Avalanche Tricolor: Como de costume

 

Grêmio 4 x 2 Cruzeiro
Gaúcho – Olímpico Monumental


Choveu forte em São Paulo. E o caminho para casa complicou. A água encheu avenidas e ruas. Nada que não estejamos acostumados nesta cidade despreparada para o verão. Para evitar problema maior, parei o carro e esperei a situação ficar mais amena. Com a CBN sintonizada, busquei alguma informação sobre a partida do Grêmio lá em Porto Alegre. Ouvi apenas sobre a dificuldade para o jogo se iniciar no Morumbi. Estava um charco.

Com todos os problemas para andar na cidade, cheguei em casa quando o Grêmio já vencia por 1 a 0 e a partida estava no intervalo. Alguns poucos lances mostraram que o primeiro tempo não havia enchido os olhos dos torcedores, apesar da vitória parcial.

Em compensação, o segundo tempo foi interessante.

Mesmo desgastado pela viagem à Colômbia, o Grêmio tocou bola com rapidez e variou os caminhos para chegar ao gol. Ora pela direita – com Gabriel se destacando -, ora pela esquerda – principalmente com a entrada de Bruno Colaço -, o time apresentou um elenco de boas jogadas.

Ora com velocidade, ora com exagerada elegância, sempre teve o controle da partida, mesmo contra um time que chegou ao Olímpico com a banca de quem tirou gente grande da disputa.

Verdade que se descuidou na defesa permitindo que o adversário esboçasse algum perigo. Nada, porém, que colocasse em risco a classificação para a final do primeiro turno.

Borges foi o principal destaque com os três gols marcados. Fez o que se espera de um goleador, aproveitou as chances que surgiram e decidiu o jogo. Está renascendo na temporada, e será fundamental para as conquistas que buscamos.

O Grêmio, por sua vez, segue à risca aquilo que se espera dos grandes times, impôs respeito, jogou mais e garantiu presença na final. Assim como a chuva no verão paulistano, nada que não estejamos acostumados.

Avalanche Tricolor: É assim que se faz

 

Grêmio 5 x 0 Ypiranga
Gaúcho – Olímpico Monumental


A partida mal havia se iniciado e o primeiro chute da artilharia gremista foi disparado contra o gol adversário. De uma distância média, com força e direção desviada pelo adversário, a bola foi para fora. O cronometro não completara a segunda volta quando o placar foi aberto. O escanteio bem medido e treinado se transformou no primeiro gol de cabeça.

Mais uma jogada veloz, troca de passe certeira, movimentação alucinante de seus jogadores e o dois a zero foi confirmado com um chute forte no alto e sem chance para o goleiro.

Antes mesmo de o primeiro tempo se encerrar, novo gol. Era mais uma bola jogada com precisão dentro da área, mais uma chegada forte da equipe para consagrar a classificação à próxima etapa do Campeonato Gaúcho.

E se havia dúvidas na disposição do time. Assim que começou o segundo tempo fez o quarto gol – o terceiro de cabeça.

Na tarde deste domingo, o Grêmio entrou no Olímpico Monumental disposto a dar uma lição àqueles que ainda não entenderam a seriedade com que o futebol tem de ser jogado.

Desmerecer o adversário, nunca será uma opção, e impor sua superioridade é preciso. E isto se faz jogando bom futebol.

Poderia citar André Lima, Douglas, Borges e Leandro na descrição dos gols marcados, mas não seria justo com o restante do time, pois é importante ressaltar a maneira como a equipe toda tem se comportado.

Repetiria o erro dos comentaristas de “melhores momentos” que exploram o lugar-comum na análise do futebol. Aqueles que passarão os dias a dizer: a jogada aérea é o forte do Grêmio. Têm razão, é forte mesmo. Mas esta só se concretiza porque com a bola no chão o talento fala mais alto. E este tem sido gritante.

