. A pergunta é apenas um dos muitos mitos que tornam a presença de cegos — e não apenas cegos — bastante limitada em ambiente de trabalho. Para começar bem essa conversa, então, vamos logo a resposta que Luiz Calina, entrevistado do Mundo Corporativo, me deu:
“Você contratando a pessoa certa para o lugar certo, ela tem que ter performance. Ah, e se não tiver, como é que eu vou fazer para demitir? Como você demite qualquer um. Suporte que a pessoa não tá performando, não tá entregando o resultado, e troque por outra pessoa, talvez outra pessoa com deficiência, mas que tenha interesse em trabalhar”
Tirada essa “barreira” da frente desse seu caminho de descrença, vamos às demais informações: Luiz Calina é sócio diretor da Calina Projetos. Ela comanda a produtora que está à frente do projeto “Diálogo no escuro” que tem se destacado como uma iniciativa pioneira que visa promover a inclusão dessas pessoas com deficiência visual no mercado de trabalho. Esse tem sido um tema cada vez mais relevante e atual.
Criado na década de 80, na Alemanha, o projeto já percorreu mais de 170 cidades em 47 países, proporcionando uma experiência única aos participantes. No Brasil, chegou em 2015 e desde então tem se estabelecido como uma referência no combate ao preconceito e na promoção da diversidade.
O “Diálogo no escuro” consiste em uma exposição e um workshop, ambos realizados em ambientes totalmente escuros. Na exposição, os visitantes são guiados por pessoas com deficiência visual, simulando diferentes espaços urbanos. Através da audição e do tato, os participantes são desafiados a reconhecer e interagir com o ambiente. Já no workshop, os participantes realizam atividades no escuro, promovendo a reflexão e a superação de desafios.
O objetivo do projeto é proporcionar uma experiência imersiva que quebre preconceitos e estigmas em relação às pessoas cegas. Ao se depararem com a vulnerabilidade do escuro, os participantes são levados a repensar suas percepções e a desenvolver empatia em relação às pessoas com deficiência visual.
De acordo com Luiz Calina, os resultados do projeto têm sido positivos, com feedbacks que demonstram uma maior sensibilização e consciência por parte dos colaboradores das empresas envolvidas. A experiência no “Diálogo no escuro” proporciona descobertas surpreendentes e estimula a busca por recursos e soluções, mostrando o potencial das pessoas em enfrentar desafios.
Aos empregadores que se preocupam com o fato de ter um cego na sua equipe de trabalho e a necessidade de ter despender mais tempo do que o normal para que ele realize suas funções ou tenha de escalar um colega para ajudá-lo, Calina lembra a história que inspirou o projeto, lá na Alemanha, nos anos de 1980. O filósofo Andreas Heinecke recebeu a incumbência de orientar um estagiário cego que integraria sua equipe. Logo pensou que haveria a necessidade de colocar alguém em apoio para que o novo funcionário exercesse suas atividades. Surpreendeu-se ao descobrir que, apresentado ao espaço físico e explicadas suas funções, o colega tinha total autonomia.
“Eu estou aqui no estúdio da CBN. Não sei onde é o banheiro. Alguém vai ter que me mostrar a primeira vez e depois eu vou saber. A única diferença é que talvez a gente chegue ali na porta e alguém me aponte: “Ó, ali é o banheiro!”, e eu já vou saber. A pessoa cega você tem que levar e de preferência até você abre a porta do banheiro e fala “aqui está a cabine, tem a parte do mictório, tá bem em frente, a pia tá pra direita e o papel toalha tá à esquerda”. Se você fizer isso você vai ajudar bastante a ele, porque ele não não tem condição de ver. Só que isso é a primeira vez. Depois, tá tudo resolvido A única diferença é da primeira vez não indicar com a mão, é preciso levá-lo até o local. Depois, tá tudo resolvido”
Apesar dos avanços, ainda há muito desconhecimento e falta de educação sobre a realidade das pessoas com deficiência no mercado de trabalho. A lei de cotas estabelece a obrigatoriedade de empresas terem um percentual de colaboradores com deficiência, mas muitas vezes o cumprimento dessa lei é feito com pessoas com deficiências menores, que requerem poucas adaptações.
No entanto, empresas comprometidas com a diversidade e inclusão estão no caminho certo, promovendo a inclusão efetiva de pessoas com deficiência visual. Além de ser uma ação socialmente responsável, a inclusão traz benefícios para a empresa, como o reconhecimento da marca, o engajamento dos colaboradores e a ampliação do público consumidor.
