Avalanche Tricolor: Mais dois trófeus

 

Grêmio 4 x 0 Ypiranga
Gaúcho – Olímpico Monumental

 

 

Foi uma semana de muitas emoções para este coração tricolor e, curiosamente, estas foram provocadas mais pelo que ocorreu fora do que dentro de campo. Não que os resultados destes últimos dias tenha desagradado. Bem pelo contrário. Foram duas vitórias importantes, sete gols marcados e nenhum tomado que nos deixaram um passo mais próximos de nossas conquistas. Seja na Copa do Brasil seja no Campeonato Gaúcho, faltam apenas três adversários para serem batidos até o título final. Uma sequência incrível de decisões em mata-mata que promete testar nossos nervosos e capacidade até somarmos mais dois troféus para nossa galeria. E pelo jogo de hoje, quando os jogadores de trás se sobressaíram, aparecendo de forma positiva no ataque, é para acreditar na nossa força, sem esconder as carências que ainda são evidentes. Mas não estou aqui para falar sobre estas, aproveitando apenas a frase para deixar meu desejo de que sejam resolvidas no vestiário e nos treinos da semana.

 

Quero mesmo é dedicar esta Avalanche à alegria que senti ao receber um presente e tanto. Dois troféus – como fiz questão de apresentar a todos os amigos. Alguns estavam perto de mim e logo perceberam meu sorriso quando fui agraciado com a caixa contendo duas camisetas comemorativas do Grêmio que marcam os 58 anos de trajetória no Olímpico Monumental, este estádio do qual estaremos nos despedindo no fim do ano e no qual vivi alguns dos momentos mais intensos da minha vida de torcedor, jogador, filho e cidadão. Um dia ainda terei tempo para descrever o quanto amadureci respirando o ar tomado pelo cheiro de cimento das arquibancadas do Olímpico, de terra dos seus campos suplementares e de umidade no seu ginásio de basquete. Hoje quero dividir com você a satisfação de vestir a atual camisa tricolor, desenhada pela Topper a partir do modelo usado por Tesourinha, Airton Pavilhão e equipe na inauguração do Olímpico, oportunidade em que vencemos o Nacional do Uruguai com dois gols do atacante Vitor. Aliás, a outra camisa que ganhei é a réplica daquela que ainda tinha no peito o escudo gremista com a palavra Foot-Ball em destaque, que não deixava dúvida da nossa missão: jogar futebol de verdade (a propósito, foi o que fizemos na tarde deste domingo, não é mesmo?)

 

As duas camisetas já têm lugar reservado no Memorial do Imortal, espaço que mantenho em minha casa com ítens que se transformam em pedaços da história gremista.

Avalanche Tricolor: Miralles, o ressurgimento

 

Grêmio 3 x 1 Caxias
Gaúcho – Olímpico Monumental

 

 

O futebol está sempre disposto a nos proporcionar momentos fantásticos, pronto para ser palco de cenas memoráveis e histórias contadas por personagens incríveis. Nós, gremistas, sabemos bem o que isto significa, pois desde os primeiros momentos de nossas vidas fomos marcados por fatos sensacionais e aprendemos a ouvir os feitos de gente como Lara, o goleiro imortal, ou Aírton, zagueiro que teve seu nome estampado nas camisas tricolores na tarde deste domingo. Houve times inesquecíveis, seja pelos talentos reunidos seja pelas vitórias impossíveis. E como tivemos. Portanto, não me surpreenderia se estivéssemos diante de mais um destes fenômenos, talvez não da mesma dimensão, mas com detalhes que valham alguns parágrafos bem escritos mais adiante (não por mim, mas por alguém com talento para tal, lógico). Refiro-me ao ressurgimento de Miralles, provocado pelo desmonte físico que nosso ataque vem sofrendo nas últimas semanas. O argentino que, pela fama que leva, fez muito pouco até aqui, andava desmotivado, sem destino, procurando o eixo, um caminho para recontar sua passagem no Grêmio, onde constantemente tem seu nome gritado pelos torcedores que cultivam uma paixão inexplicável pelo atacante. Em menos de uma semana, foi resgatado do ostracismo e levado ao time titular. Em campo foi veloz para chegar na área, dar um corte nos zagueiros que apareceram no seu caminho e chutar de maneira a desviar a bola do goleiro. Foi festejado por todos da equipe, apertou a mão do técnico como agradecendo pela oportunidade oferecida, fez o sinal da cruz, e o nome voltou a ecoar nas arquibancadas do Olímpico Monumental.