Avalanche Tricolor: Agora é pra valer

 

Nova Hamburgo 2 x 0 Grêmio
Gaúcho – Olímpico

Novo Hamburgo é cidade bem cuidada (ao menos era na época em que morei em Porto Alegre), próxima da capital e interessante para quem gosta de calçados. Hoje, estava em festa devido ao centenário do time da casa. Mesmo com todo o respeito que tenho pela cidade colonizada por alemães, dou-me o direito de escrever esta Avalanche de olho no futuro.

Antes que você, desavisado, me acuse de estar sendo prepotente ao não dar bola pro jogo desta tarde, entenda o seguinte: o Grêmio com uma rodada de antecedência havia conquistado tudo que era preciso até aqui neste primeiro turno de campeonato. Líder, isolado e distante de todos os demais adversários – inclusive aquele que você um dia já ouviu falar – entrou em campo para cumprir tabela, literalmente.

Tudo bem, havia uma atração em especial: a estreia de Carlos Alberto que vestiu seu número preferido, o 19, e mostrou que tem personalidade suficiente para ajudar o time no maior dos nossos desafios nesta temporada, a Libertadores. Precisa apenas ser mais bem apresentado aos seus companheiros, coisa que os próximos treinos serão suficientes. O vigor com que voltou para roubar bolas, confesso, me surpreendeu, porque o jogo distribuído com precisão e a forma como leva a jogada já conhecíamos.

Carlos Alberto se unirá a um elenco em formação que ainda precisa de alguns ajustes neste início de temporada, mas que está consciente da importância que damos a competição que se inicia, efetivamente. Até então, havíamos apenas entrado em campo para provar que merecíamos o lugar conquistado no Brasileiro 2010; e o fizemos muito bem contra o Liverpool do Uruguai, como conversamos em Avalanches anteriores.

Na quinta-feira, o Olímpico Monumental será cenário de nosso primeiro passo em busca do terceiro título da Libertadores quando teremos como adversário o Oriente Petrolero, da Bolívia. Ninguém espere um jogo e tanto na estreia. Como falei, ajustes ainda são necessários: dar confiança à defesa, acertar a ala esquerda, calibrar o passe no meio de campo e afinar a conclusão no ataque. Até mesmo o elenco precisa ser fechado.

Nada disso – absolutamente, nada disso – será suficiente para tirar do time que entrar em campo, seja quais forem os escolhidos de Renato, uma marca inconfundível do futebol gremista: a nossa gana pela vitória.

Confira e me cobre: cada bola será disputada como se fosse a última, toda dividida como se fosse vida ou morte e nenhuma jogada estará perdida sem que antes sangue e suor escorram pela nossa nova camisa tricolor.

Porque é assim que forjamos a história do Imortal. E assim será a partir desta quinta-feira, na Libertadores.

Avalanche Tricolor: Lição de casa

 

São Luís 0 x 1 Grêmio
Gaúcho – Ijuí (RS)



A viagem é longa até Ijuí, são quase 400km de estrada desde a capital Porto Alegre. O estádio é acanhado, insuficiente para receber todos os torcedores gremistas que vivem nas Missões. E o gramado mais se parece com um charque, molhado por uma chuva que é rara neste verão gaúcho.

Havia ainda um adversário que admitia sua inferioridade a cada falta cometida, único recurso que encontrou para impedir que a bola seguisse nos pés do time tricolor.

Para enfrentar estas condições não bastaria jogar futebol, era preciso coragem e muita disposição. Provavelmente tenha sido este o maior desafio de Renato Gaúcho na conversa de vestiário. Mostrar ao seu time que mesmo neste campeonato pouco atrativo, disputado em meio a uma competição que pode nos oferecer a glória – a Libertadores -, vestir a camisa do Grêmio gera alguns compromissos. Lutar sempre e buscar o melhor, estão nesta lista de tarefas.

E a equipe que nos representou neste fim de noite deu sinais de que entendeu o recado. Bastaram sete minutos de partida – e o gol de Maylson – para impor sua superioridade e mostrar que é o melhor time do Rio Grande do Sul na atualidade.

Exagero de minha parte ? Com uma rodada de antecedência soma 17 pontos, mais do que qualquer outro adversário pode fazer. Garantiu assim o direito de disputar as partidas do mata-mata sempre em casa, a nossa casa, o Olímpico Monumental.