“Então, se você tem um time bastante diverso para buscar novos produtos, você vai atender um número maior de possíveis consumidores, que eventualmente se você estiver em uma bolha; vamos dizer todo mundo igual ou na direção ou na área de marketing, talvez você não pense nesses outros consumidores que também vão fazer diferença no seu mercado consumidor”.
Portanto, a inclusão de pessoas com deficiência visual no mercado de trabalho é uma questão que vai além da obrigação legal, é uma oportunidade de promover a diversidade, quebrar preconceitos e construir um ambiente mais inclusivo e igualitário. O projeto “Diálogo no escuro” está com duas exposições, em São Paulo e Rio de Janeiro. Na capital paulista, está na Unibes Cultural, da Oscar Freire, 2.500, e no Rio, está no Museu Histórico Natural, na praça Marechal Âncora, no Centro.
Para conhecer mais sobre como funcionam as exposições e o workshop Diálogos no escuro”, assista à entrevista completa no Mundo Corporativo, que tem as participações de Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Priscila Gubiotti e Guilherme Muniz.
Comunicação é a ação de tornar comum uma ideia, um pensamento, uma impressão. É resultado da atuação conjunta de três grupos de recursos: verbal, não verbal e vocal ou, na simplificação que os peritos do tema me permitirão fazer, palavra, corpo e voz. É a partir da coerência com que esses três recursos se expressam que a nossa mensagem se fortalece e influencia positivamente o outro. Na vida pessoal e profissional podemos nos considerar bem-sucedidos na nossa comunicação quando conseguimos inspirar e motivar os outros a colaborarem conosco. Algo essencial diante do ambiente polarizado que vivemos e da consciência de que a violência começa sempre que as palavras falham.
Um consórcio de pesquisas de Harvard, em 2006, constatou que pessoas com problemas de comunicação praticam e sofrem mais violência. A conclusão foi fruto da observação do comportamento comunicacional de presos de alta periculosidade e de vítimas de violência. Observou-se que a porcentagem de problemas de comunicação nesses dois grupos era maior do que na população em geral. Quando nos comunicamos mal geramos mais mal-entendidos. O ato da comunicação pressupõe aproximação. Nos sentimos melhores, mais felizes, quando somos capazes de explicitar para o outro o que queremos, o que necessitamos e o que esperamos dele. Quando esse processo é prejudicado, corremos o risco de não ter o retorno desejado, o que aumenta o nível de infelicidade.
Portanto, a boa comunicação nos faz mais felizes e, também, é o antídoto à intolerância que contamina as relações na sociedade atual. Seu aprimoramento permite que nos aproximemos de grupos que não pensam e não agem como nós, chamados de “insuportáveis” pelo psicólogo Luis Meirelles (que infelizmente nos deixou muito cedo), a medida que facilita a identificação de pontos de convergência.
Essas são algumas das ideias que defendemos no livro “Escute, expresse e fale! Domine a comunicação e seja um líder poderoso” (Editora Rocco), escrito com a fonoaudióloga Leny Kyrillos, o doutor em gestão e especialista em comunicação não verbal, o português António Sacavém, e o especialista em escutatória, o franco-brasileiro Thomas Brieu.
A mal-entendida regra 7-38-55
Logo nos primeiros capítulos do livro, fazemos um alerta: cuidado para não ser levado por uma avaliação inconsistente e superficial, que distorce o clássico estudo do professor emérito de psicologia na Universidade da California, em Los Angeles, Albert Mehrabian. Em 1967, ao lado de colegas da UCLA, o professor Mehrabian identificou que quando o significado da palavra contradiz a atitude comunicada, a mensagem é julgada segundo a atitude. Ou seja, o não verbal prevalece sobre o verbal. Foi além no estudo e entendeu que se prestava atenção uma vez e meia mais à expressão facial do que ao tom da voz. No fim das contas, concluiu que as pessoas comunicavam apenas 7% das informações por meio das palavras, 38% pela voz e 55% pelo corpo.
Infelizmente a regra 7-38-55 passou a ser usada de forma distorcida, dando a entender que a palavra tinha pouca importância na comunicação. O próprio Mehrabian se esforçou em alertar que não era essa a intenção dele, mesmo porque estava ciente das condições em que havia realizado sua pesquisa e dizia que havia situações em que, certamente, a palavra se sobrepunha ao corpo e a voz, por exemplo quando se trata de dar instruções para alguém. Veja que curioso, um especialista em comunicação sendo mal entendido a partir da forma como se comunicou!
Tenha consciência do seu comportamento
Daí vem uma outra lição essencial: comunicação não é o que eu digo, é o que o outro entende. Entre o que eu digo e o outro entende — entre emissor e receptor — há uma série de fatores que interferem, tais como vocabulário, tom da voz, gestos, a roupa que uso, o preconceito que tenho e que o outro tem de mim. É isso mesmo, a minha comunicação muitas vezes depende do outro, da disposição que ele tem em receber a mensagem, da confiança que ele tem em mim, por isso esse é sempre um processo complexo.