 

Um gol na boa vitória deste domingo pode ser pouco para quem pretende reescrever sua história no Grêmio. Teremos que esperar os próximos atos para saber se este enredo será eternizado por Miralles, mas, sem dúvida, foi uma ótima retomada. Principalmente, porque o fez ao lado de André Lima, jogador que passou por situação semelhante e também marcou na partida de hoje. Imagine que, se isto der certo e chegarmos ao título, poderemos falar com orgulho aos nossos filhos (e para a inveja dos nossos adversários) que um dia buscamos mais uma grande conquista com um ataque formado por jogadores que aprenderam, por linhas tortas, o poder da imortalidade.

Avalanche Tricolor: Na física e no esporte tem de ter esforço e inteligência

 

Pelotas 1 x 0 Grêmio
Gaúcho – Pelotas (RS)

 

 

Fui um aluno mediano, pouco disposto a afundar os olhos nos cadernos escolares e lamento não ter aproveitado melhor o que os professores teimavam em me ensinar na sala de aula, na época do Rosário, escola católica, muito bem estruturada e na qual passei ótimos momentos da minha adolescência, boa parte deles nas quadras de esporte e na praça ao lado, onde os amigos se encontravam sobre as coisas que mais interessavam na nossa vida – futebol, basquete, baladas e namoradas, não necessariamente nesta ordem. Apesar de tudo e devido a tudo, tenho boas lembranças daquela época e tenho certeza de que alguns professores, também. Era melhor nas matérias de humanas do que de exatas (o que já sinalizava um caminho para a comunicação), por isso foi um enorme desafio sentar a mesa com meu filho mais velho, o Gregório, que pediu ajuda para a prova de física, neste domingo à tarde. Tive dificuldade para entender algumas fórmulas, mesmo prestando atenção no enunciado dos exercícios. Mas conversamos bastante, conferimos com os resultados oficiais e, após algum esforço, ouvi dele que estava pronto – disse, na verdade, “quase pronto”, pois sempre foi muito exigente com seu desempenho e talvez tenha sido isso que o levou a receber honra ao mérito em todos os anos até aqui. Isto e, lógico, sua capacidade intelectual.

 

Ao terminar os estudos, liguei a televisão e a partida já havia se iniciado. Logo percebi que à tarde não seria das melhores, pois antes de nossos méritos aparecerem, o adversário tinha se aproveitado de nossas carências. Houve algumas tentativas, muita bola jogada para dentro da área e uma quantidade enorme de escanteios, a maioria concluída com um cabeceio sem sentido. Estava evidente que a fórmula usada para chegar ao gol não era a correta, haja vista os poucos momentos em que, realmente, as chances de empate foram claras. No fim da partida ainda ouvi Léo Gago reclamar da falta de esforço do time e estaria totalmente certo se completasse a fala chamando atenção para a ausência de criatividade. Para que se tenha a melhor avaliação possível e o resultado seja alcançado é preciso equilibrar raça e inteligência, suor e talento, esforço e criatividade. O bom de toda esta história é que o desempenho final não depende de apenas uma prova, mas do conjunto da obra. Espero que o Professor tenha habilidade para cuidar disso.

Avalanche Tricolor: Os guris são gremistas, assim como Fernando

 

Cruzeiro 1 x 2 Grêmio
Gaúcho – Novo Hamburgo (RS)


 

Falei nesta Avalanche muitas vezes sobre o desafio de criar em seus filhos a mesma paixão que você tem pelo time de coração, principalmente quando eles nascem tão distante. Aqui em São Paulo, todo o corintiano torce para que não coloque no mundo um palmeirense, enquanto são-paulinos perdem os cabelos em pensar que o menino pode se transformar em corintiano – e vice-versa. De onde vim, o risco é ainda maior, imagine o garoto ou a garota ser um vira casaca, terá seu nome riscado da partilha. Apesar de não cultivarem a mesma admiração que tenho pelo futebol – descobriram coisas mais interessantes para se divertir – e serem paulistanos de certidão, não tenho dúvida de que meus guris são gremistas (e não só pelo fato deles terem boas notas na escola), desde que choraram abraçados comigo nos minutos finais da Batalha dos Aflitos, em 2005. De qualquer forma, é sempre bom receber alguns sinais como neste domingo em que, por compromissos pessoais e companhias legais, fiquei sem condições de assistir a parte do jogo contra o Cruzeiro. No momento em que compartilhava um paella com amigos, o Grêmio entrava em campo para mais um compromisso pelo Campeonato Gaúcho, e seria muito antipático consultar o resultado da partida a todo momento na tela do celular – gosto muito pouco dessas pessoas que são incapazes de conversar com você sem estar com um olho no telefone, parece que dali virá coisa mais importante que a sua companhia.