Os pouco acostumados com o Campeonato Gaúcho devem estar desdenhando tais feitos. Importante, então, lembrar que outras equipes tradicionais do estado ainda estão desesperadas dado o perigo de ficarem fora da fase decisiva do primeiro turno.

O Grêmio, não. O Grêmio fez a lição de casa – e a de fora de casa. Por isso, nesta madrugada, enquanto retorna para Porto Alegre, poderá dormir o sono dos justos. E competentes. Eu, também, porque, afinal, já está mais do que na hora.

Avalanche Tricolor: A lenda e o quero-quero

 

Grêmio 2 x 1 Caxias
Gaúcho – Olímpico Monumental

Quero-quero foi condenado por Nossa Senhora a cantar a mesma música pela imprudência cometida quando acompanhava a passagem pelo deserto da Sagrada Família, que fugia da ordem do rei Herodes para que fossem mortos. Diz a lenda que a família do Menino Jesus estava parada num oásis cercada de aves e animais quando soldados inimigos se aproximaram. Todos se aquietaram a pedido de Nossa Senhora, menos o danado do quero-quero que por pouco não revelou o esconderijo de João, Maria e Jesus.

É por isso que o quero-quero, até hoje, mesmo que queira, não pode dizer outra coisa, escreveu Roque Callage (1888 – !931) em história que teve origem no imaginário popular rio-grandense e reencontrei, neste sábado, no livro “Lendas Gaúchas” que me chamava atenção ao lado do aparelho de TV, enquanto o Grêmio suava em bicas em mais uma partida pelo Campeonato Gaúcho.

O sufoco tricolor tinha origem muito mais na temperatura – batia nos 40 graus – do que no adversário. Apesar deste ter chegado ao Olímpico Monumental envergando a bandeira de melhor campanha da competição, líder do seu grupo e com o goleador do Campeonato em seu ataque. Banca esta que se desfez antes mesmo dos primeiros 10 minutos.

Com uma defesa segura, saída rápida para o ataque, bola sendo passada com velocidade, e jogadores se movimentando por todos os lados, o Grêmio resolveu a partida ainda no primeiro tempo, mesmo que em campo estivesse apenas parte de seu time titular. O torcedor ainda teve oportunidade de assistir à estreia do zagueiro Rodolfo e o retorno do atacante Borges. Bote nesta conta, também, os gols de Douglas e Vilson.

O calor era tal que nem a família de quero-quero – já tradicional nos jogos em Porto Alegre – se arriscava a bater asa no gramado do estádio Olímpico. Quando muito dava uma corridinha sem-vergonha para o lado do campo para escapar da bola. Gritar seu grito tradicional, nem pensar. Melhor calar.

Foi o quero-quero que apareceu na TV e a falta de fôlego dos jogadores no segundo tempo que me levaram a passar a mão no livro de Lendas e, por coincidência, abri-lo na página em que Callage descreve a saga do passarinho matraqueador. Muito mais interessante do que o jogo modorrento que se desenrolava.

Ainda bem que os jogos do Campeonato Gaúcho ainda servem para alguma coisa: lembrar as boas histórias contadas nos Pampas.

A propósito: sabe quem já tem a melhor campanha da competição e com uma partida a menor é líder de sua chave ?

Poderia dizer que é o Grêmio responsável por escrever algumas das maiores lendas já vistas no Sul do País, mas achei melhor ficar quieto, senão ainda haverá alguém para publicar nos comentários aí embaixo que eu sou um falastrão igual ao quero-quero.

Avalanche Tricolor: Em busca de um sonho

 

Universidade 0 x 1 Grêmio
Gaúcho – Canoas

Viçosa faz de penâlti (foto: Gremio.net)

Desumano. Foi a expressão usada pelo ex-volante do Grêmio Lucas para definir a maratona de jogos enfrentada pelo time logo no início da temporada. Ele fez o comentário em entrevista ao jornal Correio do Povo, deste domingo. Na reportagem, depositou confiança na competência do presidente Paulo Odone: “com certeza ele vai levar o Grêmio de novo a títulos”, afirmou o jogador que atua pelo Liverpool (ING), mesmo nome da equipe com quem vamos disputar a pré-Libertadores, na próxima quarta-feira, dia 26, no Uruguai.