Um dos erros mais comuns dos executivos ao se comunicar, em especial diante de seus colaboradores, é a falta da consciência de como esse processo da comunicação funciona. Prepotentes ou autossuficientes, acreditam que basta falar, e falar o que bem entendem. Aos outros, cabe entender o que foi dito. E “tenho dito!”.
Falhas deixam funcionários instatisfeitos
Para se ter ideia, após ouvir 1.300 analistas, coordenadores, gestores, supervisores, gerentes e diretores, a consultoria de recursos humanos DMRH encontrou um resultado incrível tanto quanto preocupante: 47,9% dos profissionais brasileiros estavam insatisfeitos com a qualidade da comunicação no trabalho. Metade das pessoas reclamou da falta de clareza dos executivos de sua empresa. Pior: 60% disseram não saber quais eram suas metas. Trabalham sem ter ciência de onde a empresa e seus líderes querem que eles cheguem! Podemos concluir que esses, infelizmente, não são liderados, apenas cumprem ordens.
Essas falhas de comunicação afetam no relacionamento, na produtividade e na saúde mental dos colaboradores. A revista britânica The Economist, a partir de pesquisa com 403 executivos americanos, descobriu que mais da metade deles (52%) entendem que barreiras da comunicação contribuíram para ao aumento do estresse. Instruções pouco claras dos superiores, reuniões inúteis e outras situações de descontrole, impactaram os negócios como atraso ou falha na conclusão de projetos (44%), no baixo moral da equipe (31%), nas metas de desempenho não alcançadas (25%) e nas vendas perdidas (18%) — algumas no valor de centenas de milhares de dólares.
Assim como erramos nas mais diversas línguas — nos casos que citei, em português e inglês —, percebe-se nos dois estudos, a despeito de terem focos e metodologias diferentes, que estamos evoluindo muito lentamente no tema da comunicação nas empresas. A primeira é de 2007 e a segunda de 2017. Atente-se: ambas, antes da pandemia, que, certamente, impactou ainda mais a forma de nos comunicarmos na empresa.
É preciso ter atenção com a voz
Se não temos consciência sobre o processo de comunicação e, por isso, erramos, também não nos atentamos a como nossa voz é produzida e como impacta os outros. E, portanto, muitas vezes incomodamos. Ou corremos o risco de incomodar. O tempo, a melodia, a pausa, o ritmo e o volume da nossa voz, entre outros fatores, influenciam as nossas relações e constróem a nossa imagem, ensina a Dra Leny Kyrillos. Por exemplo, quando direcionamos o trabalho de projeção da voz para a garganta, geramos uma sobrecarga, enrijecemos a musculatura dessa região do corpo, a laringe fica mais elevada e a voz agudizada. Não bastasse o risco de transmitirmos uma imagem infantil, ainda tendemos a elevar o pescoço e gerarmos uma expressão de prepotência. A turma na empresa diz que o chefe tem o “nariz em pé” e se afasta. Tudo se resolveria com um ajuste vocal.
Não somos bons ouvintes
Há um erro bastante comum entre os executivos que é a dificuldade em escutar o outro. Thomas Brieu, que se dedica a linguagem colaborativa, costuma dizer que se nascemos humanos, não somos bons ouvintes. Pode ser chocante, mas é verdade. Durante bilhões de anos, nossa escuta foi orientada apenas para a nossa sobrevivência, para discernir o que é risco e o que é oportunidade. A escuta de ideias complexas por meio da linguagem é algo muito recente para o nosso cérebro. Se não escutamos, não sabemos qual é a necessidade do outro, o interesse dele naquela conversa ou se ele está aberto para receber a nossa mensagem. Temos o triste hábito de ouvir para responder e não para aprender.
A aplicação de um programa educacional de escutatória em uma empresa de callcenter, aqui no Brasil, redesenhou o planejamento da conversa dos atendentes com os clientes. Deixou de ser sobre o que a empresa queria falar e passou a ser sobre o que a empresa queria ouvir do cliente. Ganhou-se qualidade e bem-estar entre os funcionários, porque as conversas ficaram menos estressantes, e ganhou-se tempo. Com o uso de perguntas abertas e provas de escuta, um dos principais indicadores de desempenho do setor, o TMA (Tempo Médio de Atendimento) diminuiu ou ficou igual.