 

Com o sabor catalão ainda nos lábios e a garganta regada por um vinho maravilhoso deixei o apartamento dos amigos quando a partida ainda estava no primeiro tempo, e como sempre faço liguei para casa para saber como estavam os meninos, se precisavam de alguma coisa e avisar que deveria chegar em meia hora ou um pouco mais. Foi quando tive a surpresa de saber que o mais moço, Lorenzo, craque do League of Legends e fanático por Call of Duty: Moder Warfare III – jogos eletrônicos que rodam no computador e no XBox, respectivamente – estava de olho no PPV assistindo à partida do Grêmio. Claro que assistia de um jeito que só esta garotada é capaz, com os dedos no teclado, fone no ouvido, movimentação intensa na tela do PC e, mesmo assim, ciente de tudo que acontecia em campo. “Pai, o Grêmio está vencendo por 1 a 0”, disse ele em uma frase de significado enorme para mim; não pelo resultado em si, mas pela demonstração de que o Grêmio, sim, faz parte do cotidiano deles. Se estava ansioso para ver mais um desempenho do tricolor, naquele momento suspirei aliviado: não só havia recebido mais um sinal de quanto eles gostam do meu time (do nosso time), como, também, sabia que o Grêmio estaria em boa companhia até a minha chegada.

 

Tive tempo de ver todo o segundo tempo, me irritar com a falta de finalização do ataque e os vacilos da defesa, lamentar o gol adversário, agradecer pela marcação correta do pênalti, me indignar com o comportamento da Brigada Militar e vibrar com a vitória aos 53 minutos. Ainda consegui ver a reprodução da bela cobrança de falta de Fernando, este gremista de nascença. Todos esses momentos curti e sofri  sentado no sofá ao lado dos meninos que, defintivamente, aprenderam a ser gremista.

Avalanche Tricolor: Sai da frente que lá vem o Grêmio

 

Veranópolis 1 x 4 Grêmio
Gaúcho – Veranópois (RS)

 

Time comemora com Gilberto Silva primeira gol da goleada (Gremio.net)

 

O adversário era líder na chave, segunda melhor campanha de todo campeonato, invicto jogando em casa e se transformou em nada diante do poder de ataque gremista. Ataque que passa pela cabeçada de um zagueiro, o pé direito de um ala e o chute de fora da área de um volante – de onde saíram três dos quatros gols desta tarde de domingo. Nossos atacantes não deixam por menos e fragilizam os defensores com uma sequência de jogadas fulminantes, acompanhados da chegada de jogadores do meio de campo, especialmente quando Bertoglio entra (a propósito, porque ele ainda precisa entrar no segundo tempo e não é escalado desde o início?). Para o conjunto ficar completo, lembro da melhora incrível de nosso goleiro que se reafirma e oferece segurança a toda a equipe, com ótima colocação e defesas corajosas.

 

Há quem entenda que o futebol que apresentamos esteja ligado a presença do novo técnico. Sem tirar-lhe o mérito, acredito muito mais na evolução natural de um time que havia sido desconstruído, precisava de tempo para se ajeitar, fazer com que seus jogadores passassem a encontrar seu espaço em campo, ganhassem personalidade e, claro, retomassem a forma física. Resultado deste conjunto: em março, marcamos 14 gols em quatro partidas.

 

Ainda faltam algumas peças, mas começamos a entrar nos trilhos. E aí de quem estiver no nosso caminho.

Avalanche Tricolor: Eles passarão

 

Inter 1 x 2 Grêmio
Gaúcho – Beira Rio

 

 

Foi uma quarta-feira curiosa esta de Cinza, pois acordei com a notícia da confirmação de que Vanderlei Luxemburgo seria o técnico do Grêmio e os que tiveram oportunidade de ler minha última Avalanche sabem de que discordo da avaliação feita pelos diretores, que não tiveram convicção, coerência e, o mais grave, coragem ao demitir Caio Júnior. A escolha de seu substituto apenas confirmou o que penso, pois seguiram o caminho mais fácil, olhando apenas o passado de Luxemburgo em lugar de avaliarem suas atitudes e histórias nem sempre bem explicadas e o seu retrospecto nos últimos anos pouco recomendáveis. Incrível foi a sequência de mensagens que recebi durante o dia demonstrando total desconfiança em relação a possibilidade de Luxemburgo ter sucesso no comando do Grêmio. A maior parte das pessoas apostando em vida curta e catastrófica, em Porto Alegre. Confesso que me incomodou demais esta contratação, e pensei muito sobre as contradições entre torcer pelo Grêmio e ter que contar com o sucesso de Luxemburgo.