Sim, após quatro jogos em uma semana, todos pelo ‘emocionante’ Campeonato Gaúcho, o Grêmio decide vaga para a competição que mais interessa nesta temporada. Em pouco mais de dez dias de treinamento, sem tempo para piscar, pensar e respirar, o time de Renato Gaúcho estará sob a tensão de uma disputa que será vida ou morte – mata-mata como chamam no futebol.

Um dia antes de viajar para a primeira partida da decisão, Renato e seus jogadores foram obrigados a atuar em um gramado de pouca qualidade e contra uma equipe que por mais mérito que tenha quase nada representa para o futebol brasileiro. Com todo o respeito ao Universidade de Canoas, um time que não tem torcedores nem identidade está longe de ser um clube de futebol. Talvez seja apenas um negócio no futebol.

As divididas com o adversário (e houve muitas), o carrinho por trás (também aconteceu) e a bola disputada com veemência (faz parte deste jogo) eram sempre uma jogada de alto risco. Qualquer descuido e um goleiro com o talento de Vitor, um volante com a presteza de Adílson ou um atacante com a ansiedade de Diego Clementino poderiam nos faltar quando mais necessitaríamos.

Aparentemente, todos saíram inteiros de dentro do campo e com uma vitória importante para o time respirar com folga em relação a seus adversários no campeonato. O coração ficou na boca o tempo todo, não pelas emoções que o futebol costuma proporcionar, mas pelos perigos que rondavam músculos, canelas e tornozelos de nosso time.

O físico ainda não está preparado para esta final de pré-Libertadores, a mente tem de estar. E na mala a certeza de que não se mede a decisão pelo adversário, mas pelo o que esta pode nos proporcionar. Sendo assim, começa amanhã, a viagem em busca de um sonho: o tri da Libertadores.

Avalanche Tricolor: Jonas pode

 

Grêmio 2 x 1 São José
Gaúcho – Olímpico Monumental

Jonas está condenado às críticas nestes próximos dias. Moralistas sem causa e senhores de caráter ilibado pedirão punição, afastamento, quem sabe uma medida exemplar contra o atacante que explodiu de razão ao marcar o primeiro gol do Grêmio.

Ouvirá conselhos e puxões de orelha de comentaristas, torcedores e dirigentes. Afinal, as ofensas públicas dirigidas à social do estádio Olímpico não condizem com os bons modos exigidos de um atleta profissional.

Que partam todos para o destino que Jonas os encaminhou !

Ouviram porque falaram. E vaiaram de maneira errada, injusta. Foram incapazes de compreender as razões que impedem Jonas e seus colegas de imprimirem o futebol que sempre esperamos. Estão sendo preparados para uma decisão em poucas semanas, sem direito a pré-temporada e após terem imposto um ritmo alucinante no fim do ano anterior.

Tem todo o direito de explodir com aqueles que não enxergam que entre o desejo de tocar a bola ou chutar a gol existem músculos endurecidos pelos treinos de início de ano. Os impacientes que se retirem. Deixem Jonas fazer seus gols estranhos, bonitos e decisivos.

Jonas tem crédito no clube e no futebol, que não lhe dá o devido respeito. Goleador do Brasileiro foi preterido por muitos na escolha dos melhores do País. Com fama de patinho feio, vê os críticos torcerem o nariz. Sofre o mesmo dentro do seu time.

Um dos maiores atacantes que passaram pelo Grêmio e peça fundamental para a arrancada de 2010, merece toda a nossa atenção. Tem de ser valorizado pelo que faz e pelo que é.

A reação dele é paixão que tem pelo que busca. E isto tem de ser admirado, não criticado. Jonas é capaz de chorar dentro de campo se não alcança seu objetivo. Não aceita a indiferença diante dos fatos.

É bom moço, sincero nas palavras e resignado.

Em vez de glorificado, assistiu durante as férias ao enorme esforço da diretoria para enfiar goela abaixo de parte da torcida um falso ídolo. Enquanto ele nem contrato tem renovado.