Use a palavra certa
Como escutamos pouco, aprendemos pouco. E por pouco que aprendemos temos um vocabulário limitado que atrapalha a comunicação. Sem repertório torna-se mais difícil precisar o que pensamos e desejamos. Como liderar pessoas se temos dificuldade em expressar com as palavras para onde eles devem caminhar? Aumenta a possibilidade de usarmos as palavras de maneira imprópria, causando desentendimento, e nos impede de termos versatilidade no vocabulário, prejudicando a conversa com os diversos públicos com os quais interagimos. Jargões do setor em que atuo podem fazer sentido no diálogo com os meus liderados, que estão na mesma área, e serem completamente inúteis e desastrosos quando me relaciono com os meus clientes.
Líderes também erram
Falta de consciência sobre como funciona o processo de comunicação. Falta de atenção com o padrão vocal e como influencia o outro. Incapacidade de escutar o seu interlocutor, e vocabulário restrito. Essas são falhas comuns entre executivos. Porque executivos, líderes e gestores também erram! Como erramos todos. E aqui vai um erro final e fatal: os líderes têm medo de errar e de admitir seus erros. Com isso mantém distância dos liderados e não oferecem espaço para que eles ajudem, sugiram mudanças e façam correção de rota em projetos. Prejudicam assim a comunicação. Por isso, António Sacavém, que ensina inteligência não verbal e emocional a executivos, defende a presença de líderes nas empresas que se permitam algum grau de vulnerabilidade. Líderes que não queiram ser vistos como robôs ou como exemplos de perfeição, mas como seres humanos, que têm pontos fortes, que o levaram até aquela função, e fracos, que exigem a colaboração da equipe.
Lançamento do livro
Você é convidado a participar do bate-papo e sessão de autógrafos, com a presença dos quatro autores do livro “Escute, expresse e fale!”(Editora Rocco), que se realizará nesta quinta-feira, dia 9 de fevereiro, às 19h, na Livraria da Travessa, do Shopping Iguatemi, de São Paulo. O livro já está à venda nas principais livrarias e nas plataformas eletrônicas, no formato impresso e digital.
“O escutar na prática é muito mais do que não falar; escutar não é apenas esperar o outro terminar; escutar é fazer algo com as palavras do outro” — Thomas Brieu, DO IT Brasil
Em um mundo em que todos querem falar, quem souber escutar levará vantagem. Ao pensar o processo de comunicação do ponto de vista de quem escreve e não o de quem fala, você cria novas possibilidades na comunicação com benefícios na vida profissional e pessoal. Como desenvolver a prática da escutatória foi o tema da entrevista com o franco-brasileiro Thomas Brieu, diretor da DO IT Brasil, ao programa Mundo Corporativo, da CBN.
“Precisamos reaprender a falar para ser escutado, ou seja, mergulhar na comunicação pelo prisma da escuta, mudando o prisma tradicional da fala”
A construção de um diálogo eficiente ganha ainda mais importância diante do declínio da empatia, provocado pelo excesso de informação; e se expressa de forma dramática quando enfrentamos crises como a atual, resultante da pandemia.
“Esse mal estar psicológico está aumentando, porque não consigo verbalizar o que mais sinto; com isso vem o sofrimento e até a violência. Por um lado, a falta de uma escuta interna, me impede de verbalizar o que está dentro de mim; por outro, têm as pessoas que não se sentem escutadas —- são as minorias que não têm voz. E a tendência é de se reagir com violência”.
De acordo com Thomas Brieu, a primeira vez que ele deparou com a palavra “escutatória” foi através do escritor Rubem Alves que, há cerca de 25 anos, reclamou que enquanto todos queriam fazer curso de oratória, era preciso um curso de escutatória. Foi quando, ele percebeu que o trabalho que já realizava em treinamentos em empresas e com profissionais tinha esse objetivo, fazer com que as pessoas aprendessem a escutar mais o outro para se comunicar melhor.
“A diferença entra a escuta ativa e a escutatória, é que a escutatória vai além de escutar mais e melhor; é fazer com que o outro se sinta escutado e eu preciso dar provas disso, de que escutei o outro”
Toda vez que se diz ao outro o que as palavras dele fizeram em nós, estamos dando provas de escuta. Mais do que ficar de boca calada, é silenciar a voz interna que está o tempo todo falando conosco enquanto o outro transmite sua mensagem, explica Thomas Brieu.
“Cada vez mais, nós vamos ter poucas pessoas falando, embora agora todo mundo possa falar nas redes sociais. É um paradoxo, porque agora todo mundo pode ter o seu canal, pode ter o seu blog, mas ter uma prova de escuta genuína é cada vez mais difícil”.