 

No fim da tarde, alheio a polêmica e conversa de torcedores, um dos meus filhos, o Gregório, porém, me surpreendeu e com um só gesto mudou meu espírito. Antes de sairmos para passear, foi ao guarda-roupa tirou uma camisa azul, comprada durante o Carnaval em Porto Alegre, que leva no peito o distintivo do tricolor e o lema “Grêmio Manda”. Fomos para o shopping, assistimos ao filme “Reis e ratos”, com Selton Mello, fizemos um lanche, visitamos a livraria e o supermercado e a todos os momentos eu ficava observando o passeio dele com a camisa gremista. Não importava o que poderia acontecer com o seu time logo à noite ou durante a gestão Luxemburgo, tinha orgulho em vesti-la e tinha certeza da atitude que havia tomado.

 

Ele tinha razão. O Grêmio é muito mais importante do que qualquer um dos seus dirigentes, vai além da história de seus técnicos e do que possam aprontar no comando da equipe. É com este espírito que encaro este momento, a começar por esta noite, em que escrevo a Avalanche antes mesmo do fim da partida (estamos no intervalo agora). Aconteça o que acontecer, sempre serei gremista, por que eles passarão.

 

Em tempo: a vitória no Gre-Nal é mais um motivo para agradecer ao meu filho que mudou com minha disposição, nesta quarta-feira de Cinzas. Dá-lhe, Grêmio, sempre, Grêmio.

Avalanche Tricolor: Moderno, talvez; Imortal, sempre

 

Grêmio 4 x 1 Santa Cruz
Gaúcho – Olímpico Monumental

 

 

Se a melhor defesa é o ataque, o melhor ataque esteve na defesa na partida de sábado à noite, pelo Campeonato Gaúcho, a primeira em que a vitória se construiu com folga, mesmo que tenhamos saído em desvantagem no placar. Naldo fez dois de cabeça, o de empate e o terceiro, que nos ajudou a respirar aliviado; Douglas Grolli, não com a cabeça, mas com o pé e bem ajeitado, marcou o gol da virada – o mesmo Grolli, aliás, que havia garantido os três pontos no jogo anterior com o gol nos acréscimos. Na partida de ontem, Kleber completou a goleada.

 

Por alguns momentos lembrei da fala de Caio Júnior pouco antes de começar o Campeonato Gaúcho na qual prometeu que o Grêmio jogaria futebol moderno. Contra o Santa Cruz, havia jogadores de defesa no ataque e atacantes marcando o adversário – nem por isso Kleber e Marcelo Moreno deixaram de incomodar o goleiro; havia, também, movimentação intensa na turma do meio campo com especial destaque para os volantes, Fernando e Gilberto Silva, este dando mais segurança ao time e aquele, qualidade no passe. Muita coisa ainda nos falta, jogadores inclusive, mas havia um esboço de time interessante para assistirmos no programa de sábado à noite.

 

Digo-lhe com convicção de que estou pouco me importando se o que teremos em campo tem a ver com a modernidade desejada por Caio, o que eu quero é a volta da Imortalidade.

Avalanche Tricolor: Uma noite pouco e bem dormida

 

Ypiranga 1 x 2 Grêmio
Gaúcho – Erechim (RS)

 

 

Dormir à meia noite, acordar às 4 da manhã e ter um dia inteiro de trabalho pela frente é tarefa árdua, exige sacrifício incomum e causa especial. Feita a escolha de encarar o desafio que ao menos sejamos premiados. E foi assim que me senti ao ver a bola raspar na cabeça de Douglas Grolli (confesso que só identifiquei que era a dele na repetição do lance) e parar no fundo do poço, como diria meu pai em memoráveis narrações futebolísticas. Aquele gol, aos 48 minutos do segundo tempo, foi redentor. Já estava me lamentando por mais uma noite perdida diante da televisão a espera de um jogo mais bem qualificado. Praguejava contra as bolas mal passadas, os chutes sem direção, as defesas do goleiro inimigo e as escapadas dos atacantes adversários. Temia pelas reações dos torcedores e a falta de convicção dos diretores se o resultado não fosse positivo, pois nesta altura do campeonato – aqui não apenas como figura de linguagem – é preciso paciência para não se abortar um trabalho que pode dar resultado mais à frente. Se havia certeza na escolha do técnico Caio Junior, comissão técnica e elenco, recentemente, é de se esperar que algumas semanas apenas não sejam suficientes para uma revisão, apesar do desempenho frágil até aqui. Sem contar que mudanças agora, além de precipitadas, poderiam ser desastrosas dadas as opções que temos à disposição no mercado. Os sentimentos mudaram ao fim da noite com aquele gol de cabeça. Justiça seja feita, Marcelo Moreno ajudou e muito com o gol de empate, não apenas porque nos abriu a possibilidade da virada, mas por ter mostrado, novamente, que não está na área para brincadeiras. A bola sequer era dele, mas o que importa? Atacante é para fazer gol, sem depender de apelidos e imagens forjadas nas páginas de jornal. Moreno fez o dele. Douglas, também. E o Imortal, está de volta. Minha noite pouco e bem dormida, agradece.