Jonas é o nosso ídolo.

E após a “comemoração” da noite dessa sexta-feira, em Porto Alegre, meu ídolo ainda maior.

Gol neles, Jonas !

Avalanche Tricolor: Saudade do Gaúcho

 

Grêmio 2 x 2 Lajeadense
Gaúcho – Olímpico Monumental

A televisão ainda passava jogos em video tape. A tecnologia oferecida não permitia transmissões de partidas a longa distância, ao menos não a um custo que valesse a pena investir. Jogo ao vivo e em cores era na arquibancada e os mais próximos disputados pelo Campeonato Gaúcho.

Era uma época em que competição daquele quilate não exigia aumentativo para ser valorizada. Desconfio que esta mania de chamar as disputas de Gauchão, Paulistão e outras coisas mais surgiu no momento em que a importância destes campeonatos diminuiu.

Gauchão pra gente era o Paixão Cortês que surge na ilustração do Xico Silva.


Seja como for, foi nas viagens ao interior do Rio Grande do Sul que aprendi como se joga futebol de verdade. Deixava-se Porto Alegre para cruzar o estado e éramos abrigados em estádios de madeira, com alambrado despencando, vestiários precários e torcida adversária vibrando como se fosse final de Mundial.

Foi nestes gramados – forma de dizer porque há muito a grama não era vista nem plantada naqueles campos – que assisti às mais impressionantes retrancas; zagueiros que trocariam um Troféu Belford Duarte pela canela do primeiro atacante que se atrevesse cruzar na intermediária; carrinhos que riscavam o chão e trilhavam o caminho com faíscas da chuteira de cravo antes de alcançar a perna alheia.

E eu gostava muito de tudo aquilo.

Jogar futebol era uma aventura, principalmente para os jogadores que chegavam da capital, sempre um alvo a ser abatido. Mesmo assim, o meu time era melhor e superava todas estas intempéries. Voltava para a “cidade grande” com sangue na camisa, barro nas meias, calção corroído pela poeira e a satisfação pela batalha vencida.

Sofri muito ao lado do campo vendo tudo isso acontecer. Vibrei e chorei com vitórias incríveis. Entendi que no futebol nem sempre o melhor ganha, é preciso também ter mais coração. Sabe aquela coisa de raça e determinação ? Pois é, nos jogos do Gaúcho era mais do que necessário.

Eu fui forjado torcedor neste campeonato, onde ganhei meu primeiro título – história já contada neste blog.

Muitos de nós passamos a nos apaixonar pelo futebol nas competições estaduais que se iniciaram neste fim de semana. Não exatamente neste arremedo de jogos disputados em fórmulas que mal conseguimos explicar aos nossos filhos. Hoje, os grandes times entram em campo preocupados em preservar seus jogadores para os jogos importantes da temporada.

O Grêmio, por exemplo, está de olho na pré-Libertadores, no dia 26 de janeiro, e para se livrar dos compromissos do Gaúcho fará, nos próximos dias, uma sequência absurda de partidas para um time que recém começa o ano – a largada para esta maratona foi hoje. Jogou muito bem no primeiro tempo, sem fôlego para marcar mas com talento na troca de bola. No segundo, cansou, desistiu ou estava desacostumado com as coisas do Estadual.

Distante do Olímpico e de volta ao papel de torcedor de PPV, assisti à partida sem a apreensão do passado. Sinal dos tempos, talvez. Apesar disso, tenha certeza de uma coisa: eu ainda acho muito bom ser campeão Gaúcho.

Veja mais ilustrações do Xico Silva no álbum do Picasa

Avalanche Tricolor: Por estes nossos feitos

 

Avaí 0 x 3 Grêmio
Brasileiro – Florianópolis (SC)

Bandeira do RS e do Grêmio

É momento de comemorar. Desfilar orgulhoso por nossos feitos. Andar pelas ruas – seja na capital, Porto Alegre, seja nas cidades do interior, seja onde você estiver – com a cabeça erguida de quem nunca desistiu mesmo quando a derrota parecia definitiva, de quem sempre viveu na busca da vitória.