Existem três tendências que prejudicam a comunicação interpessoal: a necessidade de sempre ter razão; de se diminuir diante do outro ou de pensar pelo outro. Essas tendências se revelam por palavras e gestos, que são identificados pela cor vermelha, dentro da metodologia desenvolvida por Thomas Brieu. A estratégia é mudar esses padrões e passar a emitir mensagens que ele caracteriza de sinais verdes.
Um exemplo típico de como a mudança do vocabulário pode tornar o diálogo mais produtivo, é evitar as conjunções adversativas —- tais como mas, porém e entretanto —- e substituí-las por conjunções aditivas — ao mesmo tempo, por outro lado e bem como.
Prefira, também, fazer perguntas abertas que permitam que você investigue melhor o que o outro tem em mente. Como temos a tendência de pensar pelo outro, costumamos fazer perguntas fechadas e desperdiçamos a oportunidade de buscar a solução que está na cabeça do nosso interlocutor.
“Em vez de tentar a nossa visão do mundo, só mudando alguns padrões de linguagem, eu consigo passar desse paradigma da competição e da escassez para esse paradigma da abundância e da cooperação”
Para entender mais sobre a técnica da escutatória, assista ao vídeo completo do Mundo Corporativo, que está aqui no blog, e inclua o programa entre os seus podcasts favoritos. Colaboraram com este Mundo Corporativo: Juliana Prado, Guilherme Dogo, Rafael Furugen e Débora Gonçalves.
Havia um tempo que este barulho não soava de forma tão agradável. Ambos trabalham e, em tempos normais, um deles só volta no início da noite e o outro sequer vem para a casa — para a nossa casa, porque ele já tem lugar próprio. Com o confinamento autoimposto, dispostos que estamos em ajudar a conter o avanço do Sars-Cov-2, voltamos a ocupar o mesmo espaço há cerca de três semanas. Agora, um do lado do outro, todo o dia e todos trabalhando à distância. Temos dividido muito bem a mesa que reúne nossos computadores, que se transformou em estação de trabalho —- retomando uma prática que iniciamos quando só eu e a mãe trabalhávamos e eles brincavam diante da tela.
À noite, fora do expediente, eles compartilham jogos, textos e vídeos. E se divertem do seu jeito. Como deito mais cedo, por madrugar todos os dias da semana, é da cama que me delicio com as gargalhadas que dão, os comentários divertidos que fazem e os diálogos às vezes sem nexo que acompanho, pois tratam de realidades que entendo pouco — entendo o mínimo para saber que fazem parte do mundo deles.
Saber que eles estão por aqui me dá um certa segurança, mesmo que estejamos todos inseguros com a ameaça à saúde. E que já sejam bem grandinhos para cuidarem deles próprios.
Já não são mais crianças, apesar de ainda olharmos para eles com olhos de pai e de mãe, que precisam estar atentos para o que acontece com cada um, o que passa na cabeça e no coração e quais as angústias e ansiedades que atravancam o caminho nesta hora. Fazemos um isolamento conscientes de nossa missão neste momento, o que não nos impede de vivermos com incertezas e preocupações.
Neste instante em que os pais estão convivendo muito mais com seus filhos, em situações nem sempre confortáveis, é preciso estarmos atentos aos nossos e aos movimentos deles — especialmente se forem crianças pequenas. Até porque comunicamos não apenas com palavras, mas com gestos e comportamentos; com o nosso estresse e ansiedade.
A ausência dos avós que em muitos casos são os que auxiliam nos cuidados das crianças, quando pais e mães trabalham ou estudam, é facilmente percebida por elas. O afastamento de outras pessoas que costumam frequentar a casa, também. Situações que podem deixá-las inquietas e incomodadas; sentimentos que se expressam pela ansiedade ou por comportamentos desafiadores em relação aos pais.
O trabalho dos psiquiatras da Universidade de Oxford Louise Dalton, Elizabeth Rapa e Alan Stein propõe que se realize uma comunicação eficaz sobre a pandemia dentro de casa. Os pesquisadores nos lembram que as crianças estão expostas a grande quantidade de mensagens enquanto enfrentam mudanças em sua rotina diária e infraestrutura social — assim como os pais. Isso não significa que devemos sonegar-lhes mais informações sobre o assunto, pois “quando essa informação está ausente, as crianças tentam entender a situação por conta própria”. Ou seja, se você não falar, elas ficarão sabendo assim mesmo e a partir de mensagens sobre as quais você não tem qualquer domínio.
Quando a criança tem idade entre 4 e 7 anos, o entendimento é influenciado pelo que os estudiosos chamam de pensamento mágico, uma fase em que começa a ter senso de consciência mas ainda com uma compreensão limitada do mal que nos ataca neste momento. É quando ela começa a desenvolver crenças de que os pensamentos, desejos ou ações não relacionados podem causar eventos externos — e esse fenômeno pode levá-la a se culpar pela doença ou entender que está sendo punida por mau comportamento que tenha tido em algum momento.