Avalanche Tricolor: Os mistérios do sofrimento

 

Grêmio 2 x 2 Inter
Gaúcho – Olímpico Monumental

 

 

O dia começou na capela da Comunidade Imaculada Conceição, bem próximo de casa, endereço que visito todos os domingos pela manhã, nas missas do Padre José Bertolini. Autor de dezenas de livros religiosos, Bertolini tem fala mansa, precisa e bem humorada, fazendo daquele diálogo algo sempre bastante acolhedor. Foi apenas após algumas missas rezadas por ele, das quais participei, que descobri sermos conterrâneos, ele nascido em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, eu em Porto Alegre, na capital, como você, caro e raro leitor desta Avalanche deve bem saber. Descobri, também, que temos algo mais em comum, a medida que ambos torcem para o Grêmio, motivo de nossas rápidas conversas ao fim da celebração religiosa, sempre com uma palavra otimista e um sorriso no rosto, seja qual for a situação de nosso time. Sabemos que não devemos jamais ter nosso cotidiano abalado por estas coisas que acontecem em campo. Eu, em particular, não gosto muito de misturar futebol e religião, creio até que já tenha comentado isso com você; imagino que o cara lá em cima tenha muito mais o que fazer em vez de ficar ajudando meu time ganhar suas partidas. Durante a homilia de hoje, porém, não consegui deixar de lembrar do Grêmio quando Padre Bertolini versou sobre o sofrimento, a partir da primeira leitura do Livro de Jó – sobre a paciência deste você já deve ter ouvido falar. Ele chamou atenção para o fato de que para os seres humanos nem sempre é simples entender o sofrimento, a compreensão da dor enfrentada acaba se transformando para muitos um mistério. Fez uma ressalva, porém: há momentos de dor que o homem sabe bem os motivos, pois foi ele quem a provocou. Padre Bertolini mais uma vez tinha razão, pois se nos faltam respostas para muitos de nossos sofrimentos, sabemos bem o que provoca este sentimento na alma do torcedor gremista, neste momento. Estamos aqui apenas passando por mais uma provação, preparando a alma para as glórias que virão. Em breve, se Deus quiser !

Avalanche Tricolor: Eram outros tempos

 

Juventude 2 x 1 Grêmio
Gaúcho – Caxias do Sul

 

 

Fossem as férias de inverno fossem as de verão, subir a Serra Gaúcha era programa obrigatório na época em que ainda era um guri de Porto Alegre. Em Caxias do Sul vivia boa parte dos Ferretti – tios, tias e primos de meu pai que nasceu por lá, em 1935, conforme ele próprio contou semana passada no texto semanal que escreve aqui no Blog. Pelo que consigo lembrar, as primeiras viagens foram a bordo do Gordini azul da família, no qual eu me espremia no banco de trás com meu irmão e minha irmã. Nos aventuramos de Fusca, também, por algum tempo, e somente mais tarde encaramos a estrada sinuosa com motores potentes. O mais importante não era a viagem, mas a estada no casarão da Avenida Júlio de Castilhos com três andares e um número razoável de quartos. O prédio era todo de madeira e eu sempre ficava impressionado com o tamanho das portas e das fechaduras. O poço que havia no quintal atiçava minha curiosidade, pois era quase sempre impedido de chegar perto devido ao risco de uma queda que seria fatal. As janelas se transformavam em camarotes VIPs no período da Festa da Uva, pois o desfile de carros alegóricos, em que o principal sempre trazia no topo a Rainha, passava bem diante de nós. Naquele tempo, a cidade serrana já tinha tradição no futebol e seus clubes se destacavam no cenário estadual, impondo dificuldades para os times da capital, apesar de não serem capazes de conquistar títulos – isto só foi acontecer muitos anos depois. Atualmente, não é mais surpresa chegar ao Alfredo Jaconi, estádio do Juventude, e ao Centenário, do S.E.R Caxias, e sair de lá derrotado como aconteceu neste domingo. Confesso, porém, que tenho saudade, muita saudade, daqueles tempos.