O Rio Grande do Sul vai parar. E está decretado feriado. para que se possa fazer festa para todos os lados.

Calma lá, caro e raro leitor. Não me considere um alucinado pelos parágrafos que abrem este post.

Você deve achar que é deslumbramento demais para apenas uma vitória gremista. Bem verdade que esta não é uma vitória simples. O Grêmio goleou na casa do adversário. E que goleada !

Uma vitória que se iniciou nas mãos de Vítor em dois momentos que poderiam ser decisivos no primeiro tempo. Que passou pelo desarme (e armação, também) de dois volantes que tomaram conta do jogo, Rochemback e Adílson – mais uma vez Adílson foi grande em campo. Que teve a qualidade do passe de Douglas para fazer diferença. E que se completou no talento e oportunismo de nossos atacantes, em especial Jonas.

Vá ver o primeiro gol dele, o drible que deu em seus marcadores, a maneira como deixou um deles caído no chão, o olhar voltado para o gol e o chute certeiro. No segundo, valeu o desejo de ser goleador. Deslocou-se para receber dentro da área e mesmo marcado abriu espaço para chegar a artilharia do Campeonato Brasileiro.

Foi muito bom, também, ver André Lima raspar a bola de cabeça em direção ao gol, em meio a uma montoeira de marcadores, depois de ser lançado lá da intermediária, ao velho estilo gremista. Quem sabe nosso atacante não desencanta !

Apesar de todos estes feitos e minha alegria em fechar este domingo respirando aliviado ao olhar a tabela de classificação, as palavras que marcam a abertura deste post se referem a outro momento significativo para quem nasceu no Rio Grande do Sul.

É que amanhã, dia 20 de setembro, é o Dia do Gaúcho, quando se realiza desfile para lembrar as batalhas da Revolução Farroupilha, das mais extensas rebeliões que o País já teve. Uma guerra que não tinha na sua origem o caráter separatista mas, sem dúvida, uma indignação contra injustiças do poder central.

Sendo assim, parabéns a todos os gaúchos – em especial aos gaúchos gremistas.

Torcedor do Grêmio tem reduto em São Paulo

 

Gremista de quatro costados, Airton Gontow também é jornalista de boa marca. Descreve pessoas e situações com clareza, mesmo quando sob o risco de ter a visão anuviada pela paixão como domingo passado quando assistiu à final do Campeonato Gaúcho em um bar de São Paulo, rodeado de gremistas por todos os lados – e servido por um colorado enrustido, também. Recebi a reportagem “Fernando Carvalho festejou o título do Grêmio” produzida e fotografada por ele apenas nesta sexta-feira e uso como justificativa para a publicação, hoje, o fato de amanhã ser nossa estreia no Campeonato Brasileiro. Talvez você não veja conecção entre um fato e outro; e talvez não haja mesmo. E desde quando eu preciso de desculpa para publicar coisas boas no Blog (coisas boas e do Grêmio) ?

Aproveite para saber como os gremistas pretendem acompanhar o Imortal Tricolor aqui em São Paulo:

torcedoras do Grêmio encantaram os motoristas

Por Airton Gontow

Fernando Carvalho comemorou intensamente o título gaúcho conquistado domingo pelo Grêmio e caiu nos braços da torcida. Torcedor fanático, 43 anos, seis deles longe do Rio Grande do Sul, gerente do Banco do Brasil, é cônsul do Grêmio em São Paulo e está acostumado às brincadeiras em relação ao seu nome, que obviamente remete ao maior dirigente da história colorada. Ele e cerca de outros 200 torcedores estiveram no “Meu Bar”, novo ponto de encontro de gremistas na capital paulista.

Ao lado da namorada, a atriz Flaviane Herrera, 32 anos, chegou ao local por volta do meio-dia e gastou as horas que faltavam para o início do jogo pendurando faixas e bandeiras no teto, paredes e fachada do bar.