Por menores que sejam, nossas crianças perceberão que algo diferente está ocorrendo no entorno delas. Deve-se aproveitar o momento, por exemplo, para transmitir orientações básicas de higiene que vão se transformar em hábitos para a vida: lavar a mão com frequência, evitar colocar a mão no rosto, e tossir ou espirrar com a proteção do braço.
A comunicação eficaz proposta pelos psiquiatras passa por ser honesto nas explicações sobre a COVID-19 e os motivos que nos levam a estarmos confinados e mantendo distância de outras pessoas; pelo uso de uma linguagem adaptada a idade e ao nível de compreensão da criança; uma vigilância maior para perceber se a criança não está se culpando inadequadamente pelos acontecimentos; e uma escuta atenta para se ouvir aquilo que ela não diz, mas a atormenta.
“A comunicação sensível e eficaz sobre doenças com risco de vida traz grandes benefícios para as crianças e o bem-estar psicológico de longo prazo de suas famílias”, escrevem os psiquiatras.
Com a construção de um diálogo em família — que se fará mais fácil agora, em plena crise, a medida que já tenha sido exercitado anteriormente —- enfrentaremos melhor os males e as mortes que ocorrem devido ao novo coronavírus. E fará com que nossos filhos sejam parceiros importantes para compartilharmos as dificuldades de agora, nos consolarmos mutuamente e sairmos mais fortes da experiência que estamos vivenciando em casa.
Os meninos — que já não são tão meninos — estão rindo lá na sala. Isso me fortalece.
“O CEO ou o líder de uma área específica que dominar a arte de trazer as relações e o propósito balanceados dentro dessa equipe é o líder que vai fazer com que haja mais engajamento e a CNV é um caminho para isso” —- Liliane Sant’Anna
A Comunicação Não Violenta é o caminho pelo qual é possível tornar as relações de trabalho e pessoais mais honestas, transparentes e produtivas. O conceito desenvolvido pelo psicólogo Marshall Bertram Rosenberg tem ajudado empresas a engajar seus colaboradores e a direcionar a energia dos profissionais para atividades mais saudáveis e colaborativas. Em entrevista ao jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, da CBN, Liliane Sant’Anna falou da importância de se investir nessa estratégia:
“A CNV no mundo do trabalho faz com que a gente traga empatia, honestidade, de maneira autêntica para que a gente consiga perceber quais são os propósitos individuais de cada um, como alinhar esses propósitos e como trazer estratégias para que a gente vá para a mesma direção”
Sant’Anna diz que a Comunicação Não Violenta, ao contrário do que se imagina, não foi desenvolvida para eliminar conflitos, mas para identificá-los e buscar uma solução a partir das diferenças que existem no relacionamento com o outro. Para ela, isso é um mito que precisa ser superado, pois quando se traz o conflito à luz, a relação se torna mas autêntica:
“O que acontece quando a gente evita conflito é que a gente deixa a nossa autenticidade, a gente vai cedendo e vai deixando algumas necessidades nossas de escanteio. E isso vai fazendo com que a gente fique ressentido e no final das contas a relação não se sustenta”
Sem medo, vergonha ou culpa, aumenta a confiança e a possibilidade de a equipe de trabalho identificar e alertar para erros que possam estar sendo cometidos por líderes ou colegas. Sant’Anna explica que existem quatro elementos que compõem a ideia central da Comunicação Não Violenta: observação, sensação, necessidades e pedidos:
“Se estou com essa auto-observação e voltada a entender e diferenciar o que é minha avaliação e o que são as necessidades da realidade, aí sim eu tenho como conversar sobre os meus pedidos e não necessariamente as minhas exigências”.
O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas, no Twitter (@CBNoficial) e na página da CBN no Facebook. O programa vai ao ar aos sábados, às 8h10, no Jornal da CBN, e domingo, às 10 da noite, em horário alternativo. Colaboraram com o Mundo Corporativo: Gabriela Varella, Rafael Furugen, Bianca Kirklewski e Priscila Gubiotti.
Em tempos de obediência a ousadia já marcava território
Eu ainda era aquela pequena de cabelos loirinhos, sempre enfeitados com um laço enorme, sorriso doce e roupinha impecável. Naquele tempo os caprichos de minha mãe impunham o cuidado de não sujar a roupa nem se descabelar nas brincadeiras. Menos ainda crescer e tomar conta do meu próprio nariz…
Arrebitado por sinal, qualificado por meu pai – sempre brincalhão – como “nariz de cheirar pum”… Pode parecer grosseiro, mas era assim que ele me provocava, orgulhoso, lá no fundo, por ter uma filha tão comportada quanto espevitada aos olhos do mundo. Obediente, mas não menos argumentativa. Comportada? Sei lá!
Sentada no portão da rua, com autorização expressa e a supervisão global de minha mãe, eu respeitava o limite da liberdade concedida. “Mãe, posso ir até o portão??” e a resposta se repetia: “Pode, mas não saia de lá”… E ficava eu apreciando a vida, sem amarrotar um nada do vestido bem cuidado para a admiração da vizinhança.
Com os valores já fincados pela autoridade familiar, eu conhecia os limites e sabia que não deveria “responder” aos adultos de forma malcriada e não poderia me comportar com falta de educação. O preço poderia ser um big de um castigo, com direito a sermão e a ficar por algum tempo sem apreciar o vai e vem da vida na calçada.
Com passos firmes e elegantes as mães das crianças eventualmente passavam em revista a molecada e recolhiam os pirralhos para o almoço ou os deveres de casa.
Mas como manter o padrão “menina comportada” diante, por exemplo, daquela senhora corpulenta, corada e sorridente, de origem alemã, como bem os traços denunciavam? Com roupas em geral escuras e a gargalhada pronta, ela passava em frente ao portão e invariavelmente me provocava: “- Bom dia menininha!!” Como vai??? Era este o mote para eu me enfurecer!!
Com a indignação espirrando por todos os poros e o coração em pânico, acelerado pelo medo das conseqüências caso o fato chegasse aos ouvidos da família, eu respondia trêmula, mas cheia de coragem: “Eu não sou menininha!! Meu nome é Ivani”…
Essa senhora, Dona Francisca, mãe de um filho único já adulto, passava sempre e me desafiava. Divertia-se, certamente, com a graça e o atrevimento de uma pessoinha tão miúda quanto brava. Não desconfio o porquê da tolerância, mas nunca fui chamada à atenção por esse “deslize” apesar de tê-lo cometido tantas vezes. Talvez pela corajosa e inesperada atitude.
Penso que apesar de tão criança, meu senso de justiça já gritava bem alto e me cobrava a ousadia de contestar um adulto, e daquele tamanho!!! Afinal eu me achava no direito de usar ao menos as palavras em minha própria defesa…
Por essas e outras acabei ganhando o apelido que repercutiu em toda a minha vida, e que é lembrado em meio a muitas risadas: “Língua de trapo”. Mas aí já é outra história, para outra ocasião…
Ivani Dantas é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. A narração de Mílton Jung. Conte você também a sua história, envie seu texto para milton@cbn.com.br
A rádio CBN lança nesta semana o filme “Condenações” que faz parte de sua campanha em favor do diálogo. Leva para o vídeo a forma como muitos de nós agimos hoje em sociedade diante de temas polêmicos como aborto, drogas e políticas de cotas. A intenção é provocar a reflexão sobre a necessidade de entendermos os que pensam diferente de nós e mostrar que é preciso aprender a discordar.
Saber discordar para não condenar quem pensa diferente. A rádio CBN traz vários pontos de vista, sempre a favor do diálogo. #CBNplural #PeloDiálogo #SaberOuvir
“É um manifesto a favor da compreensão, do diálogo e da boa vontade em entender o outro” disse Ricardo Gandour, diretor de jornalismo da CBN, em conversa que tivemos na manhã desta quarta-feira, quando o vídeo foi apresentado aos jornalistas da emissora. O filme criado e produzido pela agência EnergyBBDO é a peça central da campanha, que terá também versões em áudio e impressa. E estará na tela do cinema, em breve.
Quando assisti ao filme, lembrei-me de estudo que tenho usado com frequência nas palestras que realizo e está publicado no livro Comunicar para liderar, que escrevi ao lado da fonoaudióloga Leny Kyrillos. É uma proposta do psicólogo Luis Ernesto Meireles, que morreu precocemente, mas viveu o suficiente para nos ajudar a refletir sobre a intolerância:
“Grande parte dos mal entendidos surge a partir da forma como vemos os outros. O psicólogo Luís Ernesto Meireles faz referência a um esquema que explica muitas das dificuldades que vivemos: aqueles que pensam ou agem de modo semelhante ao nosso, são considerados por nós como “normais”; aqueles que pensam ou agem de modo diferente do nosso são tachados de “estranhos”; finalmente os que pensam e agem de modo diferente de nós … Ah! A esses damos o nome de “insuportáveis”! Na prática, então, para julgarmos o outro, partimos sempre da nossa verdade, que traduz apenas um ponto de vista, o nosso – já falamos disto, não falamos? Lógico que isso gera incompreensão, até pelo afastamento que impõe. Ao exercitarmos o conceito de que o outro apenas pensa diferente e para ele é o certo, faz com que vejamos as diferenças de modo mais brando e possamos mudar o nosso comportamento para entendermos e nos aproximarmos. Aprendemos assim a sermos mais tolerantes. Vê como a comunicação pode nos tornar pessoas melhores?” — trecho de “Comunicar para liderar”
O exercício que Meireles propõe é que façamos esse esforço de entender porque o outro age e pensa diferentemente de nós e talvez, assim, consigamos encontrar pontos em comum que nos aproxime, que nos faça aceitar um ao outro. A campanha “Condenações” é um compromisso da CBN de seguir plural, ouvindo os diferentes lados, em defesa do diálogo — um diálogo necessário se realmente nós queremos viver em um Brasil mais justo e generoso. Eu quero!