Confiante, “O jogo vai ser 3 a 1”, Fernando Leite Carvalho conta que planeja criar o site do Consulado do Grêmio em São Paulo. Feliz com o clima gremista criado, ele diz que o local atenua a dor de não estar no Olímpico em jogos decisivos: “sou torcedor e, também, trabalhei na gestão do Guerreiro. Conheço o Olímpico inteiro, de todos os setores da torcida ao vestiário”.

Fernando Carvalho caiu nos braços da torcida gremista

Evandro Fernandes, 36 anos, professor universitário de Economia, na Unip, há quatro anos em São Paulo, também exibe confiança na conquista do título. “Será 2 a 0”. Já na partida anterior, quando eles eram favoritos, no Beira-Rio, eu já falava que o Grêmio seria campeão”, diz, apesar de ainda fazer algumas ressalvas ao trabalho de Silas: “Está melhorando, mas a nota dele ainda é sete!” Ao seu lado, José Mário Arbiza, 30 anos, que atua na área de manutenção de Equipamentos da construtora Odebrecht, nascido em Uruguaiana mas criado desde os dois em Porto Alegre, olha para a decoração do bar e para a torcida que não para de cantar. “Estou me sentindo em Porto Alegre. Passa pela minha cabeça um filme comigo e meus amigos em bares de lá nos dias de jogos importantes. O Evandro já tinha assistido a outras partidas aqui, mas é a minha primeira vez. É impressionante a concentração de gremistas. Adorei a organização e, principalmente, ver as bandeiras do Grêmio e do nosso estado, o que mostra amor pelo time e pelo Rio Grande”, exclama o ex-jogador das divisões de base. “Joguei no Grêmio até os 16 anos, em 96. Freqüentei o Olímpico em nossa fase áurea, do bi da América!”

Sentado próximo à televisão, o engenheiro químico, Sérgio Harb Manssour 47 anos, sete de São Paulo, espera ao lado das filhas, as gêmeas Larissa e Eloísa, 18 anos, o início da partida. Elas não são univitelinas, mas são idênticas no amor pelo Grêmio. “É como estar no Sul. É incrível como este bar recria a atmosfera de Porto Alegre”, diz a estudante de Psicologia Eloísa. Indagada sobre o que mais sente falta por não estar em Porto Alegre, Larissa, que estuda Design Gráfico, responde: “É do convívio com os amigos e a família, mas aqui é sensacional”. Este repórter conta que sente falta das manhãs de Gre-Nal em Porto Alegre, quando saia com o pai com caneta e bloco de papel nas mãos, contando quantas bandeiras e camisas via de cada time, nas ruas e nas janelas das casas e apartamentos. “Eu não saía com meu pai em dias de jogo porque ele era colorado”, diz Sérgio.

Pedro Coutinho, 29 anos, empresário na área de importação é paulista e gremista. Ele explica o seu gremismo. “Desde pequeno meu pai me levava aos jogos do São Paulo e eu não achava a menor graça. Em 95, vi pela televisão a final da Copa do Brasil, entre Grêmio e Corinthians, lá no Sul. O Grêmio perdeu, mas eu nunca tinha visto um time com tanta raça, tanto empenho e tanta dedicação. Percebi que agora tinha um time para torcer. E de lá para cá, mesmo morando em São Paulo, meu sentimento só cresceu”, afirma.

Perto dele está Elizandra Santos, 26 anos, também paulista. Ela traja uma camiseta do Grêmio, como 95% das pessoas presentes no bar. Pergunto se tem também algum time em São Paulo. Ela olha firme e responde: “No Sul eu sou gremista. Já aqui eu sou gremista. E na Bahia, adivinhe, sou gremista também”. A paixão pelo tricolor dos pampas é, de certa forma, o resultado de uma história de amor. “Tive um namorado gaúcho”, conta.

Questionada se o ex estava presente no bar, ela revela: “Ele era e é colorado! Comecei a assistir com ele aos jogos da dupla grenal. Aí interessei-me pela história dos clubes e adorei a do Grêmio. Nunca tinha visto um time com tantas histórias épicas e, ao mesmo tempo, com uma torcida tão vibrante quanto esta, que nunca desanima. Isso ninguém tem!”.

Continuar lendo