“Eu trato a persuasão como sinceridade, honestidade e transparência. Então, não tem a ver com manipulação e influencia de pessoas. É o oposto disto. É a comunicação no sentido aberto. Quando você conquista a confiança das pessoas, você se transforma em uma pessoa muito persuasiva”. A afirmação é de Álvaro Fernando, que após dedicar parte de sua carreira a produção de trilhas sonoras passou a trabalhar com o tema da comunicação interpessoal. Ele foi entrevistado pelo jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, quando falou sobre o livro “Comunicação e persuasão – o poder do diálogo (DVS editora).
O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, às 11 da manhã, no site e na página da CBN no Facebook. O programa é reproduzido aos sábados, no Jornal da CBN, ou aos domingos, 11 da noite, em horário alternativo. Colaboraram com o Mundo Corporativo Juliana Causin, Rafael Furugen e Débora Gonçalves.
Há um incômodo evidente com o que se lê nas redes sociais e demais espaços digitais, públicos e disponíveis para a expressão de ideias, pois a profusão desses ambientes deu dimensão demasiada àquelas conversas que se limitavam ao círculo de amigos e ao almoço de domingo com seus parentes — incluindo o tio com soluções para o mundo, o primo capaz de dizer uma asneira a cada afirmativa e o cunhado estraga-prazer que traz nos comentários suas frustrações.
A facilidade com que se propaga uma opinião e o “esconderijo” que o cenário virtual se transformou, nem tanto pela dificuldade para se encontrar o autor do ataque, muito mais pela covardia em dizer diante do outro o que se pensa, empoderou essa gente esquisita.
Sou otimista ao acreditar que estamos apenas vivendo uma evolução natural do ser digital e dentro de alguns anos, talvez décadas, saibamos nos comportar melhor — e isso inclui pensar com equilíbrio, bom senso e, especialmente, respeito.
Toda boa sugestão, portanto, é bem-vinda, e, por isso, recupero aqui alguns princípios que foram publicados pelo filósofo Paul Grice, no artigo “Logic and Conversation”, lá por meados dos anos de 1970, ou seja, muito antes de assistirmos a este diálogo sem propósito e sem noção, que tanto nos incomoda (ao menos a mim incomoda) nas redes sociais.
Naquela época, Grice já nos apresentava a necessidade de incentivarmos uma linguagem sem confronto, a partir de quatro máximas conversacionais que podem tornar esta “luta livre” travada no ambiente virtual em um embate saudável e colaborativo:
Quantidade: faça sua contribuição tão informativa quanto necessária; o autor, em seu texto original, é redundante ao incluir a ideia de que não se deve fazer contribuição mais informativa do que o pedido, pois se não vê aqui uma transgressão aos princípios cooperativos, identifica como sendo uma perda de tempo.
Qualidade: tente fazer uma contribuição verdadeira; esta supermáxima, como define o próprio autor, vem seguido de duas outras mais específicas: não diga o que você acredita ser falso e não diga nada sobre o que você não tenha provas suficientes.
Relação: seja relevante, sugere de forma concisa; faz questão, porém, em nome da clareza, de revelar a intenção que pode ficar escondida nesta máxima, pois sua proposta é que a contribuição seja pertinente ao tema em discussão.
Modo: seja claro, uma supermáxima que está relacionada não ao que é dito mas na forma como é dito, e aparece reforçada por evite expressões obscuras e a ambiguidade, seja breve (evite a prolixidade) e ordeiro.
Perceba que em nenhum momento há a intenção de cercear a opinião contrária, mas, sim, de torná-la produtiva para o diálogo.
Nas redes sociais, aplique as máximas de Grice e ganharemos todos; nos almoços de domingo, já que a visita é inevitável, peça para trazer um bom vinho na próxima vez.